“O anjo parecia me olhar com interesse e curiosidade. Eu a olhava como se ela fosse o sol, e como se eu o estivesse vendo pela primeira vez.”

O sol estava nascendo no horizonte, ainda bem que a chuva tinha parado. Eu havia deixado a Bella em casa e resolvi voltar para a reserva como humano mesmo, para que eu pudesse pensar com clareza. Bella estava aflita para saber a verdade mas eu sabia que quando ela descobrisse acabaria perdoando quem quer que fosse. Ela perdeu a filha mas ainda tinha uma família, um marido e a eternidade para ser feliz com ele. Quem quer que tenha entregado a Nessie não fez tanto mal a ela quanto fez a mim. Eu não tinha mais nada. Meu pai havia morrido há muitos anos, perder ele foi como perder minha última ligação com o mundo humano, o mundo no qual eu era apenas um garoto da reserva que gostava de consertar carros e sair com as garotas. Sem querer eu havia mergulhado nesse mundo, um mundo onde o meu trabalho era matar aqueles monstros, um mundo onde eu jamais envelheceria, onde eu não poderia sair com uma garota sem correr o risco de me enfurecer e matá-la. Um mundo onde a Nessie era o meu sol, sem ela não existia a luz, tudo eram trevas.

Alguém a levou, mas não poderia ter feito isso sem passar por mim e por meus irmãos, então como ele fez? Era terrível pensar nisso mas se os Cullen, que eram a família dela, a entregaram por que meus irmãos não fariam o mesmo? Não, eles sabiam a dor que isso causaria em mim, eles não fariam. Mas então como aconteceu?

Me deixei vagar pela floresta pensando nela. Ela era a criança mais linda que eu já tinha visto, os olhos grandes cor de chocolate, os cachinhos cor de bronze. Sempre feliz, sempre linda. Me lembrava de como ela gostava de caçar, ela não era um monstrinho, só era competitiva demais, mesmo assim riamos muito. Eu a amava desde o início, mas não de um jeito impróprio, eu a amava como uma parte de mim. Ficar longe dela era pior que a morte.

Caminhei até perto do rio, seria bom sentar na beira da água e pensar, apesar de ser inverno eu não sentia frio algum. Cheguei à margem do rio ainda pensando nela e me abaixei para lavar o rosto na água, foi quando eu senti uma leve agitação na água, levantei os olhos e avistei uma criatura perfeita do outro lado da margem na mesma posição que eu. Nos fitamos e levantamos devagar. Apenas o rio me separava dela. Quando ela levantou e os primeiros raios da aurora bateram em seu rosto eu levei um choque.

Do outro lado da margem estava um anjo. O sol batia em seu rosto que brilhava levemente, como se tivesse luz própria. Os cabelos eram avermelhados e ondulados indo até o meio das costa, se movimentavam levemente com a brisa. Os olhos enormes eram cor de chocolate, os lábios pequenos vermelhos, a face pálida era levemente corada nas maçãs do rosto. Olhando bem ela não era exatamente linda como uma modelo de capa de revista, mas havia algo nela que a fazia parecer doce e perfeita, como um anjo. Ela se vestia com simplicidade, uma blusa branca que realçava ainda mais sua palidez, e uma calça jeans, mas não pude deixar de notar uma pedra em seu pescoço que brilhava como as cores do arco-íris, um diamante.

O anjo parecia me olhar com interesse e curiosidade. Eu não consegui pensar em nada para dizer, e mesmo que pensasse não conseguiria falar nada. Eu a olhava como se ela fosse o sol, e como se eu o estivesse vendo pela primeira vez. O anjo sorriu pra mim, e foi como se minha alma se inundasse, como se a alegria se espalhasse por cada célula do meu corpo me fazendo viver de novo. Ela parecia que ia falar alguma coisa quando o vento virou e uma brisa passou por trás de mim, indo em direção a ela. Ela fez um movimento com o nariz como se estivesse farejando o ar, de repente me olhou com um misto de medo e surpresa, virou-se e correu em uma velocidade impressionante para dentro da floresta, para longe de mim.

Eu não conseguia me mover. Mal conseguia pensar. Meu coração parecia bater de novo, cada músculo do meu corpo parecia criar vida. Continuei fitando o lugar onde ela tinha sumido, mas nem o fato de ela ter fugido de mim me tirava a sensação de prazer e extrema alegria. Ela estava viva, e agora eu também estava. Ela voltou, porque eu sabia que era ela, eu a reconheceria em qualquer lugar. Fiz a única coisa que eu conseguia fazer agora, algo que eu não fazia há muitos anos. Dei um enorme sorriso e disse a única palavra que nunca saiu da minha mente, que o tempo e a dor não conseguiram apagar, a qual se resumia minha existência, minha vontade de viver.

- Renesmee.