PoV. Nico Di Angelo

Percebi que ela me fitava, preocupada.

Por dentro, eu tentava me recuperar do susto. É no mínimo esquisito encontrar uma menina que é igual o seu amigo, só que é uma menina. A pele dela não era tão bronzeada quanto à pele de Percy Jackson – como se não pegasse sol há algum tempo. Os cabelos eram castanhos e compridos. Os olhos, porém, eram verdes como os dele. Usava uma blusa verde-água e saia jeans – Não parecia se importar com o frio.

Ela era bonita.

– Sim, você apenas me lembra alguém que eu conheço. – afirmei, melhorando minhas expressões.

Esconder sentimentos é algo muito útil.

Desde a derrota de Gaia, decidi tentar viver como um garoto normal... Eu já estava a algum tempo no Submundo agüentando Deméter e Perséfone discutindo por causa do cereal. Cara, isso é muito irritante. Já o Acampamento... Digamos que é difícil para outros semideuses aceitarem um filho de Hades. Resolvi sumir por uns tempos.

Ela suspirou aliviada e disse:

– Hã...OK! Acompanhe-me – ela solicitou.

Subimos dois lances de escadas. A garota tinha um sorriso no rosto que aumentava cada vez que passávamos pelas prateleiras recheadas de livros. Tenho que admitir: É uma coleção de respeito. Nunca vi tantos livros juntos falando de um mesmo assunto. Eu tentava acompanhá-la, mas ela já atingira um ritmo frenético – como se tivesse bebido xícaras de café demais – ao mesmo tempo em que estendia sua mão para os livros, seus dedos tamborilando rapidamente – como se fosse uma criança brincando com as grades de um portão.

“TDAH, talvez.” – pensei.

– Você é sempre assim? – perguntei, erguendo a sobrancelha.

Parando de súbito, encarava-me com uma expressão de dúvida, como estivesse se perguntando: Assim como?

Alguns minutos se passaram até ela parecer lembrar-se da resposta.

– Ah, assim! – ela pigarreou – Isso é só o meu Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade ou, como eu prefiro chamar, TDAH.

– Oh. – fingi não saber exatamente do que se tratava.

Ela não poderia ser uma meio-sangue... Ou poderia?

– Qual é o seu nome? – perguntei.

– Silena... Silena Callegari. – ela fez uma pausa – Quem é você?

– Eu sou Nico Di Angelo, muito prazer. – respondi, em tom amigável... Ou quase isso.

– Bem, senhor Nico Di Angelo... Aqui está. – Silena me entregava um livro grosso. Grosso mesmo. – “O Guia definitivo: Mitologia Greco-Romana”, escrito por J. T. Smith.

– Este é um dos meus favoritos. Foi escrito pela Dra. Jasmine, uma grande amiga da minha mãe.

– Interessante. – murmurei.

Enquanto descíamos até o primeiro andar, folheei algumas páginas. Ali tinha mesmo muita coisa.

Ainda assim, ela pode ser uma meio-sangue. Preciso me aproximar dela e contatar o Acampamento. Lá vamos nós de novo.

Ao terminar de assinar o livro de empréstimos, tomei coragem e disse:

– Posso te ligar qualquer dia desses?

Silena deixara a caneta que estava segurando cair.

– O que foi? Eu não quis...

Ela baixou os olhos e arrumou uma mecha de cabelo que teimava em ficar no meio do seu rosto.

– Não me perguntam coisas assim... Eu sempre fui invisível para todo mundo. – confessou.

– Não para mim. – balbuciei meio rápido demais.

Ela levantou a sobrancelha.

Merda, eu não devia ter falado isso!

Ela escreveu seu nome e telefone. Acenei para me despedir, Silena fez o mesmo. Com o canto do olho, Silena rebolava, fazendo uma espécie de dança. Arregalei os olhos. Ela é esquisita.

Quando percebeu que eu estava vendo, correu em direção as prateleiras. Foi a coisa mais sensata que ela fez até agora.

Aproveitei para roubar – ou como prefiro dizer, pegar emprestado – uma foto dela com a mãe que convenientemente estava em cima da mesa. Percy precisava vê-la.