Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 2
Travessuras do Destino - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo temos emoções fortes misturadas a um momento inusitado!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/489705/chapter/2

“Meu amor, eu já confirmei com a sua diretora, ela confirmou que você estava em aula. Desculpe-me preocupá-la. Não volte para casa, estarei lhe esperando na saída da escola. Encontre-me lá assim que as aulas terminarem.”

~~

Aquilo estava ficando cada vez pior. Meu pai me buscar? Ele não fazia aquilo desde... desde... desde sempre! Ele não tinha tempo para essas coisas, como assim vir me buscar? Corri para a saída, colocando minha mochila de qualquer jeito sobre os ombros. Eu precisava encontrá-lo. Assim que saí portão a fora o vi. Ele estava sentado em um banco próximo ao muro, uma cara abatida demais para alguém que não cansou de rir na noite anterior. De repente eu estava na frente dele e me joguei ao seu lado, o abraçando apertando. Não importava qual fosse o problema, eu não queria vê-lo daquela forma novamente. Qualquer que fosse o motivo para que ele ficasse assim, eu tinha esperança que a força do meu abraço dissipasse qualquer sentimento ruim. Eu precisava que ele fosse o homem forte que me criou praticamente sozinho desde que eu tinha oito anos. Ele não sabia nada, tinha perdido esposa e uma filha, mas mesmo assim foi forte o suficiente para seguir em frente. Ele vai seguir em frente novamente. Fiquei calada, o abraçando. Não iria falar, ele contaria tudo assim que estivesse preparado. E não demorou muito, pois, ainda sem se mexer, sua voz, como sempre calma, chegou aos meus ouvidos:

― Filha, perdemos tudo. ― Eu sabia que a sua voz estava escondendo muita coisa, ele estava sendo forte mais uma vez por mim. Eu amava demais o meu pai, ficaria ao seu lado até o fim dos meus dias. Eu devia isso a ele.

― O quê... Como? ― Perguntei confusa. Não teria problema se ele tivesse perdido o emprego. A gente já tinha a casa, então não precisaríamos pagar aluguel. E daria para viver com o Aviso Prévio até ele arrumar outro emprego, ou eu completar 18 anos e poder trabalhar. A gente poderia fazer isso, eu viveria com o mínimo possível até lá.

Ele me olhou de lado, ainda mais cansado. Parecia que o que tinha a dizer pesava toneladas. ― A... A casa, Lizzie. ― Ele suspirou e depois tornou: ― Perdemos a casa. Queimou tudo. ― Ei, espera aí! Como assim queimou? A nossa casa novinha, que ele levou quase toda uma vida para construir, queimou do nada? Era muito azar para uma vida só! Não, por favor, não!

Acho que ele entendeu a confusão que eu estava, pois logo falou: ― Não sabemos direito, vai ser preciso uma investigação. Você sabe, isso não vai dar em nada. A casa era nova, eu estava analisando os possíveis seguros hoje. Só nos restou o terreno, o jeito vai ser vender ou não teremos onde viver, meu amor. ―

Meu Deus, isso era pior do que eu pensei. Afastei-me um pouco dele e o olhei melhor. Seus olhos estavam vermelhos. Ou ele andou tentando entrar na casa, ou estava chorando. Eu acreditaria melhor na primeira opção, porque o Sr. Bennet não chora.

― Pai... Pai, olha para mim. ― Ele me olhou. Receoso, mas olhou. ― Está tudo bem, ok? Nós podemos fazer tudo de novo. Começamos do zero uma vez, tudo pode voltar ao que era até ontem. E você agora tem a mim, vamos trabalhar juntos. ― E eu tentei sorrir, porque sabia que ele precisava daquilo. Mesmo estando um caco por dentro, por fora eu seria a pessoa que ele precisava que eu fosse. ― E não vamos vender o terreno, foi tudo o que a mamãe deixou para nós. Aquilo é a sua vida. ―

Ele me olhou pensativo, mas depois um sorriso brotou em seus lábios. Eu sabia que tinha vencido. ― Ok, meu amor. Vamos embora, já demos show demais para um dia. ― E só então eu lembrei que estava na frente da escola, e que Char, Jane e Collins me olhavam de longe. Acenei para eles e segui meu pai, que ia em uma direção completamente oposta a do metrô. Pelo jeito não poderíamos abrir mão nem do dinheiro do bilhete. Ele definitivamente precisaria de mim.

Passamos a noite em um hotel barato. Enquanto meu pai dormia em um sofá velho, eu me esticava em uma cama de solteiro que tinha algo em torno de 200 anos, no mínimo. Mas não reclamei. As coisas já estavam ruins demais sem os resmungos de uma adolescente em crise, eu iria sobreviver. Acordei com um barulho estranho, de algo batendo em alguma parede que ficava próximo demais do meu quarto. Eu merecia aquilo. E foi só depois de compreender onde eu estava, e o motivo daquilo, que percebi que meu pai já havia saído. Fiquei preocupada, claro, queria ter visto como ele estava, mas mal me levantei e logo ouvi um barulho na porta. Era ele e o café da manhã. Aquele homem era perfeito. Sorri para o meu salvador e pulei da cama para abraçá-lo. Ele ficou surpreso, mas logo retribuiu e ficamos como dois idiotas sorrindo enquanto se abraçava.

― Eu amo você... Mais do que eu poderia amar qualquer outra pessoa. ― Murmurei a maior verdade da minha vida. Ele apertou ainda mais o domínio sobre mim e depois se afastou para me olhar.

― Eu também amo você, Lizzie... ― e fazendo uma carinha de nojo: ―, mas o seu hálito não é dos melhores. Sou seu pai, já senti odores piores vindo de você, mas não me obrigue a isso. ― zombou. Eita, tinha esquecido. Cobri minha boca com a minha mão direita rapidamente e corri para o banheiro soltando um “Desculpa” pelo caminho. Só ouvi a risada de fundo.

Voltei para o quarto assim que tudo estava terminado e eu já estava pronta para ir para a escola. Mesmo com uma desgraça como aquela acontecendo, meu pai ainda não se tocava de que eu precisava trabalhar. O salário dele mal dava para nos manter, sem falar que ele estava ficando velho e poderia ser demitido a qualquer hora. Ele precisava de mim. Sentei no sofá que antes servia de cama para meu pai e comecei a mastigar um pão que estiva em um dos pacotes enquanto tomava um pouco do cappuccino que ele havia comprado para mim.

― Lizzie... ― Ele começou, o tom cuidadoso. ― Eu sei que talvez você possa ficar irritada, mas não podemos ficar assim pelo próximo mês... Sem falar que só alugam casas aceitáveis com três meses de adiantamento... ― suspirou, parando novamente e me deixando mais curiosa. ― Então eu tive que aceitar a proposta de um amigo meu. ― Finalizou, avaliando como a notícia me pegou.

― Que proposta, pai? ― Perguntei confusa.

― A de morar com ele e a família dele por uns tempos, até as coisas melhorarem. ― Respondeu ainda cauteloso. Morar com outras pessoas? Era o que me faltava... Deveria ser eu e ele contra todos e agora eu teria que dividir meu pai com outras pessoas? Mas que porra! Meu pai me conhecia bem, claro que conhecia, por isso tratou logo de se explicar. ― Meu amor, entenda, não temos saída. Se eu não aceitasse teríamos que ir embora, procurar uma casa mais barata. Eu levaria horas para chegar ao trabalho, você teria que deixar a escola e entrar em outra com um ensino não tão respeitável. Iríamos nos ver menos, isso seria pior. ― O que ele falou fazia sentido, então eu suspirei resignada.

― Ok, pai, o que tiver de ser. Prometo fazer de tudo para me acostumar com isso, mas você precisa entender que são coisas demais para menos de 17 horas. Isso é menos do que a minha idade! ― Desabafei, levantando e pegando a minha mochila. Dei um beijo rápido no seu rosto e fui até a porta.

― Irei lhe buscar na escola, de lá iremos para a casa do meu amigo. ― Falou.

― Ok, te amo. ― Me despedi e fui para a escola.

É claro, todo mundo já sabia o que tinha acontecido. Não sei de quem foi a ideia idiota, mas minha linda casa pegando fogo virou notícia no jornal das oito. Puta que pariu!

Eu fiz de tudo... Desviei para um lado, desviei para o outro. Escondi meu rosto aqui, ali, e finalmente eu estava no banheiro feminino lamentando a minha má sorte. Fiquei por lá durante um bom tempo, mas eu teria que sair e enfrentar a realidade. Fui direto para a minha sala e ignorei qualquer idiotice que falavam, sentando logo na minha cadeira e encostando o cotovelo na carteira, tentando encontrar alguma calma que o meu pai talvez tivesse deixado cair por algum lugar. Nessas horas eu queria ser como ele, mas tinha mais da minha mãe do que eu gostaria de admitir.

O dia seguiu razoavelmente normal, com um pouco da solidariedade da Char, do Collins e da Jane, e mais um pouco das piadinhas sobre “mulher que não consegue nem cozinhar direito”. É, eu poderia viver com aquilo. Terminei o dia com chave de ouro, deixando alguns sorrisos para os que achavam que eu estava triste demais para viver, abraços para os meus amigos, e logo estava seguindo meu pai até a casa do seu amigo. Para a minha surpresa, ele optou por pegar o metrô e depois um táxi. Eu não estava acostumada àquela mordomia, mas dei de ombros e o observei calada.

O bairro ao qual o taxista estava nos levando estava cheio de mansões, o que estranhei bastante.

― Sr. Bennet, você não acha que ele está indo pelo caminho errado? ― Indaguei achando graça daquilo. Espero que ele não cobre toda a corrida, isso seria um prejuízo daqueles.

― Não, Lizzie, ele está certo. Estamos quase chegando. ― Sorriu tranquilizando-me.

É claro que eu fiquei mais nervosa do que estava. Qual dos amigos do papai morava até mesmo perto daquele bairro? Aquele lugar só tinha casas enormes, isso seria impossível.

Não demorou muito e o carro parou na frente de uma mansão, uma das maiores que eu já tinha visto. Meu queixo caiu na hora, até que pensei um pouco sobre aquilo... Talvez o meu pai realmente fosse amigo de alguém que morasse por ali, quem sabe até do mordomo daquela casa, o que justificaria a nossa presença. Suspirei aliviada. Bem, suspirei aliviada até que vi o “Casa dos Darcy” gravado na entrada.

― Meu Senhor, faça com que não sejam os mesmos Darcy’s ou terei uma crise de nervos e definitivamente serei a filha da minha mãe! ― Murmurei esperando que ninguém me escutasse. O motorista não sei, mas meu pai estava ocupado demais conversando com o segurança para me ouvir. Graças a Deus! Assim que tivemos a nossa entrada liberada e ele voltou para mim, eu tornei: ― Pai, o seu amigo é um empregado nessa casa? Não vai ter problema em a gente ficar morando aqui? ―

Ele me olhou como se eu tivesse falando em outra língua e depois revirou os olhos. Meu pai revirando os olhos era algo cômico: ― Claro que não. Meu amigo, ou melhor, meu melhor amigo desde a infância é o dono dessa casa. Ele e sua família moram aqui desde que seu pai morreu, anos atrás. ―

O mundo deve ter parado. Ou alguma coisa no meu cérebro deu algum problema e eu estava presenciando a cena mais cômica da minha vida. Meu pai saiu do carro, enquanto um senhor que tinha em torno de uns 40 anos descia a escada da entrada e vinha até o táxi, enquanto eu olhava tudo de boca aberta e sentia o olhar furioso do taxista em cima de mim. Só despertei porque meu pai veio até a minha porta e a abriu, me puxando. Tão rápido quanto possível, eu estava diante de um homem alto, moderadamente forte, cabelos negros, olhos também negros e de um porte que nunca cheguei a ver antes. Ele me avaliou por uns segundos e um sorriso se formou em sua face. No mesmo instante eu já me senti bem, todo o medo e dúvidas desapareceram de mim.

― Então essa é a sua filha, Ricky! Ela é absolutamente linda, assim como você falou. E esses olhos? Sem dúvida devem ter saído da mãe. ― Exclamou em um tom mais alto do que eu esperava, mas ainda assim eu continuei sorrindo para ele e assim que ele estendeu a mão para me cumprimentar, retribui o movimento. ― Prazer, Srta. Bennet. ― Além de tudo cavalheiro, uma pena estar para lá dos seus 40 anos e ser casado...

― Me chame de Lizzie... ou Elizabeth, por favor. ― Respondi me afastando um pouco.

― Oh, sim, se deseja... ― Ele continuou. ― Mas vamos, entrem. Todos estão aguardando. ― Não, espera aí... Todos? Isso bastou para eu ficar novamente nervosa. Eu estava em uma casa nova, onde eu iria morar com uma família totalmente desconhecida para mim e, ainda por cima, com nada mais que um uniforme escolar e um pijama barato na bolsa. Eu até sobreviveria apenas com isso, mas aquelas pessoas tinham dinheiro.

Subimos os degraus e logo estávamos em uma sala enorme e vazia, exceto pelos móveis. A casa era tão grande que talvez eu fosse precisar de um mapa. Será que eles disponibilizavam esse tipo e coisa por aqui? Eu estava tão deslumbrada com tudo o que estava vendo que quase perdi o que era dito pelo amigo do meu pai.

― Sua filha tem a mesma idade que o meu filho, Ricky. É incrível que mesmo sem contato conseguimos esse feito. Você não parou de me imitar mesmo, não é?! ― falou lançando uma piscadela para o meu pai. Eu estava admirada com aquilo, nunca havia visto meu pai tão descontraído com alguém – exceto comigo –, ele sempre se mantinha tão sério.

― Não me venha com essa, posso ter feito antes. E mesmo se não tivesse, levei mais tempo para caprichar mais. ― Tive que rir com aquilo, papai sempre me fazendo sentir vergonha ao me elogiar.

Como a mansão era realmente grande, continuamos andando e só paramos quando estávamos em uma sala relativamente simples (perto dos outros âmbitos pelo qual havia passado), onde me deparei com duas senhoras.

― Querida, vejo quem eu trouxe! ― verbalizou Sr. Darcy, apontando para o meu pai e para mim. Sorri, como se fosse possível, sentindo mais vergonha ainda. Eu sabia que o Sr. Darcy tinha uma família e que moravam naquela casa, só não esperava que fosse conhecer tão rápido!

A senhora, dona de cabelos loiros e olhos verdes que me deixaram admirada com tanta beleza, deu-me um sorriso e se afastou da outra senhora, que se encontrava sentada no mesmo sofá, para se aproximar.

― Que ótimo poder recebê-los! Sr. Bennet, Srta. Bennet. ― saudou, estendendo a mão direita para cumprimentar o meu pai e logo depois a mim.

― Por favor, me chame de Lizzie, Sra. Darcy. ― retribuí o aperto de mão, sorrindo ao me sentir bem pela primeira vez naquela noite. Em resposta, olhou-me melhor e ampliou ainda mais o seu sorriso.

― Só se me chamar de Maggie quando estivermos assim em família! ― exclamou. ― Sabia que era uma garota maravilhosa. Deve ter sido muito difícil para você. ― lamentou segurando ambas as minhas mãos e me levando para sentar no mesmo sofá que estava antes. Só então notei que havia outra pessoa em uma poltrona no outro lado da sala, que ficava escondida se olhada da entrada onde eu estava.

Ele estava sentado enquanto olhava-nos avaliando. Seus olhos verdes, iguais aos da sua mãe, não denotavam nenhuma expressão ao me olhar, enquanto sua face séria e branca adornava o ambiente e o fazia parecer mais lindo do que há poucos segundos atrás. Ele era perfeito. Antes eu só o via no metrô. Mas aqui, dentro desta sala que trazia a mistura de móveis antigos e modernos, sua forma se destacava e eu conseguia entender completamente o motivo de insistir em amá-lo durante os últimos anos. E sabia, também, que seria impossível esquecê-lo mesmo que tivesse cem vidas pela frente. Eu nasci para pertencer a ele, ainda que nunca fosse notada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Até o próximo capítulo (que vai demorar um pouco porque minhas aulas voltaram e tenho um monte de coisas para resolver). Bjs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Atraída por um Darcy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.