O dia amanheceu nublado em toda Panem, como se soubesse que dia sombrio era. A colheita. Não importa o distrito, em todos, as ruas ficam desertas,as casas fechadas, tentando repelir ao máximo a sensação de que suas crianças serão sorteados para a (provável) morte. Não importa o distrito, sempre os acompanhantes da capital agem como se tudo fosse apenas um show. Sempre o mesmo vídeo, e o mesmo discurso... essa repetição vai arrancando suas esperanças pouco a pouco. Resta esperar... esperar que as coisas mudem. E talvez... neste ano finalmente a espera acabe. De certa forma, a esperança está nas mãos desses 24 jovens, que neste momento, todos tem a mesma dúvida, o mesmo medo: a morte.

Enquanto isso, na capital, as apostas rolavam soltas por todo lado, muitos achavam que a disputa seria acirrada, já que mesmo os distritos mais insignificantes (ao ver deles) pareciam ter fortes tributos.

Porém muitos se decepcionaram, já que no desfile dos tributos só houveram trajes padrão, com árvores para o 7, mineiros de carvão para o 12, etc. Nas entrevistas, o único destaque (e destaque negativo, veja bem) foi para o garoto do 5: Nicholas, que surpreendeu a todos dizendo que só queria uma morte rápida, sem tortura e desespero.

O que fez a edição retomar a popularidade foram as notas, nenhuma abaixo de 7! Todos definiam os tributos desse ano como lutadores vorazes e habilidosos, infelizmente estavam horríveis no quesito drama, mas todos sabiam que os idealizadores estavam cuidando disso.

E finalmente o dia chega. Ironicamente, o céu estava perfeitamente azul, sem nenhuma nuvem, o que fez vários tributos pensarem que os idealizadores estavam controlando o clima.

Faltando pouco para o meio dia toda Panem estava em suas casas ou nas praças públicas. A arena é revelada, e muitos soltam exclamações de espanto: tudo era feito de gelo, que se estendia em um círculo perfeito de grande extensão. O chão escorregadio parecia ter sido encerado, como um ringue de patinação da antiga América do Norte, e era tão transparente que podia-se ver o reflexo das 24 plataformas de metal. No centro estava a cornucópia, feita de gelo que brilhava à luz do sol, como um grande cristal em forma de chifre.

Em seguida deram uma vista total da arena por cima, mais curiosa e estranha que a história antiga. (N.A: Lá, história antiga é a história desse tempo) 4 áreas distintas se estendiam por quilômetros e quilômetros. Uma era apenas água até onde a vista alcança, com uma pequena ilhota no centro. Vez ou outra um peixe aparecia boiando morto. Outra era uma densa floresta, onde não podia-se ver o solo. A terceira era uma cadeia de montanhas com várias cavernas, e em algumas partes uma névoa que não deixaria o tributo ver um palmo à frente do nariz. O vento uivava, e por um momento, alguns pensaram mesmo ter ouvido uivos. A última era uma planície, mas com um solo infértil, duro, e a explicação para isso fica no centro da área, onde um vulcão aparentemente inativo estava. Ás vezes, uma pequena chama tremulava no chão, desaparecendo em seguida.

As plataformas dos tributos se erguem, com as mesmas carinhas assustadas ou determinadas de sempre. A voz de Claudius Templesmith retumba pela arena.

– Senhoras e senhores está aberta a octogésima segunda edição dos Jogos Vorazes!

Durante os 60 segundos seguintes, na capital as pessoas faziam contagem regressiva como no ano novo, nos distritos também, mas com tensão, como se fizessem a contagem regressiva da sua própria morte.