Winter Soldier - Retomando o Passado escrita por Vendetta23


Capítulo 12
Fim da Linha




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Foi a dor que me trouxe de volta à consciência. Mesmo sentindo cada respiração minha inferir uma dor aguda no meu abdômen, eu consigo ficar alguns segundos simplesmente respirando, sentindo meu corpo deitado numa superfície macia, mas me forço a abri-los quando as me lembro de que não deveria estar sentindo nada, deveria estar morto. A dor de ter falhado doeu mais do que qualquer ferida na carne, senti vergonha ao ponto de não conseguir ficar mais em silêncio, comigo mesmo, mais uma vez vozes que me condenavam me impedindo de alcançar a paz que tanto queria.

Abri os olhos.

Não pensei até agora sobre aonde devo estar, tudo o que vi foi um teto branco iluminado pela luz laranja de começo da manhã ou de fim de tarde, além da dor no abdômen eu não sentia mais nada, não estava escuro, eu não estava amarrado, ninguém estava me batendo ou gritando ordens. Antes que eu pudesse soltar um suspiro de alívio, percebi a presença de mais alguém no ambiente, um vulto captado pelo canto do olho. Fiquei mais um tempo olhando para o teto, cada memória do que aconteceu à noite apertando dolorosamente o meu peito. Eu estava limpo, não sentia nenhum resquício de sangue na minha pele, mas mesmo assim eu parecia estar me afogando nele. Eu sei quem está ao meu lado. Mesmo não querendo encarar aqueles olhos agora, pois eu não merecia, eu tive que olhá-lo, as lembranças da bagunça sangrenta na qual eu tornei o quarto me forçando a checar se ele estava bem.

Na frente da janela, encostado em uma cadeira de madeira e vestindo uma camiseta azul limpa, ele me olhava calmamente, embora suas mãos pressionassem, tensas, os braços da cadeira. O corte em seu pescoço tinha se reduzido a uma cicatriz bem acentuada e vermelha, mas que dava sinais de que estava se fechando rapidamente. Depois de olhá-la, eu não consegui me concentrar mais em seus olhos, no que eu devia pensar ou no que eu ia dizer. Está lá, na minha frente, a marca que eu deixei, a representação tangível de quem eu sou, o inverno incrustado na minha alma. Eu devo ter perdido completamente a noção do tempo porque quando me dou conta de que deveria dizer ou fazer alguma coisa, o Sol tinha subido no horizonte, iluminando mais profundamente o quarto. Me sentei com cautela, tanto para não sentir tanta dor quanto para manter uma distância segura de Steve, que permanecia parado na mesma posição. Eu perdi o controle, não perdi? Mas aparentemente não importa o que eu faça, ele está sempre lá. Ele está fazendo isso desde que eu voltei, sempre esperando para que eu me sinta seguro para dar o próximo passo, nunca me julgando, e eu não mereço isso.

“Eu tentei te matar” repeti o que disse na noite anterior, ainda esperando ver ódio em seus olhos “Eu perdi o controle e tentei te matar, qual é o seu problema?!” quando levantei a voz minha ferida doeu tanto que me dobrei sobre mim mesmo, soltando um grunhido. Mas eu tinha que atravessar a dor para ficar em pé, me agarrei à cabeceira da cama e me puxei com meu braço mecânico, mas minhas pernas falharam e caí no chão, levando parte da madeira da cabeceira comigo, percebi que estava sem camisa quando minhas costelas bateram contra o chão frio. Ouvi passos correndo em minha direção.

Afastei a mão que se estendeu pra me ajudar com meu braço esquerdo, sem pensar. Um frio correu minha espinha quando senti o metal batendo na pele de Steve, segurei meu braço junto ao meu corpo quando ele deu um passo para trás, me olhando apreensivo. Coloquei minhas mãos no chão e me levantei mais devagar do que gostaria, ergui os olhos por alguns instantes, encarando a porta. Eu olhei então para Steve, seu rosto me disse tudo, pela primeira vez ele demonstrou alguma decepção, eu estava deixando o campo de batalha. Então é isso? Além de tirar de mim quem eu era, eles tiraram também a minha coragem?

Quando eu virei minhas costas para a porta e voltei a sentar na cama, eu sabia que eu podia voltar a machucá-lo, eu sabia que eu poderia perder essa guerra, mas eu também sabia que ele estava ao meu lado, e isso fazia toda a diferença. Até o fim da linha, e eu não podia virar as costas para ele. Quando me sentei, vi a tensão virar alívio em seu rosto, e mais do que isso, felicidade.

“Você é muito bom, e o mundo vai te matar por isso” eu disse sem pensar, sem saber se eu fazia parte ou não dos que iriam destruí-lo.

“Espero que sim, se os maus sempre vencem, então eu estou fazendo algo certo” ele sentou no chão, pernas cruzadas na minha frente. Aquela cena parecia assustadoramente natural. Não me lembro de ter me sentido minimamente relaxado em muito tempo. Ficamos nos olhando por um tempo, como se nada do que aconteceu mais cedo tivesse sido real, deixado cicatrizes eternas em nossas peles. Mas havia algo errado, e a garganta de Steve se mexia engolindo em seco repetidas vezes, mantendo nela palavras presas. Questionei-o com os olhos e ele demorou um pouco para umedecer os lábios e abrir a boca “Bucky... você tentou se matar” ele disse como se fosse a pior coisa que aconteceu de madrugada. Pela primeira vez olhei para minha barriga, que estava enfaixada em uma espécie de faixa macia que quase não fazia pressão, o corte estava limpo e eu não estava minimamente preocupado com ele, eu podia me curar tão rápido quanto Steve.

Ele não queria explicações, muito menos um pedido desculpas. Ele estava morrendo de medo, eu podia ver, medo que ele acabasse sozinho de novo. Ele queria uma promessa de que não teria que enfrentar o mundo sem ninguém ao seu lado. Lembrei-me de que ele foi descongelado recentemente, e a primeira coisa que deve ter pensado quando abriu os olhos era que todos que ele um dia amou estavam mortos. Eu não sabia como prometer isso a ele, não enquanto eu não tivesse controle sobre mim mesmo. Mas eu poderia prometer dar o melhor de mim, cada vez que ele olhava pra mim era claro que ele via predominantemente o homem que eu um dia fui, e, se eu quero uma direção, é nele que eu tenho que me espelhar.

“Eu não vou deixar você sozinho” eu garanti, mas ele precisava de mais que isso “Eu não te deixei sozinho antes, eu sempre estive lá, certo?” antes de tudo isso, quando eu ainda era eu mesmo. Eu saí da cama tentando não gemer de dor, me ajoelhando ao seu lado no chão, colocando lentamente a mão direita no seu ombro depois de perceber que eu tinha mais medo de mim mesmo do que ele tinha “Pode confiar em mim” depois deslizando-a por seus cabelos claros, bagunçando-os como eu fiz muitas vezes antes.

Steve me puxou para um abraço, parando quando nós dois caímos no chão e gemi de dor, ele me ajudou a levantar.

“Tá tudo bem?” não havia mais tensão em seus olhos, por um instante havia somente o que tínhamos antes de tudo virar cinzas na nossa frente. Eu dei um soco de leve em seu ombro e fiquei surpreso ao ver o quão fácil o sorriso saiu da minha boca. Eu não tentava mais ouvir os barulhos da rua, planejar rotas de fuga ou procurar armas pelo ambiente, eu não ouvia mais o soldado gritando por perigo. Envolvi minha mão direita na mão de Steve e continuamos deitados no chão. Não sei o que ele está pensando, mas eu o agradeço silenciosamente por me ajudar a encontrar uma humanidade que pensava estar há muito perdida.


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