Amor de Maroto escrita por Helena Prett


Capítulo 18
Cartas Sem Remetente


Notas iniciais do capítulo

eu tenho estudado muito, por isso o envolvimento de biologia e literatura hahaha
espero que curtam!

boa leitura

Atualização: Seguinte, eu estou pensando em escrever uma continuação para a fanfic Amor de Maroto e queria saber se vocês apoiariam a ideia. Eu sinto muita falta da dinâmica de publicar os capítulos e responder comentários de leitores, portanto acabei pensando nessa como a única maneira de suprir minhas necessidades de escritora. O meu principal problema é que escrever uma fic não é um processo da noite para o dia, ele requer muito tempo e paciência, então a minha real pergunta é se vocês teriam curiosidade de ler se eu elaborasse uma continuação. Se o caso for que não exista essa vontade, nem me darei o trabalho de me preocupar. Comentem o que vocês acham!



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Capítulo 18 - Cartas Sem Remetente

Muito tempo já tinha se passado desde que Lily brigara pela última vez com Tiago, o que era um recorde. Os amigos estranharam bastante, mas acabaram se acostumando com a nova amizade dos ex-namorados. Como antes, eles se sentavam em duplas das aulas, se sentavam lado a lado durante as refeições, fofocavam juntos, porém agora não era mais um compromisso, era mais uma diversão. Eles se sentiam melhor um perto do outro. A birra criada por conta do rompimento se fora.

— Eu nunca os vi tão felizes - comentou Carol com seu namorado, Remo. - Parece que eles começaram uma nova amizade.

— Parece que eles acabaram de se conhecer. - Remo deu sua opinião. - Mas é melhor assim, com os dois vivendo pacificamente, sem brigarem ou ficarem sem falar um com o outro. - ele fez uma pausa. - Vamos? - sugeriu o menino e posicionou seu braço. Carol apoiou o seu no dele e os dois continuaram o caminho juntos.

Atrás de toda a multidão de alunos, se encontravam Anna e Sirius, que andavam de mãos dadas silenciosamente. Quase ninguém olhava aquele lado do corredor, o que os permitia serem mais amorosos um com o outro sem se preocuparem com olhos alheios.

No meio de todos, encontravam-se os “novos” amigos, Lily e Tiago, que riam demasiado. O maroto andara contando piadas para a grifinória, que se divertia a cada uma delas. Talvez a friendzone não tenha feito tanto mal assim como Tiago pensava que iria antes; quer dizer, ele continuava falando com ela regularmente, sentava com ela nas aulas, tinha sua companhia quando os amigos estavam namorando… A única desvantagem era que ele não podia beijá-la, mas ainda planejava mudar a situação.

— Tudo bem se eu fizer com você, Lírio? - Tiago perguntou, referente à poção que Slughorn acabara de propor.

A ruiva estremeceu ao ouvir o apelido novamente. Ele não a chamava daquele jeito desde o dia em que Sirius trancou os dois e eles se beijaram. Aquela memória fez Lily se sentir mal, obrigando-a a reviver a dor que ela sentiu ao dizer aquilo.

— Lily? - o maroto a chamou. - Você está aí? - indagou, a trazendo de volta.

— Ah, diga. - pediu.

— Eu queria saber se você topa fazer a poção junto comigo. É em duplas. - repetiu, observando-a.

— Claro. - confirmou, sentando na bancada mais próxima.

E assim os dias foram se passando, harmoniosos e calmos, sem brigas, o que era bom demais para ser verdade. Tudo estava muito chato, sem emoções à flor da pele, sem muito amor e sem movimento. Não que fosse mudar para pior, mas teria de mudar algum momento.

— Você viu? - Anna perguntou à Lily, que estava lendo um de seus livros didáticos trouxas, que manuseava nas horas vagas. A menina imediatamente se voltou para a amiga, esperando uma explicação. - Sabe aquele menino ali? - a ruiva procurou com os olhos discretamente, assentindo depois com a cabeça. - Ele não para te de encarar. - a informou.

Lily deu de ombros, voltando ao seu livro. Ao presenciar essa atitude, Anna pigarreou, chamando a atenção da amiga.

— Quem é ele? - perguntou, “curiosa”. O grifinório tinha cabelos castanhos, pele bronzeada e olhos azuis cintilantes, que a cativavam cada vez mais. Ele ainda vestia o uniforme que usara no dia inteiro, porém com sua gravata afrouxada e os dois primeiros botões da camisa fora das casas. O garoto era extremamente bonito. Lily se perguntou se ele fora bonito desde pequeno, mas o seu sorriso já dizia tudo: apenas quem tinha sido bonito a vida inteira tinha essa arrogância no sorriso. Uma arrogância que atiçava a ruiva.

— Rafael Martinez. - a morena a respondeu, olhando suas unhas pintadas de ocre claro. - Ele está te secando desde que chegamos. - disse, esperando uma reação, que não aconteceu. - Você não se interessa? - questionou. Lily novamente deu de ombros, voltando para seu livro.

— Não me parece ser diferente dos outros. - respondeu, virando a página.

— Ele é diferente. Ele é muito bonito. - falou. Aquilo era óbvio, mas aparentemente tinha que mostrar tudo isso à Lily, por mais que estivesse na frente dela. - Ele está vindo para cá. - isso despertou a ruiva, que, mesmo não olhando, ficou desapontada. Ele viria logo agora que estava na parte mais interessante dos alelos do sangue.

Seu andar era firme e reto. Sua postura perfeita e forma maravilhosa. Parecia mais um deus do que um aluno qualquer. Seu olhar era desafiador, porém sedutor. Ele caminhava lentamente ao encontro das duas, que estavam sentadas próximas à lareira. Anna fingiu estar interessada na janela, observando o vidro para obrigá-lo a falar diretamente com Lily, e também porque não queria falar com Rafael. Seria constrangedor, já que - obviamente - Anna e ele tinham ficado muito tempo atrás.

Lily parou o que estava fazendo quando viu um par de sapatos pretos parado no chão à sua frente, obrigando-a a levantar o olhar. Antes que Lily pudesse fazer sua expressão de indiferença, o menino começou a falar.

— Olá. - sua voz era grave e profunda, fazendo com que algo despertasse dentro dela. - Meu nome é Rafael Martinez, e você é…? - se apresentou, esperando uma resposta.

— Lílian Evans. - a ruiva disse, estendendo a mão para um cumprimento. Ao invés de dar a sua, Rafael pegou a mão de Lily delicadamente, beijando seu dorso.

— Encantado, Lílian. - a menina recolheu sua mão rapidamente, achando aqueles modos estranhos… Estranhos, porém atraentes. - Me daria a honra de uma caminhada? - perguntou, com seu olhar profundo.

— Na verdade… - Lily ia explicá-lo que queria terminar de aprender sobre a genética do sangue, que era descrita no livro que sua mãe lhe dera nas férias, mas Anna a interrompeu.

— Ela adoraria! - disse, deixando a amiga confusa. - Ele beija muito bem. - sussurrou no ouvido da ruiva de modo que apenas ela pudesse ouvir. Lily corou, sem graça, mas se levantando do mesmo jeito. A morena pegou o livro de suas mãos e disse que ia atrás de Sirius.

Lily, contra a sua vontade, começou a acompanhar o tal de Rafael, saindo pelo retrato da Mulher Gorda. Nos primeiros passos, os dois não falaram nada. A ruiva não iniciaria a conversa, pois não queria se demonstrar interessada, já que de fato não estava. Por esse motivo, ela esperou que a primeira fala fosse dele, como sempre deve ser o menino a introduzir o assunto… Quer dizer, isso é na teoria.

— Eu não me controlei na Sala Comunal, e acho que te encarei muito descaradamente. Me desculpe por isso. - ele se redimiu. - Mas a sua imagem me parecia ser irreal de tão linda.

Lily enrubesceu, olhando para o chão. Fazia tempo que não era elogiada daquele jeito.

— Bem, obrigada… - agradeceu com a voz baixa, sorrindo discretamente.

— Você curte quadribol? - aquela pergunta fora um erro, pois no segundo seguinte o sorriso de Lily tinha se dissipado. Mesmo ela estando bastante amiga de Tiago, aquele esporte a lembrava de quando eles namoravam, coisa que ela não queria recordar. Rafael percebeu a mudança de humor repentina e tentou consertar. - Ok, nada de quadribol. Se não esporte, o que te interessa, senhorita Lílian Evans?

— Eu gosto de… - a menina pensou muito antes de responder. Não sabia do que realmente a interessava a não ser estudar. - Isso vai soar bem nerd, mas eu gosto muito de ler. - disse por fim, um tanto envergonhada.

— Que tipo de livro? - para a surpresa de Lily, o moreno continuou a conversa, sem achar o seu hobby estranho.

— Eu gosto de livros didáticos, mas os que mais me interessam são os livros didáticos trouxas. - explicou, se lembrando do que estava lendo dez minutos antes.

— Jura? Eu também! - ele contou. - Eu sou nascido trouxa, então leio alguns livros dos meus pais.

— Você é nascido trouxa? - indagou a ruiva curiosa. O menino assentiu, corando. - Oh, eu não quis remeter isso à algo ruim. Eu também sou, por isso perguntei. - explicou. - Sobre o que você lê?

— De tudo um pouco. Desde mitos até ciências. Recentemente estive lendo um sobre genética e aprendi sobre algumas teorias muito legais que os trouxas foram capazes de criar.

— Sangue?

Lily se maravilhou quando ele assentiu. Ela também estava lendo sobre aquilo! Nesse momento, a conversa se desencadeou, iniciando por sangue na visão dos trouxas. Lily lhe contou que seu tipo sanguíneo era O-, e por isso seu genótipo era iirr. Rafael, explicou que era homozigoto para A, então seu genótipo era AARR, sendo assim do tipo sanguíneo A+. Mais depois, conversaram sobre prognatismo, braquidactilia e acondroplasia, comentando sobre os genes possíveis. Quando viram, já tinham conversado por um bom tempo, tendo passado ao menos uma hora falando sobre a matéria trouxa.

— Eu não pensei que você fosse assim. - Lily admitiu.

— Assim como?

— Ah, você tem esse jeito de valentão, atraindo as meninas, mas também é inteligente. Isso é raro entre os meninos bonitos. - disse, sorrindo. Realmente ela tinha se divertido falando com ele.

— “Jeito de valentão”… Interessante. - ele riu. - Já falaram muitas coisas sobre mim, mas essa é nova. E ninguém nunca me chamou de inteligente.

— Alguns males da beleza. - concluiu a ruiva, fazendo os dois rirem.

— Ei, você também é bonita e não é por isso que as pessoas deixam de te falar que você é inteligente. - disse o moreno.

Aquele comentário fez Lily rir, corando logo em seguida. Suas maçãs do rosto ficaram da cor de seus cabelos vermelhos.

— Ah, agora entendi. Você cora quando alguém te elogia. - apontou Rafael. - Por quê?

— Não sei… - Lily riu fracamente, dando de ombros. - É que fazia tempo que alguém falava algo referente à isso. Em outras palavras, fazia tempo que eu não era elogiada… - Lily se lembrou de Tiago ao falar isso. No passado, ele sempre a elogiava.

Rafael não respondeu, apenas apreciou o rosto claro de Lily, que se virou para ele. Quando seus olhos se encontraram, nenhum dos dois ousou falar mais nada. Então, finalmente, Rafael se aproximou lentamente, fazendo com que seus lábios se tocassem.

O beijo dele era diferente do de seu ex-namorado. Era mais lento, menos enérgico; envolvia mais o corpo do que o coração…

Ela se afastou delicadamente.

— Você também gosta das teorias sobre os átomos? - Rafael lhe perguntou, deixando de lado o fato de eles terem acabado de se beijar.

Isso deixou Lily feliz, pois não teria que passar pela parte constrangedora do beijo. Um segundo depois, os dois estavam falando sobre a química dos trouxas, discutindo as teorias de Dalton, Thompson, Rutherford e Bohr.

——

— Você fez o quê?! - Carol perguntou abismada para Anna quando a morena explicou onde Lily estava. - Mas e o Tiago? Você não quer que os dois voltem, é isso? - questionou, desapontada.

— Mas é claro que eu quero! - respondeu prontamente. - Mas o que ela precisa é, além de se divertir um pouco, se tocar de que ela não é nada sem Tiago. Que Potter é melhor para ela do que qualquer outro pode ser. Simples assim. Lily não vai se convencer se nós ficarmos falando no ouvido dela, precisamos que ela mesma se convença. - esclareceu. - Eu só percebi que realmente gostava se Sirius assim, sentindo a falta dele. Eu conheço o Rafael e sei que ele e Lily tem tudo a ver, ao contrário de Tiago e ela, que não tem quase nada em comum.

— O que você tem na cabeça, então? Se eles tem tudo a ver, por que você deixou que ela fosse com ele? - a loira ainda estava abismada com as decisões da amiga. - Qual é o sentido em tudo isso, Anna?!

— O negócio é que Rafael é quase idêntico a Lily, e Tiago é muito diferente. Simples assim. - ao ver que Carol realmente não tinha entendido, Anna prosseguiu. - O Rafael, por mais que tente esconder com aquele jeito dele machista, é doce, simpático e amável. Lily também. Martinez é, embora oculte dos outros, um grande nerd, obcecado por livros didáticos. Lílian também é.

— E onde isso me ajuda a entender mesmo? - Carol perguntou ironicamente.

— Antes de namorar Lily, Tiago era bruto, machista, ignorante, orgulhoso e arrogante. Logo, Lil não tem nada disso. Potter, mesmo indo bem na escola, odeia estudar e ler, coisa que a ruivinha ama. Por que você acha que eu estou com o Sirius, e não com qualquer outro que eu já tenha ficado? - a loira não responde. - Nesse aspecto eu sou muito parecida com Lílian: nós queremos alguém que nos tire do sério, que nos faça ter que sair da nossa zona de conforto. Sirius e Tiago são quase que totalmente opostos a nós duas, por isso eles nos completam. Ok, nós também gostamos de romantismo, mas essa é a essência. A Lily, por mais que não admitisse, amava quando Tiago a provocava. Você já a viu, uma vez sequer, provocá-lo? - Carol negou com a cabeça. - Entende agora o que eu quero dizer? Ela adora ter alguém para irritá-la. Assim como eu. - houve uma pausa. - Não que isso funcione para todos, veja você e o Remo, por exemplo. Vocês são muito parecidos e mesmo assim funcionam. Isso varia de pessoa para pessoa, mas acontece que Lílian é assim e em pouco tempo ela percebe que Rafael definitivamente não é o cara certo para ela. Confia em mim. Primeiro ela vai ficar encantada com ele, pois Rafa vai entender tudo o que ela fala sobre as matérias, porém depois a Lil vai começar a se desanimar, e nisso ela volta para Tiago.

— Nossa, estou impressionada com o plano… - Carol disse, realmente surpresa. - Sabe, você deveria ganhar a Taça das Casas por isso. - brincou a loira.

Anna não respondeu, apenas contou a amiga sobre algumas coisas que tinha feito recentemente, como namorar Sirius escondida no armário de vassouras do quarto andar. Carol ficava com vergonha alheia da amiga cada vez que ela contava os lugares onde já estivera com Sirius para que ninguém os vissem se beijando. Remo e Carol nunca namoravam escondidos dessa maneira, apenas iam a lugares mais reservados, como perto das estufas, mas não em lugares mirabolantes, como o armário de produtos de limpeza do Filch. Carol não percebera, mas sentia falta de conversar com as amigas. Agora que ela e Anna estava namorando dois dos marotos, as mesmas ficavam ocupadas demais com seus namorados. Lily, que estava solteira, era quem deveria sentir mais falta, já que a única opção dela era conversar com Tiago e, de vez em quando, com Pedro, que não era muito de falar.

Por pensar em Lily, a mesma apareceu no dormitório, entrando devagar para não fazer muito barulho. Ao ver que as amigas estavam acordadas ainda, já se preparou para o interrogatório, pensando nas mentiras que teria de inventar para que elas não pegassem muito no seu pé.

— E aí? Como foi? - Anna perguntou ansiosa, esperando que a resposta fosse positiva.

— Foi… legal. - disse simplesmente, dando de ombros.

— Legal? Só? - a morena indagou.

— É… Legal. - repetiu, contraindo o canto dos lábios.

— Você está mentindo, Lily! - Carol a acusou. - Sempre que esconde alguma coisa, você contrai os lábios. Pode falar agora o que aconteceu em detalhes. Não vou te deixar em paz até que você o faça. - a loira cruzou os braços na frente do peito.

Lily suspirou. Sabia que teria de contar tudo mais cedo ou mais tarde, então disse tudo o que aconteceu: o constrangimento, o assunto da primeira conversa, sobre os dois serem nascidos trouxas, os elogios e…

— Você o beijou?! - Anna tinha os olhos arregalados. Por essa ela realmente não esperava. Pelo menos não de Lily.

— Não, ele foi quem me beijou. - a ruiva explicou.

Carol lhe perguntou como fora o beijo, deixando a menina envergonhada. Ela respondeu que fora muito bom, mas…

— Mas… - Anna pediu a continuação, já curiosa.

— O beijo dele é bom, mas… - ela coçou a cabeça. Como poderia descrever o que sentiu em palavras? - Sabe, ele não me desconcertou. Não me fez querer mais depois que acabou, só um pouco durante. Não sei explicar. - ela ponderou por um segundo ou dois. - Ah, não sei, falta alguma coisa. Eu sei que não faz muito sentido falar isso, mas faltou algo no beijo dele… Como quando falta tempero na comida, deixando-a incompleta, por mais que a pessoa tenha caprichado. Bem, deixa pra lá. - a ruiva deu de ombros.

Anna trocou um rápido olhar com Carol, como se dissesse “Eu não te disse?”. Hora ou outra ela ia sentir falta de Tiago, só não se sabia quando…

——

— O que é isso? - Lily perguntou para Ayla, uma menina do segundo ano que lhe entregara um pequeno envelope.

— Eu não sei. - a menina branca como a neve e loira lhe respondeu. - Me pediram para te entregar, só isso. - explicou, indo embora antes que a ruiva pudesse perguntar quem o mandara.

Lily abriu o envelope. Pensou antes em esperar para abri-lo depois do café da manhã, mas não resistiu. A curiosidade a consumia. Dentro do sobrescrito, se encontrava um pedaço de pergaminho perfeitamente cortado em retângulo, que tinha uma frase.

“quando eu vi você”

Apenas.

Aquilo intrigou Lily. Normalmente bruxos mandavam o correio via corujas, e não pessoas. E por que alguém mandaria uma carta com apenas uma frase? A caligrafia era bonita, mas não delicada. Com certeza era de um menino, pois as linhas eram fortemente marcadas por conta de uma mão pesada. Ele era canhoto, pois a tinta estava um tanto borrada. Por mais que tentasse, não conseguiu reconhecê-la. Virou o envelope e nada; sem remetente.

— Você não vai comer, Lily? - Tiago a perguntou, ao ver que toda sua atenção estava voltada a um pedaço de pergaminho. - Já está quase na hora da aula. - disse ao checar seu relógio de pulso.

— Ah, acho que perdi a fome. - alegou a ruiva.

— Tem certeza? - o maroto a perguntou, preocupado. Não era sempre que ela “perdia a fome” do nada. A menina apenas assentiu com a cabeça, se retirando do Salão Principal. Quando ela já estava na porta, Tiago interrogou as amigas. - O que aconteceu com ela? - indagou.

— Ela… - Carol começou a enrolar, mas não conseguiu, pois sua fala foi coberta pela de Anna.

— Ela está de rolo com um menino. - a morena provocou o amigo. - Rafael Martinez. - nomeou, tomando cuidado para ver se o mesmo não estava por perto. - Mas não se preocupe, - pediu ao amigo, que ficou desanimado repentinamente. - pode executar o seu plano. Como eu disse, o Rafael é apenas um rolo pra ela, alguém passageiro.

— Que plano, Pontas? - Remo questionou, já com medo do que o amigo fosse capaz de fazer. - Pontas? - o amigo o chamou de novo.

— Relaxa, Aluado. - Sirius garantiu. Aparentemente, Tiago, Anna e Sirius estavam de complô em algum plano e eles não iriam contá-lo tão cedo. - Eu sou o melhor amigo de Pontas e Anninha é a melhor amiga dele, logo, três cabeças pensam melhor do que uma. - ele piscou. - Não vamos fazer nada de ruim, prometemos. - Black, para fazer piada do assunto, estendeu seu dedo mindinho para Remo, como se estivesse fazendo uma promessa. O mesmo revirou os olhos, se levantando.

— Se me permitem, já vou para a sala de aula. - ele ofereceu a mão para a namorada, que a pegou prontamente, acompanhando-o Salão afora.

——

— Quem você acha que foi? - Carol perguntou a Lily assim que ela lhe mostrou a pequena carta. - Quem você acha provável de mandar alguma coisa assim?

— A pessoa mais romântica que eu conheço é Remo, mas ele não é uma opção - Lily deduziu, rindo com a loira. - Bem, talvez um admirador secreto? - mais risadas.

A Professora McGonagall entrou na sala bem nesse momento, obrigando as duas a pararem de conversar. A aula foi longa e tediosa, apenas teoria de coisas básicas. Durante esse tempo, Lily ficou especulando quem seria a pessoa secreta que lhe mandara aquilo. Não fazia sentido ela ter caído em sua mão por engano, não é mesmo?

O que a provou que não fora um engano, foi um segundo envelope, que lhe fora entregue na manhã seguinte por uma menina do seu mesmo ano chamada Thalia, da Lufa-Lufa. Ela usava as vestes do time de quadribol, aparentemente andara treinando. A loira era alta, bonita e magra. Ela lhe entregou o envelope, alegando que alguém lhe pedira que entregasse. Quando Lily se adiantou, perguntando quem que pedira, Thalia lhe respondera que fora um amigo de uma amiga dela, cujo nome lhe faltava na memória. A ruiva agradeceu e abriu o sobrescrito.

“tive uma ideia brilhante”

A caligrafia era a mesma da outra carta, com a mesma cor de tinta - preta -, que estava borrada, assim como a primeira. O pergaminho fora cortado da mesma maneira, um retângulo perfeito. Mais uma vez, o envelope não tinha o nome do remetente.

Seria aquela frase uma continuação da carta que recebera no dia anterior?

“quando eu vi você”

“tive uma ideia brilhante”

Parecia aquela coisa que os trouxas estudavam na matéria literatura… Como era o nome mesmo? Poemas! Aquilo era um poema! Mas será que tinha sido um trouxa o escritor ou alguém do mundo bruxo o escrevera? De qualquer jeito, os bruxos não tinham muito contato com a educação trouxa, portanto, quem o escreveu foi alguém que se familiarizava com os costumes que não envolviam magia. Existiam duas opções. Na primeira, a pessoa cursava as aulas de Estudos dos Trouxas; na segunda, a pessoa já tinha sido trouxa ou tinha muito contato com alguém que era, ou seja, um nascido trouxa…

Antes que pudesse completar o seu raciocínio, alguém a traz de volta para a vida real, a obrigando a prestar atenção. Uma mão repousa sobre seu ombro esquerdo. Lily se vira e reconhece o rosto imediatamente. Um menino alto, esguio, moreno de pele e cabelo, olhos azuis. Seu sorriso era tímido, porém hipnotizante.

— Olá, Lílian. Tudo bom? - lhe perguntou o nascido trouxa.

— Oi, tudo ótimo, aliás…

Lily começou a pensar. Apenas os trouxas estudavam literatura. Rafael era nascido trouxa e gostava de estudar as disciplinas dos mesmos. Era óbvio, não era mesmo? Ele tinha sido a pessoa que lhe mandara os versos em envelopes.

— Eu fiquei um tanto curiosa sobre uma coisa a seu respeito… - a ruiva começou a falar.

— Bem, é só perguntar! - disse o grifinório, bem-humorado.

— Você gosta de literatura trouxa? - Lily perguntou como quem não quer nada. Talvez isso o entregasse.

— Eu adoro! - ele respondeu entusiasmado. - Você também? - Lily assentiu com a cabeça. - Nossa, que coincidência!

— Pois é… E de qual parte que você gosta mais? Só por curiosidade. - a menina indagou, já tendo a resposta em mente.

— Gosto muito da parte de poemas, sabe? Elas são tão profundas. - comentou Rafael.

Dessa pequena conversa, nasceu uma muito maior sobre os poemas trouxas. Os dois se sentaram juntos na aula de História da Magia, que era a primeira do dia. Para a sorte deles, o Professor Binns estava um tanto avoado naquela manhã, o que lhes deu a oportunidade de conversar mais sobre o assunto abordado depois do café da manhã.

— Quem é aquele? - perguntou Tiago Potter, se mordendo de ciúmes. Ele acabara de entrar na sala de aula e dera de cara com Lily Evans e um garoto qualquer sentado ao lado dela.

— Rodrigo, acho. - Sirius deu palpite. - Quer dizer, acho que é Rodolfo… Não, é Rafael! - o maroto concluiu ao se lembrar dele. O amigo o encarou, como se o perguntasse visualmente como sabia seu nome. - Uma vez eu peguei ele e a Anna se beijando nas partes isoladas dos jardins. - justificou, dando de ombros.

— Mas por que ele está sentado com Lily? - questionou indignado. - Eu sempre sento com ela nas aulas.

— Pontas, vocês terminaram. Aceite esse fato. - Remo disse ao entrar na sala, acompanhando Carol. - Agora ela faz o que quer e não adianta você ficar me olhando com essa cara porque é a pura verdade.

Tiago então se sentou ao lado da melhor amiga, Anna, que o distraiu durante a aula. Toda vez que o maroto fazia menção de olhar para Lily e Rafael, a morena o chamava a atenção, falando qualquer coisa que o fizesse raciocinar e, consequentemente, esquecer da ruiva.

— Hoje não é um dia maravilhoso? - Lily perguntou assim que se sentou em uma das poltronas da Sala Comunal da Grifinória.

Quando as aulas do dia acabaram, os sete foram para a Torre da Grifinória descansar um pouco e dali a pouco iriam para o jantar. A ruiva apresentava um bom-humor marcante, que faziam todos estranhá-la.

— Por que tanta animação, Lily? Nem é sexta ainda. - Tiago a perguntou.

— Mas hoje é quinta! - a menina o respondeu. - Se você parar para pensar, faltam apenas seis horas para sexta, o que é muito pouco. E sábado vamos para Hogsmeade! Isso não é divertido? - indagou entusiasmada.

— Lily, o que aconteceu? Por que você está sorrindo tanto? - Carol a perguntou, suspeitando da amiga.

— Deixa a menina ficar de bom humor. - Remo disse. - Talvez isso nunca mais aconteça.

A ruiva faz uma cara feia, não achando a piada engraçada. Ela se sente abobalhada e leve. Não importa se seus amigos vão ou não achar estranho, ela simplesmente se sente feliz pela primeira vez em dias.

— Lílian Evans? - uma menina morena e alta a chama, sem ter certeza. Seus cabelos eram lisos e castanhos e sua pele bastante bronzeada.

A ruiva se vira, a olhando docemente. A menina, que se chama Yasmine, a entrega um envelope pequeno.

— Isso é pra você. - ela disse, indo embora, sem dar a chance de Lily perguntar qualquer coisa.

— Uma carta? - Pedro questiona. - Mas as cartas são entregues pelas corujas, e não por pessoas. - o menino diz, sendo ignorado pelos amigos.

— De quem é? - Carol indaga. Lily vira o envelope e a mostra. Não tinha remetente… A loira franze o cenho. - As outras duas também eram assim, não eram? - a amiga assente com a cabeça.

— Outras duas? - Remo pergunta, não entendendo do que elas estavam falando.

Lily ignora o amigo, abrindo o envelope. Ela não queria abrir na frente dos amigos, mas a curiosidade a impediu de esperar mais. Ao retirar o pequeno pedaço retangular de pergaminho, viu que novamente tinha apenas uma frase.

— O que está escrito? - Tiago perguntou, curioso também.

— “foi como se eu olhasse” - a ruiva leu em voz alta. Ela continuava a olhar o papel, como se alguma coisa fosse sair dele, mas era apenas isso. Assim como nas outras cartas, apenas uma frase, que possivelmente era a continuação das primeiras.

“quando eu vi você”

“tive uma ideia brilhante”

“foi como se eu olhasse”

Fazia sentido.

— Lil? - Remo a chamou pela terceira vez. Ela tinha se desconectado do mundo por alguns segundos. - Você não continuou a ler. - ele disse, esperando mais palavras que não existiam.

— É só isso. - ela alegou. - Apenas essa frase. - disse, checando os lados para ver se não encontrava alguém com os olhos.

— Lil, por que você estava tão feliz agora pouco? - perguntou Anna. A amiga não estava daquela maneira quando elas foram para o café da manhã, fazendo a morena desconfiar. A única coisa de diferente que acontecera no dia fora que Lily, ao invés de se sentar ao lado de Tiago, se sentou com Rafael na aula de História da Magia. Será que isso influenciara em algo?

Lily a encarou seriamente ao ver o olhar de desconfiança da amiga. Ela fez um sinal, dizendo que ia falar depois, e logo após isso moveu as sobrancelhas em direção a Tiago, que estava ao lado da ruiva.

— Bem, acho que eu… - a ruiva ia declarar que ia dormir, mas um olhar ao longe a fez parar no meio da frase.

Rafael Martinez a fitava do outro lado da Sala Comunal. Ele vestia uniforme, porém sem a gravata. As mangas de sua camisa estavam dobradas até metade de seu antebraço, revelando seus dedos compridos. Tiago logo entendeu e se decepcionou ao ver que Lily estava caída pelo moreno de olhos azuis.

— Vou dormir. - o maroto declarou, saindo de lá o mais rápido possível. Não queria vê-los flertando.

— O que deu nele? - a ruiva estranhou. Ele nunca agia daquela maneira.

Sirius, seu melhor amigo, balançou a cabeça. Nem ele sabia.

— Anna, vamos? - Black a convidou, pegando sua mão. A morena logo se desvencilhou de sua mão, lhe dando um beijo na bochecha. O casal então subiu a escada em espiral que dava para os dormitórios.

— Bem, acho melhor nós irmos também. - Carol propôs, puxando Remo pela mão. Os dois também subiram as escadas. Pedro foi logo atrás deles, deixando Lily sozinha.

Quando a ruiva decidiu que já estava tarde e precisava descansar, Rafael apareceu, já a cumprimentando. Logo, os dois já estavam conversando novamente sobre matérias trouxas e alguns fatos bruxos. Quando eles pararam de falar sobre fluorescência, Lily se pronunciou.

— Era sério? - a ruiva o perguntou, ainda na dúvida.

— O quê? - o moreno indagou, sem se lembrar.

— Quando você me convidou hoje de manhã para ir à Hogsmeade com você no sábado. Era pra valer, ou foi só de momento? - Lily disse.

— Mas é claro que foi pra valer! - o menino exclamou. - Mas por que a pergunta?

— Por nada. - ela demora, porém responde. - Bem, eu acho que vou me deitar, pois já está ficando tarde. Foi ótimo conversar com você, Rafael.

A ruiva se inclinou para colar sua bochecha na dele, mas ao invés de ouvir o atual estralo de beijo de despedida, ouviu outro tipo de estralo, do mesmo que se ouve quando alguém dá um selinho.

— É melhor eu ir embora. - a menina se apressou, correndo escadaria acima.

Ao chegar na porta de seu dormitório, Lily se encostou contra a parede de costas, deslizando até se sentar no chão. Ela pressionou seus lábios com a ponta dos dedos, sorrindo. Ele tinha lhe dado um selinho de propósito, para provocá-la. Isso era intrigante, mas ao mesmo tempo lhe atiçava… a deixando com vontade de mais. Ok, eles mal se conheciam, mas não fora esse fator que os impediu de se beijar num passado recente.

O quarto estava vazio. Anna provavelmente deveria estar com Sirius em algum canto escondido o beijando, e Carol devia estar conversando com Remo em algum lugar. Talvez no dormitórios dos meninos, talvez fora da Torre da Grifinória. Enquanto pensava nisso, pegou um pergaminho e começou a escrever as frases que recebia nos envelopes pequenos. Se ela as registrasse, não precisaria carregar os papéis de um lado para o outro.

“quando eu vi você”

“tive uma ideia brilhante”

“foi como se eu olhasse”

— Qual será a próxima? - a ruiva se perguntou em voz alta, se sentando em sua cama. Ela estranhou, pois se sentara em algo que não era macio e fazia barulho… barulho de papel de amassando. A menina se levantou, olhando no que se sentara. Ela pegou um envelope pequeno, abrindo-o.

“de dentro de um diamante”

Ela escreveu a frase no pergaminho e guardou os envelopes em seu malão para não perdê-los. Lily ficou encarando as frases na sequência, ponderando. Definitivamente, quem estava mandando aquelas cartas era Rafael. Toda vez que ela pensava nele, ou estava com ele, um envelope aparecia. Só podia ser o moreno. Talvez ele tivesse vergonha de expressar seus sentimentos e preferisse usar meios alternativos para se comunicar emocionalmente. É, essa parecia ser uma explicação válida.

——

— Calma, Pontas! - Sirius pediu.

— Eles não podiam ser um pouco menos descarados? Os dois ficavam trocando olhares sem se importar em serem discretos! Se estão tão envolvidos assim, por que não se beijam logo? É mais fácil e prático, assim todos já ficam sabendo que eles estão juntos. - Tiago disse revoltado.

— Pela milésima vez, - Anna começou a falar, perdendo a paciência. - eles não estão juntos! - disse, revirando os olhos. - E no que isso te afetaria? Eu tenho certeza que ela ainda ama você.

— Queria ter a mesma certeza que você, Anninha. - Tiago suspirou, perdendo as esperanças. Seu olhar estava baixo e o costumeiro sorriso do maroto não existia mais.

— Tente alguma coisa mais direta. - sugeriu Sirius, tentando animar o amigo.

— E se for tarde demais? - Tiago questionou. - Eles devem estar se beijando agora e eu estou aqui, pensando nela. - ele olhou para Anna, esperando que ela negasse a possibilidade. A morena não o encarou de volta, evitando ao máximo contato visual com o melhor amigo. Logo o maroto entendeu, se desanimando mais ainda. - Eles já ficaram, não é mesmo? - perguntou, mesmo que soubesse a resposta.

— Ela disse que faltou alguma coisa. - Anna contou, chamando a atenção dele. O maroto não disse nada, esperando que ela prosseguisse. Anna sabia que era errado falar sobre coisas tão pessoais de Lily pelas costas dela, mas precisava que seu amigo se animasse em conquistá-la novamente. - Ela falou que o beijo dele não a desconcertou, não a fez querer mais. Foi apenas um beijo qualquer. Bom, mas qualquer.

Sirius a encarou com uma expressão de dúvida.

— Ela te disse que foi bom? - o maroto perguntou.

— Também… - a morena admitiu. - Não venha com ciúmes para cima de mim. E de qualquer maneira já faz muito tempo. - explicou. - Não adianta fazer essa cara, Black. Não vou me comover pelo seu egoísmo. - ela o avisou. Sirius desfez a expressão de irritado, se conformando, e a abraçando. - O fato é que o beijo de Rafael não a conquistou como o seu fazia. Pense bem nisso. - aconselhou, olhando para Tiago. - Não desista dela, por favor.

Anna deu um beijo demorado em Sirius e depois deu boa noite para os dois, saindo do dormitório.

——

Carol entra no quarto, a trazendo de volta para a realidade. A loira estava acompanhada da morena Anna, que agora fazia uma trança no cabelo.

— Onde vocês estavam? - a ruiva indagou. - Pensei que fosse encontrá-las aqui quando voltei, mas o dormitório estava vazio.

— Eu estava com Remo e encontrei Anna no caminho de volta. - a loira disse.

Lily olhou para a morena esperando por sua resposta.

— Sirius. - falou ela, como se aquele nome por si só já valesse por uma explicação, induzindo a amiga a pensar que ela estava namorando até aquele horário. - Mas como foi? - indagou a morena, se referindo a Rafael. - Não se faça de desentendida, que eu tenho certeza que ele foi falar com você.

A ruiva suspirou, sorrindo. Suas amigas a conheciam melhor do que ela mesma.

— A gente conversou sobre umas coisas… - começou a falar. Como demorou demais para continuar, Carol, que estava muito curiosa, fez um sinal para que prosseguisse. - e, quando fui me despedir, ele me pegou desprevenida e me deu um selinho. - disse, com um ar de dúvida em sua voz. Ela ainda estava confusa sobre aquilo.

— Só isso? Ele te deu um selinho e… - a morena falou. Lily não disse mais nada, sem entender o que a amiga queria dizer com aquilo. - Você não sentiu absolutamente nada? Foi, tipo, só um selinho? Nada mais, nada menos?

— Eu não era pega de surpresa assim fazia muito tempo… - a ruiva começou a falar. - Eu não me sentia assim desde…

— Tiago. - Anna completou a frase para a amiga, já esperando que ela ficasse irritada. Ao invés de brigar, surpreendentemente, Lily assentiu com a cabeça tristemente.

— Tiago sempre me pegava se surpresa… - lembrou-se, sorrindo fracamente. - E sempre era de uma maneira boa… - completou, recordando de todas os acontecimentos em que ele a pegara de surpresa. Sendo com um beijo ou um abraço, o maroto sempre a alegrava quando estavam juntos.

— Você sente a falta dele, não sente? - Anna perguntou delicadamente.

A ruiva assentiu com a cabeça, sem levantar o olhar.

— Então fale para ele! - sugeriu Carol.

— Não posso. - Lily disse. - Eu terminei o namoro. Não vou atrás dele porque, momentaneamente, tive vontade de reatar. Seria ridículo.

— O amor é ridículo, Lílian? - a loira a perguntou. - Eu sinceramente acho que não. O Tiago já se humilhou inúmeras vezes por sua causa. Eu mudei um pouco para namorar Remo e me sinto até melhor agora, sem ser tão tímida como era antes. Anna e Sirius mudaram um ao outro, se melhorando. O amor muda as pessoas e na maioria das vezes muda para melhor. O que custa você deixar o seu orgulho de lado por um instante para conseguir algo que vai lhe fazer bem? Aliás, que já te fez bem enquanto durou.

— Nunca disse que o amor era ridículo. E eu não vou deixar o meu orgulho de lado, pois tenho quase certeza que ele não me aceitaria de volta.

— Você está pra lá de enganado, Lil. - Anna defendeu o amigo. - Você sabe que ele sempre vai te querer, não importa a ocasião.

— E quem me garante que o meu quase rolo com o Rafael não possa se tornar algo maior?

— Por que você quer tanto investir nele? - a morena questionou. - Qual é a grande diferença entre ele e Tiago? Ele é mais bonito? Ele é um pouquinho mais inteligente? Ele não usa óculos? Seus olhos são azuis ao invés de castanho esverdeados? Lil, acorda! Isso não é motivo!

— Ele é quem está me mandando as cartas sem nome. Tenho certeza. - a ruiva afirmou. - Rafael é nascido trouxa, conhece as disciplinas trouxas, entende sobre literatura, gosta de poemas… As cartas são um poema fragmentado. As frases rimam. Que outra pessoa também está propensa a escrever um poema, algo de tradição trouxa, sem ser alguém que conhece essa cultura?

Anna finalmente se calou. Não ia discutir com a amiga sobre aquilo. Pelo menos não naquele momento.

— Ok, ele é propenso a estar te mandando isso, mas e daí? - Carol tomou rédea. - Qualquer um pode te mandar um poema, sendo ou não nascido trouxa. Aliás… - ela não conseguiu continuar a fala, pois ouviram uma batida na porta.

Carol foi até a porta do dormitório, abrindo-a. Não tinha ninguém do lado de fora. Quando a loira pensou em cerrá-la, notou algo no tapete a sua frente. Ao agachar para pegar, viu que era um envelope pequeno e já sabia o que era e pra quem era. Não se deu o trabalho de chamar a amiga, apenas entregou-lhe em mãos a correspondência.

— “e meu olho ganhasse”– disse em voz alta a ruiva.

— Será que esse verso é o último? - a loira indagou. Lily balançou a cabeça.

— Não rima. - justificou. - Ainda falta ao menos uma para terminar. - supôs.

— Ok, mesmo que tenha sido Rafael que te mandou isso - Carol reiniciou sua fala. - E daí? No que isso te garante que vai dar certo? Você não ganharia nada com ele que Tiago não possa lhe proporcionar. Com Tiago, você tem certeza que vai dar certo, pois deu certo enquanto durou e daria certo se continuasse.

— Não é o fato de dar certo ou não, Carol. O que realmente me preocupa é… - Lily parou de falar, pis foi interrompida por batidas na porta. A loira novamente se levantou e abriu a porta. Mais uma vez, ninguém, apenas um envelope pequeno no chão. - “mil faces num só instante”. - a ruiva leu ao abrir a carta. - Espere um pouco. - ela pegou em cima de seu criado-mudo o pergaminho e começou a recitar o poema:

quando eu vi você

tive uma ideia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante

— Acho que acabou. - Lily declarou. - É isso. - disse para as amigas.

— É lindo! - Anna falou, se amolecendo. - Queria que Sirius também fosse romântico assim… - sonhou em voz alta.

— Ele é, Anna. Só que não demonstra. - Carol revelou. - Sirius diz que as emoções tornam uma pessoa fraca e que amar você já o torna fraco demais, o que o faz esconder o romantismo. Eu sei, é estúpido, mas é assim que ele é.

— Me amar o torna fraco? - a morena indagou. - Isso faz sentido?

— Faz. - Lily responde. - Eu me tornei fraca demais quando comecei a namorar Tiago. Eu dependia dele para tudo. Dependia do amor para tudo. O sentimento melhorava minhas dores, então quando ele foi embora, senti falta disso, de ser enganada pelo meu coração. Talvez ele tenha medo de depender demais desse amor entre vocês, que, quando o sentimento for embora, Sirius não suporte. Bem, essa é a minha teoria. - opinou Lily, dando de ombros. - Bem, eu vou dormir antes que uma das duas me dê outro sermão. Boa noite!

As amigas riram, lhe desejando boa noite também. Logo, as três já estavam em suas respectivas camas.

Antes de dormir, Lily parou para pensar em sua posição atual em relação aos meninos. Ela estava em um quase rolo com Rafael. Os meninos a olhavam mais desde que terminara o namoro com Tiago, talvez por terem medo do maroto antes. Mas será que era isso que ela queria? Ser cobiçada por vários, sem ter nenhum?


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Notas finais do capítulo

teorias?