“Ideia? Diz logo qual é - Scott”

Ela começou a digitar freneticamente no celular. Curiosidade, ansiedade… Parece que quanto mais ela digita, mais coisas tem para digitar.

– Scott?

– O que é? - Disse desviando o olhar de Sarah, e procurando a origem da voz.

– Está falando com quem, novato? - James perguntou.

– Com… Com ninguém em especial. - Respondi. Eles não precisam saber sobre a Sarah ainda.

– E o que você tanto olha para a mesa da Alysson? - Zac perguntou.

– Estou só… analisando.

– O que exatamente? - Foi a vez de Anthony perguntar.

– O que é isso? Um interrogatório?

– Só responda a pergunta.

– A Alysson. Quem mais seria? - Disse devolvendo o celular ao bolso da calça.

– Ah, acho bom. Por que se fosse a minha garota… - Zac disse fazendo os meninos murmurarem e revirarem os olhos.

– Sua garota? - Perguntei.

– Lilyan. - Peter respondeu.

– Ele tem um queda por ela desde o ano passado. - Ross explicou.

– Ah… - Murmurei.

– Mas ele não consegue enfiar na cabeça que não tem chances com ela. - Foi a vez de Anthony falar.

– Um dia eu ainda vou fazer vocês engolirem essas palavras. - Prometeu Zac me fazendo rir.

Meu celular vibrou e eu, instintivamente, olhei para Sarah. Ela também me olhava. Logo peguei o celular e li sua mensagem (que era enorme):

“A Alysson está com carregando um livro pra todo lugar ultimamente. Use isso. Converse sobre o livro ou o autor com ela. Se não souber nada sobre o mesmo, aqui vão algumas informações: autor: John Green, título: a culpa é das estrelas, é um romance sobre uma garota que tem câncer e um garoto que tinha câncer, mas, pelo que eu entendi, ele morre no final. Eu não sei muito sobre o livro, porque eu não li, mas sei que o filme está em cartaz e ela está louca pra ver. Eis a sua oportunidade ;) - Sarah”

Não respondi nada a Sarah.

Pouco tempo depois, o sinal tocou e todos voltamos para a sala. Como de costume, não prestei nenhuma atenção à aula. Mas dessa vez, foi por causa de uma pesquisa. Sim, uma pesquisa sobre o tal de John Green e seu livro A culpa é das estrelas. Gravei o nome de alguns livros do cara, li resenhas de A culpa é das estralas e decorei algumas frases do livro, caso fosse necessário. Espero que isso funcione.

Quando um sinal tocou, continuei sentado. Esperei que todos saíssem, guardei meu material calmamente e repassei todas as frases, títulos e resenhas mentalmente. Saindo da sala, recebi outra mensagem:

“Preparado pra enfrentar a fera? - Sarah”

“Talvez… - Scott”

“Relaxa. Provavelmente você não vai conseguir nada de primeira - Sarah”

“Ah, vlw. Foi animador! - Scott”

“Só digo a verdade - Sarah ”

“Ok - Scott”

Eu ainda estou parado na porta da sala. Tenho uma pergunta martelando na minha cabeça. Idiota, mais ainda é uma pergunta.

“Como eu vou saber que você não está mentindo esse tempo todo? - Scott”

Depois de alguns segundos a resposta veio:

“Não vai. Você vai ter que simplesmente confiar em mim - Sarah”

Nossa! Que ótima argumentação. Mas, embora não tenha motivos para tal, resolvi correr o risco. Afinal, o que eu posso perder? No máximo, a minha dignidade, o que é resolvido com mudança de escola (o que eu resolveria com facilidade).

Segui pelo corredor vazia. Por um momento, pensei que a Paris fosse aparecer. Ela geralmente aparece quando eu estou andando sozinho no corredor. Mas não foi o que aconteceu. Segui meu caminho e encontrei Alysson sozinha, o que é bom (e extremamente suspeito). Ela estava lendo A culpa é das estrelas num canto do pátio. A escola, por incrível que pareça, estava bem vazia. Não tinha nenhum sinal da Sarah ou da Lilyan, nem dos caras, e muito menos do Kyle. Andei até ela e me sentei ao seu lado. Quando percebeu minha presença, ela abaixou o livro, bufou e me olhou. E, depois de alguns segundos, me cumprimentou:

– Nem com namorado você me deixa em paz?

– Boa tarde pra você também. - Disse com ironia.

– O que você quer? - Perguntou secamente.

– Nada. Eu só estava passando, aí vi esse livro…

– Ai meu Deus! - Ela exclamou, colocando a mão na boca.

– O que foi? - Perguntei preocupado.

– Você sabe o que é um livro?!

– Há-há… Muito engraçada. - Ela sorriu.

– Me desculpa. Mas eu realmente me surpreendi com essa descoberta.

– Então, A culpa é das estrelas, não é?! - Disse ignorando sem comentário. - Um belo romance. - Ela me olhou incrédula. - Uma das melhores obras de John Green.

– Scott, você está bem?

– Maravilhosamente bem. Fiquei sabendo que o filme baseado no livro está em cartaz.

– É. Está. - Ela voltou a sua expressão normal. - E eu estou louca pra ver.

– E por que não vai?

– Kyle…

– Ah… Se quiser - Ela voltou sua atenção para mim. - eu posso te fazer companhia qualquer dia desses. - Ela começou a rir.

– Agora entendi tudo. - Ela disse em meio a gargalhadas. - Você só está fazendo isso para… Ah, Scott. Como pôde se rebaixar tanto?

– Espera. Você acha que eu estou mentindo? - Ela deu de ombros.

– É o que parece. - Eu abri a boca para responder, mas alguém me interrompeu:

– Tudo bem por aqui. - Era Kyle.

– Tudo ótimo. - Respondi pela Alysson. - Ele me fuzilou com os olhos.

– É melhor irmos logo. - Disse Alysson se levantando e puxando Kyle consigo.

Eles pareciam discutir no caminho. Em um momento, Alysson olhou para trás e sorriu para mim… ou de mim. Não sei de onde eu tirei essa ideia, mas, ainda sentado embaixo da árvore, mandei uma mensagem para ela:

“Me encontre na sorveteria às 16h se duvida dos meus saberes literários - Scott”

…

O Anthony não falou comigo o resto do dia. Para quem queria guardar o segredo da paixonite pela Alysson, ele disfarça ciúme muito mal. Pensando bem agora, ele sempre deu sinal de ciúmes, desde o início da aposta, só eu que não percebia isso. O Dylan, segundo a tia Sally, saiu de manhã e não voltou até agora. Então, também não falei com ele.

Já são quase 16h. Não tive nenhuma resposta da Alysson, mas não posso correr o risco de ela ir sem avisar e eu não estar lá. Terminei de me arrumar e saí de casa. Eu estava preparado, ao meu ver. Mandei uma mensagem para Sarah assim que saí da escola. Não contei como foi com a Alysson, só perguntei sobre outros livros e autores que ela gostava e passei o resto da tarde pesquisando sobre Harry Potter, Rick Riordan, Shakespeare e outros milhões de livros e autores de todos os gêneros e gerações possíveis e existentes.

Chegando na sorveteria, a primeira pessoa que eu vejo é Ruby, vestindo seu típico uniforme de garçonete e seu coque no alto da cabeça.

– Scott. - Me cumprimentou com um sorriso

– Ruby. - Retribuí o sorriso.

– Então, o que vai querer pra hoje?

– Flocos com calda de chocolate.

– Tudo bem. E como vão as coisas com a Alysson?

– Melhorando, eu acho.

– Hum… - Murmurou. - Que bom. Eu já volto. - E saiu rebolando.

– Disfarça a baba, Scott. - Uma voz extremamente familiar disse.

– Alysson. Que bom que veio. - Sorri para ela.

– Não vim por você. Vim por seus saberes literários.

Ruby logo chegou com o meu pedido.

– Alysson. - Ela disse seca.

– Ruby. - Alysson respondeu no mesmo tom.

– O que vai querer?

– Um de Kiwi. - Respondi por ela. Alysson sorriu e me olhou. Ruby fechou a cara e saiu. - Acho que alguém não gosta muito de você.

– Acho que compartilhamos o mesmo sentimento.

Ruby voltou rapidamente com o seu pedido, e saiu na mesma velocidade que chegou.

– Então, seus conhecimentos literários. - Ela disse e deu uma colherada no sorvete.

– Leio de quase tudo, mas prefiro clássicos, como Shakespeare.

– Imagino que só conheça ele. - Ela comentou. Neguei com a cabeça e comecei a citar os nomes que decorei:

– Ernest Hemingway, Jane Austen, F. Scott Fitzgerald, Oscar Wilde, Mark Twain, entre outros.

– Muito bem. Cite pelo menos um obra de algum deles. - Pediu.

– Orgulho e preconceito de Jane Austen, O velho e o mar de Ernest, As aventuras de Tom Sawyer…

– Tudo bem. Estou realmente impressionada. Nunca imaginei que você, Scott Miller, fosse amante de literatura clássica. - Fiquei em silêncio tentando descobrir se eu recebia isso como um elogio ou uma ofensa.

Ficamos conversando sobre livros e autores, e um pouco sobre filmes também. Até que ela resolveu ir embora.

– Me leva até em casa? - Confesso que o pedido me surpreendeu, mas eu aceitei, lógico.

O caminho foi estranhamente silencioso. Eu fiquei imaginando que imagem ela tinha de mim agora e seu essa imagem era o suficiente para ter um encontro com ela. Quer dizer, eu acho que me saí na conversa na sorveteria. Só basta saber se esse é o tipo de cara que ela gosta.

Chegando na casa dela, ela simplesmente parou no portão e ficou me olhando.

– O que?

– Nada. É só que… Talvez eu estivesse enganada sobre você. - Eu sorri. Ela deu um passo em minha direção.

Nesse momento eu me lembrei do que a Sarah disse: Provavelmente você não vai conseguir nada de primeira. Vamos ver quem não vai conseguir nada de primeira. Envolvi sua cintura com o minha mão esquerda e a puxei para perto. Ela apoiou sua mão em meu peito, se aproximou de mim e, com seus lábios serrando nos meus, ela disse: