CAPÍTULO IV

– Plutarch! Plutarch! - Effie saiu correndo enquanto o procurava, olhando para os lados. – Você viu o Plutarch? - perguntou para uma mulher no corredor.

– Provavelmente na cabine ali na frente - respondeu a mulher, olhando um pouco assustada para Effie.

Ao chegar a tal cabine, deixou escapar um suspiro de alívio ao ver seu amigo Plutarch conversando alegremente com um colega. Effie pensou melhor em não interrompê-los, porém ao dar um passo para trás, notou que sua situação poderia ser mais séria do que aquela conversa na sua frente e decidiu ir até ele.

– Plutarch– chamou. O homem virou-se imediatamente para ouvi-la. - Preciso falar com você - Effie lançou um olhar para o outro homem e continuou - a sós, por favor.

Plutarch pigarreou e cumprimentou o colega antes de se afastar com Effie. Pousou uma mão nas costas da mulher e a acompanhou até um lugar mais privado. Ela parecia um pouco aflita, o que o deixou preocupado.

– Aconteceu alguma coisa? - perguntou, assim que pararam.

Effie assentiu com a cabeça e lhe mostrou a pulseira que Haymitch lhe entregara mais cedo. Plutarch a fitou sem entender muito bem o que estava se passando, mas aguardou que ela pudesse explicar.

– Plutarch, eu me lembro dessa pulseira - ela começou, balançando o objeto na sua mão. Seus olhos brilhavam de uma forma incrível. Havia esperança e uma ponta de desespero neles que assustou um pouco o homem. - Eu me lembro muito bem! Mas... - bufou, então, e seguiu até uma cadeira próxima, desabando sobre ela– ainda assim eu não consigo me lembrar quem é aquele Haymitch.

Respirando fundo, Plutarch abaixou-se de frente para Effie e tomou as mãos dela nas suas. Levantou a cabeça e olhou profundamente em seus olhos azuis, esperando ser claro.

– Effie... não sei se seria melhor contar isso antes ou simplesmente não contar, mas acredito que isso vá diminuir sua angustia... - passou a língua nos lábios para prosseguir. - Haymitch fez, sim, parte da sua vida, muito mais do que você pensa. Vocês eram companheiros, estavam sempre juntos desde que começaram a trabalhar como mentores e, se quer saber, eu acho que ele gosta de você, sim.

– Mas por que eu não consigo me lembrar? - perguntou ela, agora com os olhos úmidos. - Por que só ele? Por que toda vez que o vejo eu sinto que preciso dizer algo, mas ao mesmo tempo não faço ideia do que seja isso? Ele é um estranho que eu quero ter por perto, mas tenho medo desse desejo de proximidade pelo simples fato de não me lembrar de nada!

– Effie, calma! - disse Plutarch, segurando-a com mais força, visto que ela estava começando a ficar nervosa com a situação. - Você não pode ficar assim!

– Mas e se nós éramos muito próximos? E se ele fosse...

– Seu namorado? - sugeriu Plutarch.

Effie olhou boquiaberta para Plutarch, que quase se arrependeu de ter dito aquilo.

– Ele era meu namorado? - gritou num sussurro e tapou a boca com uma mão. Seu olhar fugiu dos olhos do homem a sua frente e se perdeu pelo ambiente.

– Effie, foi uma suposição - tentou explicar, mas ela ainda estava assustada. Ele segurou suas mãos novamente, fazendo-a olhar para ele. - Mas você acredita que possa ter sido?

Ela ficou em silêncio, tentando organizar as ideias.

– Talvez fosse melhor você dar uma chance para ele, ouvir o que ele tem a dizer. Com certeza será melhor para os dois, acredite.

Effie levantou o olhar para encontrar os olhos de Plutarch e deixou um pequeno sorriso se formar em seus lábios.

– Você acha? - perguntou.

– Eu tenho certeza - ele respondeu com um sorriso nos lábios o qual Effie retribuiu. Plutarch sempre fora seu amigo. Ela sabia que ele nunca a deixaria na mão, mas estava na hora de agir sozinha.

~*~

Não demorou até o aerodeslizador chegar à Capital. Effie, apesar de estar animada e ansiosa para ver Katniss e Peeta novamente, permanecia com o olhar vago, pensando em como chegar ao Haymitch sem que ele fugisse, como fez da última vez.

Todos se direcionam a mansão do presidente, onde foram informados que lá estavam os tributos sobreviventes. Sem puxar assunto com ninguém, Effie se direciona, junto a uma equipe que iria preparar Katniss para a execução, até um quarto onde fora informada que estava sendo utilizado por ela.

Enquanto esperava pelo tordo, Effie sentou-se numa cadeira e pousou sua prancheta no seu colo, tentando desviar seus pensamentos de Haymitch, mas era impossível. Aquele homem, agora, mais do que nunca, não saía da sua cabeça. Ela sentia a necessidade de ir até ele, mas naquele momento ela sabia que não podia. Tinha que cumprir o seu dever.

Effie sobressaltou-se ao ouvir a porta se abrindo e ao ver Katniss entrar, fitando-a sem acreditar que estava viva. Não soube como reagir a situação e acabou optando pelo comum, agindo como se nada tivesse acontecido desde a última vez que a vira.

– Effie– dissera Katniss, desacreditando.

– Olá, Katniss– respondeu, ainda com o olhar um pouco vago. Segurou sua prancheta na mão e deu um beijo no rosto de Katniss, reprovando-se por não ter mostrado mais emoção, mas ela estava atordoada demais para lembrar-se disso.

– Bem, parece que nós temos um outro grande, grande, grande dia pela frente. Então por que você não inicia a sua preparação e vou somente disparar e verificar os arranjos?– as palavras saíram da boca dela automaticamente. Effie, por um momento, achou melhor dessa forma e evitou ser emotiva demais. Poderia deixar isso para depois.

Uma coisa estava certa: tudo iria mudar. E ela iria fazer isso.

~*~

Foi quando a dupla execução finalizou que Effie o viu novamente: Haymitch estava com um copo na mão e ela não precisou pensar muito até deduzir que se tratava de whisky. Ela iria ver Katniss novamente, mas precisava falar com aquele homem antes. Precisava fazer com que ele não fugisse novamente.

– Haymitch! - ela o chamou. Ele virou-se, parecendo um pouco aéreo, mas ao vê-la, tentou manter um pouco de postura. Pigarreou enquanto ela se aproximava. - Ah... olá.

– Olá, queridinha - respondeu, fazendo o estômago de Effie revirar. "Queridinha", isso não era estranho.

– Por que você não para de beber ao menos um instante? - indagou. Seu sotaque da Capital foi o que irritou Haymitch. Ele simplesmente odiava.

– Quem é você para me dizer o que devo ou não fazer?

– Eu não sei - retrucou. Haymitch parou para fitá-la. Effie o olhava com determinação. - Eu não sei o que sou para você. Ou o que fui.

– O que você quer?

– Quero que me ajude - ela disse. - Quero que não fuja quando eu quiser falar com você, que me explique porque deixou de me entregar flores antes mesmo de eu receber alta, que me fale sobre a tal pulseira...

– Não tenho mais tempo para isso - ele a interrompeu. Virou o copo e em seguida pousou-o numa mesinha próxima. - Dentro de poucos dias todos vão voltar para os seus devidos lugares e o meu lugar não é aqui, docinho.

– Bom - ela começou, olhando para o lado– já que você é muito cabeça-dura, e só temos alguns dias... podemos ao menos dar uma volta?

Vendo-se num beco sem saída, Haymitch suspirou e fez menção para Effie ir na frente. A princípio ninguém disse nada, mas Haymitch pensou num lugar que talvez ela gostasse.

Atrás da mansão tinha um jardim, e foi para lá que ele a levou. Ao abrir a porta de trás, Effie se surpreendeu com a visão maravilhosa que estava tendo, visto que presenciara a morte de Coin e Snow naquele mesmo dia. Por um momento ela esqueceu a correria que poderia ainda estar ocorrendo lá fora e passou a admirar o ambiente em que se encontrava.

– Nossa - exclamou, caminhando lentamente para admirar as flores. - É lindo aqui.

– Achei que ia gostar - comentou Haymitch, dando alguns passos a frente. Sentiu falta de uma bebida, mas achou melhor não naquela hora.

– Deve me conhecer muito bem, Abernathy– disse Effie, abaixando-se para pegar uma flor. o se levantar, parou de frente para Haymitch e sorriu.

– Talvez um pouco.

Effie deixou uma risada tímida escapar. Haymitch ficou intrigado.

– O que foi? - perguntou.

– É que... talvez eu me lembre de você - ela disse suavemente e suas palavras despertaram em Haymitch uma ponta de esperança que até então ele não tinha. - Claro que eu não garanto nada, mas, é estranho - riu novamente. - Às vezes eu sinto a necessidade de estar... perto de você.

Haymitch nada disse. Apenas a fitou, tentando entender o que aquelas palavras queriam realmente dizer.

– É claro, isso pode ser apenas uma confusão da minha cabeça, mas... acho que a única pessoa que pode me ajudar nisso é você.

– Effie, eu não sei...

– Por favor - suplicou. Seus olhos azuis encontraram os de Haymitch e naquele instante ele soube que não conseguiria mais dizer não para ela. Era a sua Effie que estava ali, ele tinha certeza.

– Claro, princesa - respondeu. Effie sorriu ao ouvir sua resposta e aquele sorriso, Haymitch percebeu, o alimentava mais do que suas garrafas de whisky.