Um arrepio gélido corre pelo meu corpo, como seu eu estivesse sendo pega fazendo algo de errado. É claro que eu não posso mostrar esse bilhete pra ninguém, muito menos para quem sei que está batendo na minha porta. Guardo o bilhete no mesmo lugar e corro para abrir a porta.

– Oi - Maxon diz com um sorriso.

Mesmo que eu não quisesse, retribuo, pois o sorriso dele é simplesmente contagiante.

– Posso entrar?

– Claro - digo, abrindo caminho.

Maxon entra e se senta em minha cama. Fecho a porta e me viro para ele, que faz um sinal para que eu sente ao seu lado. Reluto por alguns segundos. Tudo o que eu sempre quero, todos os momentos do dia, é a companhia dele. Mas agora que ele está aqui, meu corpo todo esta brigando com minha mente que insiste em se lembrar das palavras de Aspen sobre Maxon. Decido me sentar ao lado dele, mas meu corpo todo fica involuntariamente rígido.

– Você está estonteante - ele diz, olhando em meus olhos.

– Obrigada - não consigo deixar de corar.

Encaro meus dedos enrolados no vestido. Ficamos em silêncio por um longo tempo - ao menos pareceu longo para mim. Maxon não tirava os olhos do meu rosto, e por canto de olho, eu podia vê-lo sorrir algumas vezes.

– O que foi? - pergunto, olhando curiosamente para ele.

– Nada... Só estou... Admirando você. - ele responde, ainda sorrindo.

– Me admirando? - digo, surpresa. Ele ri - Tudo bem então - brinco.

Então, ficamos em silêncio novamente. Não sei bem o que fazer. É como se minha mente estivesse impedindo meu corpo de se sentir a vontade.

– Posso te fazer uma pergunta? - Maxon diz, cuidadoso.

– Claro. - eu o encaro novamente.

– Por que você está assim?

– Assim como?

– Não sei, você está diferente. .. Não me olha... Parece que está me afastando novamente - vejo em seus olhos um pouco de medo.

Suspiro. Não quero me afastar dele novamente. Apenas essa ideia faz com que eu sinta um peso enorme nos ombros. Decido ser aberta com ele. Não quero que ele pense que não o amo mais.

– É que eu li uma revista hoje, falando algumas coisas chatas sobre mim. O pior é que eles não estavam errados. Eu realmente sou uma bagunça total. Ajo sem pensar e acabo estragando tudo.

– America, você não pode se deixar levar pelas opiniões negativas dos outros. Todos criticam. Você não pode se concentrar nas críticas... Vamos mudar cada uma dessas críticas juntos e fazer você virar a favorita do povo, você vai ver - ele passa a mão delicadamente pelo meu rosto.

– Bom... Não foi só isso - digo, respirando fundo - Sei que você estava com a Kriss hoje... Ela fez questão de deixar isso bem claro pra mim. - sinto meu coração apertar e as lágrimas começarem a ameaçar aparecer.

Maxon abaixa a mão e me observa por alguns instantes.

–E por que ela faria isso? - ele pergunta.

Essa pergunta me deixa muito irritada. É como se ele não acreditasse em mim, como se a estivesse defendendo. Sinto uma chama furiosa queimando-me por dentro. Não quero ser grossa com ele, então respiro fundo novamente e escolho bem minhas palavras.

– E por que não faria? - respondo - Ela sabia que isso me deixaria irritada, porque somente a ideia de ela estando com você, te abraçando, te fazendo rir e ouvindo tudo o que você deveria estar dizendo para mim me deixa sufocada. Juro que se não estivéssemos no Salão das Mulheres, eu voava em cima dela. Eu não quero perdê-lo Maxon, mas tudo esta tomando um rumo confuso agora, e Kriss se gabando por estar com você não esta ajudando. Não esta ajudando mesmo.

Paro de falar e espero pela resposta dele. Olho para a sacada, para a porta, para tudo que não seja ele apenas esperando pela repreensão que ele me dará por duvidar de seus sentimentos por mim. Mas ao invés disso, não ouço nada. Viro meu olhar para ele lentamente e o que vejo me surpreende. Ele esta sorrindo. Sorrindo mesmo.

– Por que esta sorrindo? - digo, irritada.

– Você esta com ciúmes, America? - ele mantém o sorriso aberto.

– E isso importa? - digo o encarando um tanto incrédula pela sua reação.

Então, sem qualquer aviso, ele me beija. E eu precisava daquilo, embora esteja muito brava com ele para admitir. Ele acaricia meus braços enquanto me beija mais intensamente e, embora eu tenha tentado lutar contra, acabo me derretendo em seus braços. Acaricio seu rosto com ambas as mãos e me deixo me perder naquele momento. Eu sei que, em toda minha vida, ninguém mais conseguiria fazer eu sentir como Maxon consegue, mesmo sem dizer nada.

Ele ainda tem o mesmo sorriso no rosto quando se afasta e começa a acariciar meu rosto novamente.

– America, você sabe que tem meu coração e que não há nada que eu não faria por você. Ninguém pode roubar o lugar que você tem em meu coração, pois só tem espaço pra você aqui - ele leva minha mão ao seu peito - O que digo pra você, é verdadeiro America, e se você ainda duvida de algo, me diga, pois farei de tudo pra que você acredite que você é a única que eu amo. A mais querida.

Não consigo deixar de rir quando ele diz isso. Maxon sempre sabe o que dizer, e eu confio em cada palavra dele. Porque o amor é assim; as inseguranças parecem bobas e insignificantes quando estamos perto de quem amamos.

– Então por que ainda mantém Kriss aqui? - não consigo deixar de perguntar.

– Não posso eliminá-la ainda. Lembre-se que não sou só eu que comando a Seleção - ele diz se aproximando, ainda com a mão em meu rosto. - Se pudesse, acabaria com tudo agora e me casaria com você. Agora sei que você me ama - ele sorri pra mim, encarando meus lábios.

– E por que você não pode? - fecho meus olhos apenas para sentir melhor seu toque e suas palavras.

– Porque ainda temos que fazer de você a favorita do povo - ele se aproxima ainda mais, misturando nossas respirações - Só assim meu pai aprovará nosso casamento.

– Acho que nada faria com que ele me aprovasse - já consigo sentir seus lábios tocando os meus.

– Sabe de uma coisa? Eu não ligo - e ele me beija novamente, desfazendo toda e qualquer dúvida que talvez estivesse perdida em meu coração. Sinto como se as peças do meu quebra-cabeças que estavam faltando se encaixassem em seus devidos lugares. Tudo começa a fazer sentido. E assim sei que tudo o que Aspen disse sobre Maxon, é mentira. É mentira porque eu o conheço. Porque sei que tipo de pessoa ele é. Porque admiro sua personalidade. E, acima de tudo, porque o amo.

***

O que me desperta no dia seguinte é a chegada do Rei Clarkson. Estava tudo tão calmo com ele fora, eu não estava sentindo nem um pouco a falta dele. Somos todas convocadas para recebê-lo e nos é dada a tarefa de preparar uma simples recepção para o fim do dia, para sua convidada, a princesa da França. Parece que ela veio ajudar em alguma questão comercial entre Illéa e França.

Como será uma recepção simples, não demoramos para preparar tudo. Após o almoço já estava tudo pronto, então volto para meu quarto e espero até chegar a hora. Já eram quase 17hrs e eu não consigo mais ficar no meu quarto. Levanto-me e saio, andando a esmo pelo castelo. Preciso me manter ocupada. Ainda nem pensei a respeito do bilhete rebelde deixado no meu quarto. O que eles queriam dizer com "elimine as castas"? Por acaso não faria maior sentido entregar tal bilhete para o Rei Clarkson? Por que pra mim? Eu nem se quer tenho poder para fazer tal mudança, nem mesmo para sugerí-la.

Passo em frente ao Salão Principal, onde ocorrerá a recepção mais tarde. Tudo já esta quase preparado, as mesas já estão nos lugares, a decoração esta pronta... Quando já estava quase seguindo meu caminho, algo me chama a atenção. Vejo Maxon conversando com o Rei e, eu acho, a princesa da França. Clarkson parece explicar algo para os dois, causando diferentes reações em ambos. Maxon está sério e tenso, enquanto a garota apenas sorri. O Rei está de costas para mim, de modo que ele não pode me ver, mas os olhos de Maxon param nos meus. Ele ergue quase que imperceptivelmente a mão e a leva até a orelha. Retribuo rapidamente e saio até o jardim, parando em nosso banco.

Não demora muito até ouvir os passos de Maxon vindo até mim. Ele não parece nada feliz.

– Oi - sorrio, me levantando.

Maxon faz sinal para que eu sente. Acho que ele tem algo bem sério para me falar. Ele se senta, enquanto fita o vazio. Continuo olhando para ele, a espera de alguma explicação. Quanto mais ele demora, mais sinto minha alegria sumindo de meu corpo e sendo substituída pela preocupação. O que será que aconteceu para deixá-lo assim?

– Ei - eu o cutuco de leve para chamar sua atenção. - O que houve?

Ele respira fundo.

– A princesa Daphne, da França, esta aqui - ele diz, ainda fitando o nada. Sua voz soa vazia.

– Edaí? - passo uma das mãos em suas costas, confortando-o - Qual o problema com mais um visitante?

– Meu pai e o Rei da França estão com problemas em achar a solução para um acordo comercial - ele continua.

– E...? - -insisto, para que ele seja mais específico. Mantenho meu sorriso no rosto, tentando ser positiva para ele.

– E acontece que o Rei da França só aceitará um acordo comercial se meu pai cumprir pelo menos uma das exigências.

– Quais são?

– Ou ele elimina as castas de uma vez - Maxon para, ainda fitando o nada. Meu corpo fica rígido junto ao dele. É claro que o Rei não fará isso, seria até tolice esperar que ele concordasse. Achei que essa era a pior parte, mas esta ainda estava por vir. Maxon me olha, com uma tristeza indescritível em seu olhar.

– Ou...? - digo, minha voz falha.

– Ou Illéa e a França farão uma aliança por meio de matrimônio.

Demoro alguns minutos para entender o que ele quis dizer. Meu coração pula algumas batidas e eu mal consigo respirar. Eu achava que tínhamos chegado ao fim dessa competição maluca, mas não dessa maneira. Não assim. Deixo minha mão cair das costas de Maxon. Não consigo me mover. Embora eu já tenha entendido, Maxon me explica o que quis dizer, quase inaudivelmente.

– Terei que abrir mão da Seleção - ele engole em seco - e me casar com Daphne.