Sun Goes Down escrita por Jojo Almeida


Capítulo 2
Travis, 17:21


Notas iniciais do capítulo

Olás!
Muito obrigada por todos os reviews do último capítulo. Vocês são uns amores. Lindões. Lindos mesmo.
Para quem não sabe: eu tenho outras duas fics de Tratie em andamento. Ticket to Ride e Partners in Disguise. Porque eu sou uma idiota que cria fic novas antes de acabar as antigas. A velha história.
Espero que vocês gostem do capítulo! As coisas vão esquenta a partir do próximo, juro.
Ah, e uma coisa importantíssima: Miranda e Katie não são irmãs na fic. Nem um pouquinho. Nem sem saber. Nem de mentirinha. Hahahhaa! Isso é realmente importante pro enredo, fiquei com medo de ter causado alguma dúvida no último capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/498416/chapter/2

Pinto o céu rapidamente. Olhos para frente e para trás. Olhando por policiais. Olhando por qualquer um que eu não quero aqui. Atento a qualquer movimento. A tinta escorre, e todas aquelas coisas que batem na minha cabeça vão da lata para a parede. Vejam isso, vejam. Vejam o que despejei nessa parede porque não aguentava mais segurar.

A primeira coisa que pintei foi uma chaleira quebrada em três, com as palavras "talvez não" em cima. A segunda coisa que eu pintei foi uma ilustração para uma citação de Thomas Hardy. Passei para haikus. De haikus, para sonetos. E então poesia concreta. Palavras que formavam desenhos e desenhos que se vistos de longe eram palavras e garotas com frases pingando de seus cabelos e versos presos em nuvens.

Mas hoje eu não tenho palavras. Já faz um tempo que me faltam palavras, na verdade. Já faz um tempo que não pinto nada escrito. Hoje eu estou fazendo esse pássaro caindo. Ele é amarelo e laranja. De barriga para o céu, ele cai no infinito. Quem não olhar com cuidado pode achar que talvez ele tenha sido atingido, ou que talvez tenha sido parada cardíaca. Mas ele não está morto, não é isso. Seus olhos estão abertos e cheios de vida. Ele só esqueceu como voar.

Eu preciso de preto, mas sei que a minha última lata acabou na semana passada e eu estou quebrado demais para comprar outra. Tem a velha lata que eu deixo sempre em minha mochila, claro. Mas não me atrevo. É a primeira lata de spray que eu segurei na minha vida, não é como se eu fosse gastá-la por nada. Rio baixo, lembrando das caras de manés dos italianos babacas de quem a roubei.

"O que é tão engraçado?" uma voz atrás de mim pergunta.

"Merda, Connor" uma linha de azul corta um dos prédios roxos da parede. "Não me assusta desse jeito."

"Eu estou gritando seu nome desde o topo daquela ladeira. E a prefeitura tornou esse lugar legal, lembra?" ele dá de ombros. "Sempre achei que você preferia a adrenalina"

"Eu prefiro pintar." digo, sem querer admitir que tinha esquecido que a área era legal.

"Justo." Connor decide. "Eu te liguei mais cedo. Seu celular não existe."

"Não paguei a conta. Eles devem ter desconectado."

Ele senta no meio fio, me observando pintar. Eu termino o pássaro e encaro a parede dando dois passos para trás. Nada. Nenhuma palavra vem a minha cabeça. Nem mesmo uma ideia ruim para ser descartada. Nunca tive um bloqueio criativo, mas tudo indica que é isso. Balanço a cabeça, e assino a parede mesmo assim.

Hitch.

Nós andamos pela rua em silêncio, e cortamos caminho pela velha estação desativada. Eu observo as pessoas que passam em quanto caminhamos. Quase posso ouvir seus pensamentos, cheios de palavras. Na minha mente, palavra nenhuma. Só imagem atrás de imagem, bombardeando.

Não sei o que tem de errado comigo. Eu sou bom com palavras e esse é o fato primordial a meu respeito. Eu consigo convencer qualquer um, contar uma mentira como se fosse a mais estúpida verdade. Afinal, tudo depende das palavras que você escolhe e eu nunca tenho dificuldade de me expressar. Mas como que eu vou fazer isso sem palavras? Que seja. Alguma coisa está errada, e muito.

"Eu vi Arabella hoje." Connor anuncia. “Ela perguntou como você estava." Ele atira pedras nos trilhos vazios. "Acho que ela quer reatar."

"Ela se interessou por alguém além dela mesma? Bom, isso é uma surpresa."

"Então vocês realmente acabaram?"

"Já faz meses que a gente realmente acabou." eu pego a lata de tinta amarela e faço uma seta. Transformo a seta em uma flecha.

"Yeah. Certo." Connor pondera. "E porque isso mesmo?"

"Ela estava me destruindo. Que tipo de pergunta é essa? Você estava lá."

Ele encolhe os ombros.

"Parecia mais que você estava se destruindo. Arabella só estava lá do lado quando aconteceu."

Eu balanço a cabeça. Para o filho de ouro e ganhador de bolsas, Connor consegue ser bem idiota quando quer.

"Acredite. Arabella estava me destruindo." e que diferença faz a final? Eu estou arruinado de um jeito ou de outro. "Ela não quer saber se eu estou bem. Ela quer saber se eu estou bem o suficiente par emprestar algum dinheiro para ela."

"Então eu não devia ter dito que você está falido?"

"Você devia ter dito que eu devo milhões." eu rio. "Sabe qual é a pior parte? Eu acho que nem estava apaixonado por ela."

"Como assim?"

"Eu gostava dela, mas só isso. Ela tinha essa outra coisa, algo a mais, que continuava me atraindo para dentro. Viciante como uma droga." eu paro, e desvio os olhos. "Alguma sorte com Miranda?"

"Qual é o menor valor negativo mesmo?"

"Alguma coisa cheia de noves, eu diria."

"Algo bem perto disso, então" Connor ri, mas é fácil ver que ele não acha a menor graça. "Um monte de noves negativos de sorte."

Eu quero segurá-lo pelos ombros e sacudir bem forte. Talvez gritar que ele é um idiota. Mas, até onde sei, a parte do cérebro controla o amor nunca responde a ser chamada de idiota.

Miranda é a melhor amiga dele. Acho que eles se conheceram uns dois ou três anos atrás, mas parece que Connor está apaixonado por ela desde toda a eternidade. Uma eternidade de lamentações e rolos e toda essa velha história. Se Arabella era como uma droga, Miranda deve ser o maldito néctar dos deuses.

Eu não a conheço muito bem. Para ser honesto, sempre achei que ela era um pouco esquisita. Quer dizer, a garota pinta mais o cabelo do que eu pinto paredes. Mas suponho que ela deve ser realmente incrível, para gerar tanto problema. Honestamente, eu não consigo entender se ela não percebe ou se ela simplesmente gosta de saber que Connor está lá para ela.

Eu lembro que encontrei Miranda pela primeira numa festa. Ela já estava mais que alta, e veio se sentar ao meu lado no canto isolado em que eu tentava desaparecer.

"Hey, Trav." ela disse, o cabelo azul caindo em seu rosto. Eu estranhei. Ela era a melhor amiga de Katie Gardner, digo. O código secreto feminino instituía que ela devia automaticamente me odiar.

"Hey, Miranda."

"Hey, Trav." ela repetiu sorrindo muito. "Seu cabelo está laranja."

"E o seu está azul." eu devolvi. "Deve ser só a luz."

"Por que você e Katie brigam tanto?"

"O que?"

"Eu disse" ela se sentou mais ereta. "Por que você e Katie brigam tanto?"

Eu encolhi os ombros. Por que eu e Gardner brigamos tanto? Porque sim. Eu poderia estar meditando a respeito disso até hoje, e não saberia a resposta. Porque ela é Katie Gardner.

"Cadê o Connor?" Miranda perguntou de repente, sem esperar minha resposta para a questão anterior. Eu apontei para o outro lado do cômodo, onde Connor conversava com Polux e Thalia. "Ah." Miranda suspira. "Você acha que ele sabe que eu existo?"

"Achei que ele era seu amigo."

"Não o Connor" ela sorriu um pouco mais, mesmo que isso parecesse fisicamente impossível. "Polux. Ele nem sabe que eu existo, não é mesmo?"

"Acho que sabe." eu dei de ombros. "Ele disse que vocês estavam na mesma aula de crítica moderna, ou coisa do tipo.”

“Crítica contemporânea” Miranda corrigiu. Ela se inclinou para frente e segurou meu braço, sorrindo sorrindo e sorrindo. “Ele falou isso mesmo?”

“Falou.”

Ela suspirou, e afundou no sofá novamente.

“Você gosta de azul?” ela perguntou, pegando uma mecha de cabelo entre os dedos e analisando criticamente. Eu dei de ombros.

“Eu nunca acho o azul certo.”

“Eu conheço essa loja” Miranda disse, muito devagar, como se saboreasse cada palavra na boca antes de soltá-la no mundo “fica na Market Street com sexta. Eles têm todos os tons de azul certos.”.

“Eles vendem sprays?” eu arrisquei. Não estava pensando muito bem na hora, é claro. Mas Miranda provavelmente nem se lembraria dessa conversa pela manhã, e eu estava procurando o azul certo há meses e meses e meses. Não podia arriscar.

“Claro.” Miranda respondeu sorrindo. Ela nem deve imaginar, mas eu não posso colocar em palavras minha gratidão por aquele endereço. Eles tinham o azul certo. Exatamente o azul que eu estava procurando.

Na semana seguinte, eu pintei uma garota de cabelo azul, só o seu rosto, em uma parede de uma estação de metro, em sua homenagem. Não acho que Miranda sequer tenha visto.

“Nunca é tarde para desistir” eu digo para Connor. Ele olha para mim como se eu fosse um idiota completo.

“Exatamente. É sempre cedo demais.”

Eu ligo a luz e Connor se joga no sofá. Ele empurra minha mochila para o lado e olha com desgosto para as pilhas de roupas em formação ao redor da sala. Eu tento ligar o aquecedor, mas nada acontece. Eu bato na lateral. Connor bate na lateral. Nós quase arrancamos o aquecedor da parede, mas nada. “Não era para ser tão frio assim em junho” eu digo, desistindo.

“Quando que você planeja sair daqui?” Connor pergunta.

“Mais uma semana. Talvez duas.”

Connor levanta suas sobrancelhas.

“Merda. Eu não sei, tá bom? Eu tenho nenhum outro lugar para ir. Só preciso de mais algum tempo até…”

“Até o quê?” ele ri. “Você achar outro sofá dormir? Ou você encontrar alguém burro o suficiente para cair no seu papo de é só por dois ou três dias?

Eu dou de ombros.

“O que vier primeiro.”

“Ahrg. Você pode ficar e tudo. Mas pelo menos finja que está procurando por um emprego ou coisa do tipo. Percy mal pode esperar para te jogar pela janela.”

“Talvez aquela coisa de dar analgésicos para os peixes dele não tenha sido uma boa ideia.”

“É. Talvez não.”

Eu me sento no sofá ao lado dele. Minhas pernas quase encostam no móvel com a televisão no outro lado da sala. É o tamanho do lugar que me incomoda. Não, não é só isso. É a cor cinza que contaminou as paredes. É as manchas do carpete que pertencem a alguma outra vida anterior. Mas, não posso reclamar. É só um alojamento de faculdade. Esses lugares foram criados em torno da espectativa de serem deixados para trás.

“Está frio demais.” Connor reclama. “E é a última noite do semestre. Você sabia disso? O semestre acabou.”

Meu semestre acabou há mais de um mês atrás.” Eu resmungo em resposta. “E está frio porque vai chover. O frio vai passar depois da chuva.”

“Alguma sorte procurando por um emprego?”

“Um monte de noves negativos de sorte. Ninguém retorna minhas ligações.”

“Eu vou ajudar Bunker com essa coisa hoje, se você estiver interessado. Nós podemos conseguir pelo menos quinhentos cada um em duas horas, começando às três. É só pegar a van, carregá-la e dirigir o mais rápido que conseguirmos.”

“Você é idiota?” Eu pergunto.

“Não é isso que diz minha bolsa estudantil integral.”

“Não brinca sobre isso. Bunker nunca consegue fazer nada direito. Ele sempre é pego.”

Connor se estica para bater no aquecedor novamente. “Eu devo algum dinheiro.”

Ele parece preocupado, o que automaticamente me deixa preocupado. Um time inteiro de futebol Americano com problemas psiquiátricos num eco escuro não preocuparia Connor. Só resta uma pessoa. “Por favor, me diz que você não deve dinheiro para Ethan Nakamura.”

Ele encara o teto, analisando profundamente as manchas de infiltração.

“Merda, Connor. Merda. O cara é maluco.”

“Defina maluco.”

“Comer uma barata por que foi desafiado” Eu digo.

Connor funga “Okay, ele é maluco. Mais uma razão para dar seu dinheiro de volta.”

Eu me levanto, e abro a pequena geladeira em busca de comida. Ethan é mais velho do que eu. Ele é uma daquelas pessoas sem idade definida. Reza a lenda que ele já se formou, mas eu duvido muito que ele sequer tenha posto o pé na faculdade.

“Por que você precisaria tanto de quinhentos doláres?” eu pergunto. “Você é tutor da faculdade todos os sábados.”

“Isso é volutário.” Connor me olha como se eu fosse idiota.

“Você passa horas ensinando cálculo ao sábados voluntariamente?

“Não importa, tá bom?” ele mexe as mãos desconfortávelmente. “Etha vem atrás de mim hoje a noite.”

“Quão atrasado está o pagamento?”

Ele olha do teto para o chão. “Dois meses.”

Eu tento não parecer preocupado, mas sinto como se o mundo estivesse prestes a explodir e a única pessoa que pudesse consertar isso fosse eu.

“Você não pode pedir Bunker um adiantamento?”

“Bunker não funciona desse jeito.” Ele responde, e eu sei que é verdade. “Polux disse que me ajudaria, nós vamos nos encontrar no parque no caminho para o Meio-Sangue. Um trabalho para começar o mês zerados. Não é como se nós fossemos ser presos. Ainda é só a primeira ofensa.”

“Eis um plano brilhante.” Eu olho para a mochila sempre pronta para uma fuga e o sofá duro. Eu penso em como eu poderia pelo menos pagar uma ou duas contas atrasadas.

“Meu filho precisa entrar na faculdade” o dono da loja de tintas na Market Street disse quando me assaltou semana passada. “Não é nada pessoal”. Engraçado. A compania telefônica para qual devo dinheiro está levando isso muito pessoalmente.

Connor se levanta em um pulo, e leva as mãos à cabeça.

“Puta que pariu” ele xinga. “Merda, merda, merda.”

“Qual foi?”

“Hoje é 6 de junho.”

“E isso quer dizer que…?” eu reviro os olhos.

“Que amanhã é 7 de junho.” Ele anda de um lado para o outro, demorando um pouco para notar o meu olhar de desenvolva. “Katie vai para Nova York. Amanhã.”

“A Gardner vai mudar para o outro lado do país?” eu rio. “Nem todas as notícias são ruins, no final das contas.”

“Eu prometi que ia passar a noite com ela, Silena e Miranda.”

Eu dou de ombros.

“Cancela.” Aconselho muito sabiamente.

“Eu não posso cancelar.” Ele me olha irritadiço. “É importante. Elas tem uma lista, e tudo. Eu prometi.”

“Então você fica com elas só no começo da noite. Depois disso a gente vê o que faz. O trabalho só começa às três.”

“Então você está dentro?”

Eu olho para a mochila. Tudo o que tenho cabe em uma mala de mochileiro. Quatro anos de faculdade e um monte de decisões ruins.

“Yeah.” Eu digo. “Eu estou dentro.” Connor sorri.

“Às oito. No Meio-Sangue.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ta-dah!
e aí e aí e aí e aí
O que acharam?
Vejo vocês.... no review.
Que eu sei que todos vão deixar bonitinho aí em baixo.
Porque vocês são uns amores.
Beijos e até :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sun Goes Down" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.