À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 29
Efeitos Colaterais


Notas iniciais do capítulo

Bom, pra quem quer saber o desfecho do Reid, cá está ele.
Vejamos qual será a reação de vocês.
Um desfecho digno ou não? ?

(Talvez ainda haja salvação ao inspetorzinho, quem sabe...)

Boa leitura!!



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Holmes subiu as escadas que levavam ao seu apartamento, em Baker Street, acompanhado de Reid, que o seguia como um cão nos calcanhares. Ele ainda se perguntava se outros homens, como Reid, seriam ainda capazes de descobrir sobre seu enfadonho segredo. Era tão evidente assim? Talvez. Mas ainda restava um trunfo. A improvável chance de isto se tornar passivo de processo. Querendo ou não, tudo era muito circunstancial. Mas apesar disso, um simples escândalo já seria prejudicial à sua vida, e pior ainda, à vida de Esther. Depois de seu sofrimento, ela não merecia passar por mais um vexame de um boato a respeito de um casamento secreto. E ainda havia seu trabalho na Agência, que poderia ser prejudicado. Além disso, uma investigação poderia levar a outra. Se constatassem que John Sigerson era uma identidade falsa, também poderiam verificar o mesmo com Sophie Evans. A conclusão seria inevitável.

O tenaz inspetor pouco parecia se importar com as consequências Ele também agiria assim diante da verdade quanto ao caso de Jack, o Estripador? Aquela, admitia Holmes, era uma incógnita para ele. O inspetor poderia ter qualquer tipo de comportamento, ignorando ou não as consequências. Que ao menos aquela cabeça dura fosse racional e soubesse medir o peso das coisas...

Quando pegou o Diário, entregue pelas mãos de Sherlock Holmes, Reid imediatamente correu os olhos na primeira página.

–Isso parece estar em outro idioma... – ele disse.

–Hebraico, para ser preciso. Mas não se preocupe, Reid. Eu deixei a cargo de uma pessoa de extrema confiança a tradução destas páginas. – disse Holmes, retirando de uma pasta guardada a sete chaves em uma gaveta algumas folhas de papel, escritas pelo rabino.

Reid pegou o conteúdo, afoito, e começou a ler. Holmes sentou-se em uma poltrona e acendeu seu cachimbo, assistindo de camarote o semblante de Reid se contorcer para algo surpreso, como se estivesse diante do inacreditável. Depois de anos se martirizando por não ter pego o Estripador, talvez a confissão daquelas linhas não fossem, exatamente, o que ele desejava ter lido.

–Mas o que...?

–Exatamente, Mr. Reid. Ao contrário do que pensávamos, Jeffrey Carlston Holmes não tentou imitar o Estripador para culpar James Stewart por mero acaso ou fama do criminoso. Ele imitou o Estripador em especial porque tinha grandes motivos. Um deles era o fato de que ele sabia a verdadeira identidade do Estripador todo este tempo: Lewis Stewart.

Reid arregalou os olhos.

–Por isso, o nome dele não saía de minha mente. Eu me lembro, Mr. Holmes que no segundo assassinato, recolhemos algumas possíveis testemunhas. Uma delas era um drogado, viciado em ópio, chamado de Lewis.

Holmes não sabia disto e ficou surpreso.

–Ele sequer ficou trinta minutos na delegacia. Um homem rico o tirou daqui. Chamava-se... Era um nome estrangeiro...

–Cohen. – disse Holmes, deixando Reid surpreso.

–Antes de se viciar em ópio, Lewis Stewart era estudante de Medicina. Tirava as melhores notas em Anatomia e seus professores diziam que daria um bom cirurgião, tamanho era seu talento e sua frieza. Ele era um grande admirador do Professor Cohen, um grande acadêmico da Academia de Viena. Cohen era um judeu que trabalhava com drogas delirantes e estava desenvolvendo uma em especial chamada “A Droga dos Mortos”, e era também um teólogo, especialista no Judaísmo. A associação destes dois elementos é que trouxe o perigo que cercou nossas ruas.

Reid ainda estava estarrecido. Holmes continuou.

–Seus estudos em Viena, embora fossem muito bons, não foram concluídos porque o Professor Cohen estava se tornando cada vez mais fanático, criando e participando de uma seita obscura que pegava elementos do Judaísmo e misturava às suas verdades. Lewis se simpatizava com essas idéias, pelo que pôde ler e, temo, também foi apresentado à “Droga dos Mortos”. Seu problema jamais foi o ópio, por isso ele não foi curado em nenhum sanatório. Ele experimentara, decerto, uma droga nova, desconhecida até por mim. Depois que li esse diário, eu mandei um telegrama ao sanatório da Suíça, que me confirmou sua morte, um mês antes do caso da volta de Jack começar. O fato é, inspetor Reid, que Lewis Stewart era Jack, o Estripador, como ele mesmo confessou para Carlston Holmes e escreveu neste diário, e estava agindo assim por influência da pequena seita que Choen montou.

Reid parecia abobado.

–Então, Jack chegou a estar em minha delegacia por meia hora?

Com a confirmação de Holmes, Reid se descontrolou e tacou seu um objeto qualquer contra a parede, em um acesso de fúria, fazendo Holmes se agachar.

–Maldito seja! Desgraçado, como eu não pude desconfiar?!

–Acalme-se, Reid... – dizia Holmes, tentando apaziguar.

–Como eu posso me acalmar? Eu jamais poderei trazer Jack à Justiça, porque agora ele está morto! Ah, mas quanto a este Dr. Cohen...

–Também está morto, Reid. Morreu há dois anos, em um desastre ferroviário em Devon. Sinto muito.

Reid bufou. – De qualquer forma, o mundo precisa saber disso. Eu posso não ter o depoimento de Carlston Holmes, mas esse Diário servirá para atestar que Jack era mesmo Lewis Stewart, influenciado pelas idéias desse Dr. Cohen...

–Agora, Mr. Reid, é minha vez de apelar.

Reid parecia descrente. – Apelar, Mr. Holmes? Pela impunidade? Francamente, o senhor é mesmo um mercenário... Quanto os Stewart estão te pagando?

Holmes ficou indignado, mas relevou.

–Eu vou ignorar sua grosseria, Mr. Reid, em consideração à importância deste caso e de sua decisão. Lewis foi realmente influenciado pelas idéias do Dr. Cohen. Um judeu, que criou uma seita com base no Judaísmo. Tem idéia das consequências dessa revelação?

Reid ponderou.

–Lembra-se do que aconteceu no dia dos dois assassinatos, o “duplo homicídio” da mesma noite? Na Gouldston Street? Havia uma pichação que fazia uma simples referência aos Judeus...

–“Os Juwes (Judeus) não são os homens que levarão a culpa sem motivo”, ao menos foi isso que tinham dito entender.

–E o que fez o Superintendente?

–Mandou apagar antes que alguém visse, para não causar mais represálias ao povo judeu. Desperdiçamos uma importante evidência...

–E o que você acha que irá acontecer se descobrirem um Diário em que Jack diz que matou suas vítimas em defesa dos Preceitos da Lei Judaica? Parou para pensar em cada família judia que será hostilizada, ameaçada? Cada sinagoga que será profanada, queimada, destruída? Quantos homens sofrerão abusos e agressões apenas por compartilharem a mesma religião que o louco que influenciou outro louco? Porque embora saibamos que não se trata da mesma religião, nem todos terão esta opinião.

Reid refletiu por um momento. Depois, caminhou até próximo da lareira, e de posse do Diário, o atirou ao fogo. Holmes parecia satisfeito, ainda com ressalvas, com a atitude do inspetor.

–Posso sobreviver com um caso sem solução aos olhos do público, mas não com a dor provocada a milhares de inocentes apenas para me trazer glória e reconhecimento. Não, Mr. Holmes, a Justiça não deve ser revelada a todos. Infelizmente. Acho que essa é a lição mais valiosa que tirei deste caso.

O inspetor despediu-se de Holmes e foi embora.

Quando estava ainda na calçada de Baker Street, acabou sendo surpreendido por um cabriolé, parando diante de si. Era Norah, que descia com o semblante preocupado.

–Sabia que poderia encontra-lo aqui, Edmund.

–Como?

–Eu sabia que você não descansaria enquanto não obtivesse esse maldito diário... – disse Norah, com amargura. – Você nunca vai parar com essa obsessão por esse louco degenerado, não é? Nem que isto custe a vida de outras pessoas...

–Não, Norah... Escute, eu coloquei um ponto final nisto...

–Claro que não! Pois afinal, veio obter o diário com Mr. Holmes. Sophie me contou que o diário estava com ele, que ele já foi traduzido... E ela me revelou o seu conteúdo. Como pôde, Reid?

Reid a pegou pelo braço. – Norah, você precisa me escutar. Vamos a um local mais reservado, não desejo falar disso em público. - ele disse, olhando para os lados.

Reid a levou até uma livraria, de um conhecido dele, que sempre andava vazia. Aquele parecia ser o local ideal para que ele pudesse ter uma conversa série e reservada.

–Escute, Norah... Eu não direi nada a respeito da verdadeira identidade de Jack, nem de suas motivações...

–Não, eu duvido... Isso lhe custaria a promoção que você tanto quer na Yard. Ou acha que eu não sei que não consegue se tornar Inspetor-Chefe por causa desse maldito caso não-resolvido?

–Há outras maneiras de me provar bom, Norah. E se eu não conquistar a cadeira de Inspetor-Chefe, que seja. Estou satisfeito em ser Detetive Inspetor.

Norah riu, ainda com os olhos lacrimejados.

–Você sempre me disse que a vida de um inspetor-chefe era mais tranquila, que você correria menos perigo...

–Talvez. Mas o que é a vida senão um pouco de perigo? – ele disse, se aproximando. – Norah... A verdadeira identidade de Jack está, neste momento, sendo consumida pelas chamas, em Baker Street. Eu queimei o diário. Ninguém jamais saberá quem foi Jack. Os judeus de Londres estarão a salvo de qualquer represália que porventura sofreriam com a divulgação das motivações daquele monstro...

Reid deu alguns passos, de costas para Norah.

–Sabe qual foi o meu primeiro caso, como Detetive Inspetor em Whitechapel?

Norah acenou que não. Edmund Reid virou-se para ela, com semblante retraído.

–A explosão de uma sinagoga. Lembro que... Que umas cinco crianças morreram naquela explosão. Sabe... Nós, policiais, conseguimos ainda guardar os nomes, até mesmo feições, das crianças mortas e desaparecidas que surgem em nosso caminho... Eram... Moses, David, Sarah, Joshua e Noah... Eu esperei, e assisti o corpo de cada criança ser retirado dos escombros, enquanto eu tentava coletar as evidências do responsável por esta explosão. Eu o peguei mais tarde, entretanto... Não pude entender a motivação, e acho que morrerei sem entender. Agora eu entendo que a ignorância neste caso é um privilégio, na verdade.

Norah escutava a tudo com grande atenção, emocionada.

–Eu não quero trazer isto à tona outra vez, Norah. Não mesmo. Pode custar o desenvolvimento da minha carreira, mas... Não custará a minha consciência.

Norah abraçou Reid.

–Eu não vou mais para a América, Reid. Londres é o meu lugar. Notting Hill, Whitechapel... O meu lugar será sempre onde você estiver.

Reid e Norah trocaram um beijo, decretando, de uma vez por todas, sua definitiva volta, e um recomeço longe dos fantasmas do Estripador.


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Notas finais do capítulo

Prevejo pessoas enfurecidas com este final...

(Fazer o quê, os dois se gostam... Shit! Os personagens me obrigam a escrever essas coisas! Queria, sinceramente, que Reid acabasse seco e sozinho, mas... Bem, ele se redimiu destruindo o diário e salvando milhares de judeus... Por quê não?)

[óbvio on] Ah, então é por isso que ninguém sabe sobre o Jack... Saquei... [óbvio off]

Ah, pessoal... Tá acabando... ;( snif

Acho que temos só uns dois ou três capítulos...
Bom, pra deixar algumas coisas claras a respeito dos próximos caps...
Passaram-se meses, como vemos. Será que o estupro abalou a Esther de alguma maneira?
Algo me diz que sim...

RSRSRS Mais uma pedra no caminho do nosso casal. Mas sosseguem, é uma pedrinha, não vai durar uma fanfic toda não... Só um ou dois caps, no máximo.

Obrigada pela paciência e atenção por acompanharem essa fanfic desde o início, e até a próxima!

PS: Amanhã tem mais.
Estamos no ritmo para acabar: Será um cap por dia...
(Aproveitem, a próxima será um cap a cada 15, 20 dias...)



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