– Helena? – ouço a voz rouca de Loki do outro lado da porta. – Podemos conversar?

– O que você quer Laufeyson? – digo, com a cabeça encostada na parede de gelo.

“Falar com você, eu preciso me explicar, por favor...” – diz Loki, enviando seus pensamentos até minha cabeça.

– Saia da minha cabeça! Agora! – grito em resposta, e destranco a porta.

– Helena, eu… – começa ele, se aproximando sorrateiramente de mim.

– Seja direto Loki, eu não vou mais jogar esse jogo. – digo – Você venceu! – sorrio tristemente – Você tem um reino, finalmente tem um trono. – alargo o sorriso – Você é um rei! – exclamo em voz alta e ele se aproxima ainda mais.

– De que me adianta ter um reino, uma coroa, ter poderes, se eu não tenho você? – diz ele, sentando-se na cama, que costumava ser nossa – Você não consegue enxergar?

– Perdão? – sussurro – O que eu perdi aqui? – sorrio falsamente – Por todo esse tempo que eu vivi aqui, nesse mundo, nessa outra dimensão, com você, desde que Sigyn apareceu nas nossas vidas, eu estou procurando a razão pela qual você me trocou...

– Pare! – sussurra ele, colocando o dedo indicador sobre meus lábios – Eu não troquei você por ninguém Helena, jamais faria isso. – sorriu ele, acariciando minha face docemente – Eu fiz um acordo com Sigyn, ela está me ajudando a conquistar um reino...

– Pior Laufeyson! – tiro suas mãos de cima de mim – Você me trocou pelo poder! – grito – Bem pior! – sinto lágrimas quentes escorrerem dos meus olhos, ao mesmo momento em que sinto minha garganta arder – Dê-me apenas um motivo, huh? Somente um! – sussurro derrotada.

– Eu julgava sua raça inferior, por serem humanos, por morrerem... – sussurra ele, deitando-se na cama, ao meu lado – Mas agora percebo que os invejo mais que tudo – diz Loki, de uma maneira tão sincera e amarga que me surpreende – Quando as pessoas como você perdem alguém, elas sofrem, mas superam, e convivem com a dor pelo resto de suas vidas humanas, até o dia de sua morte – Loki faz uma breve pausa, como se estivesse selecionando bem as palavras – Mas quando alguém como eu, perde alguém, somos obrigados a conviver com a dor e a angústia pelo resto da eternidade.

Loki fica em silêncio, de olhos fechados, suspirando pesado. Sua testa está levemente enrugada, o que eu compreendo como se ele estivesse em transe, recordando algo, bastante doloroso para ele.

– Eu não quero conviver com a dor e a angústia pelo resto da eternidade Helena – diz ele, virando-se para mim, focalizando meus olhos e hipnotizando-me com aquelas orbes verdes – Eu não quero viver pelo resto da eternidade sem você. – completa ele, ainda me encarando – Porque – prossegue ele, engolindo em seco – Eu te amo.

– Se você me ama de verdade Loki, deixe-me ir. – sussurro – Eu só quero voltar para casa.

– Sua casa é aqui, comigo, com o nosso filho, com o nosso povo. – diz ele, colocando-se por cima de mim, sem cortar o contato visual.

– Eu só...

– Você é livre para fazer o que quiser Helena, eu não vou te impedir. – diz ele, acariciando os fios rebeldes do meu cabelo – Se você quer voltar para Midgard, te mandarei para lá, com o Narvi, mas você sabe que nunca ninguém te completará como eu faço.

Eu sei.

Porque Loki e eu fomos feitos um para o outro.

Eu o compreendo de uma maneira que ninguém jamais fez, assim como ele não me julga por nada que eu tenha feito.

Se você me perguntasse se eu acreditava nessas baboseiras de alma gêmea, amor verdadeiro, há algum tempo, eu riria, porém agora, eu sei que existe, eu acredito, porque eu posso, finalmente, sentir.

– Dê-me todo o seu amor essa noite Helena... – sussurrou ele, enquanto beijava meu pescoço – pela última vez...

E assim, nós nos amamos, por incontáveis vezes, nessa longa e gélida noite de Jotunheim.

Eu tenho consciência que isso não é certo, mas eu não quero pensar muito sobre isso.

Não agora.

Leiam as notas finais! ;)