Depois de uma hora mais ou menos Rick voltou e abriu a cela da enfermaria em que eu estava. Ele estava com os olhos cheios de lágrimas e com a camisa cheia de sangue. Sai apressado da cela e peguei Rick pela gola da camisa, o levantando e empurrando na parede.

–O que você fez com ela? Seu veado covarde filho de uma puta! Você a matou porque talvez ela fosse má? Você sabe que aquilo sobre a Judith não era verdade! Você, assim como eu sabe que a Clair era incapaz de fazer qualquer coisa com uma criança, por mais durona que ela fosse, você a conhecia, ELA NÃO MATA GENTE INOCENTE! Se você a matou eu juro que...- falei com dentes serrados e agora Rick já estava a um metro do chão, eu era bem mais forte do que ele, mas com uma arma, por mais magricelo que o cara seja, não se brinca. Ele me interrompe.

–Calma Daryl, eu não matei ela!- o soltei e ele caiu sentado no chão.

–O que você fez então? Conte-me todos os detalhes!- perguntei com medo de algo pior que a morte.

–Okay, okay...-ele disse cansado.- Logo que eu sai com ela daqui, a levei para o carro e a deixei lá. Fui para a cela dela e do Carl e encontrei a grade trancada, a abri com a chave mestra e vi o Chandler na cama dela chorando e com as mãos sangrando, fiz um curativo com uma gaze que estava jogada no chão do quarto dele e deixei ele dormindo, as paredes também estavam com sangue, o quarto estava uma bagunça e...

–TÁ, isso não importa! O que você fez com a Clair?- ameacei dar um soco nele mas ele botou os braços na frente do rosto.

–Calma cara! Eu peguei roupas, a “daisy”, e todas as outras coisas dela, voltei pro carro e fui para a estrada, eu andei muito e quando eu achei que não saberia mais o caminho de volta pra prisão a larguei na beira da estrada com suas coisas, mas ai veio um bando de zumbis e...-parei de ouvir quando ele disse bando de zumbis. Ela estava morta. Fiquei olhando para o nada, para o vazio, e quando Rick falou “ai eu cheguei de volta aqui na prisão” eu sai com passos rudemente batidos e fui para o teto, onde era o cantinho da Clair, sempre que você fosse lá encontraria ela, ou quando ela sumia, era lá o primeiro lugar a se procurar. Cai ajoelhado e coloquei as mãos no rosto. Ela esta morta. Céus, minha menininha está morta. Ela era a minha pequena Dixon, mesmo não sendo de sangue, ela tinha mentalidade de Dixon, personalidade de Dixon, ela era quase minha filha, ela era a mini-eu, minha Clair, minha filha, eu a amava como um pai ama sua filha, mesmo não demonstrando.

Eu soluçava baixinho, mas forte. Neste momento eu estava encolhido no chão, chorando igual a uma menininha, uma menininha inocente, igual a Clair. A dor nos olhos dela quando viu que Carl mentiu. Aquele desgraçado, vou mata-lo. Se Rick pode tirar minha filha de mim, eu também posso tirar dele seu filho. Oh Meu Deus! Eu tenho que contar a Julie...Ela tem que saber, imagina o desespero e a agonia dela. Levantei e fui em direção a cela que Julie estava. Chegando lá vi ela no canto da parede com a maquiagem toda borrada chorando e desesperada, quando ela me viu se agarrou nas grades.

–Por favor, me diga onde está minha filha? Como ela esta? Por favor, eu imploro!- ela cai de joelhos chorando mais ainda.

–Julie, sua filha...a C-clair, morreu...

–NÃO! Não, não, não...é mentira, por favor não minta, minha filha não está morta! Ela está viva, por favor diga isso, eu te imploro Dixon, ela não morreu, ela não morreu...- Julie se joga no chão soluçando, gritando, tremendo, ela estava numa situação completamente desesperadora. Abri a grade com a chave que eu tinha no meu bolço.

–Julie...eu...- não conseguia formular uma frase para a situação, nunca fui de demonstrar sentimentos. Mas eu simplesmente me sentei ao seu lado no chão, a envolvi com minhas pernas e a abracei, a única coisa que se ouvia na cela eram seus soluços, seus lamentos...

–Minha filha...minha filha...Clarisse...- ela murmurava entre os altos soluços.

–Podemos conviver com a dor Julie, você, mais do que todos, devia saber disso! Você aguentou aquele escroto por todos esses anos, você aguenta a barra, eu confio em você!- eu não acreditava em nenhuma daquelas palavras que eu dizia, mas eu precisava acalma-la, de algum jeito.

Quando ela parou finalmente de chorar pediu para eu me retirar e deixar ela um pouco sozinha, eu assenti e o fiz. Agora eu fui na direção da cela de Carl, aquele puto vai ver o que é bom pra tosse.

Logo que cheguei o derrubei da beliche e o peguei pela gola da camisa e dei um belo soco na mandíbula.

–Por que fez aquilo seu covarde?- pergunte/gritei bufando de raiva.

–Aquilo o que?- ele pergunta já chorando por causa do soco.

–Você sabe! Estúpido, egoísta, filho da puta, veado, covarde...- a cada xingamento eu dava um tapa, até ele desmaiar nos meus braços.

*Rick Pov.*

*Flashback on.*

Daryl estava me machucando, e muito, mas eu estava com muito medo de falar.

–Calma cara! Eu peguei roupas, a “daisy”, e todas as outras coisas dela, voltei pro carro e fui para a estrada, eu andei muito e quando eu achei que não saberia mais o caminho de volta pra prisão a larguei na beira da estrada com suas coisas, mas ai veio um bando de zumbis e tive que matar todos eles- notei que Daryl já não prestava mais atenção em mim- quando matei, botei dois encima da Clair pra se vier outro bando, não perceberem ela, mas eu acho que se o sangue dos zumbis pegar no buraco da bala ela pode morrer, mas eu não me importei com isso na hora, peguei o carro e voltei para a estrada, ai eu cheguei de volta aqui na prisão.- Daryl saiu batendo pé e eu fiquei ali, sentado, chorando, pelo resto do dia, pensando da idiotice que eu fiz.

*Flashback off*

"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte"

Friedrich Nietzsche.