Sutil escrita por Jibrille_chan


Capítulo 5
Capítulo 5




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Depois de uma conferência entediante, mais reuniões entediantes. Como as coisas podem ser tão chatas, eu me pergunto? E o mais trágico nisso tudo é que eu sempre achei isso chato. Mas nunca tinha dado muita importância a esse fato.


Pensamentos incoerentes da minha parte.


E nem bem eu tinha posto meus pés no Japão, já haviam me informado de uma outra conferência, dessa vez em Londres. O primeiro pensamento que me veio à mente foi a tragédia que seria passar mais uma semana com Aoi do meu lado. Por isso, nas duas semanas ates de viajar novamente, eu me reservei o direito de sequer olhar pra cara do moreno.


Franzi o cenho, não ouvindo uma só palavra que um dos meus sócios engravatados dizia, repassando as palavras misteriosas de Aoi lá em Paris. De onde ele me conhecia? Os únicos amigos que eu tinha vinham do colegial, época em que eu passei a freqüentar uma escola pública. Antes disso, eu havia estudado num internato na Suíça, mas tinha poucas lembranças de lá. Só se o petulante do Shiroyama havia investigado a minha vida.


Não que isso fosse difícil.


Herdeiro de uma grande companhia. Vindo de uma família de renome e rica. Se pessoas nesse perfil não se tornassem como eu, seriam mimados riquinhos e estúpidos. Não era difícil descobrir coisas ao meu respeito. Mesmo porque quando Ruki começava a falar, não havia quem o parasse. Talvez Reita. Hmmmmm.


- Qual a sua opinião, Takashima-san?


- É, pode ser que haja algo mesmo...


Pisquei, assustado, percebendo que havia falado em voz alta. Olhei para o sócio, que por alguma razão parecia satisfeito com a resposta. Cara estranho.


- Então podemos exportar para as Filipinas?


- O quê? Ah, sim. Se há mercado consumidor, não vejo porquê não investir...


O sócio ficou falando mais um tempo sobre o raio das ilhas Filipinas, e eu discretamente corri os olhos pela mesa. Os lugares não eram marcados, mas... Oh. Ohhhhhhh. Agora sim eu via um certo padrão. Em qualquer cadeira que se sentassem, Ruki e Reita sempre estavam lado a lado. Assim como Kai e Nao.


Assustador. Muito assustador.


Mas... seria possível? Dos outros três eu até poderia deduzir alguma coisa, mas... sei lá, Reita me pareceu sempre tão másculo. Tão homofóbico. Mas havia o ditado, ne? "Quem vê cara, não vê coração". Essa situação... está ficando incômoda. Bem, mas talvez seja apenas a minha mente me pregando peças. É, deve ser isso. Devo estar ficando paranóico.


E como a minha linha de raciocínio chegou aqui?!


- Tudo bem então, Takashima-san?


- Hã? Ah, hai. Podemos encerrar a reunião, sim?


X X X X X X X X X X

- Não que você seja uma pessoa comunicativa como Ruki-kun, mas... Tudo bem, Uruha?


Olhei para o moreno, que me encarava, o cenho franzido. Estávamos dentro do avião, indo para a conferência de Londres. O fato é que eu passara o tempo que estivera em Tóquio apenas observando os supostos... casais. E quanto mais eu olhava, mais me intrigava. Não que algum dos quatro desse margens a outras interpretações (graças aos céus), mas... Eu não sabia dizer.


- Eu só estou... um pouco aéreo. Sem trocadilhos, por favor.


Ouvi seu riso, e o olhei. Ele negou com a cabeça e virou para me fitar.


- Fala logo. O que quer que esteja te incomodando já te tirou algumas noites de sono, não é?


Meus olhos se estreitaram na sua direção. Aquele conhecimento que ele parecia ter sobre mim me irritava. E muito.


- Tirou sim.


- Não vai me contar?


Suspirei, incerto. Bem, pra alguém eu tinha que contar, não é mesmo? Mesmo que fosse para uma das pessoas que eu mais detestasse. E o pior era que, por mais que eu o detestasse, eu me sentia à vontade pra falar com ele. Estranho.


- É que... sei lá... ultimamente eu... ando desconfiando de algumas coisas.


- Hm. Que tipo de coisas?


- De que... de que... - girei no meu assento, ficando de frente pra ele. - Você acha que o Reita, o Ruki, o Kai e o Nao têm um caso?


Ele arregalou os olhos instantaneamente.


- Assim, à quatro?


- Não, seu baka. O Reita com o Ruki e o Kai com o Nao.


- Aaaaaaaaah ta. - deu de ombros. - Provavelmente. Por quê?


Fiquei o encarando, a boca entreaberta.


- Ta brincando comigo, ne?


- Não. Eu acho que eles realmente possam ter algum relacionamento. Todos são maiores de idade, vacinados, sabem se cuidar sozinhos. Não vejo motivo pra tanto choque.


- Mas Aoi...


- Vai me dizer que você é do tipo preconceituoso? Nossa, Takashima, esperava mais de você.


Franzi o cenho brevemente, registrando o uso do meu sobrenome. Mas logo recuperei minha linha de raciocínio.


- Não é que eu seja preconceituoso...


- Então é homofóbico.


- Dá pra parar de me interromper? Obrigado. Não é questão de preconceito... É que eu os conheço há tanto tempo... nunca me passou pela cabeça que eles pudessem ser...


- Homossexuais. - ele completou.


Eu assenti, mudo. Tinha plena noção de que estava vermelho. Agradecia também que os passageiros próximos à nós estavam dormindo. Era uma situação... inusitada pra mim. Era algo que eu não esperava, realmente. Mas pelo menos meus amigos haviam sido bem discretos.


- Hey, Uru. Com o tempo você se acostuma. Só não... Não se afaste deles. Eles são seus amigos, não são?


Parei, para ponderar a pergunta que me era feita. Eles quatro eram quem mais me conheciam. Sempre, não importasse quantas patas e gritos eu desse, eles sempre estavam ao meu lado. Mesmo quando eu os magoava com as minhas palavras rudes. Deuses. Como eu era insensível.


- Uru-chan?


Voltei meus olhos para o moreno, e fiz uma coisa que eu nunca havia feito na frente dele antes. Algo que eu mal lembrava quando havia sido a última vez que eu havia feito. Eu... sorri. Claro que não era um sorriso aberto, eu não ia dar esse luxo justamente para Aoi. Mas mesmo assim, a expressão de choque no rosto de Aoi foi como se eu tivesse lhe dado uma bofetada.


- Eu acabei de perceber algumas coisas, Aoi. E tenho que te agradecer por isso.


Ele arqueou as duas sobrancelhas.


- Você tá com febre? Bebeu alguma coisa que não devia? Uru, larga essa vida de vícios, menino...


- Baka! Eu só estou tentando ser gentil, mesmo que você não mereça.


- Mas esse é o fato assustador. Você. Sendo gentil. Comigo.


- É, eu me enganei. Você não me conhece nem um pouco.


- E você por um acaso deixa?


Pisquei, tentando entender em como a conversa havia chegado naquele ponto. Suspirei, exasperado.


- Olha, se não quiser, tudo bem. Não precisa me pôr na linha de tiro.


- Primeiro, eu não te pus em linha de tiro alguma. Você mesmo se contradiz com seus atos, sem ajuda de ninguém. Segundo, quando foi que eu recusei?


O encarei por alguns segundos, tentando achar algum argumento. Minha boca até chegou a se abrir, mas acabei por fechá-la. Virei-me de frente para a poltrona à minha frente, encarando o encosto do assento, emburrado. Ouvi a risada baixa de Aoi, o que só serviu para aumentar a minha irritação.


- Você não me respondeu uma coisa.


- O quê? - perguntei, a má vontade estampada na voz.


- Perguntei se você era homofóbico.


Me virei novamente para ele.


- Primeiro, você não perguntou, simplesmente afirmou sem conhecimento de base. Segundo, eu não te devo satisfação nenhuma da minha vida, mas já que você faz questão de saber e eu sei que não vai me deixar em paz até eu responder, não, eu não sou homofóbico. Só que eu nunca... nunca me interessei por um homem.


Ele me lançou um olhar estranho, franzindo o cenho.


- Nunca?


- Não, nunca. Satisfeito?


Ele virou-se para olhar a janela. Eu voltei a encarar o assento da frente. Mordi o lábio, sem saber o que dizer. Odiava ser assim tão curioso.


- Vai em frente, pergunta.


- Hm? - me virei para Aoi, instantaneamente.


- Pergunta, Uru. Você ta morrendo de curiosidade, que eu sei. Pode perguntar.


Ele tinha aquele sorriso sacana nos lábios. Maldito.


- Você... você...


Ele começou a rir.


- Eu não vou te fazer passar por isso. Não é que eu seja gay, Uru... Eu sou romântico. E, como um bom romântico, eu acredito que um sentimento como o amor não escolhe dia nem hora para surgir... e muito menos o sexo da pessoa. Isso é só um detalhe no processo.


- Você falando assim, parece simples.


- Mas é simples, Uru. As pessoas é que complicam, mascarando preconceitos com a chamada "moral". A sociedade em si é uma farsa.


-...


- O que foi?


- Você não parece ser do tipo romântico.


Ele começou a rir, e eu fiquei apenas esperando que sua crise passasse.


- Isso, Uru, é porque você não me conhece.


- E por acaso você deixa?


Ele ergueu a sobrancelha, reconhecendo a pergunta de sua própria autoria. Depois sorriu largamente, voltando a fitar a janela.


- Eu nunca te impedi, Uru. Você que nunca quis saber.


Fiquei o observando por um tempo, mas logo desisti de continuar aquela conversa, que não iria nos levar a lugar algum.


X X X X X X X X X X X

O hotel em que ficamos hospedados estava mais movimentado do que seria o habitual. Do que Aoi conseguira ouvir e me traduzir, parecia que haveria um leilão de jóias no salão de festas do hotel dali a alguns dias. Joguei minhas malas no meu quarto, e rumei para o banheiro. Tomei um banho mais demorado que o habitual, ainda pensando na minha conversa com Aoi no avião.


Detesto jogos de palavras. E o cretino era bom nisso.


Coloquei uma roupa menos formal, e fui olhar o salão de festas do hotel. Sim, curiosidade pode ser um mal perigoso. Quando entrei no grande salão oval, confesso que fiquei admirado com a beleza da decoração. Os panos prateados, combinados com o lustre de cristal, parecia algo digno de um reino.


- E ainda dizem que o mundo é grande.


Eu não quis acreditar. Não quis acreditar que era aquela voz que eu estava ouvindo. Virei-me na direção daquela voz, deparando com Kurotsuki Mei trajando roupas formais inteiramente brancas, os cabelos novamente presos num coque. Mas seu sorriso sacana, cópia exata do de Aoi, desmentia toda a pose de boa moça.


- Takashima Koyou. É uma honra recebê-lo em um dos hotéis da minha família.


Ela fez uma pequena mesura, e meu queixo caiu alguns centímetros. Logo depois ela sorriu e me estendeu a mão.


- Vem, vamos sair disso aqui... Não, eu não vou te levar pra nenhuma corrida, Takashima! Vem!


E, ainda tendo um duelo interno, acabei por seguir aquela criatura demoníaca, mesmo que ela estivesse vestida de branco. Mas logo depois eu entendi o porquê da roupa branca. Era simplesmente para combinar com a sua...


- Uma ferrari branca?


- Essa é de estimação. Não vendo, não empresto e nem alugo. Entra aí.


Ainda me perguntando como esse povo conseguia carros tão luxuosos, entrei na ferrari, me arrependendo amargamente quando Mei pisou no acelerador.



Continua...

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