Mal o Sol surgira por sobre o topo das montanhas, todos já estavam de pé e bem despertos. Seguindo Legolas, Caspian, Belle e Sam pegaram suas mochilas e caminharam pela cidade fantasma. Mas apesar do silêncio e do vazio, nenhum deles sentia que a cidade estava mesmo desabitada, pelo menos, não parecia nem um pouquinho.

Legolas entrou em uma grande sala, que parecia uma enorme cozinha, com vista para uma horta. Ele abriu um dos armários, pegou um pote de mel e guardou na mochila. Depois, pegou outro.

– O que está fazendo? - Belle segurou-lhe a mão. - Roubar é errado, além de ilegal!

– Não é roubo se não tem mais dono. - Legolas sorriu - Além disso, agora vai ter um destino muito mais nobre do que apodrecer nestes armários.

Belle olhou para a irmã. Estaria ele certo ou errado?

– Belle, - Sam disse - os mantimentos que trouxemos não darão muito mais do que 3 dias. É melhor ouvir ele.

Abelle bufou um pouco, mas enfim soltou o pulso do guia. Não gostava da ideia de roubar, mesmo que fosse de uma cidade fantasma; mas sabia que era melhor ouvir o guia porque Samantha o ouvia, e ela ouvia sua irmã

Legolas abriu um outro armário, e sorriu. Dentro dele, haviam embrulhos de folhas verde escuras; ele pegou um e o abriu, ao fazer isso, um cheiro doce de bolo de mel inundou toda a cozinha.

– Venham ver isto aqui!- Legolas chamou empolgado. – Eu sabia que era uma receita mágica, mas não sabia que podia durar tanto tempo!

Todos se aproximaram, curiosos para saber o que o deixara tão animado. Eles olharam dentro do embrulho, e viram um pão quadrado e achatado, de cor clara meio creme, tinha um corte superficial em diagonal, dividindo o pão ao meio.

– Isto é Lembas, o pão élfico para viagens. – Legolas informou com um pequeno sorriso- Uma mordida pode saciar o estômago de um adulto. A receita atualmente estava em posse da Dama Galadriel, não achei que haveria reservas dele aqui...

– Perdão interromper, mas quanto tempo isso pode durar? – Caspian perguntou, meio ansioso. Todos estavam, na verdade, pois pretendiam sair antes do anoitecer.

– Uma viagem inteira. – ele respondeu – O que pode durar entre 1 mês, e 3 anos.

Samantha, sem esperar mais instruções, aproximou-se rapidamente da despensa e encheu sua mochila freneticamente. Não sabia quanto tempo a viagem poderia levar, e, bom, um pão que dura tanto pode ser muito útil. Ao olhar a reação dela, começaram a encher as suas também, movidos pelo mesmo pensamento. Logo, todas as mochilas estavam carregadas de Lembas, e ainda havia muitos na despensa.

A segunda coisa que fizeram foi arrumar roupas. Afinal, todas as provisões que eles haviam trazido estavam em seus cavalos, do lado de fora do bosque entre mundos. Belle já estava menos receosa quando assaltou o guarda-roupas de uma elfa. Ela dizia para si mesma que não estava assaltando, e sim pegando emprestado, e que devolveria tão logo quanto fosse possível. Não que isso fosse verdade, mas ajudava a ignorar a culpa por fazer algo que ela julgava errado. Se pararmos para pensar, o certo e o errado são relativos. É errado matar um cervo inocente, mas se você está com fome em uma floresta, isto é o certo a se fazer. A mesma coisa se encaixa nesta situação. É errado roubar algo que não é seu, mas se você precisa dele, e ninguém mais precisa, você pode acabar não tendo outra escolha.

Belle abriu um armário de madeira branca. Ele estava cheio, com os mais belos vestidos e peças que ela já vira: rendas, fazendas, pedrarias, fios de prata, seda, cetim, linho, e muito branco. Todas as peças ali eram belas, mas sempre tão claras, que ela no início pensou em ir para outro quarto. Mas, ao passar os olhos pelo armário outra vez, viu uma peça que lhe roubou o fôlego*.

Era um lindo e rústico vestido verde muito escuro, com mangas compridas. Tinha estampas de verde oliva e um cinto com flores de ouro envelhecido. Abelle olhou para ele e disse para si mesma esse aqui é meu!

Ela tratou de colocá-lo no mesmo instante, e depois se olhou em um grande espelho oval, estava magnífica. Parecia uma elfa, porém, muito mais Abelle. E ela adorou isso. Na verdade, esta era uma das poucas vezes que se encantava com um vestido, ela preferia deixar esta parte para sua irmã.

Abelle correu para fora, louca para mostrar para os outros o seu precioso achado.

– Sam! Samantha! Vem ver o que eu achei! - ela gritava, correndo como uma doida - Sam!

Samantha saiu de uma das casas, seguida de Caspian. Ele também havia trocado de roupas, e estava usando uma roupa muito escura, de um tom azulado. Mas Samantha é quem mais impressionava. Usava um vestido roxo claro, com um manto de cetim lilás, bordado com pedrarias, assim como o vestido. Ele também tinha mangas compridas, mas era de um tecido muito mais leve e maleável**. Ela estava muito linda.

– O que foi, porque está gritando? - Sam perguntou, preocupada. - Você viu algum orc?

– O quê?.... - Abelle acordou da hipnose - Não! Eu só queria te mostrar....

E ela rodou, fazendo o vestido esvoaçar. Samantha riu, sua irmãzinha estava muito linda naquele vestido. Era bem a cara dela, ela tinha que admitir.

– Você está linda! - Sam se aproximou, pegando nas mangas do vestido de Belle - Ele ficou incrível em você!

– Concordo! Ainda melhor do que o da minha festa de coroação, devo admitir! - Caspian falou, mas logo se tocou do que dissera - Não que eu ligue para essas coisas! Não, isso jamais! Eu só quis dizer que...!

– Calma, priminho lindo! - Belle abraçou-o, dando-lhe um beijo em sua bochecha - Eu entendi o que você quis dizer! Obrigada!

Caspian sorriu. Belle era sua prima, e ele se sentia desconfortável em ter que admitir que ela estava - e era! - encantadora.

– O que foi? - Passo Largo se aproximou, preocupado - Por que essa gritaria toda???

Todos se viraram para ele. Passo Largo parou na hora, e deu uma olhada em Samantha. As roupas de Nárnia eram muito bonitas, mas não se comparam às roupas élficas. Ele ficou ali, olhando-a, meio hipnotizado, com cara de bobo.

– Desculpa, PL! - Belle falou - Fui eu! Não é nada!

– Como nada?! - Sam sorriu - Olhe só para você!

Ela segurou as mãos da irmã, e a fez girar, juntamente com ela. As duas riam, os vestidos esvoaçando, junto com os cabelos loiros delas. Caspian cruzou os braços. Moças bobas, ele pensava. Mas Passo Largo ainda tinha os olhos fixos em Samantha. Ela estava linda, mais linda do que qualquer moça que ele já vira na vida. Mais linda do que qualquer elfa das histórias. Ele suspirou.

– Miladys... - Legolas se aproximou - Miladys?

Samantha e Abelle pararam de rodar, e abraçaram Caspian, rindo. O pobrezinho ficou sem-jeito, isso era muito meloso para ele. Legolas se aproximou de Passo Largo. Olhou para ele, olhou para a direção de onde ele olhava, e riu.

– Pelo menos, disfarce! - ele bateu no ombro de Passo Largo discretamente.

– Do que está falando? - Passo Largo desdenhou, mas não conseguia desviar o olhar.

– Sei... - Legolas riu - Limpe a baba!

Legolas correu até os outros, deixando Passo Largo pensativo. Estaria tão óbvio assim? E seria recíproco? O que será que ela sente? Ele deveria perguntar?

– Senhores, eu preciso lhes mostrar um outro artefato que encontrei! - Legolas falou, chamando a atenção de todos para si.

Ele tinha em mãos um monte de capas cinza escuras, de mesmo tamanho, e com gorros. Ele pegou uma e vestiu, fechando-a com um broche de metal, de folhas verdes.

– Olhem, estas capas são muito importantes nas Montanhas, como disfarce. - ele falou, enquanto fechava o broche. - Elas são cinzentas, da cor das rochas, então são uma camuflagem, excelente contra orcs.

– Olha mana! - Belle pegou uma, analizando o broche - São as mesmas da Sociedade do Anel!

– São sim. - Legolas riu - Vistam! Tem para todos!

Cada um pegou uma capa e a vestiu. Agora tinham um padrão, apesar dos vestidos élficos das garotas.

– Muito bem, vamos partir! - Passo Largo falou em voz firme, acordando da hipnose.