-Mamãe, ainda não entendi porque tivemos que ir embora de Nova York, eu gostava tanto de lá! –O pequeno resmungava enquanto fechava seu livro intitulado “100 princípios básicos para saber se alguém está mentindo”.

-Filho, a mãe já explicou que recebeu uma ótima proposta de emprego em Londres, que daria para criar você melhor. Além de nós podermos voltar para um apartamento que é nosso, ao invés de pagar aluguel em Nova York. Mas você é muito pequeno para entender isso. – Ela disse bagunçando o cabelo dele e se aproximando, plantando um beijo na testa do pequeno. Ele então percebeu que não iria mesmo entender o porquê da mudança, então revirou os olhos e voltou a ler o seu livro. Já para sua mãe, entender o porquê da mudança não era difícil, o difícil seria encarar o que a esperava de volta à Londres. Mas ela estava acostumada. Nada em sua vida fora fácil. Foi tão difícil deixar Londres e agora estava sendo tão difícil voltar.

Já tinha se passado 6 horas desde que o avião decolou de Nova York rumo à Londres. A viagem tinha sido tranqüila, apenas algumas turbulências, nada de anormal. Mas agora que faltava poucos minutos para a aterrissagem, os dois começavam a ficar ansiosos pela sua nova vida. O que será que tinha mudado em Londres após 5 anos?

***

-Mamãe, eu preciso fazer xixi! –A pequena se contorcia enquanto puxava a saia da mãe.

-Tem que ser agora filha? –A mãe disse com uma certa impaciência. Estavam no aeroporto só faziam 5 minutos e a espera pelos passageiros não ia demorar tanto.

- Estou muito apertada, de verdade!

-Tudo bem. –A mãe olhou em volta procurando uma placa sinalizando o banheiro e avistou uma perto da Livraria. – Ali, ta vendo? Perto da Livraria tem um banheiro, vai rapidinho e tente não se distrair e se perder, por favor, filha!

-Tudo bem mãe, eu prometo! – A pequena disse já correndo na direção do banheiro.

Enquanto a mãe ficava ali observando a sua pequena menina de cabelos loiros, a pele branca e já tão crescida, não imaginava que apenas daqui a alguns meses ela já completaria 6 anos. Parecia que tinha sido ontem que descobrira que estava grávida, quer dizer, que contaram à ela. Foi a melhor notícia de sua vida e ela só tinha melhorado com a chegada de Olivia. E ali parada no aeroporto, o que mais queria era apresentar sua filha para sua amiga.

***

-Tudo pronto? Pegou tudo do banco do avião?

-Sim mãe, peguei! Como é essa sua amiga que vamos encontrar? – O pequeno perguntava cheio de curiosidade e nervosismo diante do possível contato com gente desconhecida.

-Ela é bem gentil, animada, teve uma vida complicada, mas sempre ajudou a mamãe. E estou com muitas saudades dela, acho que você vai gostar quando a ver.

Eles agora desciam da parte de desembarque por uma escada rolante que dava direto na saída e era onde as pessoas que esperavam os seus conhecidos geralmente estavam segurando uma plaquinha com seus nomes.

Enquanto ajeitava mais as malas, ela começou a procurar no meio daquela multidão sua amiga que sabia, estaria lá esperando por ela. Provavelmente a única pessoa que estaria esperando por ela. Segurou firme na mão de seu filho e não demorou muito para ela avistar uma plaquinha com o seu nome: MOLLY.

***

-Molly! Molly! –Mary gritava, sinalizando bem alto a plaquinha em direção a amiga. Quase não podia agüentar seu coração batendo de tanta felicidade por rever alguém tão importante para ela. Tinha tantas coisas para contar e colocar todos os acontecimentos em ordem. Até hoje, Mary ainda não entendia porque Molly tinha ido embora de Londres e ficado mais de 5 anos sem dar nenhuma notícia. Quando parecia que a vida dela tinha enfim se ajeitado, ela partiu, sem dar nenhuma explicação para ninguém. NINGUÉM.

E agora que revia a amiga, todos esses pensamentos surgiram como uma avalanche para Mary, e assim como rapidamente surgiram, desapareceram. Molly não tinha voltado sozinha. Quem era aquele garoto de cabelos encaracolados, olhos azuis e meio verdes, da pele branca e olhar assustado? Ele se parece, se parece tanto com...

-Mary! – Molly gritava de volta, interrompendo os pensamentos da amiga. –Que saudade! – Disse envolvendo a amiga num forte abraço. Mas Molly quase caiu ao tropeçar em seu filho se escondendo atrás dela. Às vezes ele era difícil em lidar com as pessoas. Em Nova York só tinha feito um amigo. Mas ela sempre achou que o motivo seria a timidez, uma grande timidez e que um dia, ela vai acabar passando. Ela também era muito tímida na infância e agora tinha melhorado bastante. Talvez ele tenha puxado isso dela. Ou do pai. Mas Molly torcia que não, essa última alternativa era muito assustadora para ela.

Mas Mary nem teve tempo de responder nada a amiga, pois sua filha Olivia, tinha voltado e já estava novamente puxando a barra da sua saia.

-Quem são eles mamãe? – Ela perguntou, também um pouco tímida.

-Essa daqui é a Molly.

-Você deve ser a Olivia, certo? – Molly perguntou se abaixando e estendendo a mão como um cumprimento. –Sua mãe me contou um pouco sobre você por telefone.

-Lembra que a mamãe vive falando o quanto sente saudade dela Olivia? – Mary deu um sorriso em direção a Molly, enquanto a pequena Olivia abria um sorriso cheio de simpatia. – E esse – Mary disse mostrando o pequeno garoto escondido atrás de Molly – a mamãe ainda não sabe quem é...

Molly então se adiantou em fazer as apresentações:

- Esse é o meu filho. –Molly disse estabelecendo um olhar firme e decidido em direção a Mary, como que se com um único olhar pudesse explicar o que fazia em Londres voltando de Nova York com um filho após 5 anos de puro sumiço. – Anda amor, diga seu nome para tia Mary e para a Olivia.

O pequeno então saiu de trás de Molly, ainda segurando seu livro contra o peito e disse com um olhar aparentando medo:

- Meu nome é William. William Júnior.