Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 26
O Fim do Pacto


Notas iniciais do capítulo

Ai que saudades de postar aqui! É difícil a gente abandonar nossa rotina e tal (confesso que ficava no Nyah! o tempo todo que eu tinha livre).
Enfim, estamos de volta e de capa nova. O que acharam?



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PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

O fato de Valeska ter nos abandonado por causa de um cara me estressava um pouco ainda. Pensando por outro lado, ela fez quase do mesmo jeitinho que Lara fizera com o nojentão do Douglas.

Pensei em não estar levando aquele pacto que as meninas e eu fizemos na infância muito a sério. E já que ninguém mais se importava com isso, eu decidi, naquele dia, acabar com ele.

Márcio QI me falou sobre um muro, segundo ele maldito, que permitia que pulássemos para dentro do quintal da casa da Lara. Era lá onde estava enterrada a caixinha de fósforos onde colocamos o papel com as gotinhas do nosso sangue.

O pacto seria desfeito naquele dia.

— Márcio, fica de quatro. — ordenei. Ele se espantou. Estávamos frente ao tal muro do quintal da casa dos Pacheco.

— Oi? Peraí, Gabi. Você maltrata muito os seus amigos, sabia?

— E você anda com a mente muito suja pro meu gosto, QI. — retruquei. — Quero que você fique de quatro para que eu possa subir no muro, entendeu?

Ainda pestanejando, Márcio QI ficou de quatro e eu subi nas costas dele. Comecei a analisar por onde eu subiria.

— Se quiser, Gabi, já pode começar a escalar o muro.

Percebi que o meu querido amigo estava sofrendo e reclamando, então decidi ficar mais um tempinho em cima dele só de mau. Depois comecei a subir. Quando cheguei no topo do muro, percebi que os meus joelhos estavam em carne viva, ralados por causa da aspereza da parede.

— Agora sobe, QI! — gritei.

— Sem ninguém pra me dar “pezinho” vai ser difícil.

— Você é um cavalheiro. Tem que ajudar as damas. — brinquei, enquanto eu gargalhava com o coitado tentando subir — Faz o seguinte: finge que a Lara tá aqui no quintal. Te vejo já, já!

Após dizer isso, pulei para dentro da casa e caí na areia fofa do quintal.

***

Aquele quintal me trazia algumas lembranças boas da minha infância. Normalmente, aos fins de semana, Lara, Valeska e eu nos reuníamos ali para brincar de bonecas e trocar confidências até anoitecer. O tempo parecia passar tão rápido!

Eu suei pelos olhos. Chorar não era uma coisa típica minha, mas aquela árvore do quintal, a qual sempre brincávamos embaixo dela, me causava uma sensação estranha. Parecia que meu peito encolhia e apertava meu coração.

Observei o local onde enterramos a caixinha com o nosso sangue. Com as mãos mesmo, comecei a retirar a areia do chão e cavar. Não era um buraco muito profundo. Tão logo vi que a caixinha de fósforos ainda estava lá, quase dez anos depois, um pouco destruída talvez por causa de chuvas, que deixavam a terra molhada, e obviamente por causa do tempo.

Retirei um isqueiro de dentro do meu bolso e acendi uma fagulha na caixinha de fósforos. A chama a consumiu, assim como consumiu o papel com as nossas gotinhas de sangue.

O pacto havia acabado.

Ouvi um baque muito forte e muito alto, vindo atrás de mim. Olhei para trás: Márcio QI acabara de cair lá de cima do muro. Levantou-se instintivamente e tirou a areia de suas roupas, espalmando todo o corpo.

— A gente já pode ir. — falei. Márcio ficou “P” da vida.

— Como assim?! — exclamou. — Eu demoro um ano pra subir nessa porra de muro e quando eu finalmente pulo pra dentro do quintal você diz que a gente já pode ir? Isso é uma falta de respeito!!!

— QI, querido. Calma, você está muito estressado. Tive uma ideia: vamos entrar dentro da casa.

— Impossível. A gordona da Sheila sempre deixa o cadeado do portão fechado.

— Tenho os meus truques. — retirei um grampo do meu cabelo. Sim, eu uso.

Aproximei-me do portão da casa, cuja dava acesso a cozinha e os outros aposentos e peguei o cadeado. Cinco minutos depois nós estávamos dentro do casarão.

— Você sabe que o que a gente tá fazendo é crime, né, Gabi?

— Márcio QI, seja homem! Tá se tremendo todo. Não vai dar uma de Lucas de "Um Conto Sobre Estrume"¹ e se mijar aqui, né?

— Eu... eeu... ér...

Ouvimos um som. Parecia ser um móvel rangendo. Que medo! Mas eu queria parecer superior ao QI, pelo menos no quesito coragem. Então eu não demonstrei qualquer temor.

— Será que tem alguém morando aqui ainda?

— Acho que sim, Gabi. — cochichou Márcio QI.

— A gente pode procurar por alguma coisa que possa inocentar a Valeska e colocar a Senhorita Rolha de Poço na cadeia.

Nós não sabíamos o que procurar. Além de estarmos correndo um grande perigo, já que sabíamos do que Sheila era capaz.

— Gabriela, vamos voltar? — sugeriu o nerd. — da última vez que estivemos aqui, nos deparamos com uma cena nada agradável: fornicação com tentativa de assassinato.

Pelo ranger, acho que Sheila estava fornicando mesmo com alguém. Mas se não era com o Sr. Giuseppe, que Deus o tenha, quem era o louco de ir pra cama com aquela tonelada de mulher?

Ah, mas eu queria saber! Corri as escadas e cheguei perto da porta do quarto. Márcio QI, sem escolhas, me seguiu.

Os rangidos vinham mesmo do quarto, mas cessaram.

Olhei pela brecha da porta: Sheila estava deitada na cama, com um cara. Jovem, moreno e alto. Um pouco familiar até. Encolhi-me, certificando-me que eu não seria vista pelo casal.

— Gabi, eles estão fornicando. Se você quiser ver pornô eu te indico um site, não precisa ficar aqui vendo esse circo dos horrores.

— Cala a boca, QI, seu nojento! — cochichei novamente e acertei um tabefe leve por trás do seu pescoço. — Acho que é amante dela. E claro que esse cara está com ela por causa do dinheiro. Qual é o tipo de cara que se atrai por uma pessoa como ela?

Eu estava com recalque porque até a Sheila tinha namorado e eu não.

— Acho que o amor é mesmo cego. — disse Márcio QI, quando viu a cena. Eles estavam cobertos com um lençol branco encardido, deitados em cima da cama.

Sheila se levantou e vestiu um roupão. Começou a conversar com o amante:

— João Paixão, meu querido, está pronto para começar uma nova vida, ao lado da mulher que você ama?

João Paixão? Será que era aquele que nós estávamos pensando? O que interessava era que o cara olhou para Sheila e ela o encarou, exigindo uma resposta.

— Claro, meu amorzão! Uma mulher como você a gente não encontra em qualquer esquina. — ele falou, obviamente mentindo, com asco na voz.

Puxei meu celular do bolso e comecei a filmar. Também comecei a rezar para que ela confessasse os seus podres.

Sheila tirou o roupão, exibindo uma vista horrenda do seu corpo borrachudo. Olhava-se no espelho e dava vários beijinhos no ombro. Arrumava o cabelo e retocava o batom. O grande sutiã que sustentava os seus seios parecia que iria arrebentar. A calcinha parecia uma capa de cobrir sofá.

— Tem razão, meu preto. Eu sou uma diva, viúva ... linda — soltou mais beijinhos no ombro — e os homens caem aos meus pés. E o melhor de tudo, agora que eu peguei a herança e vendi a casa, eu sou riquíssima. Poderosa!

Amor, você é a dona do mundo! — gargalhou João Paixão. — se eu fosse você, pediria escolta. Aliás, eu mesmo serei sua escolta pra sempre.

Sheila se deitou ao lado do amante e lhe cobriu de beijos. Babou o coitado.

Que declaração de amor! Eu te devo muito, Joãozinho — afagou os cabelos dele — se não fosse por você, eu não teria matado aquele velho e ficado com todo o dinheiro dele. Eu comprei nossas passagens e iremos para Paris hoje à noite. Eu sempre quis conhecer a Inglaterra!

— Que burra. Isso é o que dá não terminar o ensino fundamental. — Márcio QI não pôde deixar passar o comentário sobre os conhecimentos de geografia da nossa vilã.

— Pobres que enricam da noite para o dia... agora cala a boca. Ela já confessou muita coisa e tá tudo filmadinho aqui. — voltei a atenção para a conversa dos pombinhos.

Eu sempre me admiro com o nosso golpe de sorte. Não foi um golpe, foi uma pancada, aliás. — João Paixão acendeu um cigarro e deu uma tragada — Aquela Valeska é muito burra hein?

Uma imbecil. — concordou Sheila — ela estava no lugar certo e na hora certa. Queria salvar o Giuseppe, aquela magrela... Acabou que o velho morreu de todo jeito e quem levou a culpa foi ela.

A casa caiu para Sheila.

— Eu já deixei a Clarinha na casa do meu irmão. Ele disse que ficaria com ela enquanto vamos para a nossa lua-de-mel. Pelo menos eu me livro daquela peste de filha. Só que ele nem imagina que eu nunca mais vou pegá-la. — gargalhou.

Puxei Márcio QI pela gola da camisa avisando para sairmos dali e fiz com que ele me ajudasse a pular o muro de volta. Pegamos um ônibus e partimos para a delegacia mais próxima.

PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Consegui um celular para ligar para Gabi e Márcio e manter contato com eles, mas nenhum dos dois atendia.

Bom, depois do barraco em frente ao prédio e dos mimimis do técnico do Eriberto sobre o fato de nós devermos nos comportar como homens, cada um foi para a sua suíte. Piter saiu com o rabinho entre as pernas enquanto Isaac e eu sambamos na cara dele.

A minha suíte era ótima: geladeira cheia, TV a cabo, uma cama de casal gigante, um banheiro maior ainda... Eu estava no paraíso! Ser Gustavo realmente estava me proporcionando um mundo de oportunidades.

Recebi um chamado da recepção do hotel: o técnico Eriberto queria falar comigo. Saí da suíte e fui para o hall do elevador. Estava demorando pra caramba.

Fui para as escadas. Comecei a descer quando percebi que havia alguém me seguindo.

Seria Piter em busca de uma retaliação?

Eu estava com medo, descendo as escadas o mais depressa possível. Não havia mais ninguém nos corredores do hotel àquela hora da noite. Quanto mais rápido eu corria mais os passos que vinham atrás de mim aumentavam.

Eu estava perdida e não tinha Isaac para me defender naquele momento.

Acabei tropeçando nos degraus da escada do quinto andar e saí rolando até chegar no final. Eu sofro.

Levantei-me. Olhei para trás. Piter estava lá. Ele me deu um empurrão e eu me choquei contra a parede. Seus olhos estavam muito vermelhos. E os meus exalavam temor.

Pensei que se contasse que eu sou mulher ele me deixaria viver.

— Piter, não me bate! Por favor! Eu tenho uma coisa para te contar. — implorei.


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Notas finais do capítulo

A casa caiu mesmo pra Sheila? haha
E a Valeska, vai ter que contar que não é Gustavo?
:o :o



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