Finalmente o caderninho e seu final de história estavam na minha mão. Essa seria mais uma noite lendo o que finalmente aconteceu com Elizabeth e Bart. Será que Rick iria me surpreender novamente? Respirei fundo e fui direto para as últimas páginas:

“Numa noite qualquer Elizabeth num momento de distração dos chefes entrega a Bart uma carta. A carta dizia que ela precisava fugir e apenas ele poderia ajuda-la. Na carta dizia horário, data e local para que eles se encontrassem. Com medo de ser uma emboscada, Bart prefere observar de longe, na data do encontro, as reações de Elizabeth. Ele percebe que ela o anseia. Em um ato de coragem Bart aparece dentre as sombras da noite. Ela o explica o plano de fuga. Ele concorda além de sugerir ajustes. Mas, antes de terminarem o encontro Elizabeth impulsivamente o beija. Bart finalmente percebe que o que ele sentia por ela é mútuo...”.

“... Tudo estava pronto para a fuga na noite seguinte. O plano estava arquitetado. O chefe junto com o bando iria fazer uma emboscada para a máfia rival, nessa hora Bart seguiria o bando à paisana enquanto Elizabeth desarmaria os alarmes de forma despercebida. Ao chegar à preparação para o ataque o chefe recebe um aviso por um regulador que os alarmes da ‘toca’ foram desligados repentinamente. Preocupado com a segurança do esconderijo ele está pronto para mandar homens de seu bando conferir o ocorrido, porém qualquer desarticulação do bando poderá fragilizar o ataque eminente. Fingindo ser perspicaz como sempre, Bart sugere ir até o local para verificar. Sem escolhas o chefe permite que ele vá, mas que leve consigo dois de seus brutamontes, os mesmos que Bart/Erick vira naquela noite que ouviu pedidos de socorro da sua amada Elizabeth. Agora, porém, Bart não poderia recuar. Algumas coisas sobre luta corporal a convivência na máfia o ensinou, e aquela seria a hora de pô-las em prática.”

“Assim que chegaram ao esconderijo começaram a adentrar no local em posição de procura e ataque, todos eles armados. Bart precisava agir rápido antes que os capangas encontrassem Elizabeth. O chefe, assim como o bando, acreditava que ela estava em Coney Island visitando uma tia avó. Qualquer movimento suspeito seria motivo para eles atirarem. Bart pensa rápido e atirando longe uma tampa de garrafa KS provoca nos capangas a sensação de algo por detrás do bar se movimentava. Bart sabia que Elizabeth o esperaria na porta traseira do esconderijo. Os dois brutamontes logo se amontoam próximos ao bar. Bart pensa em atirar, mas seu lado Erick jamais teria essa coragem. Ele trava em meio à indecisão. De repente ele ouve três tiros vindos por detrás dele. Bart se assusta e recua observando movimentações. Já não é possível ver em meio a recente escuridão o que realmente aconteceu. Ele se inclina a procura dos capangas e toma um susto ao ouvir alguém chamar seu nome. Elizabeth tem uma arma em punho. –Bart! Vamos rápido! – Bart se choca num misto de susto e felicidade. Sua amada Elizabeth acabara de atirar no quadro de energia, deixar o lugar às escuras e matar os capangas, cada um com um único tiro. Ela o chamava para a fuga. Bart dirigiu com Elizabeth até cruzar a fronteira de Nova York com Nova Jersey. Ambos com coração na mão. Assim que saíram de Nova York Bart revela para Elizabeth sua verdadeira identidade. Aquela mulher que de primeiro encontro lhe parecia frágil e indefesa o surpreendeu com o ato de coragem, agilidade e sagacidade quando atirou nos capangas. E Elizabeth confessa que nunca foi uma mulher frágil e sempre soube atirar, mas que sem a ajuda de Erick, ela não teria conseguido fugir. Elizabeth sempre o surpreendia de diversas formas, e agora, ela se surpreendia com ele. Bart que de primeira mão lhe parecia um sujeito tão enigmático em sentimentos, que parecia sempre favorizar a razão ao invés da emoção a surpreendia com a revelação de ser na verdade Erick Morisson. Erick e Elizabeth se completavam e apesar deles passarem meses após meses como nômades que fugiam de qualquer vestígio que pudesse fazer a máfia os encontrarem, o amor entre os dois imperavam mesmo diante de todas as dificuldades e circunstâncias. Era um amor verdadeiro fadado a viver entre aventuras e alta adrenalina.”

Uau! Que surpreendente... A Elizabeth atirar? Poxa. Confesso que por isso eu não esperava. Será que Rick, de acordo com esse final, pensa que eu sou corajosa, decidida e surpreendente assim como Elizabeth? E ela também se surpreendeu com o Bart que na verdade era Erick. Será que com isso Rick quer dizer que tem segredos dele dos quais eu não sei? Bom, mas espero que isso tudo realmente seja apenas uma boa ficção. Porque não está nos meus planos viver uma vida de fuga, aventura e adrenalina! Gargalhei. Mas ao mesmo tempo pensei; “Rick... Meu maluquinho.”.

Eu tinha acabado de vê-lo. Passei uma tarde quase inteira com ele. Mas eu não sei explicar como e nem o porquê eu sinto falta dele em todo minuto que ele não está aqui comigo. Sinto falta de beijá-lo agora mesmo. Quem sabe até brincar de Elizabeth e Bart? Dou outra risada. Eu estou indo tão fundo, tão intensamente nos meus sentimentos, que às vezes acho que isso ainda irá me causar problemas. Eu sempre penso se ele está indo tão fundo quanto eu. Eu iria me sentir mais segura se ele demonstrasse uma preocupação semelhante. Mas garotos nunca pensam assim! Todos eles são iguais!... Ou talvez não. Talvez Rick seja realmente diferente... Meu celular toca interrompendo meus pensamentos...

–Alô?

–Ei! E aí?

–Rick, tudo bem... E você? – Eu tinha um sorriso bobo nos lábios. Eu estava pensando nele e ele então me ligou. Nunca antes tinha me sentido tão estúpida num telefonema.

–Melhor agora que ouço a sua voz. Mas e aí? Você está ocupada ou algo assim?

–Não, não. Pode falar... Eu acabei de ler o fim da história do Bart e da Elizabeth...

–Legal! E aí? Diz-me o que você achou...

–A Elizabeth ter atirado. Nossa! Surpreendeu-me!

–Então você gostou?

–Curti sim.

–E sobre eles terem ficado juntos, vivendo outras aventuras?

–Ah, legal... Mas fiquei imaginando que aventuras seriam essas.

–Ah, isso são cenas para uma parte dois Kate.

–Espera! Então você vai escrever mais um?!

–Bom, eu pretendo.

–E qual seria o título dessa história?

–Pseudônimo: Bart. O que acha?

–Acho que pode melhorar...

–Ah é mocinha? Vai dar palpites agora... Quero ver!

–Eu só disse que pode ficar melhor... Calmo ai! – Sorrimos alto.

–Ok Kate... Eu vou pensar. Mas calmo mesmo eu só iria ficar se eu pudesse te beijar agora.

–Rick... – O chamei manhosa. – Eu também... Sabe Rick... Posso não ser uma expert em literatura, mas gosto do jeito que você escreve. Você surpreende, me chama atenção.

–Obrigada Kate. E sabe... Eu estava aqui pensando no dia que a gente teve hoje. E eu pensei... Uau! Eu acreditava saber todas as coisas incríveis sobre ela, mas eu não sabia. E Kate, talvez seja cedo para dizer coisas desse gênero, mas acredito que existem muitas outras coisas a seu respeito que eu desconheço.

–E isso para você é algo ruim ou bom? – Perguntei com medo.

–É perfeito. – Ele falou romanticamente. Silenciamos. – Kate?

–Oh! Que bom então! – Sorri sonoramente.

–Amanhã? O que vai fazer?

–Ai Rick! Acho que não vai dar pra gente se ver. Preciso comprar umas coisas que faltam para o início das aulas agora na segunda-feira. Além disso, mamãe me pediu para ajudar ela numas coisas...

–Tudo bem então... A gente se vê segunda... – Silenciamos, mas dessa vez por menos tempo. – Eu vou sentir sua falta.

–Também vou. Queria te ver. – Sorri. – Mas já que não dá pra se ver a gente se fala amanhã... Beijos Rick!

–Beijos! A gente se fala... Boa noite Kate!

–Boa noite... – Um sorriso estava estampado em meus lábios. Ansiei desde desse minuto em que a ligação se encerrou pela manhã de segunda-feira. Pelo início das aulas. Pelo toque e beijos do Rick.