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Hinata, Naruto, Sagi, Konan e eu estávamos sentados no jardim dos fundos do Uchihas, e apesar de a churrasqueira estar acessa e minha mãe estar na cozinha preparando alguns legumes e frutas para acompanhar o almoço, o clima era um misto de tristeza e expectativa que se ampliavam a cada tilintar do choque de espadas de madeira vindo do dojo ao lado.

— Naruto, será que dá pra você parar de chorar agora? — Sagi perguntou revirando os olhos e eu dei um soco de leve em seu braço, sinalizando para deixá-lo em paz.

— Você já teve dois dias inteiros... para digerir essa história... eu não! Você simplesmente... nos reúne aqui... e cospe... tudo isso... na nossa cara... dattebayo! — O Uzumaki soluçava, meu irmão tinha acabado de nos contar a história de Itachi, enquanto o Uchiha mais velho estava fazendo isso naquele momento com Sasuke, mas do jeito deles.

— Será que ainda vão demorar muito...? — Hinata perguntou enquanto segurava a mão de Naruto e o consolava com alguns tapinhas.

— A frequência dos golpes está diminuindo... Provavelmente estão discutindo mais agora, Itachi já deve ter contado tudo. — Respondi enquanto encarava o céu azul, talvez eu fosse a única que estivesse tranquila, eu tinha certeza de que se resolveriam, pois os momentos mais íntimos e agradáveis que Sasuke havia me dito ter passado com seu irmão no passado, eram aqueles em que treinavam kendo juntos.

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Quando Itachi chegou na porta do meu quarto na noite anterior, pensei em expulsá-lo imediatamente, mas assim que me levantei da cama e olhei seu rosto, desisti. Eu nunca tinha visto meu irmão curvado, como se carregasse um peso enorme nos ombros e com uma expressão que ia do vazio ao turbilhão, tudo ao mesmo tempo naqueles olhos negros e intensos. Perguntei o que ele queria finalmente, e ele me pediu para encontrá-lo no dojo na manhã seguinte. Pensei em recusar de imediato, mas algo me freou, eu sabia que receberíamos visitas para o almoço, então apenas disse “Tudo bem, mas que seja breve”. Foi o único momento em que vi alguma luz passar por aqueles olhos e iluminar Itachi por um instante ínfimo, ele agradeceu e saiu da minha porta de volta para a escuridão do corredor. Eu mal dormi três horas esta noite.

Agora estava parado diante do meu irmão mais velho, que parecia menos abatido que na noite passada, ambos vestindo apenas uma calça preta e segurando nossas espadas de madeira. Fazia tanto tempo desde a última vez que treinei, que eu sentia o dobro do peso do objeto em minha mão. Talvez também fosse a ocasião desconfortável, eu sabia que Itachi teria algo difícil para me contar, do contrário, ele não teria armado tudo aquilo.

Nas primeiras investidas com a espada para cima do meu irmão, não consegui atingi-lo em nenhum ponto válido, pelo contrário, Itachi acertou dois golpes “Kote” e um golpe “Dô” sem nenhuma dificuldade em mim. Assim que recebi o último golpe na região do abdômen, recuei dois passos para trás e quase me desequilibrei, a fúria começou a queimar dentro de mim, até que quando voltei a investir com os braços erguidos acima da minha cabeça para tentar um golpe direto na cabeça de Itachi e validar um “Men”, ele se defendeu colocando minha espada de lado cortando o golpe com um movimento na horizontal, recuou dois passos e começou a falar. Desde sua primeira frase, nenhum de nós dois tentou mais acertar de fato o outro, apenas concordamos mutuamente em não deixar os barulhos das madeiras se chocando silenciarem até que ele tivesse despejado até a última palavra.

— Achei que não fosse acreditar em mim. — Meu irmão disse se sentando ao meu lado na porta do dojo e me jogando uma garrafa de água.

— Eu fui o idiota que deixou o meu irmão cair em uma depressão e só piorei tudo. — Abri a garrafa sem olhar diretamente pra ele, eu me sentia estúpido, havia me enterrado tanto em meus próprios problemas que nem percebi nada do que realmente acontecia à minha volta.

— Não fala besteira, sasukemo. — Itachi esticou sua mão e bagunçou o meu cabelo. — Eu sou seu irmão velho, e eu sim sou o idiota aqui, agora eu vejo que tinham muitos outros caminhos que eu poderia ter escolhido para te proteger do papai, te afastar era o último deles. — Ele sorriu, mas um pouco desconfortável.

— Não importa, eu sou seu irmão, e deveria ter te enchido mais a paciência até que você se abrisse comigo de verdade, eu também escolhi o caminho mais fácil, simplesmente me afastei e fingi que não me importava. Te odiar parecia ser mais fácil que lutar pela nossa relação.

— Então no final, nós somos mais parecidos com o Fugaku do que pensávamos. Fizemos tudo igual a ele, passando por cima de tudo e todos.

— Agora sei o quanto eu errei com vocês, o qual falho é um pai que tem que ouvir algo assim de suas crianças? — Uma voz grave soou atrás de nós e nos sobressaltamos tanto que nos erguemos ao mesmo tempo dando de cara com nosso pai. Seu semblante sempre sério e impassível agora estava carregado de tristeza e decepção.

— Pai... — Itachi começou a falar, mas nosso pai ergueu uma das mãos o impedindo de continuar.

— Itachi, Sasuke, eu sei que palavras não vão corrigir os últimos 19 anos, na verdade, é um tempo irrecuperável, mas, pela alma da mulher que uniu nós três nessa família... — Engoli em seco quando vi meu pai se ajoelhar na nossa frente, do lado de dentro do dojo. — Eu peço perdão. Me perdoem por não ter sido um bom pai. — Ele nos encarava com os olhos marejados e quando concluiu a frase, abaixou a cabeça em direção ao chão.

Itachi e eu nos entreolhamos atônitos. Nossos corpos estavam congelados e eu sabia que compartilhávamos os mesmos sentimentos naquele momento. Depois do que pareceram eternos vinte segundos, corremos e nos ajoelhamos abraçando nosso pai. As lágrimas começaram a cair pelo meu rosto e eu não fiz nenhuma questão de impedi-las de rolarem, eu guardaria aquele momento para sempre em minha memória, e eu não sei se era por causa do vento que soprava no jardim, mas eu podia jurar que estava sentindo um cheiro doce que lembrava a minha mãe.