Cartas de Amor escrita por Palavras Incertas


Capítulo 2
O grito dos desesperados


Notas iniciais do capítulo

Oiiii pra você que está lendo isso! Eu demorei neh?! Sou uma incompetente, podem falar. Mil desculpas, muitas provas e tarefas e trabalhos, mas o importante é que eu voltei com um novo capítulo. E eu queria muito mesmo agradecer a leitora Percabeth20 pelo comentário, a Daughter of Lighting pelo comentário super fofo e incentivador, e por ter me dito o nome do filme que a fanfic é inspirada ( Para Sempre), e a Sophia Chase, por ter favoritado e comentado e por ser fofa e legal e um pouco louca por me acompanhar em mais essa fanfic.



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O grito cortante de Annabeth se prolongou por um bom período de tempo. Ela se contorcia e tentava me afastar. Eu sabia que deveria ir para longe dela, mas algo na sua reação exagerada não fazia sentido. Algo não, tudo na reação exagerada dela não fazia sentido. Eu não conseguia entender, por que ela iria me querer longe? Não prometemos cuidar um do outro? Nós não pronunciamos aquele discurso clichê de " na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte nos separe"? Nós não resolvemos enfrentar todas as decepções da vida juntos? Mas Annabeth continuou gritando, e eu me distanciei dela.

Saí do quarto dela em passos lentos, tendo tempo de captar seu olhar desesperado e apavorado. Ela estava com medo. Ela estava com medo de mim. E eu estava destruído. O olhar dela, aquele olhar de que não me conhecia, de que achava que eu poderia machucá-la, que eu era um estranho perigoso, me quebrou por inteiro, me partiu em mil pedaços.

Fui me afastando um pouco mais até quase colidir com uma enfermeira, que passava praticamente correndo, indo em direção ao quarto 243, o de Annabeth. E depois de algum tempo só havia o silêncio novamente, minha esposa deveria estar sedada, caindo em um mundo negro e sem sonhos.

– Senhor, o que estava fazendo no quarto da paciente e o que a fez gritar? - A enfermeira que aplicou o sedativo em Annabeth me interrogou. Notei que ela não era a mesma que tinha me levado para ver a minha esposa, era outra, e que em sua pergunta havia um tom de acusação. E foi justamente esse tom que me fez explodir, eu já estava cansado de esperar sem ter respostas, já estava estressado pela minha impotência, já estava me odiando por não poder fazer nada, já estava destruído pelo olhar de Annabeth, e agora estava com raiva. Raiva por acharem que eu machucaria uma das únicas pessoas nesse mundo que eu daria minha vida.

– Eu sou o marido dela e uma das enfermeiras me deixou vê-la. Eu não sei porque ela começou a gritar, aliás, esse não deveria ser o seu trabalho? Me diga você, por que ela começou a gritar? - Gritei liberando toda a minha frustração.

– Senhor, se acalme, ou terei que chamar a segurança. - Foi tudo o que ela disse.

Eu não sabia se havia seguranças em hospitais, eu honestamente não sabia. Talvez ela só quisesse me fazer calar, já que pedir pra uma pessoa nervosa se acalmar não funciona, ameaçá-la parece uma boa opção. Entretanto, independentemente de qual fosse a sua intenção, eu me afastei dela e sentei em um banco perto de muitas revistas velhas com capas rasgadas.

Voltei a fazer o que eu estava fazendo de melhor nesta noite: esperar.

E continuei esperando.

Já estava lutando contra uma força invisível, um cansaço imenso, estava com sono e minhas pálpebras estavam se fechando quando uma das enfermeiras me disse que o médico responsável pela cirurgia de Annabeth queria me ver. A adrenalina e o medo que eu estava sentindo antes voltaram, me despertando de meu estado de sonolência. Finalmente teria minhas respostas, saberia como minha Annabeth estava, saberia como ela ficaria, mas ao mesmo tempo temia por elas, tinha medo do que eu poderia escutar, tinha medo de entender o olhar de minha esposa e seus gritos desesperados. Pela primeira vez desde que eu cheguei nesse hospital eu quis ficar parado esperando. Porém eu me forcei a andar pelos corredores brancos até chegar no consultório do médico.

– Bom dia senhor Jackson. - O médico me cumprimentou com um sorriso amigável, o que me fez notar duas coisas: a primeira foi que já estava amanhecendo e eu não havia percebido, jurava que ainda era noite, a segunda era que eu odeio pessoas que lhe oferecem sorrisos amigáveis tentando minimizar a situação. - Sou o doutor Crashfield, como está?

Eu esperava que, como médico, ele soubesse o que poderia perguntar ou não, mas parece que eu estava terrivelmente enganado. Não entendo por que as pessoas perguntam como você está quando não querem uma resposta sincera. Honestamente não entendo.

– Estou sobrevivendo. Tem notícias da minha esposa? - Perguntei tentando evitar mais conversa inútil que não me levaria a lugar nenhum.

– Tenho, ela vai ficar bem, provavelmente vai precisar de algumas seções de fisioterapia e precisará ir a um psicólogo, mas ficará bem.

Nesse momento eu soltei o ar que nem havia percebido que estava segurando e relaxei minhas mãos que estavam contraídas. Um alívio imenso percorreu o meu corpo. Quase comecei a rir de tão aliviado que eu estava.

– Só que tem um porém. - Ele continuou.

Sempre tem, nunca nada na vida é completamente perfeito, sempre tem algo para estragar. Pensei que eu estaria pronto para ouvir o que o médico iria dizer, mas eu não estava. Não estava e nunca estaria. Nada na vida me prepararia para suportar o peso daquelas palavras.

– Sua mulher perdeu a memória. - O doutor Crashfield disse depois de um longo momento de hesitação.

– Ela perdeu a memória? - Perguntei incrédulo repetindo o que o médico tinha dito. Eu tinha entendido, mas não queria que aquilo fizesse sentido.

– Sim e não, ela perdeu parte da memória, mais especificamente seis anos. Entretanto não se preocupe, é um sintoma até comum nesse tipo de acidente...

– Ela não se lembra de mim. - Interrompi o discurso daquele homem, não queria escutar sobre possibilidades e probabilidades. Só queria que ele dissesse que eu estava errado, que ela se lembrava de mim, mas pelo olhar que Annabeth me lançou, eu sabia que eu estava certo.

– Infelizmente não. - Ele me deu um tempo para absorver a informação e continuou a falar. - Isso nos leva a outro ponto. Vocês moram juntos, certo?

Somente assenti com a cabeça.

– É melhor que vocês se separem por um tempo, que ela vá morar com os pais, pelo menos até que ela se recupere do acidente, você é um estranho para ela agora.

– Os pais dela estão mortos. - Era verdade, os dois tinham morrido de problemas cardíacos alguns anos atrás, ainda me lembro de segurar a mão dela enquanto andávamos até o cemitério, em um dia de outono e em um dia de verão, e depois de abraçá-la até que suas lágrimas secassem e continuar abraçado até que ela dissesse que iria ficar bem e eu não acreditasse nisso, mas concordasse mesmo assim.

– Algum tio ou tia? - O médico insistiu.

– Todos mortos.

– Irmãos?

– Filha única.

– Primos?

– Ela tem um primo, mas ele está preso na Bélgica.

– Bom, isso é um problema, isso é um grande problema. Ela vai ter que morar com você então, mas tome cuidado, pois ela não se lembrará de você, não tente insistir em nada e tenha em mente que ela não é mais a mesma mulher que era ontem.

Ele pode ter usado outras palavras, mas eu entendi, entendi completamente e claramente o que ele quis dizer. Annabeth não me ama mais. E eu não posso demonstrar meu amor para ela para não assusta-la, não posso acordar todo dia com um beijo de seus pequenos lábios avermelhados, não posso ficar encarando seus olhos cinza e me perdendo na profundidade deles, não posso cantar pra ela de modo desafinado quando a nossa música toca no rádio, não posso dizer pra ela o quanto ela linda, nem leva-la para jantar toda sexta a noite, e não posso deixar que ela leia nenhuma das cartas que eu tenho certeza de que jamais pararei de escrever para ela.

– Vou tomar cuidado. – Garanti ao médico e me retirei.

Meus pés me levaram para a saída do hospital, não sabia que estava indo pra lá até que cheguei lá, pois tudo o que passava em minha mente era que Annabeth não se lembrava mais de mim, que toda nossa vida, todo o nosso amor não era mais nada para ela. Ela não se lembrava de mim, e eu me lembrava dela, me lembrava de cada detalhe, me lembrava de cada mania. E sempre me lembraria. E isso me quebrava, isso me matava por dentro da maneira mais dolorosa possível. Nosso amor não era sempre perfeito, havia brigas, mas nós sempre as superávamos, porém agora, era só eu e só ela, não havia um nós, não havia um para sempre.

E, invertendo o quadro, agora era eu, desesperado, gritando.


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Notas finais do capítulo

Foi isso, espero que tenham gostado. Me digam o que acharam,
Até o próximo capítulo.
Beijinhos da autora...



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