A filha do diretor escrita por The Drama Queen


Capítulo 34
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

POV extra do capítulo anterior. Segue o link: http://thedrama-queen.blogspot.com.br/2014/09/pov-cap-32.html



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Férias! Ah, como eu esperei por esse momento. Vamos todos para a minha casa na praia. Aquela que ficou de herança dos meus pais. Uma das únicas coisas deles que eu não vendi.

Alysson falou com seus pais que iria para a casa de praia, só não mencionou que a casa era minha. Eles ainda não sabem sobre a gente. Muita gente ainda não sabe. Ela disse que a casa era de um amigo e que vários de seus amigos iriam. A princípio, o diretor não deixou, mas depois de uma boa conversa com a dona Marie, mãe de Alysson, ele cedeu, com uma condição: Chloe teria que ir junto. Eu não me importei. Já estava nos planos ela ir mesmo. Afinal, os que vão são todos casais, e como Anthony ficou com ela na festa... Enfim, todos concordaram e foram liberados.

Assim que acabaram as aulas, fomos direto para lá.

Dylan teve que ir com a gente porque precisávamos de alguém “responsável” nos acompanhando. Ross, não o temos visto nas últimas semanas, nenhum de nós. Não é como se o mundo fosse acabar por isso, mas é estranho. Apenas estranho. Ele vivia praticamente grudado na gente. No início, o sumiço repentino dele até nos preocupava, mas hoje não comentamos muito sobre o assunto. Anthony me contou que ele sempre foi meio estranho.

De qualquer forma, vieram James e Sarah, Zac e Lilyan, Anthony e Chloe, eu e Alysson e Dylan e uma garota qualquer. Claro que ele não iria perder a oportunidade de levar uma garota.

Como eu disse, saímos direto da escola para lá. Dispensamos o sermão rotineiro dos pais/tios. A viagem foi bem longa, mas não entediante. Fomos divididos em dois carros. Vez ou outra ligávamos para o celular um dos outros para falar com os que estavam no outro carro. Foi uma boa viagem.

Depois da longa viagem, finalmente chegamos na tão esperada casa. Há muito tempo eu não vinha aqui. É até estranho, porque, bem, eu nunca vim aqui sem meus pais.

– Scott, está tudo bem? – ouvi aquela voz doce e melodiosa. Dei o meu melhor sorriso.

– Tudo sim – respondi a Alysson. – São só algumas lembranças. Nada de importante.

– Tenho certeza de que seus pais são importantes. Era neles que você estava pensando, não é? – Assenti.

– Como eu disse, nada de importante. O que passou, passou. O que aconteceu, aconteceu. Ficar lembrando disso e me lamentando não vai os trazer de volta, só vai desperdiçar o meu tempo.

– Não fala assim, Scott – ela disse me abraçando. – Eles eram seus pais.

– Eu sei. E estão mortos. – Suspirei. – Não quero falar sobre isso.

Na verdade, eu quero falar sobre isso. Eu preciso falar sobre isso. Eu nunca conversei com ninguém sobre a morte dos meus pais. É incômodo demais. Mas não nego que preciso disso. Se eu achasse a pessoa certa... Não. Eu já tenho a pessoa certa. Mas se eu encontrasse coragem para falar sobre isso.

Me peguei parado no corredor, encarando uma foto dos meus pais, que ainda está pendurada na parede. Alysson já não está comigo. Disse que era melhor me deixar sozinho um pouco. Depois de alguns segundos ainda ali, admirando a foto dos meus pais sorridentes, senti uma mão tocar meu ombro. Olhei para o lado e vi Anthony. Ele não disse nada, não perguntou se está tudo bem. Ele sabe que não está. Apenas deu um meio sorriso e um aceno de cabeça, o qual eu retribuí, e foi para fora de casa, onde os outros estavam. Não sei bem o porquê de não terem entrado ainda.

Fui lá fora verificar. Quando cheguei, estavam todos conversando encostados nos carros. Quando me viram, pararam de falar na hora.

– Algum problema? – perguntei. Todos negaram. Tudo bem, vou fingir que acredito. – Tudo bem, andem logo. O sol não vai ficar esperando a nossa boa vontade. Quero ir à praia ainda hoje. – Todos me seguiram em silêncio. – Essa aqui é a sala. A cozinha fica logo ali. – Apontei para uma porta a nossa frente. – Temos quatro quartos: dois no corredor da direita e dois no corredor da esquerda. As chaves estão na parte de dentro da porta. Em cada corredor tem um banheiro. Divirtam-se descobrindo que porta é o quê. Ah, e alguém vai ter que ficar no sótão, já que somos 5 casais e só tem quatro quartos.

– 5 casais? – Lilyan perguntou. – Da onde você tirou isso?

– Dos amassos que vocês deram no shopping – respondi sem emoção alguma na voz. – Agora escolham a sua dupla ou sei lá o que e seus quartos. Nos encontramos aqui em 40 min. – Todos assentiram. Me virei para Alysson. – Vai querer dividir o quarto comigo ou vai ficar com as meninas? – perguntei, talvez um pouco rude demais.

– Eu pensei em ficar com você. Se você não se importar, claro.

– Tudo bem – respondi. – Qual quarto você vai querer?

– O sótão não me parece muito ruim – Mas é.

– Não é tão ruim – menti.

– Podemos ficar lá?

– Claro, claro. Vamos.

Peguei nossas coisas e segui pelo corredor da direita. Abri a porta do fim do corredor e entrei. Peguei a chave que estava ali. Quando Alysson entrou, tranquei a porta para evitar que alguém entrasse. Subimos as escadas e chegamos ao sótão. Lembro que fui eu quem transformou isso num quarto.

Eu passava a maior parte do meu tempo aqui em cima. Não gostava muito de ir praia, nem quando era pequeno nem depois de grande. Eu gostava de vir para cá só para ficar no sótão. Ficar sozinho era minha maior diversão. Eu tinha uma imaginação muito fértil.

Não que eu não ia à praia. Eu até ia, mas preferia ficar aqui. Havia vezes em que eu até dormia aqui. Então, meus pais resolveram transformar isso num quarto pra mim, já que não usava o que era meu.

Terminando de subir as escadas, abri a outra porta e entrei, deixando essa aberta para que Alysson entrasse. Joguei as malas em um canto qualquer do quarto.

– Tem um banheiro bem ali. – Apontei para a porta do outro lado do quarto. Ela assentiu.

– Tem certeza de que está bem? – ela perguntou. – Você está meio estranho. Quer conversar?

– Eu já disse que está tudo bem. E eu não quero falar sobre isso.

– Tudo bem. Eu vou me trocar. – Pegou a roupa na sua mala. – Se precisar de alguma coisa é só falar.

– Você está na minha casa. Eu deveria falar isso. – Ela soltou uma breve risada, mas eu permaneci sério. Isso não foi uma piada.

Alysson entrou no banheiro. Eu me troquei rapidamente e me joguei na cama só com a bermuda, sem camisa.

Alguns minutos depois, Alysson saiu do banheiro e descemos em silêncio.

Fiquei pensando no que ela havia dito. Eu estou estranho. Não pouco, nem meio. Muito estranho. Me senti mal por ter deixado que meus pais me afetassem tanto.

– Aly – chamei, antes de abrir a porta que dava para o corredor. – Me desculpa.

– Pelo que? – Parecia confusa diante do meu pedido.

– Por eu estar... assim. – Ela sorriu gentilmente.

– Não precisa se desculpar. Você está lidando com isso tudo melhor do que qualquer um de nós lidaria.

Suspirei e me sentei num dos degraus da escada.

– Isso era pra ser divertido. Quer dizer, estou de férias, na praia, com meus amigos e minha namorada e tudo o que eu consigo fazer é lembrar deles. Isso não deveria me afetar. Já tem o que? 8 meses? Mas pra todo lugar que eu olho eu os vejo. Isso é irritante!

– Não tem nada de errado nisso, amor. Você viveu 18 anos com eles e agora eles já não estão mais aqui. É normal sentir saudades.

Saudades. Senti isso durante tanto tempo e só agora fui descobrir o que é. Apenas saudade. Isso me apavora. Não posso controlar a saudade de alguma coisa que não vai voltar. Não posso ser otimista e pensar “Ah, no próximo verão vou vê-los”, porque no próximo verão eles não vão voltar. Eles estão mortos e ponto. Acabou para eles, acabou para mim. Não gosto de sentir saudades.

– Os outros já devem estar nos esperando – falei me levantando.

– Devem – ela respondeu. – Mas, já que esperaram tanto, talvez possam esperar mais alguns minutinhos.

Num primeiro momento eu não entendi, mas logo senti os lábios de Alysson nos meus. Não era um daqueles beijos calmos. Não, esse era mais desesperado. Ah, Alysson, não jogue esse jogo comigo. Suas mãos já estavam nos meus cabelos, os puxando levemente. Envolvi sua cintura com ambas as mãos e colei nossos corpos. O espaço entre as escadas e a porta é minúsculo, quase não dá para se mover aqui. De alguma forma, a guiei até uma das paredes laterais e a pressionei contra a mesma. Acho que meu fôlego nunca foi tão grande.

Ficamos ali não sei quanto tempo. Só sei que fomos interrompidos, não pela falta de ar, mas por batidas na porta. Ah, eu mato o infeliz que bateu nessa porta. Dei um tempo para que ambos nos recompuséssemos. Quando nossas respirações estavam estabilizadas, nossos lábios menos vermelhos, cabelos arrumados e roupas ajeitadas, eu abri a porta.

Sarah Foster, eu gosto muito de você, mas poderia te matar aqui e agora.

– Pensei ter te ouvido dizer 40 min. e não 60 – Sarah disse batendo o pé.

– Tive alguns contratempos – respondi.

– É, sei bem que contratempos foram esses. – Olhou de mim para Alysson acusadoramente. – Andem logo. Os outros estão achando que vocês morreram.

– Vocês são muito exagerados – eu disse. Alysson permanecia calada.

– É porque a Alysson não costuma ter... contratempos – Sarah insinuou. Olhei de relance para Alysson e vi que ela corou.

É fato: meninas coram por qualquer coisa.

Percebi que, depois que a vi corar pela primeira vez, Alysson começou a corar por qualquer coisa. Não sei se isso é bom.

Fomos a pé para praia, já que é bem perto. Não demorou muito para estarmos pisando em areia e não no asfalto.

No início, até ficamos todos juntos. mas chegou um momento em que eu olhei em volta e vi: Anthony e Chloe sentados abraçados num canto distante; Sarah e James nadando; Zac e Lilyan conversando/se beijando no lado oposto da praia de Anthony e Chloe; e Alysson sentada do me lado na areia. A praia está vazia. Parece até que é particular. Estamos apenas nós. Por isso, o único barulho que se ouve, são os vindos das brincadeiras entre James e Sarah.

Novamente estava tudo bem. O que me deu medo de que algo estragasse isso tudo. Por algum motivo, nada é perfeito o tempo todo. Da última vez foi Peter. Não quero nem imaginar o que virá a seguir para estragar essa paz, essa felicidade.

– Você tem medo? - perguntei de repente. Não me atrevi a desviar os olhos do mar.

– Depende. Se você estiver falando de altura, a resposta é sim - Alysson respondeu, depois de um tempo.

– Não. Você tem medo de que tudo isso acabe? Isso o que estamos vivendo?

– Não sei - disse meio distante, como se pensasse sobre o assunto. - Por que esse assunto agora?

– Porque eu tenho medo - admiti. - Sinto como se, a qualquer momento, eu fosse perder tudo, como já aconteceu uma vez - completei. - Você já perdeu tudo, Alysson? - eu ainda não a olhava, mas sentia seu olhar sobre mim.

– Não - respondeu apenas.

– É muito ruim. - Ficamos em silêncio.

– Scott - ouvi-a chamar.

– Hum - murmurei.

– O que aconteceu pra você ter medo de me perder?

– A vida, Aly. A vida aconteceu.

– Não entendi - disse baixinho.Sua voz soando como a de uma criança que não entende porque 2+2 é igual a 4.

– Quando você perde alguma coisa importante - comecei. -, sua vida se resume em sentir medo de perder as coisas importantes que você tem.

– O que você tem medo de perder? - Pensei por um tempo, mesmo que a resposta estivesse na ponta da língua.

– Meus tios, Dylan e Anthony, agora meus amigos… Você. - A olhei quando disse a última parte. Seus olhos grandes, verdes e meigos me encaravam.

– Você não vai me perder - garantiu.

– O futuro é incerto, Aly. Tudo pode acontecer. Veja bem, meus pais sempre me disseram que nunca iriam me deixar, que estariam sempre ali comigo, que me veriam formado na escola, sendo um grande músico. Prometeram que me visitariam na minha faculdade de música. Então, uma droga de um bêbado avançou o sinal e fez com que eles quebrassem todas as promessas que me fizeram. - Nesse momento, eu já não fitava o rosto dela, mas sim a areia branca.

Alysson segurou meu rosto com ambas as mãos, fazendo-me olhá-la nos olhos.

– Você não vai me perder. Nada nesse mundo vai me afastar de você. Nada.

– O futuro é incerto - repeti.

– Assim como você prometeu que nunca iria me machucar e eu confiei em você, eu te prometo que nunca vou te deixar, e quero que você confie em mim, tudo bem? - Apenas assenti, hipnotizado pelos seus olhos determinados. - Eu te amo - ela disse antes de me beijar.

A primeira vez em que ela diz que me ama.

– Também te amo, Alysson Cooper.


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Notas finais do capítulo

Ok, eu achei que esse capítulo ficou pequeno. Mas não sei. Talvez seja só porque não aconteceu muita coisa. De qualquer forma, eu queria escrever esse capítulo só pra mostar pra vocês o outro lado do Scott. O lado que perdeu os pais. Espero que eu tenha conseguido mostrar isso do jeito que eu pensei. Li o capítulo umas 3 vezes e gostei do resultado, mas quero saber a opinião de vocês.

Ah, esse capítulo não vai ter POV extra. O próximo vai ser só no capítulo 35.

Beijos de amora :*