Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 28
Reencontro nas Sombras - Pt. 1


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO, LINDOS LEITORES! VOLTEI DO ALÉM!
Pois é, meu povo. Passei um tempo sem postar, confesso. Mas não foi por falta de tempo, e sim, de ânimo. :/ Estava um tanto desapontado comigo mesmo como escritor e por isso passei um tempo isolado em uma montanha muito longe daqui, num pequeno chalé, lendo alguns livros para melhorar a mim mesmo e minha forma de escrita (tentar variar um pouco, conhecer os traços de escrita de alguns autores e talz.) A questão é que peguei um navio de volta para cá e estou pronto para continuar com Silent Hill: Sombras do Passado. Acho que não devo lembrar vocês de que não vou parar de postar a história, a menos, claro, que eu morra, até porque vai além dos meus poderes. Então tenham certeza que verão o fim dessa FIC se eu viver, que, a propósito, devo informar que passamos da metade, por isso cada acontecimento, morte, decadência e agonia a partir de agora convergirão para o FIM hehehehe. Pois bem, estamos de volta, galerinha. Obrigado à todos que me aguardam pacientemente e permanecem fiéis à FIC.



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– Mais rápido, Emma! Eles ainda podem estar atrás de nós! - a garota gritava enquanto andava apressadamente pela rua.

Embora as duas já estivessem há cerca de quatro quarteirões do local, não podiam se arriscar.

– Estou indo, estou indo. - respondera, ainda pensando em tudo que havia acontecido momentos antes.

– Sorte a sua eu estar lá, apesar de tudo... - ela disse, após um tempo pensativa.

– Sim, não posso discutir nem discordar sobre isso. Obrigado de novo. Mas...

– Mas?...

– Acho que por causa da correria eu... Eu não entendi como me achou. Estava atrás de mim o tempo todo?

– Bom... – a garota olhou para trás a fim de confirmar se já não estavam mais sendo perseguidas por Otto e Emilly - ...acho que temos tempo para nos explicar agora. – concluiu, desacelerando o passo gradativamente até chegar a um banco velho numa calçada próxima, onde sentou-se - Começou no Jacks.Inn... Logo depois de quase disparar em mim...

– Sobre isso... - Emma a interrompeu.

– O quê?

– Nada... Continue. - Emma pensara por um breve momento em se desculpar pela forma dura com a qual tratara a garota. Perguntava-se se não estava sendo severa demais com alguém que se mostrava cada vez mais amigável e gentil, assim como fizera com Sebastian, antes deste ser entregue ao triste fim que teve. Perguntava-se também se ela não era, afinal de contas, apenas mais uma vítima de Silent Hill. No entanto, as palavras de Emilly ecoavam em sua mente e a imagem do selo gravado à fogo na nuca da garota passeava em sua cabeça, impedindo que Emma se convencesse de que, de fato, ela não possuía culpa nenhuma. Por isso desistiu. Desistiu das desculpas. Preferiu aguardar mais da verdade para que, no fim, não tivesse jogado palavras fora ou as direcionado a um alguém errado.

– Bom, quando você entrou no quarto para pegar a chave do carro, eu notei que o porta-malas estava aberto. E como você sabe, não queria ficar sozinha, por isso me escondi lá dentro. Eu pretendia ir atrás de você em segredo até que você estivesse mais calma e me deixasse acompanhar. E aí veio...

– O acidente?

– Sim. O que foi aquilo? Não sabia dirigir?

– Eu sei dirigir! - Emma cruzou os braços e virou o rosto - O que eu não sei é guiar um veículo enquanto sou atacada por criaturas demoníacas numa cidade fantasma. Não ensinaram isso na autoescola.

– Ah... bem, posso tentar compreender seu ponto de vista. - riu - Eu não cheguei a ficar inconsciente com a queda, assim como você, por isso me escondi e esperei que acordasse. E quando você acordou, eu a segui. Você quase me pegou na zona residencial, mas, fui mais rápida. Foi aí que chegamos à casa da Holloway Street, eu entrei pouco depois de você e me escondi no primeiro andar até, bom, você sabe, salvar sua vida... - a garota cerrou os lábios - ...de novo.

– Isso explica muita coisa. Acho que talvez possa reconsiderar você perto de mim. - suspirou, aliviada.

– Isso é bom, srta. Carter. - seus olhos apertaram-se com o sorriso que abriu, mas Emma permaneceu na sua, calada e indiferente - Mas... me diz, o que pensou que estava fazendo ao confrontar aquelas pessoas?

– Já disse, não confrontei ninguém! Só estava no lugar certo na hora errada.

– Lugar certo? - sorriu, sarcástica - Aquele não parecia o lugar certo para se estar... A menos que queira morrer. Então estava no lugar ideal.

– Aquele era o lugar certo, sim. Era o endereço citado aqui. - ela retirou o bilhete de dentro do bolso e o balançou frente o rosto da menina.

– Lugar certo para...

– Para pegar... - Emma apalpava o bolso da calça, nervosa - Para pegar a... - agora passava a mão por toda a sua roupa, na esperança de sentir o pequeno objeto - Não... Não... - já estava andando em círculos, olhando para o chão. Seu rosto demonstrava claramente que se tratava de algo muito importante, digno de muita preocupação - Não posso ter perdido!

– Perdido?

– Perdido a chave! Droga! - Emma bateu o pé no chão, furiosa e ofegante - Perdido a chave... a chave da ponte... - baixou a cabeça - Porque tudo é tão difícil? - ela sentou-se ao lado da menina no velho banco, repousando a cabeça sobre os braços apoiados nos joelhos.

– Emma... fica calma. Nós...

– Vamos voltar! – ela cortou a fala da garota, levantando-se do banco quase em um salto.

– O quê?! Quer voltar?

– Eu deixei cair em algum lugar no caminho, ou mesmo dentro da casa. Sem essa chave não vamos a lugar nenhum.

– Esqueceu de quem está lá?

– Sim, eu sei... Mas de qualquer forma não há muito o que se fazer. Além disso, já despistamos eles, com certeza não voltarão para lá.

– Vai mesmo voltar, não é? – a garota frustrou-se ao concluir que não convenceria Emma do contrário.

– Não se sinta obrigada se não quiser vir.

– Não, eu vou! Dois são melhores que um, certo?

– Certo. - Emma sorrira com o canto do rosto, um tanto feliz, um tanto espantada com a determinação da garota.

– Mas você não pode ir sem balas no revólver. Para sua sorte, havia um no porta-malas daquele carro.

– Havia?

– Sim, havia. - a menina pôs a mão no bolso do moletom velho que usava e começou a mexer lá dentro - Aqui. - ela retirou-o do bolso e o estendeu para Emma - Pega, você é melhor do que eu nisso.

Emma estendeu sua mão para pegar o objeto, porém um pequeno detalhe posto no cano da arma fez sua mão parar em pleno ar e seu corpo imobilizar-se, como se ela fosse perder todo o equilíbrio que possuía se fizesse qualquer súbito movimento. Seus olhos, parados, estavam fixos na pequena especificidade parafusada no item: uma pequena plaquinha retangular de metal prateado, onde estava gravada a palavra “Carter”.

– Vamos, pegue. – a menina aproximou a arma da mão de Emma, mas esta recuou e a encolheu-a junto ao peito. – Emma?

Emma continuava calada, olhando para o revólver. Parecia claramente perturbada.

– Carter... – foi a única palavra audível que conseguiu pronunciar, ainda olhando fixamente para a palavra gravada.

– É seu sobrenome, certo? Vamos, precisamos voltar. – a garota tentou novamente uma aproximação; Emma recuou dois passos.

– Ora, vamos! Não temos tempo para isso, Emma. Pegue! – disse, jogando a arma levemente em direção à Emma, na vã esperança de que esta a pegasse.

Emma, no entanto, nada fez, a não ser observar a arma cair frente aos seus pés, fazendo um barulho ensurdecedor, como se um grande bloco de concreto tivesse sido jogado em meio a rodovia em que se encontravam paradas. Quase como uma reação imediata ao som da queda, o asfalto ao redor do objeto (e logo depois o de toda a rua, até onde se conseguia ver) foi descascando gradativamente em uma coloração vermelha, até que enfim, converteu-se completamente em cinzas escuras que, levitando, desapareciam no ar, revelando grades sujas e gastas suspensas no vazio. O alaranjado do céu do entardecer foi sendo tomado por um negro fechado e absoluto à medida que os tijolos das paredes dos prédios e casas ao redor se desgarravam de seus fundamentos quase como papéis descolados e davam lugar às estruturas demoníacas e enferrujadas da outra realidade.

– Está acontecendo de novo... – Emma acordou assustada da sua espécie de transe e se deu conta dos horrores que estavam por vir.

– O que está acontecendo? – a garota, assustada, aproximou-se de Emma e agarrou seu braço, como se ela pudesse protegê-la de tudo que as aguardavam.

– Não sei o que exatamente acontece quando isso... bom, acontece. Mas é algo ruim, muito ruim. Resumidamente, fomos mergulhadas novamente numa realidade diferente... uma realidade má.

– Novamente? – a garota perguntou, agarrando o braço de Emma com mais força ao observar a transição de ambientes ser concluída. Estava bem mais surpresa, porém não menos assustada.

Essa simples pergunta chamou a atenção de Emma, e foi então que ela se deu conta de que esta era a primeira vez que compartilhava dos medos do Outro Mundo com a tal garota. Na primeira vez em que a realidade se convertera, dentro das salas escuras do Hospital Alchemilla, ambas tiveram de se separar, pois da mesma forma que Silent Hill adentrou a outra dimensão, a garota também parecia ter adentrado um estado de semiconsciência e permanecera parada em meio a um enxame de besouros. Já na segunda vez em que aquilo aconteceu, na recepção do Jacks.Inn, a garota, após um grito alto e agudo, manteve-se estática em estado semelhante de semiconsciência enquanto um grande buraco abrira-se no chão onde estavam, obrigando Sebastian a Emma a fugirem, deixando-a para trás. Porém as coisas aconteciam diferente dessa vez, a garota permanecia plenamente consciente, e, naquele momento, enquanto tentava se adequar à temperatura e ao forte odor de enxofre que as envolviam, Emma se perguntava o porquê de aquilo ter acontecido.

– Sim... novamente. Mas você não deve lembrar... assim como não lembra de nada sobre você ou este lugar. – disse em tom irônico.

– E o que vamos fazer quanto a isso? Como vamos voltar para... a realidade normal? – retrucou, tentando achar as palavras mais corretas para expressar o que queria dizer.

– Isso eu não sei. Das outras vezes... – Emma passou o olho pelo céu enegrecido - ...tudo isso foi embora tão rápido e inesperadamente como veio. – voltou-se para a garota - E o que acha que iremos fazer? Iremos voltar. Não importa onde estamos, continuamos precisando da chave da ponte.

Emma arrancou seu braço dos da menina e deu às costas, pronta para voltar ao sobrado da zona residencial e recuperar a chave perdida. No entanto, viu-se impedida de prosseguir, pois além do emaranhado enferrujado, escuridão e fedor, o Outro Mundo também havia trazido consigo uma grande e larga fenda na rua (que agora não era mais que restos de asfalto e grades), a qual proibia Emma de voltar, pelo menos por onde veio parar ali.

– Merda... – sussurrou – Temos que achar outro caminho.

– Qual deles?

– É difícil saber. Tudo se altera quando entramos aqui. Paredes viram ruas, ruas viram buracos e buracos viram paredes. Só o que permanece são as criaturas estranhas e pelo visto, qualquer um que esteja aqui.

–Então como pretende chegar de volta à zona residencial?

– Já disse que não há como saber! – Emma bateu o pé no chão furiosamente, fazendo a garota recuar.

– Desculpe, eu...

– Não importa. – interrompeu – Só o que podemos fazer é tentar chegar lá tomando como base os caminhos que tomaríamos se estivéssemos na realidade habitual. – concluiu, retirando o mapa que possuía da bolsa de couro e abrindo-o em frente ao rosto.

A garota permaneceu parada por um breve período de tempo (talvez por ansiedade ou talvez por medo do que Emma faria se ela fizesse alguma outra pergunta que essa julgasse idiota) apenas observando Emma analisar o mapa, também parada.

– Hum... – Emma pôs o mapa de volta na bolsa e suspirou, como se quisesse esvaziar o seu eu do turbulento furacão de pensamentos que girava em sua cabeça e se fazer nova para enfrentar novos problemas. Ela então levantou os olhos para um grande prédio, na mesma rua, à poucos metros das duas garotas.

– E então? – a menina perguntou, tentando ser o mais precisa e discreta possível.

– Acho que podemos tomar um atalho por este prédio. – respondeu, apontando para o referido edifício – Segundo o mapa, ele possui entradas dos dois lados da rua, logo se entrarmos por aqui, poderemos sair do outro lado da rua. Será mais rápido mas... – o tom de voz de Emma baixou cada vez mais até que se perdesse nos sons metálicos que ecoavam de todos os lados naquela dimensão cruel.

– Mas?... – a menina cobrou uma conclusão.

Emma não respondeu. A resposta, no entanto, pairava em sua mente. Ela pensava no que poderia acontecer se adentrassem aquele prédio. Nas duas primeiras vezes que fora submetida àquela realidade, Emma estava em edifícios, da primeira vez num hospital e na segunda em uma hospedaria, e dentro deles havia encontrado seres monstruosos e perigosos, como uma grande aranha-paciente composta de cintas e uma maca ensanguentada e um cozinheiro gordo e deformado com uma grande lâmina no lugar de um dos braços. Emma estava tensa. Não sabia o que faria se encontrasse mais alguma criatura desagradável lá dentro e não visse para onde correr.

– Mas nada! – disse firmemente, recompondo a postura e juntando coragem para apanhar o revólver com a palavra “Carter” do chão – Vamos em frente!

E assim, ambas partiram para seu destino, rumo às grandes portas duplas de ferro gasto que levavam ao interior do grande e largo edifício de quatro andares que Emma apontou. Portas essas que jaziam sob uma placa onde se lia (com um pouco de dificuldade por causa da ferrugem escura do Outro Mundo) “Cartório Municipal de Silent Hill”.

O tal cartório, assim como todos os outros prédios ou casas da cidade, estava abandonado há muito tempo, e assim como todos os lugares onde se trabalham com muitos papéis, o prédio inteiro tinha um cheiro de mofo e velharia. A outra realidade, por sua vez, não ajudava nem um pouco que fosse em melhorar a aparência ou o aroma do lugar, adicionando um pouco de cheiro de enxofre aqui, decomposição ali ou ferrugem acolá. Por isso, não foi em vão quando as duas garotas tamparam seus narizes com as pontas dos dedos ao entrarem no lugar e percorrerem cautelosamente, com a ajuda da lanterna, os corredores podres e escuros do lugar, todos entulhados de portas e com papéis jogados em todo canto.

– Não consigo ver nada... – sussurrou a garota, tentando não perder Emma de vista.

– Eu também não... A lanterna quase não ajuda.

– É quase como se o escuro tragasse a luz.

Emma assentiu.

– Como saberemos se estamos perto? – a garota voltou a falar.

– Não saberemos. Só temos que chegar ao outro lado, então vamos focar em ir o mais longe possível pelo andar térreo. O mais provável é que cheguemos à outra porta de saída.

– Mas... e se algo der errado? E se não chegarmos ao outro lado? E se portas viraram paredes? E se encontramos alguma coisa?

– Quer por favor fazer um pouco mais de silêncio?! – Emma voltou-se e, num sussurro, pôs seu rosto bem próximo ao da garota – Se continuar falando assim, aí sim, vamos ter problemas?

– Desculpe.

Pela luz da lanterna, Emma pôde ver que a garota estava claramente assustada e sentiu-se um pouco comovida, não porque fosse do seu feitio sentir compaixão, mas porque viu a si mesma naquelas expressões de medo, pois, assim como a garota era naquele momento, Emma também já havia sido uma iniciante no Outro Mundo e lembrava-se claramente de como desejou alguém para confortá-la naquela situação.

– Não se preocupe, OK? – tentou acalmar a companheira com um sorrio - Temos uma arma. Se encontramos qualquer coisa, encheremos ela de bala!

– Sim. – a garota sorriu de volta – Obrigado.

Ambas voltaram a percorrer os escuros, sujos e fedorentos corredores.

– Emma...

– Fala.

– O que foi aquilo?

– Aquilo o quê?

A garota hesitou um pouco antes de continuar a conversa. Havia guardado essa pergunta desde o lado de fora do cartório e, àquela altura, sua curiosidade se mostrava maior que sua discrição.

– Aquela sua reação ao ver o revolver. Parecia estar muito surpresa.

Emma olhou para a arma em sua mão e permaneceu um tempo em silêncio até resolver falar.

– Carter... – ela disse, passando o dedo sobre a placa na qual seu sobrenome estava gravado, lembrando do fatídico dia em que seu pai ganhara aquela arma como um presente por mérito de trabalho - ...esse revolver é do Douglas.

– Douglas é o seu...

– Sim, ele é. – concluiu ela, referindo-se ao pai.

– Mas esse é o motivo? – a garota coçou a cabeça – Mas você não pareceu tão atônita quando encontrou os cadernos do seu pai no carro do Jacks.Inn... e eles também eram do seu pai. Essa arma tem de especial?

Emma se mostrou claramente incomodada com o assunto, mas quando, enfim, abriu a boca para falar alguma coisa, foi interrompida por um rápido vulto escuro, que pareceu percorrer as paredes com uma velocidade impressionante. Normalmente, não era de se esperar que as garotas notassem um vulto escuro naquele breu todo em que se encontravam, mas elas notaram. Notaram porque o vulto era de uma negritude tamanha que se destacava no escuro do corredor (o que era uma façanha, como já dito, notável), quase como se a sombra da própria escuridão passeasse por ali.

– Você viu isso? – Emma passava a lanterna em todos os cantos do recinto.

– Não posso dizer se vi alguma coisa... Mas parecia um... – o vulto passou novamente em uma velocidade ainda mais assustadora, tornando-se quase imperceptível.

Emma desligou a lanterna e pôs o dedo nos lábios pedindo silêncio e então ambas, estáticas no meio do corredor, se puseram em guarda, na esperança de que, assim como elas não podiam ver seja lá o que fosse na escuridão, seja lá o que fosse também não pudesse vê-las. Foi inútil. Parecia que a falta de luz motivara ainda mais seja lá o que fosse, pois o vulto passou pela terceira vez no chão, não mais como uma sombra, mas como algo palpável e gélido que as duas garotas puderam sentir tocar suas pernas.

– Tem algo aqui! – Emma concluiu que ficar ali, paradas, esperando que aquilo simplesmente fosse embora podia lhes custar a vida. Ela então reacendeu a lanterna na potência máxima e agarrou a mão da garota, lançando-se com ela corredor adentro, a fim de sair dali o mais rápido possível.

– Ele ainda está aqui! – disse a garota enquanto corria e vendo, mesmo sem a ajuda da lanterna, a coisa absurdamente escura percorrer as paredes.

– Não faz diferença! Ali está a porta!

As duas haviam chegado a um salão semelhante àquele pelo qual entraram, que mesmo no Outro Mundo lembrava vagamente uma recepção, e viram outras duas grandes portas duplas de ferro gasto, logo, supuseram que as portas que estavam ali as levaria ao tão desejado outro lado da rua.

– Ótimo! Você estava certa quan... – a garota caiu sem mais nem menos no chão pegajoso, sem ter chance de terminar a sua frase.

– Você está bem?

– Sim. – respondeu, enquanto tentava se levantar - Só acho que tropecei em alguma coisa. Mas não foi nad... - novamente não houve oportunidade para o término da frase, e Emma viu o porquê.

O vulto havia agarrado a perna da garota com uma espécie de tentáculo, que saía de uma grande macha absurdamente escura no chão, como uma sombra, uma poça ou um enorme buraco.

– Ele... – a pobre menina dizia trêmula - ...ele me pegou, EMMA!!!

O tentáculo puxou a garota, que em vão gritava e se debatia, de volta para dentro dos escuros corredores, arrastando seu corpo no chão sujo, levantando poeira e papeis espalhados.

– EMMA!!! – ela gritava.

– Você não vai levá-la! – Emma correu até a menina e agarrou seus braços.

Crê-se que todas as crianças, das mais pequenas às maiores, nas mais variadas ocasiões, já tenham participado de uma brincadeira conhecida como cabo-de-guerra. Mas nem de longe, nenhuma dessas crianças gostaria de participar do estranho e aterrorizante cabo-de-guerra humano que Emma jogava com o tentáculo, onde disputavam com força o destino da garota que lhes servia de corda: a porta de saída ou as profundezas negras dos corredores do cartório. A menina se debatia e gritava, parecia amedrontada, parecia desesperada, como se o toque da criatura assustasse mais que a situação em si.

– Emma, não me solte! Por favor!

– Eu não vou soltar você! – respondeu Emma, tentando juntar forças para combater a criatura que parecia cada vez mais forte.

Dentre as sombras, Emma viu mais figuras semelhantes à tentáculos se erguerem da mancha negra do chão. Foi quando lhe ocorreu de apontar a lanterna para a tal coisa, a fim der ver contra o que estava lutando e se podia fazer outra coisa além de ficar puxando e puxando os braços da garota num jogo ridículo e sem fim. Essa foi sua salvação. No momento em que as mãos de Emma apontaram a lanterna para a criatura e o feixe de luz a atingiu, o ser emitiu um grunhido forte e agonizante, até que os tentáculos soltaram a garota no chão, recolheram-se de volta na mancha grande e absurdamente escura e esta se dissipou nas paredes.

– Luz... – Emma concluiu em voz baixa, ofegante por todo esforço que fizera.

– Emma! – a garota, em lágrimas, levantou-se rapidamente do chão e correu em direção a sua amiga, abraçando-a. Emma não retribui o abraço, isso porque não lembrava da última vez que alguém lhe abraçara daquela forma e por isso, no seu íntimo, não sabia o que sentir, dizer ou fazer – Obrigado.

– Não... não há de quê. Mas não podemos perder tempo com esses sentimentalismos. – disse, afastando o corpo da garota do seu.

As duas retomaram seu trajeto no salão, achando que já haviam se livrado de seja lá o que fosse. Erro fatal. No meio do caminho puderam ver as grandes portas duplas de ferro serem enegrecidas: a mancha absurdamente escura estava apossando-se delas, obstruindo o caminho das garotas.

– Hum... – Emma sorriu sacando a lanterna – Ainda quer brincar, engraçadinho? Acho que aprendi as regras do seu jogo. – em um movimento súbito, Emma apontou o feixe da lanterna para a porta, mas a mancha esquivou-se e, rápida como era, aproveitando-se do desfoque do feixe, percorreu o chão até estar a poucos centímetros das garotas e lançou sobre elas um longo tentáculo, arremessando-as ao mais fundo do salão, já próximo aos corredores. Era como se ela falasse por suas ações, e o que dizia era claro: “Vocês não vão sair. ”

– Acho que ele acabou de inventar regras novas. – a garota, levantando-se com dificuldade em meio a gemidos, fez questão de observar que a criatura era bem mais sagaz do que se pensava.

– Vamos aprender a jogar com essas também.

Emma levantou-se do chão e novamente sacou a lanterna, e novamente tentou acertar a criatura, que novamente se esquivou e, em mais um golpe, lançou as garotas novamente para mais fundo nos corredores.

– Não podemos lutar contra ela! É muito rápida! – concluíram ambas, quase em uníssono, enquanto levantam-se novamente.

De fato, a criatura era rápida, muito rápida, o que deixava as meninas em desvantagem, mesmo que Emma soubesse de sua fraqueza.

– Vamos ter que sair daqui! – Emma apontou para uma pequena porta de metal no corredor, que aparentemente levava às escadas que davam acesso aos outros andares do prédio.

– Mas aquelas portas duplas é que nos levaram para fora! – retrucou a outra garota.

– Mas não iremos lá para fora enquanto isso estiver aqui! Vamos despista-lo nos andares superiores e então voltaremos para cá.

– Certo!

A garota assentiu e ambas correram até a porta, que dava acesso à uma escada escura e estreita que apenas subia. Embora tivesse uma quantidade considerável de degraus a serem escalados, a escada se mostrava curta diante da pressa e do pânico das duas meninas, que a subiram em poucos passos, até chegarem a uma outra porta de metal enferrujado (com o numeral 1 gravado nela, indicando a entra para o primeiro andar).

– Por aqui! – Emma orientou a companheira com a ponta do dedo. As duas passaram pela porta e a fecharam juntas atrás de si.

A passagem levava a um longo e único corredor escuro e, com a ajuda da lanterna foi possível enxergar seu conteúdo: estava cheio de bancos de madeira enegrecida espalhados, papeis ilegíveis jogados no chão, portas (algumas de ferro, outras de madeira) que estavam dispostas em equidistância até o fim do corredor e um grande e grosso tubo de ventilação fixado no centro do teto que percorria toda a extensão do corredor demoníaco do Outro Mundo. Emma pediu silêncio e baixou a intensidade da luz da lanterna, a fim de chamar o menos de atenção possível.

– Acha que ele vai nos achar aqui? – a garota perguntou, claramente nervosa, enquanto ambas adentravam mais e mais lugar.

– Com certeza vai. – Emma não queria assustá-la, mas também não podia negar os fatos, nem que fosse para confortar a menina amedrontada – O importante é estarmos preparadas.

– Como podemos nos preparar? Estamos lutando com algo que mal conseguimos ver ou sentir.

– Não sei, OK? Não sei. – Emma suspirou - É como se essa coisa fizesse parte das paredes ou até do próprio escuro. Não acho que usar a arma vai resultar em nada, e ela também é muito rápida para que eu acerte com a lanterna. Não sei como iremos nos preparar, só sei que devemos fazer isso.

– Não foi muito útil...

– Você tem alguma ideia mel...

– SHHHH!!! – a garota tapou a boca de Emma com uma mão e com a outra fez um gesto de silêncio – Ele chegou.

O som de algo deslizando era evidente e parecia estar adentrando o silencioso corredor sorrateiramente. Nervosa, Emma passou a lanterna ao seu redor, mas nada viu, até que sua companheira apontou para o teto do corredor, no meio do trajeto entre elas e a porta das escadarias.

– Ele está ali! – sussurrou com uma entonação claramente assustada na voz. Emma apressou-se em apontar a lanterna para onde a garota apontava, mas esta segurou-lhe a mão, impedindo sua ação.

– O que está fazendo? Temos que pegá-lo.

– Ele está fazendo alguma coisa... – sussurrou em resposta, com os olhos fixados na mancha absurdamente escura no teto, que parecia ficar cada vez mais menor.

– Estaria indo embora?

– Não sei...

Houve silêncio. As duas permaneceram imóveis onde estavam, sempre com seus olhares fixos na tal macha que, também parada onde estava, foi ficando cada vez menor até transformar-se em uma pequena mancha esférica, do tamanho de uma bola de golfe, que tremulava agitadamente no ponto onde permanecia.

– Mas o que ele... – Emma não pôde concluir a pergunta.

Como em uma detonação, a macha se dissipou rápida e explosivamente por onde pôde, derrubando destroços do teto já fragilizado do cartório no chão e obstruindo a passagem para as escadarias, levantando poeira e causando um estrondo ensurdecedor.

– O que ele está fazendo?! – a garota concluiu a pergunta que sua amiga não tivera oportunidade de concluir momentos antes, recuando enquanto pedaços de estrutura eram atirados em todas direções por causa da explosão e queda dos destroços.

– Ele está nos impedindo de voltar... Está nos empurrando para dentro cada vez mais e garantindo que não possamos voltar por onde viemos!


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Notas finais do capítulo

Emma e a garota misteriosa escapam de Emilly e Otto mas descobrem, já longe da casa onde foram atacadas, que Emma perdera a chave da ponte levadiça em algum lugar no caminho. Decididas a voltar para resgatar o objeto, a garota apresenta um revolver que pertencia à Douglas para Emma, que reage de forma estranha à arma e a deixa cair. As duas são novamente mergulhadas no Outro Mundo e, vendo-se impossibilitadas de voltar pela rua onde estavam, decidem percorrer uma outra e assim resolvem pegar uma espécie de atalho por dentro de um velho cartório da cidade, onde se deparam com uma estranha e agressiva criatura.



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