As 3 semanas passaram voando para Lanie. Ela estava muito empolgada em fazer uma festa de boas vindas para Rick. Ela iria aproveitar o final de semana que seus pais iriam estar em Boston, por motivos de negócio, para agitar as coisas. Mas para mim essas 3 semanas foram acompanhadas de muita angustia. Eu tentei o tempo todo fazer com que esse tempo fosse maior do que realmente era. Tentei mesmo, como se isso fosse possível.

Minha mãe não demorou muito pra perceber que a volta do Rick não era uma das melhores coisas do universo para mim. Eu caminhava apática pela casa, fazia as coisas como se em mim estivesse ligado um botão automático. Papai se percebia jamais iria me abordar. Ele sabia muito bem que minhas atitudes eram indisfarçáveis, mas ele não era a pessoa certa para tocar nesse assunto. Eu cultivava meu silêncio, mas esquecia de frequentemente cultivar uma forma de disfarçar o que eu sentia.

Estava há horas dentro do quarto, de olhos fechados, fones de ouvido e cabeça longe quando senti alguém se sentar na minha cama. Abri meus olhos e mamãe sorria de forma doce para mim.

–Kate, está tudo bem com você querida? – Enquanto me sentava na cama ela fazia menção para eu deitar minha cabeça no seu colo.

–Ah mamãe... – Encostei devagar minha cabeça do colo dela. Mamãe tinha um dom com cafunés que me fazia entregar qualquer tipo de segredo que eu guardasse. – Estou com medo.

–Está com medo do que meu amor?

–Eu ainda não sei. Apenas sinto medo. Não sei como devo agir.

–São sensações novas Kate. Mas não há motivo para se preocupar tanto. Rick com certeza mudou de alguma forma. Você mudou. Não adianta imaginar coisas. É preciso deixar o tempo se encarregar disso por si só minha menina. – Ela falava isso com tanta verdade. Seus olhos olhavam no meu de uma forma que me acalmava. Ela era a única pessoa capaz de me acalmar. E ela conseguiu.

–Ah mamãe, não parece tão fácil, mas quando você fala sei que posso conseguir. – falei isso carregando junto um sorriso meigo e agradecido.

–Você pode conseguir tudo que quiser meu amor.

Depois da conversa pude confessar que meu coração abriu um espaço e eu pude respirar melhor. Agora era esperar que a sexta-feira chegasse ao seu fim natural. Amanhã seria o dia. E o tempo iria se encarregar de tudo.

Sábado.

Lanie já tinha me enviado 3 mensagens com o horário da festa. Ela ainda pediu para eu chegar mais cedo para ajudar com algumas coisas.

Quando cheguei Espo já tinha arrumado com a Lanie boa parte do que precisava ser feito. Agora era só arrumar as bebidas, snacks e ligar o som. Mal terminamos de organizar o que faltava e as pessoas foram chegando.

–Meu Deus Lanie, você chamou quantas pessoas? – Era gente demais, por todos os cantos da casa.

–Eu só chamei a turma de história da arte e baseball. Não sei como apareceu tanta gente.

Agora não tinha mais o que fazer. Eu nem sabia se iria conseguir ver Rick no meio daquela confusão. Eu, Lanie e Esposito tentamos salvar as coisas que podíamos. Tiramos os vasos e taças preferidas da senhora Parish e trancamos na despensa. Mas do resto, toda a casa estava um caos. No fundo eu sabia que essa história de festa feita pela Lanie iria dar alguma confusão. Ela é muito animada e às vezes se excede. Chamar a turma de baseball foi o estopim pra isso. Mas olhando por outro ângulo a situação era realmente engraçada. Posso arriscar até dizer que era divertida.

Resolvi beber alguma coisa e caminhei por entre a confusão ao encontro da poncheira. Nossa já estava acabando e aquela já era a 2ª vez que Lanie tinha enchido. Peguei a concha e fui tentar pegar o que restava na poncheira quando de repente alguém me pergunta;

–Será que ainda tem mais ponche em algum lugar?

–Tem sim, vou pegar já.

–Obrigado. Mas... Você... Você parece com alguém que eu conheço.

Virei-me quando de repente me deparei com ele. Rick Rodgers na minha frente. Eram os mesmos olhos azuis. O mesmo sorriso. Agora mais alto, com cabelos caindo sobre a testa. Seus ombros agora estavam largos.

–Rick?!

–Kate?!

Sorriamos um pro outro como se aquele momento fosse algo indescritível em palavras.

–Você não vai me dar um abraço? – Ele me indagou com tanta convicção. De uma forma tão irrecusável.

–Claro! – Enquanto sorria me encaixava nos seus braços.

Ao contrário do que eu havia imaginado encontrar com ele foi uma sensação maravilhosa. Acho que o acaso foi o melhor presente do tempo. Meu coração batia forte e rápido, mas em compasso perfeito para o momento.

–Puxa vida Kate! Não acredito! Que bom te encontrar no meio dessa confusão. – Ele falou sorrindo.

–Foi ótimo. – Meu sorriso não saia da minha boca. – Lanie deve estar por ai, ela foi quem preparou a festa, mesmo que não tenha saído como planejado.

–Eu estou achando incrível. No Texas as festas são um pouco diferente. Aqui é muito mais engraçado e divertido.

–Faz tempo que você chegou aqui na festa?

–Cheguei há uns 40 minutos. Onde está a Lanie e o Esposito?

–Sabe que eu não sei. Esbarrei com Lanie no corredor do banheiro uns 20 minutos atrás. E o Esposito eu não o vejo desde que aumentaram o som. – Falei sorrindo. Eu não conseguia parar de sorrir. Isso já estava ficando idiota, eu tinha que parar com isso.

–E então? Como andam as coisas na Escola Chilton?...

Nós passamos um bom tempo conversando e contando novidades sobre a vida. Rick e eu tínhamos em comum um lado nerd de ser. Desde criança éramos assim. A conversa fluía como se o tempo não tivesse passado. Era como se nunca tivéssemos nos afastado. Ele ainda era meu amigo de sempre. Sendo que agora ele era alto, carregava um charme fora do comum. O jeito como ele passava os dedos pelos fios cabelo que caia na sua testa era irresistível. Não conseguia evitar esses pensamentos. Volta e meia me pegava o admirando enquanto ele falava. Queria ficar ali pra sempre. Mesmo morrendo de medo de que alguma ação minha ou externa pusesse o momento a perder.