– Sherlock Holmes!– Jack agora fingia estar boquiaberto, enquanto aplaudia. – É bom vê-lo! O que faz aqui?

Sherlock continuava andando em direção a Jack, se aproximando com a arma em punho mirando nele. John estava logo atrás. Rapidamente, foi tentando ir pelos cantos grudado na parede, atrás de alguns panos, câmeras e tripés.

– Sem jogos Jack! Solte William! – Sherlock disse agora apenas uns 2 metros longe de Jack. – É a mim que você quer, meu filho não tem nada a ver com isso!

– Ah, engano seu Sherly querido! – Jack agora estava de costas para William. A arma ainda estava na sua mão, mas não mirava mais em William. – O pequeno Will é a chave para a minha vingança. Só assim posso enfim acabar com você Sherlock.

John agora estava próximo de Will. Iria tentar soltá-lo enquanto Jack se distraia com Sherlock. Esse fora o plano que Sherlock e John discutiram no caminho até ali. Tudo estava dando certo.

– Eu sei que você quer vingança Jack, mas solte William, por favor! – Sherlock implorava, enquanto se emocionava, ainda mirando a arma em Jack, prendendo a atenção dele.

– Você matou meu irmão Sherlock! – Jack dizia enquanto também erguia a arma mirando em Sherlock. Sherlock percebeu que a mão dele estava tremendo. Se Jack atirasse, o tiro não ia ser certeiro. Mas antes que Sherlock pudesse dizer alguma coisa, Jack se virou e voltou a apontar a arma para William: - E agora eu vou matar o seu querido filho!

Antes que John pudesse andar e tentar proteger William, ele escutou um tiro. O seu coração acelerou ainda mais. Quando viu o corpo de Jack estava caindo ao chão, um olhar de terror e surpresa, ainda com a arma empunhada na mão.

Sherlock tinha atirado.

Tinha acertado Jack, que agora estava morto bem na frente de William.

Quando John olhou para Sherlock, pode ver lágrimas escorrendo do rosto do amigo e as mãos tremendo. Sherlock estava em choque. Ainda estava com a mão erguida, segurando a arma. Não se mexia, estava paralisado.

Ele tinha atirado e matado mais um.

Sem dizer nada, John apenas se apressou em soltar William. Assim que tirou a fita da boca dele e desatou os nós das cordas, Will se levantou e correu para abraçar Sherlock:

– Pai! Pai! Você veio! – O pequeno dizia enquanto abraçava as pernas de Sherlock. Ele ainda não tinha se mexido, mas quando percebeu William o chamando de pai, apenas fechou os olhos e se abaixou para enfim dar um abraço no seu filho.

– Mas é claro que eu vim! Precisava te salvar filho. Não me perdoaria se... se tivesse acontecido alguma coisa com você William. – Sherlock dizia enquanto agarrava e levantava William no colo. As perninhas se balançaram quando Sherlock levantou. John apenas observava de longe, ainda com as cordas na mão.

– Pai eu fiquei com tanto medo! – William dizia chorando e ainda tremendo, abraçando Sherlock.

– Eu também morri de medo filho. Mas agora está tudo bem. – Sherlock disse suspirando e fechando os olhos, enquanto passava a mão pelos cabelos de William. – Vai ficar tudo bem.

Enquanto ainda olhava a cena, John pensava no quanto Sherlock tinha mudado desde que o conhecera há alguns anos atrás. O Sherlock incapaz de demonstrar sentimentos e incapaz de dizer palavras de consolo não existia mais. Tinha sido substituído por um Sherlock que sabia amar, que agora era marido e pai.

Com um leve sorriso, apenas acenou com a cabeça para o amigo, que agora o observava também com um sorriso.

Vai ficar tudo bem Sherlock.

***

A Scotland Yard não demorou para chegar. Não fizeram muitas perguntas e rapidamente retiraram o corpo de Jack do estúdio abandonado. William estava agora sentado em uma ambulância, com um cobertor laranja nas costas, uma máscara de ar e estava recebendo toda a atenção que ele precisava. Um pouco afastado, John e Sherlock observavam tudo.

– Você quer conversar sobre o que aconteceu Sherlock? – John começou a dizer, tentando fazer o amigo sair daquele silêncio.

– Eu fiz o que precisava ser feito John. Jack ia matá-lo. – Sherlock disse suspirando. Era difícil enfrentar a realidade depois de tudo. Ele era um assassino.

– Mas matá-lo não estava nos planos Sherlock.

Sherlock então suspirou e olhou para John. Sabia o que o amigo queria dizer e no fundo ele sabia que John estava certo.

– Não me considero um herói John. Heróis não existem. Mas hoje... – Sherlock disse se virando para olhar William novamente – ...eu fui um herói para o meu filho. E é só isso que importa para mim agora.

John continuou o olhando e resolveu não dizer mais nada. Apesar de todas as mudanças, John sabia quando Sherlock não queria mais conversar e que a conversa tinha acabado.

Ambos viram quando Mycroft se aproximou. Inesperadamente, não trazia o seu guarda chuva.

– Pelo visto William está bem. – Disse com um sorrisinho. Tinha as duas mãos nos bolsos do casaco que vestia por cima do terno.

– William é forte e sabe se comportar como um Holmes. – Sherlock disse, parecendo dizer algo que só ele e Mycroft entendiam.

– Não se preocupe com a Scotland Yard. Já resolvi a situação e Sherlock... – Mycroft disse tirando um Rei (a peça do xadrez) do bolso - ...entregue isso para Will por favor. E diga que estou esperando o herdeiro da Família Holmes para uma partida.

Sherlock apenas olhou para a peça, surpreso pela demonstração de afeto de Mycroft. Antes que pudesse dizer alguma coisa, viu o irmão se afastando.

– O herdeiro da Família Holmes? – John se aproximou um pouco curioso sobre a frase.

Sem responder, Sherlock apenas riu e guardou o Rei no bolso do caso. O herdeiro.

William era o herdeiro da Família Holmes.

***

– Mãe! Mãe! – William disse enquanto pulava para receber um abraço de Molly.

– Por Deus Will, eu fiquei tão preocupada! Você está bem? – Molly dizia enquanto abraçava seu pequeno, em meio as lágrimas. Eles tinham chegado ao flat na Baker Street depois de 2 horas e meia sem darem notícias.

– Estou bem! Papai me salvou! Olha o que eu ganhei?! – William disse se desfazendo do abraço e mostrando a peça do xadrez que ele tinha ganhado.

– Uau, que lindo Will! – Foi só o que ela conseguiu dizer.

Estava feliz por William não estar traumatizado, como os especialistas costumavam dizer. Pelo visto, William não estava passando por um “estresse pós-traumático”. Isso era um bom sinal. Em poucas horas, tudo estaria no seu normal. Pelo menos era o que Molly esperava.

Viu quando Sherlock entrou pela porta, logo depois de Will.

– Oi – ele disse um pouco tímido e com um olhar preocupado.

– Oi – ela respondeu, encarando aqueles olhos azuis. O coração ainda estava acelerado. – O que aconteceu com Jack?