Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 15
Um Norte a Seguir


Notas iniciais do capítulo

"O mais importante da vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos." - Oliver Wendell Holmes



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Emma, acompanhada por Sebastian, dirigiu-se de volta à ambulância, onde a garota os estava esperando, e sentou-se no banco do motorista. Estavam todos silenciosos, pensativos... contemplando o colossal vácuo a frente, o vácuo responsável pela tamanha desolação e decepção dos presentes. Emma riu.

– Isso é ridículo... - disse baixinho reclinando a cabeça no volante.

– Hm? - retrucou Sebastian com uma expressão confusa diante da quebra repentina de silêncio - O que é ridículo?

– Tudo! - Emma deu um forte tapa no volante - Essa cidade... as coisas daqui... nós! Nós somos ridículos também em acreditar que podemos sair daqui!

– Mas nós já sabemos como! - disse Sebastian.

– Sim, nós ouvimos pelo rádio, não foi? - complementou a outra garota.

– Foi só uma suposição idiota!!! E se não for real?? E se não tiver nada a ver com a gente?? Você mesmo.. huh... menina! Está vagando por aqui desde que se lembra!!! E se terminarmos assim? Vagando por aí até esquecer quem somos...??

– Emma... - ele tentou acalmá-la.

– Eu não quero encontrá-lo!!! - ela gritou, abrindo o jogo e expondo o principal motivo de toda sua hesitação.

– Mas também não quer morrer aqui certo? - retrucou.

Ela ficou em silêncio.

– Emma!! - Sebastian continuou - Estávamos perdidos OK? Essa conversa no rádio nos deu uma pista! Um direção pela qual podemos seguir! Pode ser real ou pode não ser, isso é verdade! Mas você pode ficar parada e esperar o tempo passar ou pode abdicar das suas lembranças e do seu orgulho por um momento, seguir esse caminho e conquistar a possibilidade de sair daqui, a escolha é sua!

– Hm.... – Emma pensava enquanto olhava fixamente para frente - Como acha que achá-lo vai ajudar? - suspirou - Ele pode nem estar aqui. E se estiver, como e onde vamos encontrá-lo??? – perguntou em voz baixa.

– Encontrá-lo? Temos que encontrar alguém? - perguntou a menina.

– O pai dela...- respondeu Sebastian.

– Aquele... urgh! - Emma socou o painel do veículo, respirando fundo logo após.

– Se o rádio estiver certo... ela tem que resolver... seja lá o que for...

– Sabem onde ele está? - perguntou de novo a menina.

– Já disse que não.

– Não sabemos nada sobre ele, exceto o nome e o possível motivo de ter vindo aqui... - completou o rapaz.

– Contem-me o que sabem assim mesmo, posso ajudar. É como uma caça ao tesouro, mas com pessoas. - disse a menina empolgada.

– Não é um jogo garota! - Emma repreendeu severamente sua empolgação.

– Bom... seu nome é Douglas Carter... ou Cartland... Veio aqui por causa de uma tal de Claudia Wolf ou uma tal de Heather Mason, investigar um caso de sequestro... e... você está bem? - Sebastian parou de explanar suas informações ao ver o estado da menina.

A mesma estava estática, apenas olhando fixamente para os olhos do rapaz com as pupilas dilatadas. Suas feições contraíam e relaxavam rapidamente e sua respiração se tornara ofegante como se tivesse acabado de correr milhas e milhas...

– Você...

– Aaahhhh!!!! - a menina gritou, cerrando os olhos e jogando as mãos na própria cabeça - Aaaahh!!! Eu... aaaaahhh.... eu vou... Douglas, eu... aaahh... Jacks...Jacks.inn... nós... papai!!!

– Acalme-se!!! - pediu Sebastian, segurando-a pelos ombros.

– Ei... EI... - gritou Emma, puxando o rosto dela contra o seu e olhando em seus olhos, em meio aos gritos incessantes - Calma... calma... – disse ela em um tom relaxante até a menina começar a parar lentamente com o barulho.

– Estamos aqui! - completou o rapaz.

– Eu... estou... estou bem, o que... o que aconteceu? - a menina parou, tentando recobrar o controle da sua respiração.

– Não sabemos! Diga você a razão do seu escândalo. - respondeu Emma.

– Escandâlo? - estranhou a garota.

– Sim... você gritou... bastante. - disse Emma com um sorriso, não acreditando que a menina de fato não lembrava do que acabava de ter feito.

– Gritei?

– Urgh!!! – Emma resmungou.

– Sebastian eu gritei?

– Sim... você gritou...

– Estranho, não me lembro disso. Ah sim! Você não ia me contar o que sabia sobre o pai da Emma? - perguntou ela com um sorriso.

Sebastian olhou confuso para Emma, que retribuiu o olhar. Afinal, como alguém poderia não se lembrar de algo que acabara de ser dito? Como alguém poderia esquecer-se de algo em questão de segundos?

– Quem é Jacks.inn? - perguntou Emma, tentando mudar de assunto - Esse... cara teria algo a ver com... ele?

– Falaremos disso depois... - disse Sebastian, para evitar algum outro possível surto da garota - Vamos tentar focar apenas em encontrá-lo... ok? - falou, retirando o mapa de dentro da maleta e abrindo-o sobre seu colo.

– Como já perguntei: onde acha que vamos encontrá-lo?

– Não sei... - suspirou Sebastian, passando o dedo sobre todas as ruas do mapa - Você não sabe se ele gostava de algo em especial... baladas, resorts, boliches ou coisas assim?

– Não!!

– Tudo bem.. tudo bem... - Sebastian olhou para o mapa mais alguns instantes - ... ... ... ei...

– O quê? - perguntaram Emma e a menina, ao mesmo tempo.

– Jacks.inn!!

– Você não disse que falaria dele depois?

– Não é ele... é isso! Jacks.inn não é uma pessoa, é uma coisa!!! É uma pousada... pousada!! - Sebastian riu - É uma pousada a algumas quadras de distância.

– Isso... isso significa que ele está lá!! - disse Emma.

– Talvez! Mas agora temos um lugar onde procurar!!! Obrigado... huh... menina!!!

– De quê? – perguntou ela, com um olhar de confusão.

– Você nos deu um norte a seguir... ainda que não se lembre.

– De nada então! - riu simpaticamente.

– Pé na tábua Emma!!!

Emma deu a partida e seguiu a direção indicada pelo mapa. Após alguns minutos e algumas poucas ruas o grupo aproximou-se do destino. A tal pousada era um estabelecimento velho e decadente, nada de novo se comparado ao resto da cidade, ele consistia basicamente em um pátio de terra aberto com pequenas sessões de quartos térreos emendados que rodeavam o pátio e um pequeno prédio principal no canto. Emma estacionou em frente a pousada deserta e todos desceram do veículo. A névoa era intensa e dificultava a vista. Os três adentraram o pátio e seguiram Emma, que dirigia-se ao prédio principal.

– O que está fazendo?

– Bom... - Emma parou um instante - Isso é uma espécie de hotel certo? Então se... e somente se, ele estiver aqui, deve ter algum registro lá dentro: hospedagem, estadia ou sei lá.

– Bem pensado. - disse a menina.

– Hum... - Emma virou-se e continuou a atravessar o pátio.

Seguindo o pátio, Emma pôde ver, através da névoa, com mais detalhes, um dos poucos carros que estavam estacionados no local. Embora estivesse velho e deserto assim como os outros, este em especial, chamou-lhe a atenção.

– Esse carro... - disse.

– O que houve? - perguntou Sebastian.

– É do mesmo modelo que o dele... - ela respondeu, temendo que estivesse de fato prestes a encontrá-lo.

– Ótimo!!!

– É... ótimo... - ironizou.

Emma aproximou-se do carro, esforçando-se para perceber cada vez mais detalhes através da densa neblina e aliviou-se ao se dar conta de que a placa do veículo era diferente da do seu pai.

– Pela placa não é o carro dele. - disse Emma.

– Droga... - Sebastian reclamou, olhando para dentro do carro com o rosto junto ao vidro - Ei... olha ali...

– O quê? - perguntou a menina, aproximando-se.

– Tem uma pasta no banco da frente!! No mesmo estilo daquela que encontramos na casa dele, em Brahms.

– Ok, mas... está trancado!! - disse Emma apertando a maçaneta da porta.

– Ainda está... - Sebastian estendeu o cotovelo para o alto e em um golpe só ,quebrou o vidro da janela da frente, produzindo um barulho estrondoso.

O barulho dos cacos de vidro e dos estilhaços se espalhando pelo chão ecoou fortemente por todo o pátio e cortou o silêncio em meio a névoa, deixando os três estáticos diante da cena produzida pelo acontecido. Não demorou muito até que, após o estrondoso som, um leve terremoto fosse sentido sob seus pés.

– O.. o que é isso? - perguntou a menina misteriosa, agarrando-se ao braço de Sebastian.

– Eu não sei... - ele respondeu.

– Enfim... vamos pegar a pasta e... s... Se.. Sebastian...! - disse Emma apontando pra ele.

– O quê? - ele olhou para trás para ver o que Emma apontava, quando viu, não um, mas vários corpos estranhos emergindo do solo.

Era uma espécie de criatura estranha, embora tão tosca quanto as já encontradas era diferente de todas já vistas, tinha a forma de um homem com o corpo totalmente sujo, porém possuía as pernas finas e atrofiadas e andava apoiado pelos seus braços musculosos, ligados a um tronco enorme. Seus olhos eram costurados e com a boca grunhia em agonia. As criaturas começaram a andar vagarosamente em direção aos três, despertando pânico e repulsa.

– Pro prédio principal rápido!! - gritou Emma, já correndo.

– A pasta! - Sebastian lembrou-se ao chegar ao meio do caminho - Você! – dirigiu-se a menina - Vá com a Emma! - disse voltando ao carro.

– Deixa ela pra lá! – gritou Emma.

– Não!!! Pode ser uma pista!

– E se não for?

– Vou correr o risco! – gritou ele.

Enquanto Emma e a garota correram para a porta do prédio principal, Sebastian correu arriscadamente de volta em direção ao carro, as criaturas, que surgiram de vários cantos do pátio se aproximavam cada vez mais. Ele abriu a porta do carro, ajoelhou-se no banco do motorista, estendeu o braço e alcançou a pasta, porém antes que pudesse sair foi surpreendido com um soco avassalador em suas costas, jogando-o com tudo contra a parte interna da porta do carona. Sebastian virou-se e viu que uma das criaturas tentava prestes a entrar no carro, um gesto em falso e aquele seria seu fim. Ele chutou sua cabeça, e por falta de estabilidade devido à falta de pernas hábeis, esta caiu de costas no chão. “Não dá pra sair!!” o rapaz pensou, cerrando os dentes, ao ver que várias criaturas aproximavam-se do carro em todas as direções e que não havia uma só porta pela qual ele pudesse sair sem pego e consequentemente despedaçado pelos braços enormes que aqueles seres possuíam. “E também não temos tantas balas assim, droga!” Sebastian fechou a porta antes que a criatura recuperasse a estabilidade e jogou-se no banco de trás, longe do vidro quebrado, pelo qual as criaturas não poderiam passar devido ao troco largo que tinham. As criaturas começaram então a subir em cima do carro por todas as partes possíveis, a fim de pegar seu prêmio, que se encolhia no banco traseiro com a pasta pressionada ao peito.

Emma e a garota olhavam em silêncio, apreensivas, escondidas atrás de um latão de metal próximo à porta principal. Sebastian estava também estático, pressionando-se contra o banco, e, em questão de segundos, o silêncio causado pela ansiedade de todos voltou a reinar no pátio. Emma, por sua vez, percebeu que as criaturas também começaram a se acalmar conforme o silêncio imperava e acabou por ter uma ideia.

– O som... – ela disse baixinho - ... as atraí.

– O quê? – perguntou a menina.

– O som! É isso!

Emma rapidamente pegou um cano de ferro que estava jogado ali próximo e acertou o latão com toda a força que tinha, produzindo um som metálico estrondeante. As criaturas ficaram imóveis por um momento e viraram suas cabeças para a fonte do som: as duas garotas.

– Tá maluca? – perguntou a menina arregalando os olhos.

– Acho que sim! – respondeu Emma – SEBASTIAN!!! – ele ergueu a cabeça e olhou para ela pelo vidro traseiro – CORRE PRA PORTA PRINCIPAL!!! EM SILÊNCIO!! – disse, golpeando o latão novamente – VENHAM AQUI SUAS IDIOTAS!!!

As criaturas começaram a grunhir novamente, desceram todas do carro e puseram-se em direção a Emma e a garota. Sebastian, vendo a oportunidade, abriu a porta traseira e caiu de costas no chão, ainda um pouco dolorido pela pancada de momentos antes, e engatinhou cuidadosamente em meio ao pó entre os monstros em direção à porta principal.

– Vem agora é nossa vez! – disse Emma jogando o cano na cabeça de uma das criaturas e puxando a menina pela mão.

Ambas correram até a porta do prédio principal e chegaram quase que ao mesmo tempo que Sebastian, Emma abriu a porta, os três entraram e trancaram-se lá dentro, em segurança.


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Notas finais do capítulo

Emma, Sebastian e a garota, diante da decepção de não encontrarem o caminho de volta, discutem dentro do carro, essa discussão leva a garota misteriosa a ter mais um de seus surtos. Nesse surto ela pronuncia as palavras "Jacks.Inn". Os três descobrem que Jacks.Inn na verdade é uma pousada e vão até lá atrás de pistas. Chegando lá, Emma reconhece um carro do mesmo modelo do pai dela, ao tentarem abrir, são atacados. Porém conseguem escapar em segurança.



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