Felizes... para sempre? escrita por Enthralling Books


Capítulo 29
Justiça ou misericórdia?


Notas iniciais do capítulo

Hey, dears!
Voltei! Cheguei na prorrogação porque preciso escrever as notas (Só me atrasei porque na hora de postar o Nyah me sacaneou apagando metade das minhas notas finais e agora tive que escrever de novo). Mas dez minutinhos não vão matar ninguém...

Esse capítulo foi bastante difícil de escrever e eu reli A Escolha hoje para conseguir, acreditam?

Sem mais enrolação, vamos logo ao capítulo...
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/501238/chapter/29

Sem saber, meu avô tinha me dado muito em que pensar.

::

Já estava quase amanhecendo quando consegui dormir.

Minhas criadas – Susana, Bianca e Rosie – apareceram para me acordar logo em seguida, o que me deixou bastante cansada, mas levantei de qualquer jeito. Tomei um banho frio para tentar despertar e depois pedi que Rosie tentasse esconder minha cara de sono. Eu não costumava usar muita maquiagem, porque minha mãe achava desnecessário. Vivia dizendo que uma criança tem que ser criança pelo máximo de tempo que conseguir, porque a vida já força a crescer rápido demais para ficarmos nos preocupando com isso. Mas quando vamos aparecer em público, ela deixa sem problemas.

E hoje eu ficaria exposta o dia inteiro.

Primeiro, era o funeral do tio Kota. Depois a Condenação do meu avô. É... Hoje seria um dia daqueles!

Olhei para os dois vestidos em cima da cama. Eles não eram parecidos em nada. O primeiro era preto, caía levemente até meus joelhos, com mangas ¾ com uma delicada renda nas pontas e tinha uma fita também preta que passava pela minha cintura, terminando em um bonito laço na parte de trás. Eu tinha que usar esse primeiro, então minhas criadas me ajudaram a vesti-lo. Fui até o espelho e uma menina desanimada me olhou de volta. Não era exatamente o que eu esperava quando pensava em voltar para casa.  

Terminei de ajeitar meu cabelo, quando Bianca veio com um chapéu pequeno que tinha uma espécie de véu furadinho, tampando meus olhos. Eu não reclamei de nada, óbvio, mas aquilo coçava. Olhei para a cama, onde estava o segundo vestido que eu usaria hoje. Era um vestido todo branco com detalhes em dourado, bem rodado e esvoaçante, tomara-que-caia.

— Eu não quero usar esse vestido.

Minhas criadas ficaram assustadas, de repente.

— Alteza, a senhorita não gostou? Tem outros model...

— Não é isso. O vestido é lindo e vocês estão de parabéns por ele – Tentei sorrir para tranquilizar aqueles três pares de olhões arregalados – É só que... Eu deveria guardar o luto pelo meu tio. Por que tenho que usar branco e dourado?

— Usar branco e dourado é tradição na Condenação, alteza. – Susana falou baixinho, tanto que eu quase não escutei.

— Eu sei, mas eu não deveria usar isso hoje. - Suspirei – Não há nada que a gente possa fazer, não é? – Olhei para elas e elas abaixaram a cabeça – Tudo bem. Acho que está na hora de ir.

...

O cemitério estava cheio. Tio Kota não seria o único a ser enterrado, apenas o primeiro. Todos os nossos aliados que morreram lutando seriam honrados. Eu e toda a minha família, com exceção do vô Clarkson, por motivos óbvios, e do vô Shalom, que estava internado, fomos à frente. Até mesmo tia May tinha vindo com Logan da Inglaterra e por isso que o funeral não foi ontem. Todos os aliados sobreviventes e muitos cidadãos de Angeles estavam ali, nos seguindo de perto, em silêncio. Fomos todos para o Mausoléu da realeza, uma construção imensa, onde estavam sepultados todos os Um que já morreram em Illéa, até mesmo os ossos de Gregory Illéa estavam ali. Papai, tio James, tio Gerad e tio Aspen estavam carregando o caixão do tio Kota, coberto pela bandeira do Reino de Illéa e por uma imensa coroa de flores. Paramos antes de entrar e o caixão foi colocado em uma espécie de mesa baixa de pedra que tinha ali.

Um sacerdote tinha sido chamado para ministrar o culto fúnebre. Ele falou palavras bonitas sobre família, honra e coragem, mas eu não conseguia prestar atenção. Via apenas o rosto das pessoas, todos tristes, de cabeça baixa, alguns abraçados às pessoas mais próximas, assim como eu estava abraçada à minha mãe. Alguns derramavam lágrimas silenciosas, outros pareciam se alimentar das palavras do sacerdote como se estivessem morrendo de fome. Acho que em um momento assim, todos precisamos de algo para nos agarrar. Algumas pessoas se agarram à fé, outros à família, outros ao trabalho, outros à solidão.

Eu sempre acreditei em Deus e sabia que, de alguma forma, tio Kota deveria estar melhor do que nós com Ele lá no céu. Por isso, eu me agarrei à minha família, porque eu sabia que como foi o tio Kota, poderia ter sido qualquer um. Poderia ter sido o meu pai ou o tio Gerad, ou o vô Shalom... Acho que a gente nunca pensa de verdade na morte, até ela se mostrar, levando alguém que amamos ou quase levando a gente. Eu sei que nunca tinha pensado em morrer, até que fui sequestrada por Lucca Montanari. E agora, eu estava aqui pensando de novo na morte, em como somos fracos, em como nós mesmos nos destruímos.

E hoje, eu mandaria matar meu avô, apenas para estar aqui neste mesmo mausoléu amanhã, de novo.

Meu pai foi chamado para falar alguma coisa e ele foi bem rápido, apenas falou que todas aquelas pessoas lutaram com bravura e morreram com honra. Agradeceu a confiança que todos eles deram à nossa família e prometeu ser um bom rei, para compensá-los. O sacerdote logo se apressou em concluir, com uma oração pedindo a Deus conforto aos corações tristes.

Depois que o sacerdote terminou de falar, papai, tio Gerad, tio James e tio Aspen se posicionaram para pegar o caixão de novo. Apenas a família, tio Aspen, tia Lucy e Evans entramos no Mausoléu. Os outros ficaram do lado de fora, esperando voltarmos para enterrarmos os outros.

A manhã foi longa. Algumas pessoas foram embora assim que seus parentes foram enterrados. Mas nós não. Aquelas pessoas arriscaram suas vidas por nós e o mínimo que poderíamos fazer era honrá-las. Por isso, só fomos embora depois que a última família deixou o cemitério.

De volta ao palácio, o almoço foi bastante estranho. Apenas algumas frases fora de hora para preencher o espaço, como:

— Essa torta de morango é divina, senti saudades. – Minha mãe disse, suspirando.

— O tempo está fechando, parece que vai chover em breve. – Minha vó disse, olhando para a janela.

— Eu preciso dessa receita para levar para a Inglaterra. – Tia May disse, assim que terminou de mastigar um pedaço de carne que eu não reconhecia. Nunca sei qual tipo de carne é, para mim é tudo carne.

Às duas da tarde, eu já estava pronta, com meu vestido branco e dourado, minhas sapatilhas estilo boneca também brancas, e minha coroa. Estava esperando dar a hora de descer, quando meu pai apareceu.

— Nicole?

— Oi, pai. Entra.

Ele veio e se sentou ao meu lado na cama. Ele tinha uma caixa de veludo azul nas mãos e eu fiquei curiosa.

— Você está bem? – Perguntou, preocupado.

— Sim, pai. Eu só... Não é o melhor dia da minha vida. – Abaixei a cabeça.

— É, nem da minha. – Concordou, colocando a caixinha em cima da cama e abrindo os braços para me abraçar – Vem cá. Eu tenho tanto orgulho de você, princesa. Queria que sua vida fosse mais fácil do que isso. Queria te dar o mundo inteiro, amor, apenas para ver seu sorriso lindo que eu amo tanto.

Eu tive que enxugar uma lágrima quando ele disse isso. Ainda não tinha me acostumado a ter meu pai tão perto e seu abraço sempre me dava vontade de chorar.

— Eu estou... – com medo, pai. Engoli as palavras, mas ele percebeu e se afastou de mim, segurando meu rosto entre suas mãos grandes.

— Não é crime estar assustada. Você tem esse direito. – Ele disse.

— Eu sei. Mas isso não vai me ajudar hoje. – Sussurrei e ele suspirou, parecendo estar com o peso do mundo em cima dos ombros.

— Se eu pudesse, não permitiria que você fizesse isso. Essa situação está me matando.

— É o meu dever, pai. Não se preocupe, eu sei o que tenho que fazer.

— Você memorizou o que precisa falar?

Ah, é. Os Conselheiros escreveram palavra por palavra do que eu teria que falar. Não gostei daquilo, mas apenas peguei o papel e memorizei.

— Sim, eu gravei.

— Toma, isso é para você – Disse, pegando a caixinha esquecida na cama – Nunca tivemos uma princesa que participasse da Condenação. Mas as Selecionadas da Elite precisavam. A tradição diz que nesse momento elas devem ganhar suas primeiras joias reais. Achei que você também deveria ganhar a sua.

Então ele abriu a caixinha e me mostrou uma gargantilha linda. Fiquei com medo até de tocar. Ela era toda em platina, com rubis e diamantes de vários tamanhos e formatos. Como eu sabia disso? Simples. Meu pai foi descrevendo.

— Pai, é... Nossa, é incrível. – Ele riu.

— É enorme! E pesada. Eu preferia dar algo mais delicado a você. Têm inúmeras joias que eu acho que combinariam mais. Mas você precisa passar confiança para quem tiver te vendo. Pensei que com uma joia assim você se sentiria mais confiante.

— E passaria a impressão certa. – Adivinhei.

— É, isso também. – Ele concordou – Sua mãe me deu um sermão por causa dela. Mas aqui entre nós...

Ele pegou uma pequena bolsinha, também de veludo, do bolso da calça. Virou o conteúdo na minha mão e eu vi que era outra gargantilha, dessa vez com pequenas safiras cor-de-rosa e diamantes, mas muito mais delicada. Fiquei apaixonada por ela assim que vi.

— Eu amei, pai. É perfeita!

— Eu sabia que você ia gostar. – Eu sorri e o abracei.

— Obrigada, eu amei. – Disse quando me afastei - Pai?

— O que foi?

— Eu... Não é desrespeitoso eu usar branco agora? Eu deveria estar de luto.

— É a tradição, querida, não é desrespeito. Não se preocupe com isso, ninguém vai criticá-la.

— Tudo bem então. – Suspirei - O senhor me ajuda a colocar a gargantilha?

— Vai ser uma honra. – Eu virei de costas e ele colocou a gargantilha no meu pescoço. Papai tinha razão, ela é extremamente pesada. Mas se eu aprendi a andar com um livro de mil páginas na cabeça, não seria essa gargantilha que iria tirar minha postura. Eu me levantei e dei uma volta.

— Como estou?

— Linda! Se eu não amasse tanto a sua mãe, se você não fosse minha filha e se tivesse uns vinte anos a mais, eu a pediria em casamento, de tão encantadora que está. – Brincou, aliviando um pouco o clima pesado que rondava o palácio desde cedo. Eu ri e abracei sua cintura, saindo do quarto junto com ele.

— Minha mãe vai ficar com ciúmes.

— Bom, ela não precisa saber, precisa? – Piscou para mim.

— O que eu não preciso saber, Maxon? – Ela apareceu atrás de nós, com um pequeno sorriso no rosto.

— Nada, querida. Você está linda.

— Obrigada. Mas eu não sou sua querida. – Ela disse sorrindo e eu fiquei sem entender.

— Filha, você está... – Ela me olhou de cima a baixo e fuzilou meu pai com os olhos por causa da gargantilha. – está linda. Eu tenho uma coisa para você também.

— O que é?

Ela pegou uma pequena fitinha preta de cetim e prendeu com um alfinete no meu vestido.

— A tradição merece uns retoques de vez em quando. – Ela sorriu para mim. Minha mãe sempre me entendia, às vezes eu não precisava falar nada com ela, como agora, que ela adivinhou que eu iria estar incomodada por usar branco no mesmo dia do enterro do meu tio.

— Obrigada, mãe. – Disse, emocionada.

— De nada. Está pronta? – Respirei fundo antes de responder.

— Estou.

— Você entra aqui pelo corredor principal assim que começar a segunda melodia, a primeira vai ser para a entrada do seu pai, vai levar o... – olhou em volta e pareceu ficar confusa - Cadê o ramo de oliveira dela, Max?

— Está com a Lucy. – Apontou.

— Certo. Então, você vai caminhar até o palco, fazer uma reverência, deixar o ramo de oliveira aos pés do seu pai e depois vai se sentar. Maxon vai falar um pouco e depois é a sua deixa. Sabe o que falar, não sabe?

— Sei, mãe. Já me explicaram tudo. – De repente, percebi que minha mãe não ficaria no trono ao lado do meu pai. Eles não se casaram de novo ainda. - Onde a senhora vai ficar?

— Vou ficar no palco também, mas em assentos laterais, ao lado da sua avó. – Explicou.

— Eu estou meio enjoada. – Disse, me sentindo meio tonta.

— É normal. Eu também me senti assim na minha vez. Apenas respire fundo.

— Certo. – Respirei fundo e fui até tia Lucy pegar meu ramo de oliveira. Ela me deu um sorriso e me elogiou enquanto me levava para a porta da frente do Grande Salão.

Escutei um barulho alto de palmas misturado ao som das trombetas e vi, pela pequena televisão que tinha ali, meus pais entrarem junto com minha avó pela porta lateral. Cada um foi para o seu lugar e então era a minha vez. A música mudou e as portas se abriram.

A quantidade de flashes era assustadora e eu tive dificuldade de ver para onde estava indo, mas só continuei andando. Segui pelo tapete vermelho ao som de muitos aplausos, fiz uma reverência quando cheguei perto do meu pai e coloquei o ramo nos pés dele, simbolizado a paz com o rei e minha humildade com as leis de Illéa. Depois fui sentar no meu lugar, contando os passos para me acalmar.

— Filhos e filhas de Illéa, hoje a princesa Nicole Singer Schreave I está aqui para se apresentar diante da lei. Nossas leis são a base de nossa nação, o que nos mantém unidos. A princesa é, neste momento, a personificação da nossa lei. Qualquer crime é como uma agressão direta a ela, por isso, sua tarefa é defender o que é direito, visando o bem comum, não apenas com a humildade de se submeter à lei, mas também com a coragem para fazê-la valer.

Todos aplaudiram as palavras do seu rei e eu estava ficando cada vez mais nervosa. Só espero estar pelo menos fingindo bem. Meu coração deu uma parada quando ouvi uma trombeta tocar perto da porta.

— Chamamos o criminoso Clarkson Schreave I à presença de Sua Majestade, o rei Maxon Schreave I, e de Sua Alteza Real, a princesa Nicole Schreave I.

Então, a porta se abriu mais uma vez e meu avô, mesmo algemado, caminhou pelo corredor de cabeça erguida, como se não devesse nada a ninguém. Eu me levantei e parei no meio do palco, e ele parou bem a minha frente. Não me reverenciou, apenas fez um aceno com a cabeça, como se isso fosse a reverência que ele me devia. Vi quando um soldado tentou se aproximar para forçá-lo a se curvar, mas eu fiz um gesto negando. Não houve nenhuma cerimônia de deposição, nenhum rebaixamento de casta, nada que o obrigasse a se curvar diante de mim. Ele foi levado para uma espécie de banco de réus, e ficou, de repente, cercado por soldados.

— Clarkson Schreave I, ex-rei de Illéa, está sendo acusado por Vossa Majestade de traição à Coroa, em uma tentativa de usurpação ao trono, de manter a ex-rainha Amberly Schreave em cárcere privado, do homicídio doloso do nobre Kota Singer e de forjar exames médicos falsos que levaram à deposição da então rainha America Schreave. Além disso, está sendo acusado por mim, Vossa Alteza Real, de tentativa de homicídio do também nobre Shalom Singer e de danos corporais sem justificativa legal ao então príncipe Maxon Schreave. Nega alguma dessas acusações?

Olhei rapidamente para minha mãe e vi que ela estava surpresa. Nem ela nem meu pai sabiam que meu avô Clarkson tinha sabotado meu avô Shalom. Não era para nenhum de nós sabermos, mas eu ouvi uma conversa do tio Aspen com o tio Gerad onde eles diziam ter suspeitas de sabotagem ao carro do meu avô, mas não tinham nem provas nem tempo suficiente para tentar provar com tanta coisa a ser feita, por isso, eu fui conversar com um mecânico do palácio para que ele investigasse para mim assim que eu cheguei e antes de me perder nos corredores. Ele confirmou ainda ontem que o carro tinha sido sabotado. E quem foi o único a tirar vantagem da situação do vô Shalom? É claro que meu avô Clarkson não contava que eu e minha mãe já tivéssemos chegado a Illéa na época, mas ele já sabia que meu pai iria visitá-lo ao saber que estava internado.

E, é claro, ninguém me contou que meu pai levava chibatadas antes e depois de casar com a minha mãe. Era apenas outra conversa deles que eu tinha escutado em uma das poucas vezes em que eles conversavam sozinhos por holograma quando eu estava na Itália. Apenas meu pai, minha mãe e meu avô Clarkson sabiam disso, então eu ainda consegui ver meu pai lançar um olhar questionador para minha mãe, que deu de ombros, confusa. Ele também não poderia negar essa acusação, porque, até onde eu sabia meu pai ainda tinha cicatrizes e provar seria fácil como respirar.

Se bem que respirar não parecia tão fácil assim com tanta gente me olhando.

Os repórteres e o povo estavam enlouquecidos com tantas informações. O barulho das conversas tinha aumentado muito, até que meu avô respondeu a pergunta e todos se calaram para ouvir.

— Não há provas que me incriminem da tentativa de homicídio de Shalom Singer. – Disse, com a voz alta e clara. Ele não demonstrava estar nervoso nem nada. E eu já estava me sentindo meio verde.

— Não há provas que o liguem ao crime, é verdade. Mas há provas de que o carro que Shalom Singer estava foi sabotado. Não existe mais a ameaça rebelde em Illéa, de forma que a única pessoa que levou vantagens com a internação de Shalom Singer foi o senhor, ao tirar o rei do palácio para então usurpar o trono. É como somar dois mais dois. Não subestime nossa inteligência.

Ele permaneceu calado, mas, por incrível que pareça, esboçou um sorriso de canto ao olhar para mim. Então eu me lembrei da conversa que tivemos e, se não fosse tão absurdo, eu diria que ele estava orgulhoso por eu estar fazendo meu dever. Eu sabia que tinha um papel que deveria representar, sabia palavra por palavra do que me mandaram gravar, mas eu não poderia fazer aquilo do jeito que me mandaram fazer. Não era justo. Por isso, eu mudei o roteiro, colocando as mãos atrás das costas para esconder o quanto tremiam.

— Filhos e filhas de Illéa e senhores magistrados – continuei -, sou sua princesa, mas também sou a neta do réu. Ao mesmo tempo em que devo demonstrar minha submissão às leis de nosso amado reino, não posso virar as costas para minha família, para sangue do meu sangue. Sei as atrocidades pelas quais o réu está sendo acusado, mas acima de todas elas ele ainda é meu avô. Sei o quanto feriria a mim e também a Vossa Majestade sentenciá-lo, mas o farei se for necessário. O meu interior está dividido e, por isso, eu, que falo em nome de todo o povo, repasso essa responsabilidade ao mesmo povo que represento. Digam-me: nesta tarde, o que querem para o seu ex-rei? Justiça ou misericórdia?

As pessoas - e principalmente os Conselheiros e Magistrados - ficaram chocadas com minha atitude. Mas não levou nem mesmo cinco segundos antes que o Grande Salão explodisse em gritos.

— JUSTIÇA! JUSTIÇA! JUSTIÇA!

Olhei em volta, meus pais estavam calados, mas eu ainda consegui ver através do movimento de seus lábios minha vó Amberly sussurrar “Misericórdia”.

Era a minha vontade. Eu não queria começar a ser princesa com uma morte em meus ombros. Com a morte do meu avô. Eu não queria fazer isso. Não sei nem mesmo se conseguiria.

Então olhei para ele.

Meu avô também tinha visto minha vó pedir por misericórdia e agora me olhava, como se me desafiasse a tentar. Não, não era isso o que ele queria. Suas palavras foram claras, morreria com orgulho desde que eu fizesse o meu dever.

O povo ainda gritava enlouquecidamente por justiça, então meu pai se levantou do trono e gritou:

— SILÊNCIO! – Todos se calaram imediatamente – Princesa Nicole, prossiga. Creio que está na hora de dar a sentença.

Eu fiz uma pequena reverência, concordando. Chegou a hora e não dava para fugir.

— Filhos e filhas de Illéa, fizeram sua escolha. Como sua soberana, portanto, eu digo que será feita a justiça que clamam. – Tive que esperar as palmas pararem depois que disse isso – Mas o que seria justo, com tantas acusações? O crime por traição à Coroa já é digno de morte, então esqueceríamos todos os outros. Que o réu fique de pé! – Ordenei e ele se levantou – Por forjar os exames que levaram a então rainha America à deposição e pelos danos corporais sem justificativa legal ao então príncipe Maxon, eu o sentencio a retratar-se com cada um diante de todo o reino, no Jornal Oficial da sexta-feira próxima. Por manter a ex-rainha em cárcere privado, pela tentativa de homicídio ao nobre Shalom Singer e pelo homicídio doloso do também nobre Kota Singer, eu o sentencio a dez anos de reclusão em cárcere fechado. E, por último, por traição à Coroa, eu, Nicole Singer Schreave I, Princesa do Reino de Illéa, o sentencio à morte por enforcamento ao final do período de reclusão.

O silêncio se manteve para ver quais seriam nossos próximos passos. Meu pai se levantou do trono e disse:

— Que seja feito conforme a palavra de Vossa Alteza Real.

E então eu concluí.

— Vá, súdito fiel, e pague a dívida que tem com o rei.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(O Word não acusou erros, mas eu mesma não revisei ainda, então pode ter algum detalhe que tenha passado, ok?)
E aí, gente????
O que acharam do destino do nosso Clarkson??? O resultado das votações feitas há séculos atrás (mentira, faz menos de dois anos) foi MORTE, mas eu resolvi atender a alguns outros pedidos também, então ele teve uma sentença acumulada. Quem está ansioso para vê-lo pedir perdão publicamente? õ/
Eu já comecei a escrever meus bônus. Tenho uma capa super linda e três mil palavras já escritas no primeiro bônus (Será uma coleção, viram que luxo?). Mas até agora apenas uma pessoa disse que vai escrever também (Karly/Amora, você não merece palmas, merece o Tocantins inteiro).
Eu estou me dedicando bastante nesses bônus, e queria muito que vocês participassem! Estou ansiosa para ler os textos de vocês e para que leiam os meus. Modéstia à parte, os bônus estão arrasando.Por falar nisso, sinto saudades de vocês nos comentários. Sei que falhei bastante com vocês, mas estou me redimindo com as postagens consecutivas (três em uma semana) + os bônus e a capa linda que vem com eles. Apareçam, por favor! Sou grata por vocês não terem me abandonado. Sei que estão aí porque tenho acesso ao número de visualizações por capítulo, mas ninguém pode me culpar por querer saber a opinião de vocês e por querer nosso vínculo super especial de volta. Estou me esforçando, gente. Eu respondi a vários comentários atrasados essa semana, mas quando deu duas e meia da madrugada o sono me venceu. Vou terminar hoje até que não sobre nenhum sem resposta. Ah! Se as respostas aos comentários estiverem com erros de português, eu peço desculpas. Respondo pelo celular e ODEIO meu corretor burro.
Até a próxima. Vou tentar postar no final de semana.
Beijos, Enthralling Books.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Felizes... para sempre?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.