– Violetta?!

Todos estavam boquiabertos, sem reação. Meu pai, que estava tomando café, caiu da cadeira quando desci as escadas. Eu havia descido mudar por completo. Na verdade, eu havia decidido me renovar, voltando com meu visual antigo: roupas pretas – que as pessoas do meu antigo colégio costumavam comparar com roupas de metaleiros -, maquiagem muito forte e botas de couro que esquentavam meus pés até demais.

– Violetta , o que significa isso? – perguntou meu pai, espantado, se levantando e ficando em pé, de frente para mim. – Suba e vá tirar essa roupa. AGORA!

Ele nunca havia gritado assim comigo antes. Mas eu não me deixaria levar. Eu seria assim agora. Novamente.

– EU QUERO VIVER A MINHA VIDA! – gritei para ele, ficando surpresa comigo mesma. – E NÃO QUERO QUE INTERFIRA NISSO!

– EU SOU SEU PAI! – gritava ele, apontando o dedo no meu nariz. – VOCÊ ME DEVE RESPEITO, MOCINHA. VOCÊ ME DEVE RESPEITO!

– DESDE MUITOS ANOS VOCÊ MESMO NÃO RESPEITA A PRÓPRIA FILHA! VOCÊ NUNCA FOI ME VER DESDE QUANDO FOI EMBORA! NUNCA FOI ATÉ MINHA CASA ME DAR UM ABRAÇO DE FELIZ ANIVERSÁRIO, OU UM ABRAÇO DE FELIZ NATAL OU ANO NOVO! SEMPRE PREFERIU PASSAR TODOS OS DIAS COM SUA ‘NOVA ESPOSA’ – gritei para ele, o mais alto que podia. – EM TODOS OS MEUS ANIVERSÁRIOS, QUANDO EU ACORDAVA, A PRIMEIRA COISA QUE FAZIA ERA OLHAR PARA O SEU CANTO DO SOFÁ, ESPERANDO ENCONTRA-LO COM UM SORRISO NO ROSTO, INDO ME ABRAÇAR, COMO FAZIA EM TODOS OS MEUS ANIVERSÁRIOS! MAS QUANDO VOCÊ FOI EMBORA, NUNCA MAIS ME DEU ATENÇÃO.

Ele me olhava com espanto. Não escondeu que chorava. Todos estavam sentados, fingindo tomar seu café normalmente.

– Se não queria que eu fizesse parte da sua vida, bastava me dizer – falei para ele, sem gritar dessa vez. – Teria sido menos doloroso.

Olhei para ele mais uma vez antes de sair. Diegom e eu passearíamos por aí durante o dia todo. Olhei para Leon de relance. Quando cheguei até a sala, pude ver pela janela que Diego estava ali. Quando abri a porta, escutei alguém dizendo:

– Posso falar com ela – Leon.

Me apressei em sair, e talvez tenha feito a coisa mais estúpida de todas. Beijei Diego apressadamente, tentando mostrar que estava gostando daquilo. Ele não esboçou nenhuma reação. Apenas me beijou de volta. Trocamos de lado, e abri um pouco os olhos para observar Leon . Ele não demonstrou reação alguma. Apenas entrou novamente dentro de casa e bateu a porta.

Parei o beijo rapidamente, olhando para meus pés.

– Uau – disse Diego, sorrindo. – Isso foi...

– É, eu sei – respondi, tentando raciocinar direito alguma coisa. – Vamos?

Andamos novamente pelo parque. Diego me contava diversas coisas, mas eu não estava prestando atenção em nenhuma delas. Meu pai estava arrasado comigo. Leon estava arrasado comigo. Todos estavam arrasados comigo. Eu mesma estava arrasada comigo.

– Olha, não quero tocar no assunto, mas preciso confessar – disse ele, fazendo-me olhar para ele. Eu não havia percebido que estávamos de mãos dadas. – O que estava acontecendo lá dentro? Algumas pessoas estavam gritando.

– Meu pai. Ele não entende que eu quero apenas viver. É meio que algo novo para ele – suspirei. – Na verdade, ele deveria ter pensado melhor antes de ir embora.

– Claro, claro – concordou ele.

Conversamos sobre algumas coisas. Na verdade, ele conversou comigo. Eu estava em uma daquelas conversas de ‘aham’, sabe? Pude perceber que Diego me perguntou qual o sabor que eu queria de sorvete e eu respondi com um ‘aham’ um tanto desanimado.

– Você não está bem. Precisa de uma festa. Mas não uma festa qualquer. Precisa de uma festa daquelas.

Eu me lembrava de nossas festas. Muitas bebidas, cigarros e até mesmo algumas drogas circulavam por ali. Nunca me envolvi com nada do tipo. Sabia o quanto minha mãe ficaria decepcionada comigo.

– Acho que não é uma boa idéia agora.

– Sempre é uma boa idéia.

Sorri para ele.

Fizemos muitas coisas durante o dia todo. Corremos no meio da rua, chutamos latas de lixo e outras coisas que imbecis faziam. Éramos imbecis. Sempre fomos. Mas será que era isso mesmo que eu queria? Eu não gostava mais dessas roupas pretas de antigamente. Estava habituada a usar roupas confortáveis e diferentes dessas.

Voltei tarde da noite para casa. Três da manhã, para ser mais exata.

– Thau – disse eu, andando em direção a porta, mas Diego me puxou e me beijou tão docemente que tive vontade de mais um beijo como aquele. – Diego ... – sussurrei.

– Ainda gosto de você. Pense nisso – sussurrou ele em meu ouvido, fazendo-me estremecer. – Vejo você amanhã as sete.

Nos entreolhamos mais uma vez, mas puxei meu braço e entrei correndo dentro de casa. Vi pela janela quando Diego se virou e foi embora, com um sorriso nos lábios.

Ninguém estava acordado àquela hora da noite. Fui para o quarto com passos lentos, tentando fazer o menor barulho possível. Sentei na cama e tirei minhas botas. Foi quando percebi um pequeno pedaço de papel em cima da cama.

Desculpe.

Talvez eu não tenha sido um bom pai para você. Podemos recomeçar de algum jeito?

Papai

Coloquei o bilhete em cima da cama novamente e sorri. Eu queria um pai novamente, e sei que ele faria de tudo para que isso acontecesse.

Adormeci rapidamente, pensando em tudo. Acordei com o canto dos pássaros passando em frente a minha janela, e eu não queria levantar. Não levantei. Dormi por mais algum tempo. Muito tempo, para falar a verdade. Quando acordei, eram por volta das quatro horas da tarde. Escutei um burburinho no quarto ao lado. Caminhei devagar até lá, e parei ao lado da porta, tentando escutar ao máximo cada palavra das diversas mulheres que estavam ali.

– Você está linda, Chloe! – dizia uma.

– Será a princesa do baile, com certeza! – dizia outra.

– Leon é um rapaz de sorte – disse outra. – Fico imaginando o que ele viu na outra. Garota problemática e sem juízo!