– Como foi? - Dylan perguntou assim que entrei em casa.

– Amanhã eu te conto. Estou acabado! - exclamei e fui para o quarto.

Depois de tomar um bom banho, me joguei na cama.

A noite foi longa. Depois de uma longa conversa sobre as estrelas e suas explosões, eu levei Alysson para casa. Eu estava nervoso enquanto dirigia. Uma coisa não me saía da cabeça: a aposta. Eu sei. Eu disse que esqueceria isso por essa noite. Que seria apenas nós dois. Apenas Scott e Alysson. Mas foi inevitável. Quando dei por mim, o pensamento já estava ali. Eu fiquei imaginando por todo o caminho, se ela me convidaria para entrar. Os pais dela não estão em casa. Nada a impediria. E, ao mesmo tempo que eu queria que ela me convidasse, eu temia pelo mesmo motivo. Não quero fazer isso com ela. Talvez ela não esteja pronta. Talvez ela seja virgem. Talvez… Com certeza, ela vai me odiar para o resto da vida quando descobrir.

Ela me convidou para entrar.

Percebi que ela não tinha segundas intenções com aquele convite. Afinal, é a Alysson. Ela nunca tem segundas intenções. Pelo menos não comigo. Bebemos refrigerante, conversamos mais um pouco… Então, eu a beijei.

Eu não poderia deixar aquela noite terminar sem tocar aqueles lábios. Sem falar que ela estava incrivelmente sexy com aquele coque malfeito, o vestido vinho rodado, que deixava seus ombros completamente expostos, os pés descalços. Ela não hesitou em corresponder. Nossas línguas travaram uma verdadeira guerra. As coisas ficaram realmente quentes. Mas ainda era a Alysson. Eu não conseguiria fazer algo assim com ela. Principalmente agora que sei que posso sentir.

Alysson é especial.

É como uma boneca de porcelana. Daquelas que, com o menor toque, pode se quebrar. Eu não quero quebrá-la. Eu não posso quebrá-la. Ela é a minha porcelana.

…

– Pode falar agora? - Dylan perguntou.

Eu acabei de chegar da escola. Hoje as coisas foram um pouco diferentes. E eu realmente achei que seriam. Alysson ficou comigo durante todo o tempo que pudemos. Lucca? Quem é Lucca? Não vi nem a sombra daquele garoto. E, para o bem dele, é bom que não veja.

Sarah foi a única coisa que não mudou. Ela até demonstrou certa felicidade, talvez para que Alysson não desconfiasse de nada, mas continua a mesma comigo. Mal me dirige a palavra. Odeio estar assim com ela, mas prefiro não forçar comunicação. Vou dar espaço. De repente, assim, ela consiga pensar melhor e me perdoar por tê-la enganado, por ter enganado a Alysson, e perceba que o que eu disse era verdade.

– Foi melhor do que eu pensei - respondi, me referindo ao encontro. - Algumas coisas deram errado, mas eu consegui me virar bem.

– Então, a aposta está ganha?

Aí é que está. Eu não sei.

Para Ross, Zac e James sim. A aposta está ganha. Mas para Peter… Eu não sei. Ainda tenho esperanças de que ele desista dessa ideia idiota. Esperança tola, eu sei. Mas, como dizem, a esperança é a última que morre.

– Está - disse. - Está ganha.

De certa forma, essa não deixa de ser uma verdade.

O assunto morreu ali.

…

9 de maio. Hoje é aniversário de Anthony. Ele não quis nenhuma comemoração grande, então vamos todos ao cinema. E esse “todos” inclui Dylan, Sarah, Lilyan, Alysson e uma prima dela, e claro, James, Ross e Zac. Não sei que filmes vamos assistir. Mas no fim isso não importa muito. Anthony, Dylan e eu temos gostos bem parecidos. Então, nem me preocupo muito com a escolha do filme.

Ficou decidido que nos encontraríamos no cinema, e Anthony está mais do que atrasado.

– Anthony, sai logo dessa droga de banheiro! - gritei, batendo na porta. - Você está indo para o cinema, não para um casamento! - Pude ouví-lo bufar e logo a porta se abriu.

– Eu marquei com eles 19 horas. Não enche.

– Eu sei que horas você marcou. E são… - Verifiquei o meu relógio de pulso - 19:09. - Tudo bem. Não é tão tarde assim.

– Tudo bem. Vamos então. - Descemos as escadas.

– Ah, a noiva ficou pronta - Dylan falou.

– Vocês estão irritantes além da conta hoje - Anthony comentou.

– Achou que iríamos aliviar só porque é seu aniversário, idiota? - perguntei e dei um tapa na sua nuca.

…

Chegamos no cinema, estavam todos lá, menos Alysson, Sarah e tal prima que a Aly disse que traria. James mal me viu e já foi me puxando para um canto.

– O que houve com a Sarah? - perguntou, sem rodeios.

– Como assim?

– Ela anda estranha esses últimos dias - explicou.

– Sei… Percebi isso também. Mas não sei o motivo - menti. - Você tem falado com ela?

– Não. Não desde que ela começou a sair com um cara aí. - ergui uma sobrancelha.

– Então o tal cara não é você? - James negou com a cabeça.

– Também não sabe quem é?

– Não. - Mas faço uma ideia.– Você tem que tomar uma atitude. E logo. Está perdendo ela.

– Eu sei - murmurou.

– Sarah não é o tipo de garota que se deixa escapar. - Ele assentiu.

– Vou ver o que posso fazer.

– Tudo bem. Mas faça logo.

– Scott! - alguém gritou. Me virei e vi Alysson, junto com Sarah e uma outra garota.

Abri um sorriso e fui até elas. Cumprimentei Alysson com um beijo rápido e Sarah, apenas com um aceno de cabeça, já que ainda estamos naquela fase estranha.

– Scott, essa é a minha prima, Chloe - Alysson disse, se referindo a morena que as acompanhava. - Chloe, esse é o Scott, meu… amigo? - afirmou meio perguntando. Eu não respondi. Também não sei o que somos.

Só tivemos um encontro e, mesmo que eu sinta alguma coisa por ela, não significa que ela sinta alguma coisa por mim, ou que algum de nós queira sentir isso. Eu não sei. Apenas sentimos. Um passo a mais do que “estar junto”, requeriria mais do que sentir. Ambos deveríamos estar dispostos a lutar um pelo outro diariamente. Ter uma relação séria, é muito diferente do que fazer o que fazemos. Nos encontrar de vez em quando e trocar alguns beijos. Não sei se estamos prontos para dar esse passo. Não sei se eu quero dar esse passo.

Ninguém comentou a “pergunta” de Alysson. Apenas nos dirigimos para a sala de cinema. Terror. Esse é o gênero do filme. Eu sabia que não precisava me preocupar com a escolha do filme. Sarah protestou, mas foi a única.

Alysson, por mais que tenha dito que gosta de filmes de terror, ficou agarrada a mim o tempo todo. Foi até engraçado. Mas, acima de tudo, tê-la por perto fez minha pele formigar, como se fosse entrar em autocombustão a qualquer momento. É uma sensação boa. Assustadora, mas boa.

O filme não era ruim, mas já vi melhores. E sim, eu assisti o filme inteiro. Minha vida não se resume só em beijar. Só às vezes…

Anthony pareceu se dar bem com a Chloe. Os dois não param de conversar e rir. Devem ter muitas coisas em comum. James e Sarah também não se desgrudaram. James está agindo mais rápido do que pensei. Espero que ele consiga alguma coisa com Sarah. Ou algo mais do que apenas alguma coisa. Acho que James faria bem para ela. Dylan estava com uma garota que conheceu na entrada do cinema, assim como Ross. Os dois se deram bem. Uma loira e uma ruiva. Se eu não estivesse com a Alysson…

– Scott, vem aqui! - Alysson sussurrou. Ela e os outros parecem estar se escondendo de alguém, enquanto observam alguma coisa num corredor.

Ando até eles apressadamente, mas sem fazer barulho e… Acho que acabo de ter a confirmação de que, sim, estamos num universo paralelo!

– Eu estou mesmo vendo isso? - perguntei.

– Eu sei. Surreal, não é? - Alysson disse. Ela tem um sorriso gigante no rosto. Um sorriso nível Coringa.

– Surreal é pouco - foi a vez de Sarah falar.

– Zac e Lilyan… - falei. Isso explica porque eles sumiram no meio do filme.

– Querem ver como é que se deixa Lilyan envergonhada? - Alysson perguntou. Seu sorriso agora divertido e sapeca. - Esses adolescentes exalando hormônios… - disse num tom alto, quase gritando, o que fez com que Lilyan desse um pulo e empurrasse Zac com brutalidade. - Pode continuar, Lily. Nos ignore. Volte a se esfregar no seu boymagia.

Lilyan corou violentamente. É estranho vê-la ruborizada. Mas é engraçado, devo confessar. Ela não disse nada, apenas nos encarou por um longo tempo, enquanto ríamos da sua reação. Quando Lilyan percebeu que Zac também ria… Tenho pena do rosto dele, que agora tinha a marca da mão da morena ruborizada. A mesma passou correndo por nós e foi em direção a saída. As meninas a seguiram, talvez para se desculpar.

– Até que em fim, hein, tampinha– James disse, dando dois tapinhas no ombro de Zac.

– Achei que nunca te veria com uma garota - Anthony comentou.

– Eu tinha certeza de que nunca o veria com uma garota - afirmou Dylan. Zac apenas deu de ombros.

Embora ele estivesse rindo, talvez Lilyan não seja a única envergonhada no fim das contas.

Quando estávamos todos saindo do shopping, indo para o estacionamento nos encontrar com as meninas, Anthony me puxou para trás. Começamos a andar atrás dos outros, caminhando lentamente.

Ele suspirou antes de começar a falar.

– Como estão as coisas com a Alysson?

– Bem - respondi simplesmente.

Mas eu não sei se estão realmente bem. Quer dizer, o combinado era ganhar a aposta e “adeus, Alysson”. Mas eu não consigo. Não consigo me distanciar dela. Não consigo nem pensar em deixá-la.

– Então… A aposta está ganha - ele disse. - Quando você vai largá-la?

Olhei para os meus próprios pés. Quando eu vou largá-la?

– Eu não sei.

– Não sabe? Você pode acabar com ela aqui e agora - exaltou um pouco a voz, mas de forma que apenas eu o ouvisse.

– Você não entendeu - murmurei. - Eu não sei se eu quero largá-la.

Ele não disse nada por um bom tempo. Já estávamos saindo pela porta do estacionamento quando ele se manisfestou.

– Isso é algum tipo de piada?

– Piada?

– Você nunca gostou de ninguém, Scott. Por que iria gostar logo agora, e logo da Alysson?

– Eu não sei, tá legal?! Eu não sei! Só sei que… que é diferente. Quando eu estou com ela é diferente. E eu nem sei se quero sentir isso. Não sei se posso, se deveria. Mas está aqui - disse apontando para o meu peito. - Me desculpe se eu não sei como controlar isso. Eu não sei como essa coisa funciona, porque, como você mesmo disse, eu nunca gostei de ninguém. Eu nem sabia que eu podia gostar de alguém!

E o silêncio voltou a reinar. Estamos parados no meio do estacionamento, longe de todos. Não seria agradável se alguém ouvisse essa conversa.

– Tudo bem - ele disse, mais para si mesmo do que para mim. - E o que você pretende fazer?

– Você não me ouviu? Eu não sei!

– Isso é um problema - disse fitando o chão.

– Olha, eu sei que você gosta da Alysson - falei. Por mais egoísta que pareça, eu havia esquecido desse detalhe durante um bom tempo. - Você a viu primeiro. Se você quiser que eu me afaste, eu vou entender, e vou fazer o máximo pra que isso aconteça, está bem?

– Não. - Não?

– Não?

– Não. Alysson não é um objeto que é dado para aquele que viu primeiro. Ela tem que ficar com quem ela quer. - Finalmente, levantou o olhar e me encarou. - E está na cara que ela quer você. E se você gosta dela como diz… - Assenti. - Mas um dia você vai ter que contar da aposta pra ela.

– Eu sei disso. Só estou esperando o momento certo. - Foi a vez dele assentir.

– Ei, vocês dois! - gritaram. - Vão montar acampamento no estacionamento? - era Chloe.

Fomos até eles, entramos nos carros e partimos.

Queria que os outros problemas fossem fáceis assim de resolver.