Amar-te em Segredo escrita por Madame Bjorgman


Capítulo 2
A Decisão de Elsa


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas queridas Fãs do Frozen! *O*
Para começar, eu quero pedir desculpa pelo tempo que demorei em postar este 1º Capítulo, mas o meu trabalho tem ocupado grande parte do meu tempo e as encomendas não param de chegar. Por isso fui escrevendo aos poucos. :D
Ahh e eu não posso deixar de mencionar que estou muitíssimo entusiasmada por ver que há quem esteja a gostar da minha História (Apesar de ainda só ter o Prólogo, e agora 1 Capítulo) quero agradecer à Amorita, à Luminária e à Queen pelos comentários maravilhosos que deixaram aqui (Amei-os a todos! Mesmo muitooo! *-*) e também por acompanharem a minha Fic. :3
Aproveito também para deixar aqui uma pequenina atenção, eu tenho o hábito de escrever capítulos grandes por isso não se assustem com os tamanhos deles, ok? :p
Quanto ao 1º Capítulo, depois de o ter escrito e revisado (no caso de conter alguns erros ou alguma frase mal construída) notei que dei muito mais destaque a Elsa do que propriamente a Anna. Por isso, eu prometo que no 2º Capítulo eu irei compensar e dar maior atenção a Anna. :3

Bem, e sem mais demoras, desejo-vos Boa Leitura :*
Espero que gostem!! ^_^



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Não foi necessário passar muito tempo para que, rapidamente, a Rainha se tivesse apercebido da dimensão do que tinha acabado de dizer. Ela conseguira ver… a transformação instantânea que se dera no rosto, outrora alegre de Anna, passando para uma expressão sombria e visivelmente perturbada, que a sua irmã mal conseguiu camuflar. Elsa mordeu o lábio, profundamente arrependida, encarando o horizonte com brusquidão, tendo a perfeita noção do erro. Se o seu dom não pertencesse ao Inverno, mas sim um outro que lhe permitisse manipular com mestria o tempo, não teria hesitado e teria revertido aqueles meros minutos. Fora aquele sentimento de preocupação em resolver problemas maiores que a levara a falar, conduzindo-as àquele assunto tão delicado, e agora, ela punia-se fortemente por isso.

Depois de ouvir o nome de Hans, Anna manteve-se em silêncio absoluto e de cabeça baixa, aparentemente pensativa, o que deixou Elsa ainda mais nervosa… o que poderia dizer? Ou fazer?! Deveria continuar aquela conversa? Ou apenas deixar que o silêncio se arrastasse desconfortavelmente até que chegasse a um ponto de ruptura?

Sentiu-se impotente, na sua mente surgiam milhões de possíveis questões que rapidamente colocava de lado, por achar que não teriam qualquer efeito lucrativo para conseguir mudar o rumo da conversa. Mas antes que pudesse conseguir o seu objectivo, algo que satisfizesse todas e quaisquer exigências que o próprio momento pedia, Anna bombardeou-a com uma pergunta clara e directa.

– O Han… quer dizer… o Príncipe Hans ainda se encontra aqui em Arendelle?

Como se tivesse sido tomada por um profundo arrepio, Elsa desviou rapidamente o seu olhar e encarou o rosto de Anna com alguma surpresa, aquelas suas palavras eram inequivocamente tingidas pela frieza e guiadas por um autocontrolo que a sua irmã mais nova jamais conseguiria dominar de uma forma satisfatória… Elsa notou-o. Mas apesar de tudo, ela sabia que debaixo daquela mesma frieza escondia-se a curiosidade, a par de uma dor e tristeza que ainda não tinham cessado por completo. A traição seria sempre uma traição, independentemente de se ser forte o suficiente para permitir o início de um novo capítulo na vida… ficaria sempre aquela espécie de cicatriz na memória e no coração, que impediria que se esquecesse que, algures no passado aquela pessoa, outrora amada, cometera um erro que jamais poderia ser perdoado…

Conseguiu ver a mutação nos olhos expressivos de Anna, aquela pergunta não poderia ficar sem resposta, por mais que se transfigurasse em dor.

Enquanto tentava tomar para si a coragem suficiente para lhe responder, Elsa deu por si a admirar a força incrível que a sua irmã mais nova tinha. E foi nesse preciso momento que lhe surgiu aquela questão na sua mente: teria ela tido forças suficientes para tentar, pelo menos esconder, a desilusão e o sofrimento?

Não poderia imaginar uma outra saída para si, se a situação de Anna fosse a sua… a fuga.

Desde a sua tenra infância que o fazia, os seus anos de menina foram passados por entre as paredes do seu quarto, que outrora partilhara com Anna, manchadas com a sua magia gelada e com o seu medo de magoar aqueles que amava, na constante tentativa de fugir a tudo o que lhe atormentava… talvez por que não conhecia outra maneira mais eficaz para se poder defender, contornar e posteriormente solucionar os problemas.

Mas Elsa já não era uma criança. Esses anos dominados pela clausura voluntária já não pertenciam ao presente e, aos poucos, ela ia tomando a consciência de que não poderia percorrer mais esse mesmo caminho, que fora tantas e tantas vezes o seu porto de abrigo. Ela era a nova Rainha de Arendelle, agora, a fuga não era certamente uma opção sábia. Além disso, aprendera, finalmente, que com o Amor poderia controlar de forma mais plena os seus poderes. Tinha confiança de que com esforço e com o tempo, tornar-se-ia uma boa Soberana para todos os súbditos do seu Reino.

Anna desviou o olhar e encarou novamente aquela vista panorâmica tão maravilhosa que os Jardins Reais lhe proporcionavam, esperava pela resposta de Elsa… No entanto, aquela alegria que sentira ao acordar já não era a mesma, esta pareceu morrer-lhe aos poucos ali mesmo … sentia a ansiedade apertar-lhe o peito, a sufoca-la, como se a quisesse esmagar ali mesmo. Anna sabia que a curiosidade levava uma vantagem avultada em relação ao estranho medo de vir a saber a realidade, e isso deixava-a daquela forma… Mas ela sabia que era a única forma segura que a permitia defender-se melhor da ideia de, eventualmente no futuro, voltar a encarar o rosto daquele homem que tanto a encantara num passado não muito distante.

– Sim. – Acabou por responder Elsa, voltando a prender o olhar de Anna sobre si mesma. – Ele encontra-se neste momento preso nas masmorras Reais do Palácio…

Para nova surpresa da Rainha, o rosto da sua irmã não se alterou. Elsa esperava eventualmente algum choque… talvez protestos da parte de Anna, por saber que Hans ainda marcava a sua presença no Reino, tornando-o assim indesejado.

Por isso, seria lógico pensar que, consequentemente, Anna acabasse por exigir a sua partida imediata, o mais depressa que fosse possível. Mas tudo o que ela viu foi o mesmo rosto fechado antes de pronunciar a resposta à sua pergunta…

Na verdade, o espírito de Anna tinha estremecido com aquela sua resposta. De alguma forma, ela desejava fervorosamente ouvir uma afirmação negativa, ou apenas algo como: “O Príncipe Hans está neste momento a embarcar na sua viagem de regresso ao Reino das Ilhas do Sul… e nunca mais o voltaremos a ver.

Elsa aproximou-se um pouco mais dela e tentou obter alguma reacção… um sorriso, um vislumbre de lágrimas, uma centelha de raiva, qualquer coisa que manifestasse a sua reacção, mas o único resultado que conseguiu foi apenas um olhar desprovido da alegria contagiante que anteriormente transbordara do seu sorriso. Aquele brilho existente no olhar de Anna esmorecera por instantes, agora havia preocupação…

– … Mas não por muito tempo, espero eu. – Apressou-se Elsa a acrescentar, pensando e acreditando que aquelas últimas palavras teriam o poder de tranquilizar. – Afinal eu sou a Rainha, tenho o pleno direito de prolongar ou escassear o tempo do seu encarceramento, de expulsar ou de acolher o Príncipe Hans.

Anna suspirou, desviou o rosto novamente, concedendo desta vez a sua atenção aos canteiros de rosas brancas que se encontravam ali perto e esboçou um sorriso vagaroso nos lábios. Voltou a reclinar-se sobre o patamar de mármore da ampla varanda e murmurar.

– Sinceramente, pouco me interessa o destino que cabe ao Príncipe das Ilhas do Sul. – Exclamou, encolhendo os ombros. – Mas ele desiludiu-me de tal forma que neste momento apenas quero vê-lo o mais longe possível dos domínios de Arendelle.

Elsa tocou gentilmente no braço de Anna e fez nascer dos seus lábios um sorriso meigo.

– Do que depende de mim, isso irá acontecer Anna. – Confortou-a carinhosamente.

O temperamento de Anna não tinha sido moldado de todo para a tristeza, a sua natureza não permitia tal coisa… Por isso, assim que ouvira aquelas palavras da sua irmã sentiu-se como se lhe tivessem passado um bálsamo reconfortante sobre aquela ferida, que ainda lhe doía tanto. E se Elsa dizia que era apenas uma questão de tempo, até que se executasse o seu propósito de enviar para o mais longe possível o malogrado Príncipe, então é porque certamente o iria cumprir.

Anna ergueu-se e abraçou com força Elsa, fazendo esta sorrir e sentir-se bastante aliviada por ter conseguido de alguma forma tranquilizar a sua irmã… após alguns segundos libertaram-se finalmente dos braços uma da outra.

Era extraordinário ver como a vida de ambas tinha mudado tanto desde que Elsa tinha começado a desempenhar o seu papel como Rainha… seria quase inacreditável que tantas e tantas coisas se tivessem desenrolado num tão curto espaço de tempo. Tinham-se livrado do completo isolamento no Palácio para agora acolherem todo um mundo que lhes parecia colossal. Agora não era apenas Kai, Gerda e os poucos criados e criadas com quem sempre conviveram todos estes anos por entre as paredes dos inúmeros aposentos e das galerias recheadas de quadros da família… lá fora havia centenas de súbditos, Príncipes e Princesas, Reis e Rainhas de outros Reinos vizinhos e daqueles que ficavam para além do horizonte… perfeitos desconhecidos que provocava de alguma forma uma certa curiosidade e excitação, em especial na Princesa mais nova de Arendelle.

Naturalmente que aventurar-se com tamanha coragem neste mesmo mundo vasto, trazia sempre algumas consequências menos boas… que para Anna tinham tomado a forma de Hans. Felizmente, a vida de Anna não estava apenas impregnada com a presença angustiante daquele príncipe traidor, na verdade havia um outro homem, que surgira da mesma forma que Hans… inesperadamente. (Seria uma tendência inata da sua parte para encontrar as pessoas que desempenhavam papeis cruciais e importantes na sua vida?)

Aquela mesma presença causava-lhe sentimentos controversos, isso não poderia negar… em especial uma estranha insegurança, Anna nunca experimentara o sabor da insegurança! E por isso sentia-se perdida, confusa…

O homem que lhe provocava tais sentimentos era Kristoff.

Kristoff, Kristoff, Kristoff… aquele nome ecoava vezes e vezes sem conta na sua cabeça. Anna dava por si a suspirar de cada vez que o seu nome invadia-lhe a mente, sem avisar. Recordava-se, tantas vezes quanto lhe era permitido, do seu olhar… aqueles seus olhos castanhos claros, tão meigos... O seu sorriso doce que a deixava tão desconcertada. Os seus cabelos louros, o seu porte forte, imponente, musculoso… Meu Deus, era de lhe tirar o folego!

– A pensar no Kristoff? – Disse Elsa com um sorriso travesso a despontar-lhe no canto dos lábios.

Anna sentiu-se arrastada novamente para a realidade. Estivera a sonhar acordada?! Sentiu-se surpreendida com tal descoberta. Agora conseguia aperceber-se de que nunca lhe tinha acontecido algo assim, nem mesmo quando se julgara perdidamente apaixonada por Hans! As palavras da sua irmã fizeram-na corar, porque tinha a plena noção de que tinha sido apanhada, não havia como negar.

Voltou a encolher os ombros, mas desta vez de embaraço, fazendo nascer um sorriso envergonhado e pouco seguro.

– Nota-se assim tanto? – Anna atreveu-se a perguntar, sabendo que lhe tremia a voz na garganta.

– Eu sou a tua irmã, Anna. – Disse Elsa alargando o seu sorriso. - Apesar de não ter convivido muito contigo durante todos estes anos, conheço-te o suficiente para conseguir reconhecer alguns traços de paixão no teu rosto.

Anna engoliu em seco, sentia que aquelas estranhas borboletas no estômago, que acabavam por lhe provocar um frio que lhe percorria a espinha, tomavam conta de si novamente. Ela recordou com carinho as palavras de Olaf, sussurradas naquela ocasião em que tudo parecia perdido, frente á grande lareira da Biblioteca Real do Palácio, onde crepitavam as chamas vigorosas. Julgara, convicta, de que estava condenada a morrer com o seu coração cercado pelo gelo que escapara do interior de Elsa, nas Montanhas do Norte, quando deixara por segundos brotar para o exterior o seu desespero, ao pensar que não conseguiria fazer nada para que o seu próprio Inverno Eterno sobre Arendelle fosse revertido. Ao ver que o pequeno boneco de neve aproximava-se perigosamente do calor, advertiu-o de que poderia derreter, e foi nesse momento que ele disse: “Há pessoas pelo qual vale a pena derreter.

Como ele tinha razão…

– É impossível não ver isso, torna-se tão óbvio e manifesto em ti quanto o teu temperamento. – Reforçou Elsa, apoiando-se sob o patamar da varanda e tocando afectuosamente nos cabelos entrançados da irmã.

Anna não foi capaz de responder. Naquele momento o embaraço conseguia ser muito maior que aquela felicidade abundante no seu coração. Sim, ela nutria fortes sentimentos pelo Kristoff, era algo único que jamais tinha experienciado em toda a sua vida.

– Não achas que… deverias de falar com ele? – Sugeriu Elsa.

Mas algo que lhe veio subitamente aos pensamentos fez Anna esmorecer. No meio de toda aquela alegria de sentir que o amor tomava conta da sua mente e corpo, ainda conseguia despontar algo que insistia em faze-la sentir-se deveras insegura quanto a Kristoff.

– Não sei se isso pode ser possível. – Respondeu Anna, levando o seu olhar ao chão.

– Como assim, não ser possível falar com o Kristoff? – Exclamou Elsa, arregalando os olhos, surpreendida.

– Há algo que me diz que as coisas podem não correr como tu esperas, minha querida irmã. – Murmurou Anna, com a tristeza presente na voz.

– E o que te faz pensar que desta vez não correrá bem?! – Murmurou Elsa. - O Kristoff não é o Hans, ele nunca iria usar-te como um meio de atingir um propósito maior. Aliás, eu não consigo visualizar o Kristoff com ambições pelo poder e pelas riquezas.

– Quanto a isso não tenho receios. – Respondeu Anna, focando o seu olhar sob as Montanhas ao fundo da paisagem que lhes era oferecida. – O Kristoff sempre viveu rodeado pelo gelo e pela sua família de Trolls no Vale… trocaria de boa vontade uma boa quantidade de ouro e títulos nobres por sólidos blocos de gelo, pela companhia de Sven, e claro, pelo amor incondicional de Bulda, Cliff, Pabbie e todos os outros Trolls.

Depois desta afirmação Anna demonstrou pouca vontade de prosseguir por mais tempo com aquela conversa. Custava-lhe falar de um assunto como aquele, como se a simples acção de o tocar fosse motivo suficiente para lhe causar o receio de que tudo culminasse no mesmo destino que tivera a sua breve relação com o Príncipe Hans… o Fim.

Elsa não se achava no direito de insistir ainda mais no assunto. Ela própria não era a pessoa especialmente indicada para aconselhar correctamente a sua própria irmã. O que ela sabia do Amor entre duas pessoas? Acaso ela já o tinha experimentado? Sentido?

Não… Elsa vivia de tal forma apartada desse sentimento que fazia-a voltar a experienciar aquela sensação de inutilidade, pois do lado oposto encontrava-se a sua enorme vontade de ajudar, o mais que fosse possível, a sua irmã mais nova.

O silêncio foi ganhando aos poucos o seu espaço entre as duas irmãs, não porque fosse pela vontade de ambas, mas apenas pela simples razão de que Elsa ainda não conseguira encontrar as palavras certas que tivessem um poder suficientemente reconfortante para Anna.

Foi naquele preciso momento, vindo do interior dos aposentos do Palácio, que surgiu Kai. Era um homem de estatura média, que se ia afastando aos poucos daqueles anos em que apresentara uma silhueta mais elegante e adelgaçada… mas os seus olhos jamais se tinham alterado com o tempo, continuavam a demonstrar aquela mesma bondade de sempre e a sua postura, sempre muito direita, deixavam em clara evidência de que levava muito a sério a sua ocupação, que exercia a já vários anos, convivendo com o núcleo da família Real durante décadas.

A nova Rainha de Arendelle não se esquecera de todos aqueles anos de lealdade do bom e velho Kai, por isso, não hesitou em elevar o seu simples e humilde cargo no Palácio a uma posição bastante superior, Embaixador de Arendelle e Conselheiro Pessoal da Rainha. Um simples acto de carinho e boa-fé para com aquele homem que rapidamente se converteu num dos primeiros de muitos actos diplomáticos levados a cabo no Reino… Havia já passado quase uma semana, e o pobre Kai ainda se desfazia em dezenas de agradecimentos, afirmando com expressa emoção de que nunca esqueceria aquela honra que a Rainha lhe concedera, jurando que jamais a mancharia com um ou qualquer outro acto de deslealdade até ao fim dos seus dias. E isto repetia-se de cada vez que se encontrava na presença da sua Soberana.

Elsa ainda não se tinha apercebido, e muito menos Anna da sua chegada, dado que ambas as irmãs estavam de costas voltadas para as grandes portas de acesso á varanda. Por isso, o bondoso Senhor decidiu pigarrear um pouco para que se fizesse denunciar ali mesmo a sua presença. Ao ouvir aquele som gutural, Elsa e Anna viraram-se rapidamente, encarando-o.

– Kai! – Exclamou Elsa, tentando colocar nos lábios o seu melhor sorriso.

– Minha Rainha. – Prosseguiu o novo Embaixador e Conselheiro, fazendo uma profunda e elegante reverência. – Venho informa-la de que se aproxima a hora da Reunião com todos os Membros Conselheiros e Superiores da Corte de Arendelle. Alguns deles já se encontram presentes no Palácio e os restantes devem chegar dentro de minutos.

– Obrigado por me informares, Kai. – Agradeceu Elsa gentilmente. – Irei agora mesmo para os meus aposentos, a fim de me preparar para a ocasião.

– Com certeza Majestade. – Anuiu o Embaixador com um aceno ligeiro de cabeça. – Deseja que todos os convocados para a Reunião estejam reunidos fora do Salão de Audiências, até que a minha Rainha anuncie a sua presença?

Elsa negou com um gesto de mão delicado e abanou a cabeça, fazendo com que os cristais de gelo polvilhados no seu cabelo refractassem a luz daquele sol de Verão tão maravilhoso, dispersando-se assim na forma de todas as cores do arco-íris.

– Não é necessário Kai. – Respondeu. - É da minha preferência que todos os Membros Superiores e Conselheiros já estejam reunidos no interior do Salão de Audiências pela ocasião da minha chegada.

– Com certeza, sua Alteza. – Acedeu Kai, voltando a executar uma nova reverência. – Com todo o respeito, irei retirar-me.

– Muito bem... – Murmurou Elsa. – Voltaremos a ver-nos no Salão.

O Embaixador acenou silenciosamente em afirmação e desapareceu novamente pelas grandes portas de acesso, perdendo-se aos poucos a sua pesada silhueta no interior do Palácio, apenas se manifestando o som dos seus passos sobre o soalho, cada vez mais fraco até que se voltou a instalar novamente aquele silêncio. Elsa perdeu aquele sorriso que apenas mantivera por mera fachada na presença de Kai. Quanto a Anna, o seu semblante tinha-se mantido inalterado durante aquele breve diálogo entre o Embaixador e a Rainha. Mas na verdade, a sua agitação interior tinha-se agravado, por dois grandes motivos, primeiro: não saber que posição Kristoff ocuparia no seu futuro; e segundo: ter uma maior consciência de que se aproximava o momento em que o destino de Hans seria traçado. Elsa, infelizmente, não poderia ficar ali na varanda de mármore com a irmã durante muito mais tempo.

– Irás desculpar-me Anna, mas…

– Não, não, não. – Apressou-se a dizer Anna, revelando um pequeno sorriso. – Não te detenhas mais por minha causa, Elsa. Os teus compromissos monárquicos não podem esperar…

A Rainha sorriu abertamente, sentindo uma grande onda de ternura pela irmã. Abraçou-a novamente, e sem mais demoras, retirou-se do local com passadas decisivas. Atrás de si arrastou a comprida cauda azul brilhante do seu vestido, onde repousavam grandes e pequenos diamantes interlaçados a safiras… Uma beleza extraordinária e rara, que só poderia ser desafiada pelo seu manto azul celeste, tão transparente e delicado, salpicado por cristais de gelo formando flocos de neve complexos de vários tamanhos e formas, que se deixava ser embalado pelos movimentos corporais da sua talentosa criadora.

Para trás deixou uma Anna com a mente mergulhada nas suas preocupações, permitindo que esmorecesse a última das poucas centelhas de alegria que ainda poderiam existir no seu espírito. Do calor abundante do exterior, Elsa passou para a frescura do interior do enorme corredor. Á sua passagem, todos os súbditos sucumbiam… os Cavalheiros executando reverências respeitosas, repousando sempre uma das suas mãos sobre as suas espadas presas nos cintos, e as Damas espalhando os finos tecidos das saias volumosas dos seus vestidos criando círculos perfeitos ao seu redor, em vénias delicadas. Elsa não prestou qualquer atenção a estas demonstrações tão directas de vassalagem. Para ser sincera, detestava todos aqueles rituais que só tinham o objectivo de esfriar e distanciar a sua relação com aqueles que a serviam. Conseguia discernir ao seu redor aqueles murmúrios em forma de elogios e comprimentos que pouco ou nada prendiam a sua atenção. Na sua mente, era como se o Palácio estivesse completamente vazio, só existia ela e os seus pensamentos, que agora se focavam obsessivamente em Hans e no desfecho daquela Reunião, que agora tanto a deixava ansiosa...

Seria a primeira Reunião da Corte convocada após a sua Coroação, Elsa conseguia recordar-se, embora de uma forma bastante vaga, a última que se tinha realizado. Ainda estavam sobre o domínio régio do seu querido e falecido pai, Senhor e Rei de Arendelle…

Fora num tempo longínquo, em que Elsa ainda só tinha 5 anos. Anna contava ainda com apenas 2, vivia essencialmente dos carinhos e do conforto dos braços da sua mãe. As gargalhadas inocentes daquela Anna pequenina de olhos azuis esverdeados, muito abertos, ecoavam através do quarto das Princesas Reais, querendo reclamar sempre para si o colo aconchegante da Rainha. Esta acedia algumas vezes ao seu pedido, retirando-a do berço de madeira clara trabalhada e onde se podia vislumbrar algumas cenas pintadas com os lugares mais encantadores de Arendelle, algumas delas povoadas por renas, coelhos brancos e cisnes, enquanto uma Elsa sorridente, sentada sobre a sua nova cama de dossel, observava aquele cenário tão acolhedor e enternecedor.

– Mais, mais mamã! – Balbuciava aquela pequena criança, que iniciara recentemente a sua aventura de pronunciar as primeiras palavras, estendendo os braços no ar esperando que a mãe depositasse mais um beijo em cada uma das suas bochechas rosadas e na ponta do seu narizinho, fazendo-a rir-se de satisfação e das cócegas que isso lhe provocava.

Elsa ainda conseguia lembrar-se da curiosidade que tomara conta de si e a levara a espiar todos aqueles senhores trajados com fatos elaborados e com adornos dourados, momentos antes, deixando a pequena Elsa encantada…

Mas hoje os seus pais não estavam ali. Aquela visão da sua mãe com Anna ao colo no quarto das Princesas Reais esfumou-se. Voltou a encontrar-se naquele corredor cheio de homens e mulheres, os ruídos das suas vozes, o som das suas próprias vestes a deslocarem-se com os seus movimentos, os tacões dos seus sapatos a baterem sobre o soalho, num ritmo constante e repetitivo… Apressou os seus passos e deixou o olhar focar-se no chão, ignorando deliberadamente tudo o que se desenrolava naquele ambiente, sentindo, para sua preocupação, que a temperatura ao seu redor caía gradualmente. Precisava urgentemente de encontrar o caminho que a conduziria aos seus Aposentos!

Para seu alívio, bastou apenas uns segundos para que se encontrasse mesmo em frente das grandes portas, que mandara decorar especialmente com flocos de neve complexos revestidos a ouro, rodeando o símbolo da Casa Real de Arendelle, polido e reluzente.

Sem cerimónias Elsa abriu as portas de par em par, fechando-as logo atrás de si, não resistindo em deixar escapar um suspiro de alívio… que não durou muito tempo.

Ali mesmo encontravam-se 4 criadas, que tinham sido encarregues daquele espaço. Soltaram pequenas exclamações de surpresa e apressadamente reuniram-se todas numa pequena fila á sua frente. Estariam ali a cumprir com as suas tarefas habituais, mantendo os aposentos da Rainha sempre impecáveis e prontos para o seu uso pessoal. Todas fizeram profundas vénias, levando Elsa á obrigação de lhes sorrir e acenar levemente com a cabeça.

– Perdoai-nos Alteza. – Disse uma delas, erguendo-se da sua vénia com algum embaraço e juntando as mãos tremulas á frente do seu avental branco. – Estávamos simplesmente a arrumar e a limpar os seus aposentos de modo a ficar tudo do seu agrado.

– Não há qualquer necessidade de me pedirem perdão. – Respondeu Elsa, não resistindo em sorrir, por ver todo aquele aparato que se originava de uma etiqueta rígida. – Estavam apenas nas vossas tarefas diárias. E por aquilo que consigo ver… - Elsa olhou em seu redor e afastou os braços. – Estavam a fazê-lo na perfeição!

Aquele elogio da parte da Rainha fez as 4 jovens mulheres sorrirem, visivelmente aliviadas.

– Mas agora, creio que seja necessário retirarem-se dos meus aposentos, a fim de que eu me possa aprontar, dado que eu tenho um compromisso ao qual não posso faltar. – Disse Elsa, deixando os seus braços descaírem juntos ao corpo.

– Então deseja que a Primeira-dama e as Camareiras de quarto sejam chamadas imediatamente, para que a possam ajudar nas suas roupas e adornos? – Questionou a mesma jovem criada.

– Não, obrigado. – Recusou Elsa. – Não é necessário chama-las. Desejo ficar sozinha nos meus Aposentos…

– Com certeza minha Rainha. – Responderam as 4 criadas em uníssono, fazendo uma última vénia.

Saíram daquela mesma forma em que se tinha mantido frente a ela, tão silenciosamente quanto lhes foi permitido. Elsa voltou a suspirar assim que ouviu o som das portas dos seus aposentos serem fechadas. Finalmente, encontrava-se sozinha… sentia aquela necessidade de reservar uns momentos para si mesma, antes que chegasse a hora da Reunião com a Corte. A finalidade de tudo aquilo tinha o objectivo de a preparar, não só fisicamente mas também mentalmente para o que a esperava.

Tinha consciência de que não seria propriamente fácil tomar uma boa e justa decisão quanto ao Príncipe das Ilhas do Sul. Afinal, os seus actos rebeldes não eram de todo pequenos…estavam bastante longe de serem medíocres em importância.

Com passos vagarosos Elsa aproximou-se do seu enorme toucador de madeira trabalhada em rosas douradas e ramificações de ouro retorcido, que circundavam delicadamente cada um dos seus enormes três espelhos, permitindo-lhe ver o reflexo da sua figura elegante e esguia.

Lentamente deixou-se sentar sobre o grande banco redondo e almofadado que repousava em frente do toucador e observou-se, com o olhar repleto de preocupação.

Sob a superfície daquele móvel encontravam-se espalhadas as suas jóias, as quais dava tão pouca importância, perfumes com as mais deliciosas fragâncias em finos frascos de cristal veneziano… ao canto, um grande boião de pó de arroz encrostado de pedras preciosas, que Elsa jamais necessitaria de o usar por já possuir a sua pele imaculadamente branca. Levou as suas mãos aos cabelos loiros platinados e com gestos leves mas precisos fez derreter todos os flocos e cristais de gelo, desfazendo a enorme transa volumosa que se ia transformando numa enorme cascata solta pelas costas abaixo, em ondas suaves. Sacudiu a cabeça levemente para os lados e levou as mãos ao rosto.

Como ansiava ficar ali eternamente, congelando o tempo para que aquela hora jamais chegasse e a obrigasse a sair… sobre os seus pés começou a formar-se lentamente uma camada fina de gelo, indicando que a sua ansiedade já começava a afectar seriamente o controlo dos seus poderes.

– Não. – Sussurrou Elsa para si mesma e olhou-se no espelho bruscamente. Aquela mesma camada fina de gelo regrediu visivelmente, como se tivesse recolhido para o seu interior. – Não podes perder a calma, não podes perder a calma. Tens que levar isto até ao fim. Mais cedo ou mais tarde, tens que punir aquele Príncipe vaidoso e presunçoso…

Foi interrompida pelo som de alguém a bater á porta, o que a fez levantar-se rapidamente. Respirou fundo e tentou falar com uma voz ponderada e calma.

– Sim?

– Desculpe Rainha Elsa, mas chegou a hora de se reunir no Salão de Audiências com os Membros Superiores e Conselheiros. – Soou a voz abafada de Kai do lado exterior dos Aposentos Reais. – Já se encontram todos eles reunidos, apenas esperam a chegada de sua Majestade para puderem dar inicio á Reunião…

– Com certeza Kai. – Respondeu Elsa. – Pode ir e informar-lhes que dentro de breves momentos irei juntar-me a eles.

– Claro, minha Rainha. – Anuiu o Embaixador, ouvindo-se depois os seus passos a afastarem-se.

Elsa voltou a sentar-se sobre o banco almofadado.

Por fim, tinha chegado o derradeiro momento… mas ela não se sentia de todo preparada para assumir o seu posto, nem com a coragem suficiente, para julgar um homem como Hans. Mas subitamente, uma breve ideia iluminou-lhe a mente. Permitiu que um sorriso tímido surgisse nos cantos da sua boca.

Talvez fosse a solução perfeita, que traria não só vantagens para si e para todo o Reino de Arendelle, mas também para a sua irmã Anna. Era isso mesmo… iria propor naquela Reunião, a todos os Membros da Corte que o Príncipe Hans, das Ilhas do Sul, fosse deportado para o seu próprio Reino a fim de que fosse julgado, não por ela, mas sim pelos seus 12 irmãos mais velhos. Certamente que eles conheciam perfeitamente aquele seu irmão mais novo, muito melhor do que ela, ou Anna, ou outro qualquer habitante do seu Reino… sabiam o melhor castigo a aplicar àquele insolente que um dia se atrevera a cobiçar o trono de Arendelle.

O seu entusiasmo foi tal que Elsa refez rapidamente o seu penteado com o toque da sua magia invernosa, espalhou pela sua superfície os cristais de gelo e tocou levemente nas suas orelhas, criando um par de brincos maravilhosos, com gotículas que se assemelhavam a minuciosos diamantes.

Determinada ergueu-se do seu repouso e dirigiu-se para as portas de entrada dos Aposentos.

Finalmente tinha encontrado a segurança em si mesma para conseguir enfrentar um Salão repleto de todos aqueles homens, que uma vez na sua infância, lhe tinham provocado a curiosidade…


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Notas finais do capítulo

Aii meu Deus! Agora estou nervosa para saber a vossa opinião meninas! *o*
O que é que acharam? Por favor, deixem os vossos comentários (Aceito conselhos e

criticas construtivas) :3
Espero que tenham apreciado e até ao próximo capítulo!