Magia Negra escrita por Elliot White


Capítulo 5
Colega de Quarto, parte final


Notas iniciais do capítulo

Um pouco grandinho, mas foi preciso.

Boa leitura.



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– Aquelas duas garotas, elas são parentes também?

– São primas, mesmo sendo uma fada e uma sereia. – Nina explicou, esclarecendo que Mystique Campus não era apenas um lugar para bruxos, o que mudara tudo o que eu tinha em mente, e explicava os diversos diretores, provavelmente era um para cada “tipo”.

– E elas são uma ameaça. – falou a de cabelo trançado. – A popularidade delas está se destacando no campus todo.

– Isso pode ser uma tentativa de nos intimidar. – prosseguiu Nina – Afinal, nós somos as mais populares da Academia. Mas elas já estão no papo.

Se eu não estava enganada, essas duas eram as típicas patricinhas obcecadas em popularidade que eu via nos filmes da televisão, quando tinha permissão. Isso explicava suas roupas chiques e na moda.

– Escuta Susu. – continuou a morena – queremos que você almoce conosco.

Pelo jeito elas estavam tentando serem minhas amigas, e sem interesse já que não podiam saber que eu sou uma Kimonno. Aceitei, sentando ao lado delas em uma grande mesa só de bruxos, a maioria vestido como minha colega de quarto, roupas pretas e acessórias punk, as meninas de maquiagem pesada e os meninos de penteados exóticos. As irmãs Kent começaram a me explicar como funcionava o colégio:

– Aqueles são os meninos fados – disse Nina apontando para um trio de garotos muito bonitos e delicados, mas não afeminados, na fila do enorme e majestoso refeitório da Academia de paredes de estilo medievais aparentemente antigas. – Gatinhos, mas nunca colocam a mão na massa na hora H.

Ela deu uma risadinha, e eu a copiei; em seguida Shirley falou: - E aqueles são os elfos, - apontou para um bando de rapazes e moças de orelhas pontudas, roupas de segunda mão e a maioria de óculos – ou melhor, nerds e Cdf’s que não merecem nossa atenção.

Ela continuou (com a ajuda de sua irmã) sempre apontando os pontos negativos de todos: os centauros se vestiam como hippies então na visão delas, “naturebas maníacos por ecologia”; sereias (machos e fêmeas) eram descoladas e divertidas como as fadas e fados, logo para as duas, exibidas e exibidos de masculinidade duvidosa (eu ri nesta parte). Os únicos aprovados eram os bárbaros, uma espécie de guerreiros, na sua maioria garotos, quase todos bonitos e fortes, a meu ver atletas; para elas, partidos melhores do que os bruxos. Aparentemente, elas achavam que ditavam as regras ali e como todos no nosso círculo concordavam e aumentavam as intrigas, fofocando sobre todos exceto os bruxos, concluí que eram os bruxos que se sentiam superiores e monopolizavam o colégio, e por obséquio eu fazia parte deles.

O almoço passou rápido, e eu pouco comi, me despedi de todos e me dirigi ao meu quarto, antes de ir para a única aula do dia, antes dele acabar, e por sorte tinha um fim. As irmãs Kent me avisaram que teria uma festa à noite, e que iriam ao meu quarto me buscar. Elas estavam realmente tentando me inserir na sua turminha; o que pra mim era muita sorte afinal eu era uma caloura. Abri a porta do quarto, por sorte a esquisitona não estava lá, apanhei minha mochila e raros materiais (coisas básicas que eu tinha em casa). Lembrei da foto de Ricardo, que tinha deixado em cima da escrivaninha do quarto, ao lado da minha cama (na verdade não tinha outra escrivaninha ali então a minha colega deixava os pertences dela no mesmo lugar). Não estava ali. Estranhei, mas tratei de procurar rapidamente bagunçando o quarto tentando não me atrasar na aula e sem êxito. Se não estava onde eu tinha deixado, apenas alguém podia tê-lo pego.

Raiva. Foi tudo que senti, e ela iria me pagar. Por um instante tudo sumiu da minha mente, a única coisa que me importava no momento era a lembrança que eu tinha do meu amor.

– Ah! – Um ruído me alertou, um copo d’água quebrou, estava na mesma escrivaninha, contudo não tinha o notado antes. A água se espalhava pelo chão do quarto. Achei muito estranho, mas pensei “que se dane”, já fechando a porta.

O professor já estava falando quando eu entrei, e todos os olhares se viraram para mim, totalmente desconfortante. Olhei rapidamente pela sala, Nina e Shirley não estavam. Sentei-me na única mesa vaga; o homem tinha cabelos brancos lotados de gel e aparência de meia-idade:

– Como estava dizendo, a primeira parte da aula vocês assistirão as explicações sobre o ano letivo, e é bom que fiquem a par. Na segunda parte, iremos lá fora, onde haverá uma simples prova de poderes, que eu mesmo, o Diretor-Geral da Ala Bruxa de Mystique Campus irei ministrar.

Ah não, estou ferrada. Nunca usei meus poderes, se é que eu tinha algum; afinal acabara de descobrir que era bruxa, antes de fazer 15 anos e entrar na Academia. Fiquei inquieta na cadeira até o diretor fazer a chamada, todos estavam presentes menos uma certa Kamome. Fiquei surpresa em não ter chamado a atenção pelo meu sobrenome, no final das contas nem era tão importante. Todos se dirigiram ao local ao ar livre, e eu dei um jeito de escapar.

Voltei ao meu quarto, desta vez a garota estava lá, deitada na cama lendo um livro como antes. Estranhei não ter nenhuma aula, mas preferi não comentar nada. Deixei meus materiais sobre a cama, quando alguém bateu à porta.

– Sim? – atendi o indivíduo, um senhor de meia idade em um terno formal e com um notável bigode a La Hitler.

– Sunori Kimonno? – perguntou o homem olhando um folheto que segurava. Eu assenti, torcendo para que minha colega não tivesse escutado meu sobrenome. – Preciso lhe entregar seus materiais, para o seu primeiro ano letivo. Bem vinda à Mystique Campus! – Ele se aproximou com um bidê de rodinhas, cheio de livros didáticos, o que me fez abrir um sorriso involuntário – eu amo livros.

– Claro... – respondi colocando o bidê para dentro, provavelmente enviado por meu pai.

– Quando quiser que eu recolha o bidê, vá até a direção da Academia, sou seu inspetor-geral. – ele se foi e eu fechei a porta, me deparando com a esquisita parada na minha frente.

– O que foi? – ela fitava cada exemplar, todos de capa dura e muito bem decorados, de títulos na linha “História da magia”, “Lugares Secretos”, “Criaturas Místicas e não Místicas”.

– Esse livro é muito raro! - pegou na mão um que parecia ser feito com escamas de peixe por fora. – me empresta?

Estava prestes a aceitar, quando me lembrei da minha foto que sumira e que só podia ser culpa dela. – Vai pedir desta vez, não vai simplesmente pegar?

– Do que está falando?

– Você sabe, daquela foto que você pegou.

– Está me culpando por uma besteira que você perdeu?

– Não é besteira, é muito importante para mim.

– Seja o que for eu não sei do que está falando. O que eu iria querer com uma foto sua?! – gritou exaltada, batendo a porta com força ao sair, deixando o livro onde achou. Obviamente estava mentindo, afinal as coisas não saem do lugar sozinhas.

Deitei-me folheando alguns livros e lendo o plano de aulas do ano, as de amanhã incluíam “Bruxos e humanidade” e “Prática de encantamentos”. Logo caí no sono.

Árvores coníferas escondiam o pôr do sol ao fundo, fazendo a floresta parecer escura e solitária. Era um daqueles sonhos estranhos que você tem às vezes, mas não te agrada. Um vento incomum assoviava em meus ouvidos, enquanto um vulto se aproximava e eu me escondia por instinto; era uma moça jovem e bonita, de cabelos curtos e castanho-claros, perfeitos. Sorria olhando para o nada como se tivesse motivos para rir à toa. Seu rosto me era familiar, mas eu não sabia como.

De repente um barulho chamou minha atenção, tive que dar a volta pela árvore em que estava escondida, sorte que era larga. Outra pessoa estava chegando, a mulher estava esperando alguém. Um rapaz alto de longas madeixas bem claras e lisas se aproximava em passos calmos, retribuindo o sorriso que recebia, logo abraçando a morena carinhosamente. Tentei chegar mais perto enquanto o casal trocava olhares, notando o par de olhos azuis do homem, semelhantes... Aos meus! Eram meu pai e minha mãe, mas muito mais jovens.

Em um piscar de olhos o sol já baixo se foi, transformando dia em noite e fazendo desaparecer meus pais. Estava sozinha na floresta, e isso me assustava. Girei em torno do meu eixo, lentamente, e ao completar uma volta, me deparei com uma visão horrenda: uma enorme cara de bode, extremamente peluda e com um par de chifres de tamanho descomunal. Seus olhos vermelhos vivos me encaravam e eu podia ter certeza que não era apenas um animal.

Dei pra trás e caí no chão na mesma hora.

Acordei de súbito, escutando as batidas na porta. Gritei “já vai!” me levantando meio grogue, escutando sussurros enquanto a porta se abria:

– Hora da festa Sunori! – eram Nina e Shirley, sorridentes e segurando um vestido muito brilhante quase cegante.

– Ah não estou tão cansada! – murmurei sonolenta.

– Cansada do quê? – disse a morena já entrando no quarto e ligando as luzes, a minha colega ainda estava ausente. – deixa de ser careta e se arrume, nós vamos lhe ajudar. – completou a irmã dela.

– Eu estava dormindo um belo sono, meninas. Aliás, meu cabelo deve estar uma bagunça. – as duas me arrastaram até o banheiro, estava usando a mesma roupa de antes e o cabelo de pé parecendo uma juba.

– Você tem chapinha? – perguntou Shirley, ao meu lado na frente do espelho.

– Não. – respondi. Nunca tive nenhuma mordomia, já que minha mãe sempre fechava as contas raspando no final do mês.

– Mas sua colega tem! – gritou Nina do outro lado do quarto, depois de vasculhar as coisas dela.

– Ah, não, não mexam nisso, por favor. Não quero mais problemas com ela.

– O que os olhos não vêem o coração não sente. – disse ela com um sorriso, já colocando na tomada.

“Vocês não entendem, não quero nada vindo dela.”, pensei, mas já era tarde, elas já estavam alisando minhas mechas.

–Que tal um feitiço para ficar mais rápido, Shirley? – falou Nina, piscando para a irmã enquanto descia a prancha em mim. A outra estalou os dedos sorrindo e um brilho ofuscante cobriu meus olhos por meio minuto, quando sumiu, já estava pronto. – Agora vá colocar o vestido.

Tranquei-me no banheiro, lutando com o tecido e contra meu sono, mas finalmente saí já pronta. – Que tal?

– Uau. – cantarolou a morena, enquanto sua irmã a soltava um “fiu-fiu”, já tirando da bolsa um kit de maquiagem e passando pó em mim.

–Garotas, isso é mesmo necessário? – protestei meio avulsa às maquiagens como sempre fui.

– Vai ser rápido, confie em mim. – respondeu Shirley, já colocando blush.

– Isso vai ficar perfeito! – Nina balançava um par de saltos altos tipo plataforma pretos, com uma tornozeleira Spike, tirados de baixo da cama da minha colega de quarto.

– Ela vai me matar, por favor, não! – implorei, pensando que o sumiço da foto de Ricardo parecia pouco perto das travessuras das irmãs Kent.

– É isso ou ir descalça. – a morena se aproximou tirando meus tênis.

De frente ao espelho do banheiro, meu rosto estava pintado com sombra em ambos os olhos, delineador preto e um batom discreto. Nunca tinha colocado tanta maquiagem em toda minha vida; parecia até com minha mãe.

– Vocês fizeram um bom trabalho.

– Nós sabemos. – Shirley abriu um sorriso.

– Agora vamos, não queremos nos atrasar, afinal a rave só começa quando nós chegamos. – disse Nina já abrindo a porta.

– Espera aí... Você disse rave?

– Sunori, nunca foi em uma festa rave? - a encarei meio tensa, a verdade é que nunca tinha ido a nenhuma festa.

– Relaxa, a gente te dá às coordenadas. Além do mais, esta é uma rave de bruxos, não é como as festas rave de humanos. – articulou Shirley.

– Não?

– Claro que não, é muito melhor. – insistiu Nina, já convidando a sair do meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Não teve muita ação, mas teve um mistério: algo no sonho da Sunori vai se realizar!



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