Por Você escrita por Andye


Capítulo 6
Apenas Um Passeio


Notas iniciais do capítulo

Gente, obrigada, 1000x obrigada pelos comentários lindos que vocês têm deixado nesta fic. Eu fico tão emocionada com isso e nem tenho palavras para descrever minha emoção. Vocês são demais... OBRIGADA!



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O pé de Hermione batia impaciente no chão. A bota desgastada fazia um movimento estranho enquanto a morena lhe forçava contra o piso duro e frio do hospital.

Gina fez tudo como planejado no dia anterior. Guilherme havia convidado a mãe e a irmã para passearem um pouco naquela tarde, verem um filme ou simplesmente ficarem de bobeira.

A mulher negou bravamente dizendo que não poderia deixar o filho aquele dia e que nada nem ninguém a convenceria do contrário. Gina ficou claramente entristecida, mas a mãe, firme como uma rocha, não deu o braço a torcer.

Mais tarde, quando todos estavam indo embora, Gina chamou Hermione num canto do corredor e conversou com ela por breves instantes. A cara que a sra. Weasley fez para a médica deixou mais que claro o quanto ela a detestava, mesmo que Hermione não fizesse ideia do porquê.

– Não deu - Gina falou triste e esperançosa ao mesmo tempo - O Gui tentou também, mas a mamãe é pior que mula velha, e que ela não me escute - acrescentou rapidamente.

– Fica para uma outra vez - Hermione sugeriu, internamente aliviada, mesmo que, sem poder, tivesse ansiado aquele passeio.

– Claro que sim. - Gina sorriu - Amanhã a mamãe vai sair com umas amigas do clube que ela participa, alguma coisa relacionada ao câncer, e ela sempre demora. Dificilmente ela virá aqui, então, você terá o dia inteiro livre.

– Ótimo, então - a morena sorriu travando uma luta interna - Mas não é uma boa ideia que o Rony saia.

– Ele precisa tomar sol - Gina falou sentimental - e ele também estará ao lado de sua médica. É só ir até o lago, ali atrás. Não vão nem sair do hospital. Por favor, dra. Ele vai ficar tão feliz. Ele gosta tanto de água, de paisagem, e estamos na primavera... É tudo tão verde por aqui. Tudo tão bonito e o coitado no meu irmão, além de estar doente, ainda é obrigado a ficar trancafiado nesse quarto chato e sem graça.

Gina deveria ter uns dezessete ou dezoito anos, no máximo dezenove, mas era claro que ela já havia usado muitas vezes aquele poder de convencimento. Os motivos eram os melhores, Hermione não discordaria, e ela não lhe deixava brechas diante de tantos poréns para se negar. Ela bem poderia negar, como médica, mas a verdade é que queria fazer aquilo, mesmo diante do risco. Por fim, concordou.

– Tudo bem. Eu saio com ele amanhã. Vamos ao lago e ficamos uns trinta minutos por lá. É tudo o que eu posso garantir, ok?

– Ok! - Hermione não esperava, mas a ruiva a abraçou grata.

E agora Hermione estava ali, em plena tarde, o sol estava começando a se por e ela se apoiou na porta do quarto do ruivo. Planejou tudo minunciosamente o dia inteiro. Atendeu e receitou os outros pacientes para que não precisassem dela nas próximas horas, mas estava aflita quanto ao que faria.

Não o prejudicaria ir ao quintal do hospital tomar um pouco de sol, respirar o perfume das flores e sentir o aroma do lago, mas ela não sabia se, nas condições em que estava, de paixonite platônica pelo paciente, seria a melhor opção. Resolveu desistir daquela loucura. Era o melhor a fazer.

– Boa tarde, dra. Granger.

Rony a cumprimentou formalmente assim que ela entrou no quarto. Ele estava distante desde o dia anterior e ela acreditava ser por não ter ido vê-lo mais que duas vezes e demorar, no máximo, dez minutos em cada ocasião.

– Boa tarde, Rony - ela respondeu sem se incomodar, ou tentando não demonstrar incômodo - Como tem se sentido?

– Como sempre. - ele falou e silenciou.

Sem gracinhas, sem cantadas ou flertes. Os olhos estavam distantes e ele parecia entediado. As costas estavam apoiadas no peito do cama e ele olhava a tv presa na parede como se um trio de camundongos dançantes estivesse se apresentando. Nem mesmo brincou quando ela se aproximou e reposicionou o cateter. Hermione se incomodou. Verdadeiramente, se incomodou.

– E o que tem de tão interessante nesta tv? - ela perguntou e se virou rapidamente para o aparelho. Parecia um filme.

– Um filme - ele concordou olhando para ela rapidamente e desviando novamente.

– Sobre o quê?

– Eu não sei. Só estou olhando.

– Entendo... - sentiu-se idiota - Fiz alguma coisa com você, Rony?

– Por que a pergunta? - ele a olhou novamente, mas muito rapidamente.

– Não sei exatamente, mas acho que você não está muito satisfeito comigo.

Ele pareceu ponderar a resposta. A observou e os olhos azuis foram tão penetrantes que fizeram seus pelos da nuca ouriçarem. Ela piscou rapidamente, desconcentrada, mas manteve o olhar.

– Não. Não estou insatisfeito.

– Então...?

– Você que parece não estar mais interessada em mim... ou no meu caso, mas eu não a julgo, apenas me entristeceu saber que não se importa mais.

– E quem disse isto pra você? - ela perguntou assustada.

– Ninguém. Eu percebi por mim mesmo. Posso não ter muita experiência com pessoas e sentimentos, mas não sou idiota.

A voz dele soou tão triste que Hermione sentiu o estômago ser socado e colado nas costelas. Respirou fundo e a vontade que tinha era de abraçá-lo e lhe beijar, dizer que se afastou porque estava apaixonada, mas não poderia fazer isto. Seria injusto e ela nem sabia o motivo da injustiça.

– Rony, isso não é verdade. Eu estava muito ocupada ontem - e de repente se viu explicando algo desnecessário - Tive alguns problemas e meu dia foi bem corrido, mas estou aqui agora e você está me trocando por um filme que nem mesmo sabe o nome.

Ele a olhou. A explicação pareceu lhe fazer ponderar o caso. Ela sentiu um formigamento no peito, mas continuou firme em seu olhar.

– Não quero que me veja como um estorvo.

– Você não é um estorvo, Rony. De onde tirou esta ideia?

– Não sei. Eu só acho que sou.

– Posso tentar me retratar com o paciente de charme mais ruivesco que tenho? - ela sorriu, mesmo que estivesse colocando a corda no pescoço. Ele a olhou divertido, quase não contendo o riso.

– E como a dra. faria isso?

– Já vai saber.

Hermione se aproximou dele, que a observava curioso. Desconectou o cateter do tubo, já que ele não recebia nada no momento, e se aproximou de seu armário. Ele vestia a bata e uma bermuda molinha por baixo, então ela apenas pegou uma camiseta e o ajudou a vestir, se punindo por ter olhado o peito sardento com olhos apreciativos, e não clínicos.

– Confia em mim? - ela perguntou.

– Você é minha médica. - ele falou curioso - Se não puder confiar em você, não sei mais em quem.

– Então vem comigo - ela lhe estendeu a mão e ele a aceitou.

A quentura que ambos sentiram não poderia ser explicada. Era muito mais que um simples pegar nas mãos, era a troca de emoções, de confiança... A troca dos sentimentos que se consolidou naquele momento.

Hermione o deixou atrás de si enquanto olhava por uma fresta da porta aberta se o corredor estava livre. E estava. Abriu mais a porta e os dois saíram, assim, ela o conduziu até os fundos do corredor, sem desgrudar de sua mão.

Passaram por duas portas e mais dois corredores. Esbarraram com mais dois ou três residentes e enfermeiros e saíram. Estavam agora no quintal do Hospital, e a sensação que Rony teve foi de liberdade.

Havia um lago mais para frente, para onde Hermione o levou, ainda lhe guiando pela mão, mesmo que fosse desnecessário. Ele estava firme e bem, mas ela sentia algo tão maravilhoso em ter seus dedos entrelaçados nos dedos do ruivo que não pode soltá-lo.

Retirou as botas e sentou rente ao lago. Os pés dentro da água. Ele a acompanhou tirando as sandálias e ficando completamente mudo, observando os pássaros, as flores, as árvores e toda a beleza que se encontrava ali, além, é claro, de contemplar a maior das belezas presentes: a da sua doutora.

Ela sorriu para ele quando o viu lhe observando e ficou envergonhada ao sentir a face esquentar novamente. Ficaram ali, vários minutos em silêncio, observando o sol avermelhado se escondendo no horizonte, os pés balançando a água do lago.

– Este lugar é lindo - ele falou como se nunca tivesse visto nada parecido, mesmo que aquilo fosse apenas um quintal.

– É sim - ela não pode discordar.

– Por que me trouxe aqui? - ele perguntou finalmente.

– Nem eu mesma sei - ela sorriu olhando os pés dentro d'água - Mas te digo que meu pescoço está em jogo.

– Como assim? - ele pareceu preocupado.

– Você não deveria estar aqui, Rony, mesmo que isto não te faça mal.

– Não vou deixar nada acontecer com você - ele sorriu ao tocar a mão dela.

– Tudo bem.

Sorriram e contemplaram o por-do-sol. A mão dele ainda sobre a dela, em silêncio, se olhando sempre que achavam necessário, como se estivessem gravando aquele momento, aquela simplicidade, no mais profundo de suas lembranças.

Estou apaixonada, Hermione admitiu definitivamente, e sentiu o peito doer quando o ruivo a olhou como se concordasse com o que ela havia pensado, como se ele tivesse ouvido o que ela pensou. Como se ele houvesse pensado o mesmo que ela.

– Melhor entrarmos - ela sugeriu quando a noite já se iniciava.

– Sim.

Ela levantou e o ajudou em seguida. Era incrível como ele estava tão mais forte agora. Se sentiu boba ao imaginar que, talvez, ela o fizesse realmente bem. Entraram.

Os corredores estavam vazios e Hermione sorriu aliviada. Caminharam um pouco mais apressadamente, no ritmo dele, sorrindo, como se houvessem aprontado a maior das travessuras.

– Estou desculpada? - ela perguntou quando se aproximavam do quarto. Ele parou, a parando junto.

– Jamais fiquei chateado com você - ele se aproximou e Hermione sentiu o peito afundar - Apenas senti ciúmes que você estivesse com outros e não comigo. Eu... acho que eu... estou...

Os lábios dele se aproximavam dos dela a cada nova palavra que ele dizia e o peito de Hermione doía como se pudesse perfurar seu corpo a qualquer instante. Ele estava próximo, tão próximo e havia se calado, e ela prendeu a respiração esperando o toque. Seus olhos concentrados nos dele...

– Ah, meu Deus! Você está ai - era a voz da sra. Weasley que corria e abraçou o filho em seguida.

Hermione se viu perdida na situação por alguns instantes e ao olhar para trás, viu toda a família na porta do quarto do ruivo. Olhou para ele que lhe devolveu o olhar angustiado. Hermione se direcionou ao quarto, encontrando os olhos da dra. Falls, sentindo o peso sobre si.

– Você enlouqueceu, garota? - ouviu a voz da mãe do ruivo quando esta passou por ela, o levando e o deitando calmamente sobre o colchão - Não quero mais esta garota perto do meu filho.


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