Thiago acordou cedo, mais uma noite mal dormida... Ele não estava reclamando, mas uma namorada como Rose era um desafio novo, um desafio imenso.

Uma coruja parda estava no peitoril da janela do dormitório, voou em direção a ele, na perna dela um pequeno bilhete:

“Thiago, eu preciso falar com você. Estou com problemas e não vejo quem mais possa me ajudar, espero que você, apesar de tudo, seja meu amigo. Eu vou estar esperando hoje mesmo no lugar de sempre. Por favor, eu realmente preciso de ajuda. Linete”

Thiago amassou o bilhete e o jogou dentro do pequeno caixote aos pés da cama. Ele pensou em não ir, mas era cavalheiro demais para isso, fosse quem fosse era uma garota precisando de ajuda. O mesmo lugar de sempre? Ele havia ficado com Linete o quê? Duas, três vezes? Mas tudo bem, o mesmo lugar de sempre era o salão comunal da Corvinal. É claro que ele sabia a localização da Corvinal, tendo se encontrado com Linete e outras duas garotas na sua entrada, só podia ser dali que ela estava falando.

Ele foi até o dormitório masculino grifinório do sexto ano, maquinando algumas coisas na cabeça, e extremamente chateado por estar perdendo o começo da manhã com Rose.

-Alvo eu preciso da sua capa. -  ele disse arrancando as cobertas do irmão que se encolheu todo.

-Pra quê? – o outro perguntou ainda sonolento no meio de um bocejo.

-Depois eu explico.

Alvo lhe entregou a capa de invisibilidade e foi se arrumar para o café, não ia mesmo conseguir dormir novamente.

É claro que Thiago não podia ir de qualquer jeito, se alguém o visse com uma garota àquela hora da manhã, especialmente a garota sendo Linete, poderia distorcer as coisas, e certamente isso chegaria aos ouvidos de Rose.

Ele mesmo contaria a ela mais tarde, mas do jeito certo, sem atropelos. E foi assim, coberto com a capa de invisibilidade, que ele foi se encontrar com Linete.

Ela é claro tinha exatamente a intenção de ser vista, providenciou para que algumas amigas estivessem por perto, testemunhas oculares, até aí nada grandioso...

Só que Rose também recebeu um bilhete dela:

“Rosely, nós podemos não ser amigas, mas convivemos juntas muito tempo. Então eu não me sinto bem com o que está acontecendo, ele não podia fazer isso com nós duas... O salão comunal da Corvinal está na torre do lado oeste da escola, por favor, me encontre lá. Linete” 

Rose amassou o bilhete, ignorou que a outra tivesse escrito seu nome errado de propósito. Estava meio preocupada, mas não havia um motivo, havia? Thiago era tão carinhoso com ela. E Linete era uma garota venenosa, capaz de qualquer coisa, podia ser uma armadilha também. Ela ia procurar o namorado antes de qualquer coisa.

Alvo estava bocejando na mesa da grifinória, poucos eram os alunos ali naquela hora da manhã de sábado, Rita Thompson riu gostosamente quando o garoto enfiou o cotovelo na tigela de cereais sonolento demais. Rose o avistou e foi até ele perguntar por Thiago.

-Ele saiu faz uns dez minutos com minha capa... Engraçado ele geralmente a pegava para encontrar com garotas escondido – ele riu – pra que será... Rose aonde você vai?

Rose saiu correndo em direção a torre oeste, o coração quase saindo pela boca. Não sabia o que ia encontrar, mas já estava com medo. Por que ele teria ido com a capa? Se fosse algo certo ele não precisaria se esconder. A mente trabalhando a mil. Linete era bonita, era exótica... e talvez ela pudesse fazer por Thiago alguma coisa que Rose ainda não estivesse disposta.

.......

Linete estava encostada na parede de pedra quando Thiago chegou, ele tirou rapidamente a capa de invisibilidade e foi até ela. Havia algumas meninas mais a frente, nada com o que se preocupar. O que estava lhe deixando intrigado no momento era a expressão de Linete, nada indicava problema algum no seu olhar.

-Então o que foi? – ele perguntou.

Ela baixou os olhos e rodou a varinha nos dedos como quem está pensando, não era o caso, ela estava matando o tempo enquanto todas as peças não estavam encaixadas. Para ser mais exata, matando o tempo enquanto Rose não chegava.

Veria Rose primeiro estando Thiago de costas, então teria apenas alguns segundos para por em prática seu plano. Avistou a longa cascata de cabelos cor-de-mel ao longe, aquilo era perfeito, ela não escutaria o feitiço. Apontou a varinha para o peito de Thiago e sem aviso disse “Imobilus” o garoto estava paralisado.

-Não Thiago! Eu não quero mais assim! Eu vou contar tudo para Rosely! –ela começou a gritar e se pôs colada ao corpo dele, ao longe Rose escutou, seus olhos pararam na cena, parecia que Thiago segurava Linete contra si – Mas... Ó eu não posso te deixar sem um último beijo, para me lembrar desse tempo que você passou comigo – ela se inclinou e encostou os lábios nos dele.

Para a namorada parada a cerca de cinco metros parecia que ele estava a beijando de volta. O coração dela podia ter parado ela não o sentia mais, as lágrimas brotaram nos olhos de gata. E ela correu tão rápido quanto pôde, seus pés a levaram direto para o quarto, ela desatou a chorar. TUDO que ela tinha temido, tudo, ser feita de boba, entregar seu coração, e pra quê? Pra ser humilhada, machucada daquele jeito. Ela se sentiu suja, eles eram sujos, e a sujeira estava nela também agora.

Lyana era a única que estava lá as lágrimas de Rose a surpreenderam.

-Rose o que foi? Por Merlin garota! Vamos me responda!

Rose não conseguia articular nada, só chorava, soluços profundos. Voltou a sentir o coração foi pior ele estava quebrado em mil pedaços dolorosos.

Thiago entrou correndo no quarto, para ela não fez o menor sentido, já havia se passado algum tempo, porque correr agora?

-Eu amo você! Eu amo você cada segundo do meu dia com cada célula do meu corpo! – ele se aproximou falando mais baixo – Eu amei você durante toda a vida e vou amar até parar de respirar e no que quer que exista depois desse mundo – ele esticou a mão para tocar-lhe o rosto, ela o virou abraçando as pernas chorando e soluçando – você é meu chão e meu céu... Meu ar, você é minha própria vida Rose.

Ela não queria ouvir a dor que sentia era avassaladora, chegava a ser uma dor física, gritou, gritou com todas as forças que ainda possuía. Aquilo aterrorizou Thiago mais que tudo, não era raiva, era dor, um grito de lamento e aquele grito foi como uma lança atravessando seu coração.

-Agora chega Thiago, ela não quer ouvir... Está lhe fazendo mal, vamos saia daqui! – Lya ia empurrando o garoto, ele não queria deixá-la, mas a japonesa estava certa, ele estava machucando Rose mais ainda, saiu do quarto.

Today´s the day when dreaming ends

As lágrimas ainda escorriam, agora eram silenciosas, porém ininterruptas, ela sofria, dor era tudo o que era capaz de sentir, preferiria mil vezes odiar Linete. Não podia, não havia força para segurar seu ódio e desprezo, só dor. Seria indubitavelmente mais fácil simplesmente odiar Thiago, mas não podia, ela o amava, amor, um amor imenso era o que ela sentia. E doía. Dizem que a alma não sofre, mas a dor física dela era a maior prova que isso era uma inverdade.

No dia seguinte as coisas não estavam melhores, quando pensava que podia parar, que as lágrimas tinham cessado elas voltavam como cachoeiras infindáveis. Não se deu conta, mas era o dia do jogo contra a corvinal, até nisso Linete Krum havia pensado.

-Não Richard! Ela não vai está decidido deixe-a em paz! – Lya gritava com o rapaz de cabelos castanhos na porta do dormitório.

-Mas sem ela nós ficamos desfalcados Lyana!

-Rose eu vou dizer a ele que você o mandou enfiar a goles garganta abaixo e volto já – Agatha disse, a outra não se moveu um milímetro.

E eles perderam, por 190 pontos. Thiago não tinha concentração e só havia ido para não abandonar o time por insistência de Richard, e cada vez que ele via a apanhadora da corvinal lhe dava vontade de matá-la, o que facilitou muito a vida de Linete que apanhou facilmente o pomo. Sem Rose o ataque era deplorável, colocaram um menino do quarto ano no seu lugar, mas ele mais atrapalhou do que ajudou. A derrota foi inevitável.

On and on
Does anybody know
What we are living for?

Alguns dias se passaram, comia o que lhe mandavam comer, tomava banho, respondia o que lhe perguntavam, nunca falando por vontade própria, nem mais do que o estritamente necessário, ia às aulas, fazia os deveres, mas viver? Nunca mais viveria... Estava dilacerada, morta por dentro.

“Estar realmente morta não seria tão terrível, não se pode sofrer estando morto, tudo isso ia acabar, não ia?”

Parecia um fantasma, seu brilho natural estava apagado, sua beleza radiante ofuscada pelos olhos inchados e as olheiras profundas, bastava olhá-la para saber que estava destruída. Mas seu orgulho era o que a mantia de pé, era orgulhosa demais pra se deixar na cama quando sabia que todos iam comentar sobre ela.

Whatever happens
We live it all to chance
Another heartache
Another failed romance

The show must go on

Mas mesmo assim sua apatia não passou despercebida, todos queriam saber o que estava acontecendo com a garota Weasley, a melhor artilheira de Hogwarts, a bela garota de Thiago Potter... Cochichavam e apontavam quando a avistavam nos corredores.

Os amigos montaram uma espécie de esquema para protegê-la disso, e manter Thiago afastado a todo custo, por pelo menos algum tempo, não tocavam nem sequer no seu nome. Eles não acreditavam que ele fosse tão idiota assim, e Alvo particularmente acreditava no irmão, mas Rose... ela estava triste demais, era cedo demais, não se podia tocar no assunto.

Catherine e Lily sempre conversando amenidades com ela, assim como Lya, mesmo que esta tivesse menos tato e acabasse sempre xingando todos os homens da terra. Thaiana respeitava os sentimentos de Rose, e sua maneira de ajudar era ficar em silêncio lhe fazendo companhia,

Ela era boa nisso, ser companheira, ser amiga de verdade, podia não se dar conta, mas para Rose estar com ela era um alívio, o silêncio não era um problema entre elas. Scorpius sempre ao seu lado de uma aula para outra, já que cursavam exatamente as mesmas matérias, lhe estendendo o braço e livrando-a dos olhares curiosos. Alvo e Agatha eram os que mais tentavam alegrá-la, mas seus dois melhores amigos não sabiam como, nem ela sabia.

“Talvez eu simplesmente nunca mais fique alegre. Tudo me lembra ele, TUDO. Quando ele for embora... Não, não vai funcionar, esse lugar está impregnado de lembranças, eu nunca pensei em querer ir embora de Hogwarts tanto assim.”