Entramos novamente no castelo, Elsa segurava minha mão, seus olhos fixos no chão enquanto andávamos. Norte seguia falando alto e com passos grandes. Assim que chegamos no segundo andar ele se virou para nós.

– Acredito que vocês dois tem coisas a me contar. - Fala.

Olho Elsa pelo canto do olho, e a vejo engolindo em seco, tenho certeza que ela não deve gostar de se lembrar do que aconteceu. Limpei a garganta.

– Acho melhor sentar... - faço um movimento com a mão e uma cadeira de gelo emerge do chão.

Ele olha minha mão e depois a cadeira. Norte sabe que não sou capaz de controlar o gelo sem meu cajado, ele se senta lentamente e eu começo meu relato.

Algum tempo depois Norte olha para o chão, seu típico olhar calmo e entusiasmado foi substituído por uma seriedade que não me acostumei a ver, ele une as mãos e me olha.

– Se Pitch pegou seu coração, e aparentemente sumiu novamente, como explica sua segunda vida continuar? - Pergunta. - Acho que seu período com o Coração Congelado já deveria ter acabado.

Elsa franze a testa e olha pra mim.

– Coração Congelado?

Fiz um gesto pra ela esperar.

– Também não sei explicar. - Falo. - Seja lá como Pitch me trouxe de volta a vida, eu acreditava que eu não devia ser considerado uma força benigna, sendo que trabalhei com Pitch e que convenhamos, se juntarmos meu gelo com as trevas dele formaria um estrago.

Norte passa a mão pela cadeira que senta.

– Acha que seus poderes, combinados aos de Pitch mais os do Coração Congelado é o que tem fazendo você estar mais forte? - Pergunta.

Entrego o cajado a Elsa, sentindo o breve formigamento em minha mão quando o tocamos juntos, e estendo minha mão pro outro lado, uma rajada saí atingindo a parede e penetra o gelo já existente ali, ergo um pouco a mão e a geada começa a se espalhar dentro do gelo.

Norte fica perplexo.

– Não é comum uma pessoa ficar tanto tempo assim com o Coração Congelado... - fala. - Acreditam que uma pessoa possa congelar no momento em que tiver o tiver em si, não entendo porque ou como você continua... normal.

Baixo a mão e a olho. Olho Elsa novamente e seguro o cajado junto com ela, uma geada branca e azul se espalha na madeira como antes.

– Quando eu e Elsa usamos meu cajado juntos, a energia de poder que se concentra é incrivelmente forte. - Falei. - Grande parte das vezes que estive com ela meus poderes ficaram mais fortes, ou eu os usava com mais inteligência. - A olhei.

Seus olhos azuis caíram nos meus, e concordei com a cabeça, olhamos para o topo do cajado e um rastro fino de gelo começou a sair, flutuando pelo ar, um segundo saiu e nos rodeou, sorri leve olhando aquilo.

– É impressionante... - murmura Norte se levantando, ele toca em um dos rastros e o mesmo passa por sua mão delicadamente. - Vocês se completam... O comum de quando há dois iguais em nosso tipo é de se repelirem, mas vocês completam um ao outro.

– De mais de um jeito... - Elsa soltou sem querer.

Senti meu rosto ficar quente ao mesmo tempo que ela corou. Soltamos o cajado ao mesmo tempo e ele caiu no chão, nos olhamos, olhei suas mãos, estendi a minha e ela a segurou.

Foi uma coisa que ainda não tinha acontecido entre nós, mas senti aquele mesmo formigamento do cajado, e imagens passaram em minha cabeça.

Elsa, em vários momentos, cantando, conversando, planejando. Sua expressão era determinada, ela conseguia ser independente, mas por algum motivo, desde que nos conhecemos, parece que aquela mulher que nunca tropeçava, tropeçou, e caiu nos meus braços.

Era um lado dela que eu sabia que ela não mostrava, algo que ela só mostrava pra mim, sem deixar de lado aquela mulher sem medo. Mas mesmo assim, algo que eu sabia que ela mostraria apenas pra mim e pra mais ninguém.

Pelo olhar que ela me deu, entendi que ela devia ter visto algo parecido com o que eu vi.

P.O.V Elsa.

Quando ele tocou minha mão, senti que aquela ligação que eu sabia que já existia entre nós se intensificou. Seus dedos quentes me trouxeram lembranças da minha primeira vez com ele.

Lembrei de todas as vezes que aqueles braços me abraçaram em um abraço desajeitado, que aquela boca dei um sorriso levado pra mim, e que aqueles olhos sempre brincalhões ficaram sérios enquanto ele me protegia.

Eu nunca precisei de um príncipe.

Sempre cuidei de mim mesma, e de todos ao meu redor.

Mas desde que eu conheci Jack, eu perdera a conta das vezes que deixei ele cuidar de mim, colocar minha cabeça em seu peito e dizer que estava tudo bem, e que ele estava ali.

Jack tomava conta de bilhões de crianças no mundo inteiro, mas ficou dias e mais dias, semanas, talvez até meses comigo, tendo certeza que eu estava bem, de que eu estava segura e protegida.

Quando aquelas sensações e lembranças se fecharam, vi que ele também devia ter visto uma parte de mim que ninguém conhecia.

O meu coração mole, solitário e congelado.

Que havia voltado a bater no segundo em que o vi.

Joguei-me em seus braços e suas mãos apertaram minha cintura enquanto me girava e sua boca colou na minha.

O coração que havia em seu peito podia estar com Pitch.

Mas os sentimentos que guardava nele estava comigo.

Jack era meu, e ninguém tirava de mim nada que era meu.

P.O.V Elsa Off.

Era simples assim, se ela estivesse comigo. Se eu soubesse que ela continuava em algum lugar ali perto, ou que estivesse em qualquer lugar no mundo.

Se ela sempre me amasse.

Eu ão precisava de um coração.

Ela era meu coração.