Aquela não era o tipo de conversa que eu tinha todos os dias dentro da S.H.I.E.L.D. Nós sempre ouvimos histórias meio loucas e alguns casos complicados de se entender a priori, mas quando se trata da sua história, torna-se ainda mais difícil de digerir as coisas. E eu estava recebendo muita informação naquele momento. Minha vontade era que Ward estivesse naquela sala, para que eu pudesse me esconder do lado dele, ou simplesmente para que ele soubesse o que estava acontecendo, porque eu não fazia ideia de como eu contaria tudo isso para ele. James trouxera fotos, arquivos e até a minha certidão de nascimento. Não tinha mais como negar o fato de que aquela era a minha vida.

– Sim.

– O que Loki fez?

– Ele estava planejando uma conspiração contra Odin e Iduna não quis fazer parte disso, o entregando imediatamente a Heimdall. Ele se irou com Iduna e a feriu com aquele maldito cetro Chitauri.

– Infelizmente eu conheci o efeito dessa arma. – Coulson lembrava-se do momento em que Loki fez o mesmo com ele.

– Por isso estou aqui. Frigga embalsamou minha mulher, ela está sendo mantida num caixão de vidro. Ela estava ficando cada vez mais fraca e eu comecei a aparecer aos poucos a vocês. Queria ter conseguido a droga sem que você tivesse conhecimento da minha existência, mas aí... Ela não resistiu. Foi quando eu ordenei aquela emboscada que levou você, a asiática e o seu namoradinho até o porão. Eu estava desesperado. Preciso que me ajude a encontrar a droga que a salvou e que ressuscitou o agente Coulson. Sem isso, Iduna vai embora para sempre e Asgard sofrerá as consequências. Sem Iduna... Não haverá vida, não a vida plena da qual eles ainda podem usufruir. Você precisa fazer isso, Skye. Pela vida da sua mãe e de todos os reinos que existem. Asgard sempre lutou ao nosso favor. Você está disposta a fazer o mesmo?

Senti meu coração sendo prensando dentro do peito e meus olhos ainda estavam úmidos das palavras anteriores. Coulson segurou minha mão, tentando passar algum conforto para a minha alma, que estava tão em choque que deixou May desconcertada. Ela tentava abrir a boca para falar algo, mas parecia que também estava sem voz. Todos nós estávamos. Eu sabia o que era o correto a se fazer, ainda mais depois de eu ter me tornado oficialmente uma Agente da S.H.I.E.L.D. Eu tinha orgulho do meu distintivo e o iria honrá-lo. Tanto a ele, quanto a minha mãe. Tinha muita coisa em jogo e tudo estava em minhas mãos.

– O que nós precisamos fazer? Não sabemos onde existe outra reserva daquela droga. Tudo que tínhamos foi enterrado por toneladas de montanha... Não temos outra opção? – Coulson tentava argumentar.

– A outra opção é a mais óbvia. – Ele deu uma pausa, lançando rapidamente seu olhar até mim – E a mais difícil, certamente.

– Não – May entendera o plano – Coulson não permitiria isso.

– Skye. Quer dar uma voltinha em Asgard? – Ele falou como se estivesse me chamando para assistir o jogo dos Jets.

– O qu.. Quê?! Como assim, uma voltinha?! Não estamos falando de ir até o restaurante da esquina pra comer tacos com guacamole! Você ficou maluco?

– Você vai deixar sua mãe morrer, é isso? – Ele aumentou o tom de voz, segurando meu braço com força.

– Afaste-se dela. – Phil ordenou baixo, mas firme.

– Ela é minha filha! Não fale como se tivesse algum direito sobre...

– Afaste-se, James! – Dessa vez foi May quem falou, e não foi com a mesma cordialidade de Coulson.

– Eu não tenho medo de você. – Ele a desafiou.

– E não precisa ter se você soltar o braço dela.

– E se eu não soltar? – Ele apertou o meu braço com mais força apenas para afrontá-la.

– Então você vai reconsiderar sua definição de medo.

– James, não precisa disso! – Gritei, tentando evitar uma briga desnecessária – Somos todos adultos, você está sendo muito infantil... E largue o meu braço, antes que eu seja infantil também e peça pra May te nocautear!

– Então, você não vai, não é?

– Eu não disse isso. – Baixei o tom de voz – Eu vou conversar com a minha equipe em particular. Com todos eles. Ela é minha mãe, é minha responsabilidade. Só me deixe resolver como fazer as coisas, tudo bem? Amanhã à noite eu terei sua resposta, então... Seja o que tiver que ser.

– Okay. Me encontre naquela mesma casa. O “Calabouço”. Você sabe onde me encontrar.

– Tudo bem.

May o deixou nas proximidades da sua casa, eu não conseguiria pensar direito se ele estivesse no mesmo avião que a gente, então acabou que precisamos ficar em terra firme dessa vez. Estava na hora do almoço, então resolvemos nos hospedar lá mesmo em Orhem e comer comida de verdade pra variar. Eu ainda estava processando as informações. Precisava de um cooler melhor então a comida veio acompanhada de um analgésico. Meu processador estava quase saturado de tanto calor. Ward estava melhor, mas levantou apenas lá pelas três da tarde e eu estava esperando ele acordar para levar-lhe um sanduíche, ele simplesmente adora hambúrguer, chega a ser muito estranho. Nós ficamos conversando no quarto e combinamos de sair à noite, só nós dois. Ele lembrou que ainda não havia me apresentado a cidade.

– Millesgarden? Podemos pegar um dos carros no avião.

– Mas eu dirijo, senão você vai começar a se desfazer em caquinhos. – Falei sorrindo, dando uma mordida no meu hambúrguer logo em seguida.

– Espera aí, que eu também não estou assim tão mal. – Ele devolveu fazendo uma pose de “Agente Grant Ward”.

– É verdade, hoje você está apresentável. – Olhei pra ele sorrindo, numa cara de criança que deixava ele meio tonto – Acho que eu topo sair com você.

– Que bom, porque eu não ia chamar de novo.

– Não? – Fingi numa expressão preocupada.

– Não. Eu ia te carregar a força! – Ele começou a fazer cócegas em mim, derramando e espalhando as rosquinhas pela cama.

– Ward! Pára! Grant! Eu não... – Tentava falar enquanto me contorcia, me acabando de rir – Olha o que você fez, cara! – Ele não estava nem aí pra comida, aquele idiota – Fitz-Simmons vão me matar, porque eu peguei o último pacote de rosquinhas e você sabe que aqueles dois só vivem disso! É capaz da Jemma tentar pular do avião de novo se abrir o armário e não achar esse negócio lá dentro!

– Pular do avião? Isso não é problema pra mim! – Ele sussurrou, numa pose heroica.

– Alto lá, Jumbo. Você ainda está se recuperando, nem pense em fazer isso por enquanto.

– Você é pior que a Simmons. – Ele me abraçou, me puxando pro lado dele.

– Porque eu sou sua namorada.

– É mesmo, tinha esquecido esse detalhe.

– E nós precisamos comprar mais rosquinhas. – Lembrei enquanto esfarelava um pedaço de rosquinha no cabelo dele.

– O que você tá fazendo? – Ele segurou meu braço para eu parar de encher o cabelo dele de farelo.

– Nada, Sr. Arrumadinho. Nem de cama você esquece desse cabelo! Nem eu!

– Ah é? Pois toma isso! - Ele estourou um pedaço de rosquinha no meu cabelo e começamos a rir como duas crianças.

– Olha o que a gente fez! – Paramos para observar a bagunça que havia na cama e em volta dela – Vamos sair daqui antes que alguém veja isso! - Caímos na gargalhada de novo.

– Fazia tempo que você não ria assim. – Ele tentava limpar o meu cabelo delicadamente, retirando os farelos fio por fio.

– É... Parece que estar com você me faz bem. – Suspirei, deitando a minha cabeça sobre o seu peito. – Mas eu estou com medo, Ward. Essa história de ir pra Asgard... Eu sei que minha mãe precisa de mim, mas... Não queria ficar longe de todos. Fora da Terra... Literalmente...

– Deve ter sido duro ouvir tudo aquilo. E eu nem mesmo estava lá para apoiá-la...

– Tudo bem, Grant. Você precisava descansar. – Falei, levantando a cabeça pra olhar nos olhos dele. – O que eu devo fazer? À noite, teremos uma reunião com todos. No momento, só falei com alguns individualmente.

– Vai ficar tudo bem, Skye. Eu tenho um plano.

– O que vai fazer, Jumboman? Pular do avião?

– Vou pra Asgard com você.