Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 15
Tirem as Crianças da Sala


Notas iniciais do capítulo

Oi, desculpe não estar postando regularmente. A fic tá chegando nessa parte meio tensa, mas sempre vai ter um pouco de comédia pra tirar esse "clima" pesado rsrsrs



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PALAVRAS DE DOUGLAS LORETO

Eu precisava fazer aquilo. Eu precisava mentir. Antes que me julguem, eu posso contar tudo?

Minha mãe morreu quando eu tinha dezesseis anos. Não, ela não era uma ricaça que caçava talentos no exterior. Eu menti pra vocês, eu menti para Lara, eu menti para todos, mas eu precisava!

Eu fiquei sozinho no mundo. Não tinha pai, não tinha família nem ninguém que me amparasse. Antes de acontecer aquela tragédia, era só eu e mamãe no mundo. Depois, era apenas eu. Eu precisava me virar sozinho, juntar minhas próprias forças e lutar se eu quisesse sobreviver naquela cidade enorme que é o Rio de Janeiro.

Minha mãe morreu devido a uma pneumonia muito forte. Ela não se tratava, dizia que tinha que trabalhar se quisesse manter o aluguel e as compras do mês. Quando ela faleceu, tempos depois, eu fui despejado da casa cuja nós morávamos, e fiquei sem ter para onde ir.

Dormi na rua por muitas noites. Passei muita fome, muita sede e, às vezes eu não sabia se dava graças a Deus por chover , pois se eu matava minha sede eu não podia dormir com tranquilidade.

E em que situação um garoto de dezesseis anos pode dormir no meio da rua com tranquilidade?

Foi na rua que eu conheci uns caras. Eles que me ensinaram a sobreviver àquela perigosa floresta que era a madrugada do Rio de Janeiro. Bom, eles, Jennifer e Thayla, não eram exatamente caras. Eram travestis. Sempre faziam programas num local próximo onde eu “residia”. Tornei-me amigo deles, sempre me davam uns trocados. Certa vez, quando eu os fazia companhia enquanto um cliente não chegava, um carro parou perto de nós. O motorista abaixou o vidro.

— Oi, gato... — Thayla se escorou na janela do carro, encarando o motorista.

Ele, por sua vez, afastou a travesti e ficou olhando para mim. Olhava fixamente. Tinha por volta de 40 anos, roupas sujas, dentes amarelos, provavelmente por ser fumante.

— Ei, você... Novo aqui?

— Err... Eu? Eu só tô fazendo companhia a elas. — respondi.

— Não quer dar uma voltinha comigo? — ele puxou da carteira uma nota de cem reais e a jogou pela janela do carro, de modo que ela caísse perto de mim.

Eu não hesitei em pegar a nota de cem reais e guardar no meu bolso, porém o que ele queria fazer comigo era tão sujo, estúpido e imundo que me dava calafrios. Eu não queria. Mas eu precisava.

***

Chorando, voltei para o flat. Aquele local era tão vazio sem a Lara... Para minha surpresa, o gordo que Lara pegou comigo na cama continuava lá.

— Demorou hein? — ele deu uma tragada num cigarro imundo, tirou um bolo de notas de dentro da camisa, pôs em cima do criado mudo e ficou olhando para mim.

— Vai embora.

Ele tentou tocar meu rosto, fazer algum tipo de carinho.

— Feliz aniversário. Coloquei unzinho a mais na quantia que a gente combinou. Sinto muito pela sua namorada.

Ele mesmo foi até a porta e saiu.

Música: Slipknot – Snuff

As coisas de Lara ainda estavam ali. Seus chinelos, suas roupas jogadas pela sala e pelo quarto. Na toalha eu ainda sentia o cheiro dela... era tão difícil saber que eu me mantinha com um dinheiro conseguido tão clandestinamente. Que o aluguel daquele flat, aquele carro velho, tudo era mantido com o dinheiro dos programas. O pior de tudo era achar que eu poderia manter outra pessoa daquele jeito.

Alguém tocou a campainha. Atrás da porta havia um cara bem apessoado. Trazia consigo uma mochila.

— Eu... eu sou... patrão da Lara... — ele gaguejava ao falar comigo, talvez por Lara ter dito a ele por que fora embora — vim pegar as coisas dela.

Eu não disse nada. Escancarei a porta, sentei-me no sofá e o homem, instintivamente entrou, indo até o quarto e catando todas as peças de roupa femininas que via pela frente. Saiu, em seguida, sem se despedir. Bateu a porta.

PALAVRAS DE LARA PACHECO

Apenas me restava contar toda a verdade a Marcelo, o dono da livraria para qual eu trabalhei naquelas últimas semanas. Eu contei tudo, inclusive que eu mentira a respeito da declaração da escola.

Ele foi muito gentil em me oferecer um copo d’água e ainda em ir buscar minhas poucas coisas no flat daquele cara...

— Lara, se você precisava de um emprego, não precisava ter mentido. — disse ele — de qualquer forma, se você quiser continuar trabalhando aqui, eu mantenho o seu cargo. Se quiser, eu posso dar um jeito de conseguir os seus documentos escolares e te matricular em uma escola daqui.

— Não, Sr. Marcelo, eu lhe agradeço muito — esfreguei os punhos nos meus olhos, inchados por causa do choro — mas eu vou voltar para minha cidade. Minha estadia aqui no Rio acabou.

Estava decidido. Com certeza meu pai não iria me querer de volta, mas talvez meus amigos, Gabi, Valeska e até o Márcio, poderiam me perdoar.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Depois daquela situação terrível que presenciamos na casa dos Pacheco, quando vimos Sheila tentar matar o próprio marido, Giuseppe, sufocando-o com os próprios seios, Valeska, Márcio e eu ficamos preocupados.

Férias mais do que morgadas. Ponto. O medo de que algo pior pudesse acontecer com o pai de Lara ainda me fazia ficar acordada. Sheila era uma psicopata!

O que ela queria matando o velho?

Talvez uma herança!

Peguei o celular em cima da minha mesa de cabeceira. Havia algumas SMS, todas de Valeska.

“Oi, preciso falar com você. Me liga”

Quem tem celular com número da Oi sabe o que é isso. Você vai pegar o celular, brilha os seus olhinhos quando vê uma mensagem de texto não lida, e, quando lê, é essa mensagem que a operadora oferece àqueles que não têm créditos.

Na verdade, eu também não tinha. Todos os números da minha agenda são salvos com o famoso 9090 na frente.

Não querendo mudar de assunto, peguei o celular da minha mãe e liguei para a Valeska. Eram três da manhã.

A-Alô. Quem tá falando? ­— disse ela, com um tom sonolento.

— Sou eu, criatura. Só vi tua mensagem agora. Mulher, tem vergonha, coloca crédito nesse teu celular!

Aff, nam, tu me acorda uma hora dessas pra me mandar colocar crédito no celular? Eu tava dormindo, sua égua!

— Não, sua tapada! Queria saber o que é que tu queria comigo. Diz logo!

Ah! — ela pareceu se lembrar de algo importante — Gabi, mulher, tu não acredita quem deu entrada no hospital onde minha mãe trabalha.

— Quem? Bora, fala logo!

O Sr. Giuseppe. Mamãe disse que ele está muito mal.

Fiquei alguns segundos em silêncio.

Será que a Sheila tem alguma coisa a ver com isso? Gabi, mulherzinha, eu não quero nem pensar. — continuou Valeska.

— É óbvio que ela tem! Você mesma viu o jeito que essa baleia pulou em cima do Sr. Giuseppe. Ela queria esmaga-lo, trucida-lo, sufoca-lo com aquele monte de banha... olha, Valeska, eu tô preocupada. A Sheila tá de olho na grana do velho, e é melhor que a gente avise a Lara. Eu vou tentar procurar o tal do Douglas Loreto no Facebook e falar com ele.

Falamos mais um pouco e depois desligamos.

PALAVRAS DE LARA PACHECO

Não sabia se aguentaria a viagem, mas eu precisava voltar pra casa. Aquela cidade me traria as piores lembranças da minha vida.

Adentrei no ônibus, escolhi uma poltrona e me sentei do lado da janela. Encostei minha cabeça no vidro, fechei os olhos e tentei adormecer. Eu desejava dormir para sempre. Ou, no máximo, a viagem toda. Pouco provável.

Rezaria para que minha família e meus amigos me perdoassem.


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Notas finais do capítulo

E agora, gente? Será que os garotos vão conseguir salvar o pai de Lara das garras da megera Sheila?
E a Lara, o que vai acontecer com ela quando chegar? :o



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