"E por mais que eu diga adeus, a minha maior intenção é ficar."

Mesmo estando descalça meus passos eram estrondosos contra o piso de mármore frio, o eco dava a ilusão de que haviam dezenas de pessoas andando pelo mesmo corredor, mas apenas eu estava ali, o que era um tanto quanto assustador e enigmático. O estreito corredor estava cheio de teias de aranha, mas apesar do tempo até que era fácil circular naquele local.

Depois de alguns minutos caminhando pude ouvir a entrada do corredor se fechar. Parei no lugar e sentir uma vontade enorme de correr de volta até a porta e dar um jeito de sair dali o mais rápido possível, mas já tinha ido longe demais para voltar como um gatinho assustado. Mantive-me firme e segui em frente. Até chegar ao fim do corredor que terminava em uma parede e novamente alguns segundos depois o corredor se abriu em que era a entrada para uma sala grande, havia acabado de passar pelo arco de entrada quando as tochas da sala foram se acendendo, uma por uma, até que eu pudesse ver claramente o lugar, e a luz que emanava do meu relicário foi sumindo aos poucos.

Sim eu fiquei assustada com o fato das tochas se acenderem sozinhas, mas fui obrigada a ignorar isso, até por que o que havia naquela sala era mais assustador do que isso. A minha frente, estendido na parede, estava uma pintura gigantesca, exatamente igual a do salão de festa, mas esta não estava em péssimo estado ou destruída comparando-se a outra, estava completa, incluindo a princesa dos Haruno.

Perdi o chão, tive de me apoiar na parede para não cair de joelhos, não conseguia acreditar em meus próprios olhos. Era eu, a criança na pintura era eu. O cabelo rosa, os olhos verdes, usando o mesmo vestido branco com o qual fui encontrada pelos Uchihas. Era por isso que havia achado o tom dos olhos dela semelhantes aos meus, por eles realmente eram iguais.

Respirei fundo tentando não deixar o pânico me dominar, eu tinha de ser racional e não me deixar levar pelas emoções, havia sido treinada para isso, precisava usar do meu treinamento, mesmo que nada mais fizesse sentido, mesmo que minha vida toda houvesse sido uma grande mentira, eu não sou uma Uchiha realmente, nunca fui, sou uma Haruno, mas agora o que eu preciso é de alguma coisa para vestir, antes que tivesse uma hipotermia.

Vasculhei a sala com os olhos e percebe que havia alguns baús espalhados pelo local, fui até um deles e assim que abri encontrei um vestido verde escuro, simples, mas bem quente, vesti ele meio desajeitada, e acabei deixando o espartilho frouxo, já que não havia como apertar da maneira correta sem alguém para me ajudar.

Devidamente vestida olhei a minha volta, percebendo que havia uma mesa no centro da sala, repleta de livros e papéis, uma estante grande e alguns mapas espalhados pelas paredes, neles podia claramente ver antiga divisa dos reinos, Uchiha, Haruno, Uzumaki, Sabaku no e Hyuuga.

Analisei bem os mapas, percebendo que os reinos aliados eram interligados, como posso dizer, por uma linha colorida, que demarcava representando a união entre eles. O Uchiha e Uzumaki eram ligados por uma linha verde escura, já o Haruno, Sabaku no e Hyuuga eram ligados por outra linha do mesmo tom. Mas nos dias atuais não era mais assim, depois da extinção do Clã Haruno os Sabaku no e Hyuuga, ficaram forçados a se aliaram aos Uchihas, mas apenas em comercio, eles realmente não apreciam os métodos Uchihas de governo e batalha.

Balancei a cabeça, eu sabia muito sobre essas coisas, aprendi tudo com o Itachi, enquanto ele estudava para se tornar o futuro rei do clã ele me usava como ajudante, então, digamos que eu saiba bastante sobre governo, especialmente do Uchiha. Aprendi também muito sobre a parte diplomática, como usar as palavras para convencer alguém a fazer algo que você queira, por que convenhamos que, é necessário ser muito bom em argumentos quando se cresce entre pessoas extremamente desconfiadas e rápidas de raciocínio.

Sobre a parte de batalha, aprendi tudo o que sei com o Sasuke, e não é pouca coisa, tanto que acabei me tornando uma das estrategistas do reino, por mais que os irmãos Uchihas tenham se oposto completamente a isso, se bem que, eles se opuseram a tudo o que colocava a minha vida em risco, e mesmo assim eu fiz quase tudo ao menos, mas como eu tive a benção do rei, que realmente admira minha habilidade em estratégias, não puderam fazer nada quanto a isso.

Pensando nessas coisas eu me dei conta dos futuros acontecimentos, eu não tinha mais nada disso, a partir do momento em que descobrissem que eu sou a princesa perdida dos Harunos, eles não confiaram mais em mim, eles jamais me deixaram voltar ao que era antes, seria considerada uma aberração, provavelmente perderiam toda a confiança que tem em mim.

Deixei-me cair em uma cadeira próxima, o que eu faria a partir de agora? Não posso simplesmente voltar para o reino depois de descobrir tudo isso, seria completamente loucura, eu tinha de fugir dali, por mais louco que essa ideia pareça eu tinha de sair do reino, tinha de descobrir o máximo possível sobre meu clã, sobre mim, o que farei de agora em diante.

Olhei os livros e pergaminhos sobre a mesa, um livro em especial chamou minha atenção, era menor que os outros e estava enrolado em uma fita de couro, a capa era do mesmo material em um verde musgo. O peguei curiosa sentindo uma sensação entranha meu coração batia mais rápido eu estava ansiosa para ver o que tinha escrito ali, ao abri-lo percebi que não era um livro, e sim um diário, e estava endereçado a mim.

Querida Sakura,

Se esta a ler este diário isso significa que o que mais temíamos veio a acontecer, e que não estamos mais ao seu lado, realmente espero que jamais precise encontrar isso, mas devido aos últimos acontecimentos sinto necessidade de escrever isso, caso algo venha a nos acontecer.

Minha filha querida, você é tão pequena, tão jovem, neste momento estou na varanda escolhendo as palavras certas a descrever os últimos acontecimentos em quanto lhe vejo brincando alegremente no jardim com seu pai e parece que nada de ruim esta a para acontecer, mas não é bem assim meu anjo. Há boatos de que uma guerra se aproxima não uma guerra qualquer, uma com nossos vizinhos e eu diria inimigos, os Uchihas, e eles não estão dispostos a perder. O que deixa meu coração de mãe aflito e o que me faz a vim a escrever.

Sinto orgulho de o nosso clã ser um dos mais poderosos que existem, e vejo como tu herdaste o mais puro poder e habilidades do sangue Haruno, mas nossas forças não são como a de nosso rival, desde que os Uzumaki se aliaram a eles, seu poder só tende a crescer e isso esta nos preocupando, Fugaku realmente deseja nossa extinção, e eu não sei se poderemos impedir isso.

Pretendo lhe explicar os motivos pelos quais tudo isto começou, afinal, toda guerra tem um inicio, e esta não é diferente, ela começou há 7 anos atrás, antes mesmo de nasceste. Eram tempos de calmaria, nunca havia pensado que poderíamos conviver em tanta paz com os outros clãs, isso tudo devido a um acordo entre seu pai e Fugaku, um ao qual eu discordava completamente.

Pouco depois que nasceste foi selado um acordo entre nossos clãs, a princesa herdeira do trono Haruno se casaria com o príncipe mais jovem dos Uchihas, assim poderiam unir os dois mais poderosos clãs em um só, se tornando assim invencíveis. Como havia dito eu discordava, pois a sua felicidade estava em jogo. O problema realmente começou quando seu pai percebeu o que aconteceria, os Uchihas não queriam a paz, eles queriam poder, queriam dominar todos os outros e para isso precisavam de nosso poder ao lado do deles, da nossa união que seria selada através de você.

Seu pai como um bom pacifista desfez o acordo, assim como eu, ele não queria isso para você, Sakura, queríamos a paz, apenas isso, não que outros clãs fossem destruídos ou rebaixados, nem que sua felicidade fosse colocada a perder graças a um acordo. Mas Fugaku viu isso como uma afronta a ele e seu clã e encerrou os dias de paz, desde então estamos lhe mantendo o mais longe possível de tudo isso, para sua segurança, mas não acho que conseguiremos por muito mais tempo...

Parei de ler ao ouvir um barulho vindo do lado de fora, relutante coloquei o diário de volta sobre a mesa e me levantei indo em direção ao corredor pelo qual havia vindo, afinal, era o único caminho que havia. Não sei por qual motivo não estava enlouquecendo com tudo, acho que depois de ter me transformado em lobisomem e descobrir ser uma Haruno, eu estava em um estado tão alerta e com uma quantidade tão grande de adrenalina em meu corpo graças à transformação, que ainda não havia parado para raciocinar direito, não conseguia reagir às coisas ainda.

Como imaginado, assim que me aproximei da porta ela se abriu, mas dessa vez se fechou tão rápido que me surpreendi, olhei em volta, o salão estava vazio, mas podia ouvir passos se aproximando, na verdade eram várias pessoas, e também conseguia ouvir o relinchar de alguns cavalos um pouco mais longe.

Depois de alguns segundos dez guardas do reino entraram no salão e estavam uniformizados, prontos para uma batalha, me olhavam completamente perdidos, afinal eu conhecia cada um deles e agora estavam ali, atrás de mim. Sasuke não era burro. Kanru deu um passo à frente e me olhou com nojo, o que realmente me confundiu, antes de dizer:

—Sakura, você esta presa por traição contra o rei, por espionagem...

—O que? — gritei completamente espantada com aquilo, eu estava sendo presa?

—... E por ser uma... Haruno.