I Miss You escrita por mandyoca


Capítulo 7
Capítulo 7




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  - Tiveram boas férias? – ele disse animado. – Ou só serviram para engordar uns quilinhos? Por isso nós vamos lá para a quadra para começar a aquecer. Depois, teremos uma corridinha básica. E os dois vencedores vão ganhar uma medalha! Tudo bem, não é de ouro, nem de prata, nem de bronze. É de bijuteria. Mas o que vale é a intenção, e isso vai valer dois pontos na média! O que estão esperando? Vão levantando dessas cadeiras agora mesmo, e sem reclamar. Quem não participar, vai perder um ponto!


  Então ele olhou para nós. Para mim e para Dave. E ficou paralisado. Perdeu toda a coordenação e nos encarou.


  Eu levantei da cadeira, fazer o quê? Dave veio depois. Dava para perceber que esse era o professor de educação física, mas doía falar o seu nome ao invés de ficar me olhando com uma cara de “oi, eu estou vendo cão e gato juntos” ou “oi, eu estou vendo água e fogo juntos”? Eu diria “oi, eu sou a aluna nova e não vou adivinhar o seu nome, cara”. Repito, doía falar o seu nome?


  Lá na quadra, as garotas de calça jeans (como eu) foram obrigadas a colocar shorts. Ainda bem que eram pretos, ou ia ficar horrível em mim com essa roupa. Tá certo que eu odeio usar coisas tão curtas, mas eu não ia discutir com o professor que eu não-sabia-o-maldito-nome. Ele continuou sem falar.


  - Dave, qual é o nome dele? – falei enquanto estávamos fazendo o alongamento afastado dos outros, que estavam numa rodinha no centro da quadra. Como estávamos um bocado afastados, Dave pôde chegar ao seu volume comum (certo, ele quase pôde, situação que fez com que ele falasse só um pouquinho mais baixo do que eu queria que ele falasse. Mas ainda não era um sussurro, e esse era um bom progresso, ora. – Desse professor, eu estou querendo dizer.


  - Ah, é o Victor. – Alongou seu braço esquerdo, esticando-o para a direita e o segurando com a outra mão. – Ele é bacana, mas se acha. Ele é um professor novo, entrou há pouco tempo no colégio. E odeia gente que não faz suas aulas. Mas eu sempre fiz e sou rápido, então ele aprova muito o meu lado nessa coisa toda de educação física.


  - Convencido. – E quem era eu para falar? Eu também me achava rápida. Quem sabe eu ganhe dele na corrida? O meu medo era perder, na verdade. – Você deve gostar muito dessas aulas de corrida, então.


  - Gosto sim. – sorriu. – Mas enquanto todo mundo brinca um com o outro, os xingando de perdedores, eu fico absolutamente em silêncio. No final, eu ganho. Eles acabam ficando quietos, mas algumas pessoas, como Luan, ficam gritando e provocando, como: “Ei, mudinho, você ganhou!” E eu não ligo.


  - Eu nunca chamei alguém de perdedor. – Estendi os braços para o alto. – Isso é tão infantil, e ridículo. Mas eu já ganhei corridas, tá?


  - Quantas? Duas? – zombou.


  O olhei, chocada.


  - Quem é você para dizer isso? Você não é ninguém para dizer que eu sou uma má corredora. – brinquei. – Há pouco tempo eu melhorei bastante. Eu era tão lerdinha aos dez, onze anos... Mas depois eu fui treinando. E eu espero que tenha adiantado alguma coisa, ou eu ficarei brava. Alguma garota já ganhou corridas aqui?


  - Nunca. Bom, desde que eu cheguei, o único vencedor fui eu. – se gabou.


  - Certo, isso faz mesmo com que você seja rápido. – cedi. – Isso é ótimo. Só espero que você seja do meu nível.


  Ele riu. E não era para rir! Apesar da minha entonação brincalhona, era para ele pelo menos chegar a se sentir ameaçado. E daí que você ganhou todas as corridas? Isso não é motivo para eu ficar com medo, é?


  É sim.


  - Garotos, vocês antes. Garotas, arquibancada. – O professor Victor chamou. Eu obedeci, seguindo para a arquibancada. – Os cinco primeiros vão para a próxima fase, tá bem? Preparem-se. No já. – Ergueu um cronômetro (eu sei lá para quê, já que é todo mundo que está indo nisso) e olhou para os corredores que se ajeitavam, com o joelho direito flexionado para frente. Eu nunca precisei disso, que desnecessário. Eu olhei fixamente e particularmente para a maior ameaça minha até agora: Dave. – Um... Dois... Três... E... JÁ!


  Todos avançaram. Já falei que a quadra era... Tipo assim... GIGANTE? Era impossível falar qual era o seu comprimento. Mas ainda era enorme.


  Dave começou atrás, e eu comecei a pensar que tudo o que ele havia me dito era mentira. Só que na metade do caminho, exatamente quando os primeiros berravam “perdedores!”, Dave foi mais rápido. O capuz que ele até tinha posto fugiu de sua cabeça num jato. Eu achei injusto. Por que garotos de calça jeans não precisavam substituí-las por shorts ou bermudas, e garotas precisavam?


  As meninas ao meu lado diziam que o professor era gostoso. Eu não me importei, por isso continuei olhando a corrida.


  Então as garotas começaram a torcer para Luan, gritando com exagero para que ele fosse mais rápido. Mas ele estava em primeiro, ora.


  Agora Dave estava em terceiro colocado. Isso para quem estava em último, numa sala com dezoito meninos. Ele é mesmo rápido. Engoli em seco. Beeeem seco. Incompreensivelmente seco. Eu estava começando a ter medo, aliás, eu já tinha me gabado para ele.


  Dave passou dois garotos, e agora estava em primeiro. A distância entre os dois e de Dave foi aumentando raivosamente. Aquilo começou a me preocupar sério. A arquibancada tinha barras que protegiam para que ninguém caísse na quadra, então me apoiei na que estava na minha frente e comecei a encará-lo. Jesus! Eu estou ficando desesperada. Alguémmesalvepontocom.


  E acabou. Dave chegou em primeiríssimo, e apenas três segundos depois os próximos colocados começaram a chegar, que eram ninguém mais, ninguém menos do que Luan e aquele amigo que estava me olhando. Eu ainda estava tentando lembrar o nome desse amigo, porque comecei a lembrar que Luan havia sim me apresentado. Mas eu não lembrava! Por que tantos nomes de tanta vez?


  As meninas se desanimaram, e Yolanda soltou um berro que dizia: “MUDO, CORRIDAS SÃO PARA GENTE DE RAÇA!”


  Aquilo foi tão rude. Ela seria mesmo minha amiga um dia? Porque Dave é meu amigo, meu melhor amigo até agora (daqui, pelo menos), então não quero que ela fique o chamando de mudo e o provocando como se ele não fosse gente, e sim um animal imundo. Isso é nojento, é só para gente sem noção.


  - Garotas. – Victor chamou, gritando. – Parabéns, Dave, você bateu o seu recorde do ano passado. Muito bom para um início de semestre, não?


  E então o olhar do professor vagou para mim. Gente, que medo.


  Desci da arquibancada e me preparei. Enquanto todo mundo estava com os joelhos flexionados, eu estava totalmente normal.


  - Prontas? – perguntou. Meu coração começou a acelerar, já no ritmo da pressão. Eu reparei que o professor não usava nenhum cronômetro. Talvez as meninas não tivessem recordes. – Um... Dois... Três... JÁ!


  Então eu comecei a correr. Por favor, essas meninas eram lentas. Eu já estava em primeira colocada, pegando distância da segunda, que era Yolanda, e eu aumentava a força com que jogava as pernas para frente sempre que sentia que estava com forças suficientes para isso.


  Eu já tinha passado metade da quadra enquanto as outras garotas não tinham atravessado nem um quarto da quadra enorme. Eu estava orgulhosa de mim mesma, mas também preocupada, não vou mentir. Eu deveria apressar o passo para que eu pudesse impressionar Dave da mesma forma que ele me impressionou.


  O que eu estou falando? Não quero impressionar ninguém.


  Então Luan começou a gritar, torcendo para... mim. Isso foi estranho, porque ele fez com que os outros garotos fizessem a mesma coisa. Imagine uma torcida! Uma torcida vibrando e gritando o seu nome! Era uma sensação boa.


  Mas aí comecei a sentir que eu era a segunda opção. Eles deveriam estar fazendo isso porque Yolanda estava em segundo, e bem longe de mim, digamos assim. Não tinha jeito de ela ganhar mais, faltava pouco para eu chegar ao final.


  Quando cheguei perto, apenas caminhei. Eu não precisava correr, então apenas dei alguns passinhos lentos para a linha que ficava marcando sei lá o quê. Quem sabe esse fosse o final? Só para conferir, andei até a parede. Eu não tinha certeza de nada, então alguns passinhos a mais não fariam grande diferença.


  Então enquanto todos ofegavam, inclusive eu, caminhei para o lado para esperar as próximas garotas chegarem. Depois andei até perto do professor Victor, que me olhou surpreso.


  - Ei, novata. – falou. – Você é uma ótima corredora. Começou em primeiro, e manteve a posição até o final. Acho que foi um dos maiores recordes que eu tive aqui nesse colégio. Ou em todos os colégios em que já trabalhei. Isso conta faculdades, ouviu? Você é mesmo boa.


  - Obrigada. – arfei enquanto tentava recuperar o fôlego. Essas corridas me deixavam acabada, mas eu não suava. Não sei o motivo, mas é bom. Só que para compensar, demoravam uns cinco minutos para eu me acalmar (juntamente com meu coração, que estava a milhões).


  Subi à arquibancada, e a corrida não havia acabado. Outras garotas corriam em direção ao fim. De dezesseis meninas, ainda faltavam sete. Isso é o que eu chamo de gente esforçada... para fazer a aula ao invés de matá-la. É um início, não as desestimule.


  Luan me aplaudiu quando eu passei, quase aos berros:


  - Não é à toa que você é gostosa. Deve treinar pra caramba.


  Eu o olhei com aquela minha expressão de sem graça. Também, olha o que o cara me falou! Não é todo dia que alguém fala isso na minha cara. Eu não sou gostosa. Nem de longe sou gostosa, meu Deus, a que ponto esse cara chegou?


  - Você precisa de óculos? – perguntei, sem parar de andar, ainda ofegando e olhando para trás.


  - Não. – sorriu. – Sei bem o que eu estou dizendo.


  Não liguei, e sentei ao lado de Dave.


  - O que achou? – Dei duas cotoveladas fraquinhas nele. – Fui bem ou preciso melhorar muito? Não me esculache.


  - Acho que não posso me gabar mais. – ele falou, afundando os lábios em meus cabelos para que eu pudesse ouvi-lo. – Você é muito boa, Kristal. Ah, eu preciso te alertar. Cuidado com o professor Victor. Já tiveram boatos de ele ter chamado Yolanda para sair, e não foi algo somente amigável. Eu mesmo confirmei esse fato, e vi com os meus próprios olhos. E outra, Kris. Ele não olhou apenas para o seu rosto.


  - Ér... Tudo bem. – franzi o cenho. – Obrigada pelo aviso.


  Ele se afastou e olhou a última colocada chegando.


  Depois, o professor Victor chamou dez nomes. Cinco femininos e cinco masculinos. Eu estava no meio, só para variar. Só que ele não disse “Kristal”, e sim “Novata”. Belo nome para mim, que tal?


  Todos se posicionaram. Dave estava ao meu lado, e Luan estava no outro. Eu me sentia um ogro, poxa. Eu estava no meio dos garotos enquanto todas as meninas estavam juntas lá no outro canto. Dave sorriu para mim quando eu o olhei, mas depois virou o rosto para o percurso que correria agorinha.


  - Vamos lá. – Victor anunciou. – Essa vai ser boa. Um... Dois... Três... JÁ!


  Quando eu corri com todas as minhas forças, Luan ficou para trás. Agora, o cara do meu outro lado corria da mesma forma. Em segundos, estávamos longe dos outros, e ele pôde falar comigo. Ofegante, com certeza, mas ainda dava para entender.


  - Nossa, Kris. – ele arquejava com dificuldade. – Você corre muito rápido. Está até difícil me manter aqui. Acho que vou desistir.


  - Você pensa... que eu estou aqui... sem esforços? – Lancei minhas pernas para frente com raiva. Eu não ia ganhar, ele estava inteiro e eu estava quase caindo. – Olhe o meu... estado. E olhe... o... seu. É óbvio que eu fico... para trás.


  Mais alguns segundos lutando com ferocidade, e Dave continuava ao meu lado. Tentei apressar o passo, o vento batendo selvagem em meu rosto. Praticamente doía, sério mesmo. E então, cada parte do meu corpo começou a machucar.


  - Eu... não... aguento. – Diminuí um pouco o passo.


  - Aguenta... sim. – Dave arfou, um tico na frente.


  Acelerei mais uma vez, chegando a ele de novo. A um risco da parede, Dave parou. Eu faria o mesmo, mas não consegui. Arrastei-me para um canto da quadra e deitei. Sério, eu estava tão acabada, minhas pernas chegavam a arder, igualmente aos meus pulmões e ao órgão que pulava agitado querendo ultrapassar o meu peito, o meu coração quase me perfurando. Eu não conseguia falar.


  - Você ganhou. – Dave se sentou ao meu lado, as costas encostadas na parede e os joelhos dobrados. Seus braços estavam caídos nos lados.


  - V... Vo... – “você”, tentei falar, mas a voz falhou e eu não consegui terminar. – N... – “Não”, tentei de novo. “Não consigo falar!”, eu queria dizer.


  - Não precisa falar nada. – Na sua voz pude perceber que ele já recuperava a respiração, enquanto eu estava longe disso. – Olhe, o terceiro colocado está quase no final. O quarto logo atrás.


  Virei meu rosto, olhando Luan e seu amigo se aproximarem da parede. Essa provavelmente foi a corrida mais impressionante e difícil que eu já tive. Ainda doía tudo. E ainda faltava tempo nessa aula! Faltavam uns trinta minutos, era muito tempo. Se ele fizer corrida de novo, eu não participo.


  - Você... – comecei, conseguindo falar pelo menos a primeira palavra. Vamos lá, quase acabando. –... deixou... eu... ganhar...


  - Você ia ganhar de qualquer jeito. – Ele agora se ajoelhou perto de mim e olhou meu rosto. – E veja, você está inteira. Se esforçou tanto e continua linda. – fez uma tentativa de me animar.


  Deu certo, eu soltei um risinho simples e um pouco forçado.


  - Eu... não ia... – Coloquei a mão no peito porque meu coração não se acalmava. – Não ia... ganhar... nada...


  - Ia sim, não discuta comigo. – falou mais baixo. – Não posso mais falar, chegaram à parede, e dá para ouvir.


  - Tudo... bem... – eu disse enquanto tentava me levantar. Eu fracassei e caí deitada outra vez. Eu não ia tentar de novo.


  Mas Dave levantou-se e estendeu a mão. Eu peguei, mas ainda não adiantou. Eu estava incondicionalmente fraca.


  Então ele me pegou no colo.


  Odeio isso, eu gosto do chão, eu gosto da terra, eu gosto do piso, eu não gosto de flutuar, e eu nunca gostei de avião também. Poxa, por que tem de chegar Dave e tirar o que eu gosto de mim? Mas eu gosto do seu perfume, então isso não é lá uma coisa tão ruim assim.


  E eu estava fraca para lutar contra ele. Eu não ia me debater até que ele me colocasse no chão de novo, ou eu ficaria ainda pior.


  Chegamos perto do professor Victor. Dave tentou me colocar de pé, mas ao ver que eu não ia aguentar, me deitou ali mesmo. Depois, apoiou o seu ouvido no meu peito e começou a escutar. Afundou seus lábios em meu cabelo para que o professor não o escutasse e sussurrou:


  - Se esse coração continuar assim, você vai morrer numa aula de educação física. – zombou, rindo e afastando-se. Mas depois ele se aproximou de novo. – Esse cheiro de novo... É bom. Ele continua me fascinando.


  - Temos algum problema aqui? – Victor perguntou, e Dave foi para longe, olhando o professor que ele obviamente não gostava. Deixe-me ver se eu entendi: Ele gosta de educação física, corre bem, o professor gosta dele, mas Dave não gosta do professor. Legal. – Há algo de errado?


  - Eu só... não consigo... respirar. – arfei. – Logo... passa.


  - Posso perguntar algo? – Victor quis saber.


  - Claro... – Eu estou quase morrendo, mas pode. Fazer o quê, né?


  - Há algo rolando entre vocês? – Tudo bem. Isso me deixou provavelmente vermelha. Não rosada, mas vermelha como um tomate brilhante de tão lindo e maduro. Ah, Deus, que professor pergunta isso?


  Então eu comecei a rir. Foi sem querer, mas eu ri porque fiquei sem graça. Eu consegui então me sentar, mas a risada não passou.


  - Eu... – não consigo nem terminar essa frase! – Eu... não... tenho... nada... com... Dave... – Tossi uma vez. – Ele... é... meu... melhor... amigo.


  Dave olhava do professor a mim. Eu acho que sei o que ele estava pensando, que o Victor planejava vir falar comigo para que saíssemos ou algo do tipo, mas acho que eu não ia ter chance com ele não. E se ele viesse, eu ia jogar na cara dele tudo o que eu penso com relação a um professor chamar aluna para sair.


  Eu não sou como Yolanda, meus queridos. Não sou.


  - Eu gostaria de falar com você depois, ér... – ele começou.


  - Kristal. – Vai embora, professor, eu não quero conversar agora!


  - Certo. – sorriu. – Eu gostaria de falar com você depois, Kristal. Sozinhos. – Olhou para Dave, que o encarava com uma expressão fria.


  Victor se afastou, ajudando um garoto que estava meio que passando mal porque correu “rápido demais”.


  - Eu falei. – sussurrou Dave. Então ele passou os dedos em meu rosto, delicado como uma garota que cuida da primeira rosa ganhada do namorado.


  Tive forças para levantar a minha mão direita e colocar em cima da mão dele, que não parou só por isso. Também, se eu quisesse que ele tirasse, eu teria arrancado a mão dele de perto do meu rosto.


  - Mudinho deixou Kristal ganhar. – Luan aproximou-se de nós. Dave fingiu que não tinha o escutado. – Tem alguma coisa nisso não tem? O mudo esquisito se apaixonou pela novata? E não é burro, amigo, essa garota é linda.


  Eu estava tomando a respiração de volta. Cinco minutos já haviam passado, mas o fôlego não estava de volta ao normal. Faltava pouco, eu teria de esperar. Por isso, só olhei Luan com um olhar de “vou te matar”. Certo, não sou tão agressiva assim. Mas foi quase isso, oras.


  - Você é tão espertinho, Dave. – Luan falou num tom provocador. – Assim você pelo menos prova que não é um veado. Mas escuta aqui, deixe que a Kristal fique para as pessoas de verdade. Ela deve ser aproveitada por gente que pelo-menos-fala. – disse enquanto levantava a mão e imitava uma boca se abrindo e fechando. – Kristal talvez seja melhor que Yolanda, ela merece ser pega por caras mais atraentes e com mais qualidades. Não é, gata?


  Dave tirou a mão de meu rosto e olhou para baixo, um pouco para o lado, acho que até pensando. Depois levantou e olhou para Luan. Estava bem na frente dele, num modo de confronto. Aquilo não me deixou feliz. Franzi o cenho e consegui forças para levantar por completo. Quando eu entraria no meio daqueles dois? Eu estava apavorada. Luan manteve seu jeito de galã provocador.


  - Que foi? – Luan riu. – Vai dizer que Kristal é para você? Por favor, os caras estão babando por ela. Não será por você que ela vai se apaixonar, otário. Vê se vira a página, porque ela é minha.


  Então, a reação não foi muito esperada. Dave virou um soco bem no meio da fuça de Luan, que caiu feito uma lagartixa sendo atirada de longe. Aquilo ficou bem feio, sério. O nariz dele começou a sangrar, eu pude perceber quando Luan levou a mão dele até o local ferido.


  - Você é idiota? – Luan se levantou novamente, levantando o punho com o sangue que havia saído de seu nariz. – Você é um otário, um covarde! Por que fez isso? Só porque eu disse que Kristal é minha? Oh, coitado. – As pessoas começaram a se juntar. Muita gente, tipo a sala inteira. - E é mesmo! – gritou feito um louco.


  Dave não permitiu isso. Deu outro soco bem violento no olho de Luan. Isso me lembrou o soco que a garota havia me dado quando eu tinha dez anos. Foi tão horrível, eu sentia a dor de Luan.


  - A Kristal não é de ninguém até ela dizer que é. – Dave então falou, num alto e bom som. Em segundos, todos o encararam. Luan viu que a coisa era séria e não lutou mais. Com as duas mãos no olho esquerdo, ele se levantou e se afastou.


  Professor Victor estava com a boca caída até o chão. Mas no final das contas, ajudou Luan a ir até o banheiro. Dave se aproximou de mim, hesitante. Todos nos encararam por longos dez segundos. Só então eu quebrei o silêncio:


  - Você falou. – eu disse baixinho para que poucas pessoas ouvissem. Mas aquele sussurro pareceu um grito, porque nem os pássaros cantavam. E eu nem estou exagerando. O barulho dos carros sendo arrastados na rua parou totalmente. Todo barulho que você possa ouvir num dia comum simplesmente sumiu. Era como se Dave tivesse o poder de fazer as pessoas se impressionarem.


  Ele balançou a cabeça, afirmando.


  - Bom. – Victor pigarreou. – O resto da aula é livre. Façam o que quiser. Dave, não vou levar isso ao conhecimento do diretor, nem do coordenador. Espero que não se repita, está bem?


  As pessoas começaram a fofocar, a se espalhar, a conversar.


  - Espera, professor. – pedi. – Ele só fez isso porque Luan o provocou... Não é culpa dele, não é a ele que o senhor deve falar isso.


  - Eu sei. – Cruzou os braços. – Vi que recuperou seu fôlego. Posso falar com você agora, Kristal?


  - Pode. – falei após dar uma olhada significativa para Dave.


  Acompanhei o professor até longe das pessoas, e ele se virou delicadamente para mim, me lançando um olhar meio... sedutor.


  - Eu estava me perguntando se você gostaria de almoçar comigo hoje. Sabe, você é uma ótima corredora, e pode me dizer o que você fez para chegar a essa etapa. De ser tão impressionantemente rápida. – sorriu.


  - Ér... – Olhei para baixo, tímida de repente. – Almoçar onde?


  - Pode ser na minha casa. Mas não será nada de mais, apenas umas conversas de professor a novata. – deu de ombros. – Só um almoço de boas-vindas ao colégio. O que você acha?


  - Eu acho errado o senhor convidar alunas para almoçar na sua casa. – falei a verdade. Ou tentei. Falhei algumas vezes, certamente, mas foi um bom começo. Qual é? Eu estava super intimidada por esses olhos tão atraentes. AH, MEU DEUS.


  - Pode repetir? – Juntou as sobrancelhas, não entendendo.


  - Só almoçar? – O jeito com que perguntei não pareceu muito inocente. Parecia até que eu estava paquerando o professor! Mas eu só estava pensando numa desculpa para eu recusar esse pedido estúpido. Só que eu visualizava uma mosquinha viajando pela minha cabeça vazia. Não tinha nada para dizer!


  - Se você quiser podemos assistir a um filme. – Seu sorriso ficou maior e mais aberto. – Você está afim? Eu estou livre todos os dias. Se não der hoje, pode ser amanhã. Se não der, pode ser até a semana que vem.


  - Quantos anos você tem? – Desisti de falar “senhor”. E de novo pareceu que eu o estava paquerando ou coisa assim.


  - Vinte e cinco. – Levantou uma sobrancelha, crente que estava abafando. Tecnicamente, ele estava. Mas isso é ridículo. Eu tenho dezessete anos, ele tem vinte e cinco! Que viagem! – Eu preciso de uma resposta...


  - Tá. – eu disse sem querer. Quando vi, já tinha dito.


  Idiota, o que você tem na cabeça?


  - Me espere no estacionamento quando a aula acabar. – pediu.


  - Tá. – repeti, agora de forma mais forçada.


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