À Sombra da Justiça escrita por BadWolf


Capítulo 12
Um Outro Holmes


Notas iniciais do capítulo

Olá,
Promessa é dívida, então estarei apresentando um outro personagem para tornar as coisas ainda mais difíceis para o nosso casal. Com certeza vai gerar alguma especulação.
Boa leitura!



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Universidade de Eton, Inglaterra. 10 de Junho de 1895.


Todos os dias, Esther sentia falta dos dias ensolarados que fazia na França. Um clima chuvoso era bom, quando se estava em uma cama quente, confortável, com pouca responsabilidade. Não quando se tinha que estar no trabalho cedo, carregando meia dúzia de livros e sem sequer alguém para ajudar a carrega-los.

Estava chovendo quando Esther terminou aquela aula. Para seu alívio, a turma estava começando a se acostumar consigo, em boa parte porque ela não era uma professora tão rígida como os demais professores e sabia ensinar bem, além de sempre parecer prestativa, emprestando livros de sua própria biblioteca a alunos mais curiosos pelo idioma russo.

Um deles era Jeffrey Carlston Holmes. Ruivo, de olhos azuis e algumas sardas no rosto, que também era bastante harmonioso. Usava uma barba por fazer, Esther acreditava que fosse pelo mesmo motivo que seu falecido irmão, David, usava. Para esconder as espinhas. Apesar da aparência muito jovial (os dois tinham idades próximas, mas os homens sempre demoram mais a amadurecer), havia um quê de charmoso nele, uma beleza difícil de se ver. Ele era filho de um banqueiro, mas Esther desconfiou, por algumas vezes, que pensasse diferente do pai. Sua fala era rebuscada e com um tom político, que remetia ao comunismo. Comunismo. Ela se lembrava dessa palavra ainda na Rússia. Seu pai chegou a mencioná-la algumas vezes, mas ela não se lembrava o que ele queria dizer. Por causa desse posicionamento teórico, muitas vezes Jeffrey discutiu com Stewart, tanto dentro quanto fora das salas de aula. Ambos eram inimigos declarados, o que já era um ponto para Jeffrey. Além disso, ele era gentil, sempre se oferecendo a carregar seus livros e fazendo perguntas a respeito de Literatura. Esther emprestou-lhe dois livros. Um dia, ambos se encontraram na Biblioteca e ele tinha sido cortês, ajudando-a a pegar um livro que estava no alto de uma estante.

–A senhora é casada, não é, Mrs. Sigerson?

Esther estranhou a natureza da pergunta, mas não pôde deixar de ignorá-la. – Sou. Por que pergunta?

Ele soltou um sorriso simpático.

–Imaginei que a senhora fosse viúva porque... Bem, não considere isto como uma ofensa, mas... Dificilmente um homem permitiria que sua esposa fosse professora em uma Universidade.

–Meu marido Sigerson é diferente dos outros maridos. – limitou-se a responder. – Se me dá licença, Mr. Holmes, eu preciso ir.

Jeffrey a pegou pelo braço, com delicadeza, impedindo que ela saísse.

–Espero que esta minha observação não tenha abalado nossa amizade.

Esther olhou, por uns instantes, nos olhos azuis de Jeffrey, desnorteada. Como assim, nossa amizade? O que ele estava pensando de si?

–Parece que o senhor está se equivocando, Mr. Holmes. Não há amizade nenhuma. Se lhe empresto livros, isso decorre de minha preocupação em auxiliá-lo no ensino, nada mais. Ponha isso em sua mente, por favor. – disse Esther, com autoridade, saindo da biblioteca.

Quanta insolência! Será que o mínimo de aproximação de Esther com qualquer aluno já tomava tais proporções? Não que a amizade com um rapaz fosse algo ruim, mas ela sabia no que aquilo resultaria. Se Jeffrey já vislumbrava uma amizade apenas por haver troca de livros ou alguns poucos favores, o que ele não imaginaria que estaria ocorrendo entre os dois, caso realmente ocorresse uma amizade? Esther tremia de pensar. Ela nunca foi uma mulher de se preocupar com comentários alheios, mas certamente sabia que seria insuportável trabalhar em um ambiente onde todos a tomassem como alguém próxima ao nível de uma prostituta, que seria assim vista a sua relação, por mais inocente que fosse, com qualquer aluno.

E ainda por cima, ele tem o mesmo sobrenome dele...

Embora o sobrenome Holmes não fosse incomum na Inglaterra, Esther não deixava de pensar. Será que ele seria parente de Holmes? Seu marido pouco falava a respeito de sua família além de seu irmão, Mycroft. Aliás, nada falava. Ele jamais comentou sobre seus pais, ou mesmo se tinha mais irmãos, tios, etc. Se ao menos ela pudesse vê-lo ela iria pergunta-lo. Mas nos últimos tempos, ele não tem ido visita-la. Ela se perguntava como seria sua reação se fosse à Baker Street... Não, não posso. O que Watson poderá pensar disso? O único pretexto que tenho é uma visita a ele, e ao que me parece, ele ainda não perdeu as esperanças. Não, nem pensar. Não tenho esse direito.

Não havia jeito, senão esperar.


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Carlston Holmes estava no restaurante universitário de Eton. Todos os dias, costumava almoçar sozinho. Não era algo de seu feitio, mas nos últimos tempos, nenhum aluno queria almoçar consigo. Os boatos que circulavam por Londres a respeito de si fazia os pais desses alunos proibirem aproximações com o rapaz.

Enquanto almoçava em uma mesa sozinho – a Mesa dos Excluídos, como dizia alguns – ele era capaz de ouvir James Stewart e seus amigos conversando. Não era difícil saber do que diziam. Stewart fazia gestos no peito, imitando seios femininos, enquanto todos riam disso. Certamente estavam comentando sobre o corpo da professora Sigerson.

–Devo confessar que a visão da professora Sigerson ao menos estimula o resto do meu dia. É melhor que o professor Finnegan, com aquela barriga cheia de banhas...

Os outros riam, mas Stewart ficou sério.

–E é isso que está errado, Damian. Uma mulher como aquela não deveria ficar aqui, ensinando a homens.

–Eu quero é que ela me ensine outras coisas...

Todos riam baixinho.

Céus, quanta baixaria, murmurava Carlston Holmes.

Na saída, enquanto Stewart e os demais rapazes caminhavam pela Universidade, acabaram esbarrando em Carlston Holmes, que carregava alguns livros. Propositalmente, Stewart bateu-lhe em ombros, fazneod os livros caírem.

Os olhares dos rapazes foram imediatamente a um dos livros, em russo.

–Oh... Ora, ora, quem diria Holmes... A professorinha está te dando aulas particulares? – todos riram juntos.

Carlston Holmes ficou enfurecido. – Claro que não! Não sejam estúpidos, ela é uma mulher casada! – disse o jovem, enquanto recolhia seus livros.

–Isso nunca foi impedimento para um pouco de diversão. – caçoou um deles.

–É mesmo, mas não é isso que ele deve pensar. Se o Jeff aqui parasse de ler um pouco esses livros idiotas e proteger operariozinhos, saberia o que é se divertir.

–Que tipo de diversão, Stewart? Igual você teria naquele dia, que eu precisei tacar uma maldita pedra quando vi você invadir a casa da professora Sigerson à noite?

–Exatamente. – respondeu Stewart. – Ah, mas se você soubesse o quão perto eu estava... Ouvi até o som da banheira.., Aposto que ela estava se banhando...

–Você é nojento, Stewart! Mrs. Sigerson é uma mulher casada, não uma dessas prostitutazinhas que vocês e seus amigos procuram em Whitechapel depois da bebedeira! Aliás, deveria me agradecer, porque o marido dela estava em casa. Eu o vi quando ele checou a janela depois que eu taquei a pedra.

–Oh, mas é claro, muito obrigado, Santo Carlston Holmes, o Vermelho Flamejante, protetor dos fracos e oprimidos! - debochava Stewart, fazendo todos rirem alto.

–N-N-NÃO – M-ME – CHA-CHA-CHAME – DE – VERRRMELHO! – disse Carlston Holmes, enfurecido. – E-Eu a-aposto que é você que-quem espalha e-esses boatos so-sobre minhas... Mi-Mi-Minhas posições políticas.

–E-E-Eu não di-di-digo n-n-ada... – imitou-lhe Stewart. – Eu lhe conheço desde criança, Jeffrey. Você gagueja quando mente. Mas agora chega, pois temos uma partida de rugby para jogar e eu não quero perder porque você não consegue terminar uma frase. – disse Stewart, fazendo seus outros amigos rirem.

Carlston Holmes bufou, e continuou seu caminho para a próxima aula.


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Notas finais do capítulo

E então?? O que acharam do Jeffrey?
Será que ele é parente do Mr. Holmes?
Algo me diz para o detetive tomar muito cuidado com ele...
Quem não dá assistência, abre concorrência...E o pior: vai ficar tudo em família. (será?)
Bjs e até a próxima.



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