Jogo de sedução escrita por Karollin


Capítulo 9
Capítulo 8 - Intolerância


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amorees! Desculpem-me pela enoooorme demora, sério. Imaginem-se em um mar tranquilo e vem um tsunami que te faz sair rolando arranhando sua cara toda pela areia. Essa sou eu na volta às aulas. Essa semana mesmo tive cinco provas, duas atividades avaliadas e tive que acordar às seis da manhã em um frio do mal para ir apresentar trabalho D; Poisé, eu sofro.

AMO VOCÊS



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A semana de fim de semestre era sempre uma loucura. Os professores despejavam projetos em nós, pois enrolaram o semestre inteiro e agora tinham que cumprir o cronograma. Juntando isso às provas dificílimas todo dia e minhas noites mal dormidas por conta da necessidade de estudar eu não tinha como ir trabalhar na Desire – o que me deixava estressada e sem dinheiro.

Logan havia me ligado duas vezes nesses cinco dias que não vira a Lira, mas não pude atendê-lo. Mal via Bryan, ficava mais com Alexander, pois, por sermos da minha turma, conseguíamos estudar juntos ora na biblioteca, ora no meu quarto ou no dele. Na primeira vez que havia o visto depois da festa, quase não consegui encará-lo de tanta vergonha que estava sentia por ele ter me visto de lingerie. Porém, ele acabou me deixando confortável novamente com suas piadas e seu jeito meio irritante de ser.

Agora, finalmente, era o último dia que antecedia três meses de férias de verão. Andei arrastando os pés de cansaço. O calor já começava a se alastrar por Nova Iorque e, mesmo que ainda fossem dez horas da manhã, já estava suando. Como odiava prender meu cabelo – em minha opinião eu ficava parecendo um cavalo quando prendia meus fios em um rabo – tinha que suportar viver com o calor a mais que ele me fazia sentir.

Estava tão aérea pelo cansaço que só percebi que a sala estava quase em silêncio após dois ou três minutos que eu já estava sentada em um lugar. Levantei os olhos e notei que todos os treze alunos presentes conversavam por meio de sussurros, vez ou outra me olhavam de soslaio. Passei a mão na cabeça para conferir se, por alguma conspiração do universo, a peruca vermelha tivesse brotado em meu cabelo nas duas horas que dormi à noite. Por sorte não era isso.

Peguei o celular e encarei meu reflexo. Apesar de estar com olheiras enormes em baixo dos olhos e com os lábios rachados, não havia nada de diferente em mim. Do que será que eles estão falando? Senti um mau pressentimento e um frio se apoderou de meu estômago. Será que eles haviam descoberto? Não era possível.

– Você sabe o que está acontecendo por aqui? – perguntou Alexander assustando-me.

– Que susto, garoto! – falei com o coração ainda acelerado.

– Você também percebeu que está todo mundo estranho, né? – questionou – Quando vinha para cá, os caras nem me cumprimentaram e meu colega de dormitório está, desde ontem, me olhando como se fosse me matar caso me aproximasse dele.

– Eu não sei o que está acontecendo, mas boa coisa não é. – respondi com a boca seca.

Já que também estavam tratando o Alexander de modo estranho então não haviam descoberto sobre meu trabalho na Desire. A curiosidade formigava dentro de mim, deixando-me ainda mais inquieta. E isso só piorava à medida que mais pessoas entravam e nos encaravam para logo depois desviarem os olhos. A maioria estava agindo assim, mas havia uns poucos que não estavam nem ligando, como o garoto que sentava na minha frente.

– O que está acontecendo com o pessoal? – indaguei cutucando-o.

– Eles são uns idiotas. Sabe, acho que ninguém tem a ver com o segredo de vocês, então não ligue. A galera aqui é só um bando de fofoqueiros que não cuida de suas vidas. – respondeu voltando a prestar atenção em seu resumo.

Sua resposta me deixou ainda mais encabulada. De qual segredo ele se referia? Nós três possuíamos tantos que era até difícil apontar algo que fizesse grande parte dos alunos nos tratarem assim. Algo me dizia que antes do fim do semestre eu saberia ao que o homem se referia, contudo não conseguia impedir que um sentimento ruim se apoderar de mim, como um mau pressentimento.

– Bom dia alunos, vamos começar as provar para eu poder ficar livre de vocês o mais rápido possível! – exclamou o professor fazendo-me levar um susto.

Fitei a prova de cálculo avançado refletindo como, diabos, alguém conseguiu pensar naquelas fórmulas cabeludas com mais letras do que números. Claro que eu deveria gostar de matemática, afinal, qualquer erro meu e a construção ficaria torta, mas isso não significava que eu deveria cair de amores por essa matéria.

– Que droga. – murmurei baixinho mordendo a tampa da caneta.

A verdade era que eu não conseguia me concentrar direito, sempre algo distraía minha atenção e o bicho da curiosidade vinha me visitar. Porcaria! Por que esses idiotas tinham que agir assim logo hoje? Acabarei pensando nisso as férias todas, que ódio! Mordi a tampa da caneta e encarei o relógio que indicava que só tínhamos mais meia hora de prova. Concentre-se, sua besta, você precisa ir bem nessa prova para mostrar os bons resultados para seus pais quando for visitá-los.

– Atenção, alunos! A primeira tarefa de vocês para o próximo semestre é fazer um projeto para a construção de uma filial da empresa Campbell. Todos que passarem devem usar essas folgas para trabalharem a fim de entregar o trabalho no primeiro dia de aula. – anunciou – Agora voltem suas atenções para suas provas. Temos vinte e nove minutos só.

Esse era o incentivo que eu precisava. De repente todo o meu foco foi para aquelas duas questões dificílimas que eu havia pulado. Vamos nessa, baby. Fiquei a noite quase toda estudando, não será uma questão sobre geometria espacial que irá me derrubar!

Entreguei o teste com calma, estava satisfeita com meu desempenho. Fiquei do lado de fora da sala esperando Alexander. Surpreendi-me ao ver Bryan vindo em minha direção. Ele estava com uma expressão perturbada levando uma revista nas mãos. Franzi o cenho com a curiosidade voltando.

– Lolita! – exclamou ofegante – Já viu a revista Famous da semana?

– Bryan, eu por acaso tenho cara de quem gasta o precioso dinheiro com revista de fofocas inúteis? – retruquei intrigada.

– Bem, deveria ser. Você está na capa dela! – disse.

Ele soltou a bomba de uma vez e, enquanto suas palavras tomavam significado em minha mente, meus olhos foram gradativamente se arregalando. Tomei a revista de suas mãos, desesperada. Como assim eu estava na capa dela? A família de Logan não pagava uma fortuna para mantê-lo longe dos holofotes?

Suspirei aliviada ao perceber que a imagem estava com má resolução. Porém, a figura de uma mulher ruiva com um vestido longo de mãos dadas com um homem de terno fino era claramente visível. Na manchete lia-se a frase: ‘‘Nova affair do herdeiro Campbell. Será que essa belíssima ruiva conquistou seu coração?’’ Sentia-me lisonjeada por eles me acharem bela, afinal, qual mulher não gostaria de um elogio desse em um revista famosa?

– Pelo menos suas caras estão borradas e quase irreconhecíveis. – observou Alexander assustando-me por sua repentina chegada.

– Será que é isso que está fazendo todos agirem de modo estranho? – questionei.

– Provavelmente não, é outra coisa. Essa dúvida está me matando! – respondeu Bryan dando um suspiro.

– Vamos comer, não conseguiremos pensar de estômago vazio. – sugeriu Alexander – Depois de hoje ficaremos três meses longe daqui e nada disso importará.

No curto caminho até o refeitório ouvíamos a maioria das pessoas, principalmente os homens, se afastando de nós como se tivéssemos uma doença contagiosa. Assim que nos sentamos, vários pares de olhos se viraram em nossa direção. Isso estava me dando nos nervos. Qual era o problema daquele pessoal?

Percebi que Ashley, uma garota da minha turma, não parava de me encarar. Seus olhos pretos estavam fixos em mim e ela comia sem nem prestar atenção ao que punha na boca. Seu indicador enrolava uma mecha de seu cabelo castanho nos dedos, uma clara evidência de que ela estava pensando. Como ela estava em uma mesa ao lado da minha, virei em sua direção.

– Ash, o que está acontecendo com o pessoal? – perguntei rogando por uma resposta definitiva para saciar minha curiosidade.

– Você tem tanta sorte, Lola! Eu sempre quis ter um amigo gay, e você tem! Que injustiça! – exclamou em um tom de voz alto.

O silêncio que caiu sobre o refeitório foi suficiente para deixar claro que todos haviam ouvido o que Ashley tinha falado. Essa não. Como eles descobriram sobre Bryan? Olhei meu amigo que estava paralisado encarando-me com a súplica evidente em seu olhar. Eu sabia, ele não estava pronto para assumir e aquela reação de repudia que todos tinham adquirido ao mero boato foi suficiente para ele querer esconder aquilo mais ainda. Apesar do que diziam que os homossexuais estavam cada vez mais aceitos, havia muitos homofóbicos e intolerantes na sociedade.

– Do que você está falando? Não tenho nenhum amigo gay! – falei rindo de modo um pouco forçado.

– Não? Mas a Paolla disse que viu o Bryan com um cara! – retrucou um pouco indecisa.

Tinha que ser coisa da Paolla! Ela era a arqui-inimiga de Bryan e não estou dizendo briguinha infantil de colegial. Aquela garota odiava meu amigo com todas as fibras de seu ser só porque a coleção de vestidos que ele desenhou ganhou o concurso e virou um desfile. Como ela era muito competitiva e odiava perder, tomou birra de Bryan, fazendo de tudo para prejudicá-lo no curso. Aquela maluca já tinha até transformado um esboço maravilhoso dele em picadinhos!

– Paolla é uma mentirosa, Bryan não é gay! – exclamei em alto e bom som para todos me ouvirem.

– Você tem provas disso?

– Eu não sou gay, isso é ridículo! Como namoraria a Lola se eu gostasse mesmo de homens? – falou Bryan pela primeira vez se recuperando do choque.

– Eu não queria espalhar não, mas tenho dó de quem tem o quarto ao lado do de Lola. Os dois fazem festinhas particulares quase toda vez que se juntam. – disse Alexander rindo.

O que ele havia dito levantou vários risinhos de consentimento dos meninos. Francamente, eles pensavam quase da mesma maneira. Não me importei por ele ter falado que eu era sua namorada, afinal, esse era nosso plano ‘‘b’’ caso algo assim viesse à tona. Logan estava com uma expressão tensa e uma loura chamada Brizabell estava sentada em seu colo. Eu sei, todos devem estar pensando: como alguma mãe desnaturada põe na filha um nome tão feio quanto esse? Essa é mais uma pergunta que encabeça a lista de grandes mistérios da humanidade.

– Então prove! – desafiou Paolla irritada levantando-se com um olhar superior.

Bryan me encarou e eu o encarei de volta. O pedido estava em seus olhos e assenti levemente, permitindo que ele executasse o plano. Dei um passo para mais perto dele, mas antes que nos aproximássemos demais, uma pessoa nos interrompeu.

– Parem de ser estúpidos. Bryan já disse que não e gay e mesmo se ele fosse vocês não teriam absolutamente nada com isso. Então parem de evitá-lo como se ele tivesse uma doença, se ele disse que está com aquela mulher é porque está. Parece que algumas pessoas não amadurecem. – falou Logan olhando fixo para Paolla nessa última parte.

Surpresa era pouca para descrever como todos naquele refeitório estavam. Nem em um milhão de anos eu poderia supor que Logan iria defender meu amigo daquela forma. A reação das pessoas variava entre indiferentes e envergonhadas. Apertei a mão de Bryan sentindo sua pele gelada ao meu toque e o suor que havia se formado nelas.

– Vamos cair fora daqui. Estamos de férias, temos que curtir a partir de agora. – falei para que só os dois ouvissem.

– Você tem razão, vamos planejar algo para fazer nesses três meses. – concordou Alexander caminhando em direção à saída.

Antes que cruzássemos a porta, Paolla se postou em nossa frente impedindo nossa passagem. Seus olhos pretos estavam raivosos, a artéria em seu pescoço pulsava como se fosse explodir a qualquer momento. Uma coisa engraçada que ocorria com ela é que quando ela estava completamente irritada, alguns fios de sua cabeça ficavam em pé, o que fazia com que todos ao seu redor se controlassem para não rir.

– Você pode achar que me engana, Bryan, mas vamos ver se você consegue enganar seu pai. – falou sorrindo vitoriosa.

~ ♥ ~

Bryan estava a ponto de ter um ataque de pânico. Seus olhos estavam arregalados, fixos na parede do quarto. Sua cabeça estava enterrada em suas mãos trêmulas. O suor escorria por sua nuca, mas ele não parecia se importar, tudo que fazia era murmurar coisas inaudíveis.

– Por que ele está assim? – perguntou Alexander preocupado.

Suspirei apertando o canto de meus olhos. Isso ia dar um problemão.

– Se Paolla realmente disse algo para a família de Bryan, ele está ferrado. Sua mãe é uma quase fanática religiosa e o pai declama aos quatro ventos o quanto ele está insatisfeito com a quantidade de homossexuais se assumindo. – expliquei angustiada.

Eu não fazia ideia do que meu melhor amigo estava sentindo, mas deve ser algo como o dia em que Alexander me descobriu, só que mil vezes pior. Se sua família descobrisse, ele estaria em maus lençóis, nem queria imaginar o que seus pais fariam com ele. O celular de Bryan tocou e o remix de Thrift Shop ecoou pelo quarto.

– É o meu pai. – falou Bryan com um fio de voz.

– Respire e o atenda, vai ficar tudo bem cara. – sugeriu Alexander.

Bryan tentou controlar sua tremedeira e firmou a voz. Atendeu ao telefone fazendo um silêncio absoluto recair sobre o quarto. Naquele momento, acho que ouviríamos até um mosquito zunindo por ali. E foi por essa razão que escutamos a voz zangada do outro lado da linha.

Bryan! Que história é essa de você ser viadinho? – gritou seu pai com a voz metálica.

– Eu não sou, pai. A mulher que te falou isso estava mentindo, só para me destruir aqui na faculdade. – retrucou meu amigo fechando e abrindo os punhos tentando se controlar.

Ah! Faculdade de moda que você faz! Eu deveria ter desconfiado que meu filho era uma bixinha que desenhava vestidos! – continuou sem dar importância ao que o filho falava – Aposto que se essa mulher que me contou aquilo pressupôs isso é porque você não deu nenhum indício de ser homem!

– Me escute, pai! – gritou furioso.

Sua mãe não gastou nove meses te carregando na barriga para baixo e para cima para o filho virar gay! Pelo menos seu irmão não me dá tamanho desgosto, ele sim não foi uma barrigada perdida!

– CALE A BOCA! – explodiu. Seu rosto, antes pálido, agora estava vermelho de raiva. Fez-se silencia do outro lado da linha – Eu tenho sim uma namorada, isso mesmo, uma mulher! Então só feche a sua boca e pare de falar essas coisas!

Achei que a ligação havia caído, já que não ouvíamos nada além da respiração ofegante de Bryan. Eu sabia que só haviam se passado alguns segundos, mas eles se arrastaram como horas.

Traga ela aqui, quero conhecer sua garota. – o homem falou dando ênfase na última palavra. Depois disso, encerrou a ligação.

Bryan queria tacar o celular na parede. Os nós de seus dedos estavam esbranquiçados graças à força excessiva com que ele segurava o aparelho. Seus olhos estavam repletos de vários sentimentos, entre eles mágua, raiva, decepção e medo. Deveria ser horrível ter o próprio pai falando aquelas coisas para si. Será que meus pais diriam palavras similares caso descobrissem que trabalho na Desire?

– Você está bem? – perguntou Alexander dando tapinhas em suas costas.

Meu melhor amigo levantou a cabeça intercalando seu olhar entre mim e Alexander. Seus olhos estavam lacrimosos e ele parecia prestes a desabar a qualquer instante. Vê-lo assim me causava um enorme aperto no peito. Sempre queremos ver as pessoas que gostamos com sorrisos nos rostos e se sentindo bem, porém ele estava em frangalhos. Sentia que ele podia ter aguentado ouvir aquilo de quantas pessoas fosse, mas escutá-las de seu próprio pai fazia a dor ser infinitamente maior.

– Não. – suspirou com os lábios trêmulos – Eu não estou nada bem.


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Notas finais do capítulo

Nesse e no próx cap vou fazer mais voltado para a família da Lola e do Bryan, espero que isso agrade vocês. Altas tretas, hein?

Eu realmente quero me aproximar mais de vocês, então a partir de agora vou deixar umas perguntas nas notas finais e vocês, se quiserem, respondem nos comentários e eu coloco a minha resposta nas notas do próximo capítulo.

— Qual foi o maior mico que vocês já pagaram?