Sutil escrita por Jibrille_chan


Capítulo 2
Capítulo 2




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Eu estava completamente estressado. Não que isso fosse alguma novidade, mas eu estava estressado mais do que o normal. Aquela maldita conferência em Paris estava me tirando o sono. E eu ainda precisava arrumar urgentemente uma empregada. Meu apartamento continuava do mesmo jeito que Kana havia deixado. Há três semanas atrás.


O tal intérprete estava se adaptando bem na empresa. Na verdade, nas – felizmente – raras ocasiões em que eu o encontrava, ele não calava a boca. Parecia o Ruki. Mas eu iria ficar uma semana com ele em Paris, então teria que aprender a aturá-lo por bem ou por mal. Estava começando a cogitar a possibilidade de colocar sonífero na bebida dele, para que ele não falasse um "a" durante o vôo.


Já havia passado todas as informações para Naoyuki, que iria me substituir enquanto eu estivesse fora, e agora eu estava ali no aeroporto, esperando o alguma-coisa-yama dar o ar de sua graça.


Eu detestava esperar.


Faltando apenas dois minutos para fecharem as portas do avião, eis que a criatura me aparece.


- Está atrasado.


- Eu sei. O que é a vida sem emoções?


Ignorei o comentário do moreno e logo embarcamos no avião. Contrariando todas as minhas expectativas, o ser de piercing não disse nada durante toda a viagem. Ele simplesmente virou para o lado e dormiu.

Enfim um pouco de paz e silên---


- Takashima-san, por que você é sempre tão sério?

Sabia. O que é bom dura pouco.


- Porque eu sou uma pessoa normal.


- Não.


- Não?


- Você é uma pessoa estressada, é diferente.


- Eu não sou estressado!


- Olha aí, você já começou a gritar.


- Você me tira do sério. Será que pelo menos uma vez na vida você não pode simplesmente calar a boca e dormir?


Virei-me para olhá-lo de frente, e confesso que me assustei. Ele tinha um sorriso satisfeito no rosto, os olhos brilhando intensamente. Aquilo só podia significar uma coisa: ele estava me provocando. Estava me irritando de propósito. Ficamos nos encarando por alguns segundos até ele resolver fechar os olhos e dormir. Suspirei, aliviado.


- Não muda o fato de você ser estressado.


- AAAAAHRG! Cale-se!


X X X X X X X X X X


A primeira coisa que fiz ao chegar naquele maldito hotel foi caçar desesperadamente um cigarro.
Sentei-me na poltrona que havia na suíte e tentei relaxar, tragando meu cigarro calmamente. Haviam pessoas que me irritavam, mas aquele rapaz estava batendo o recorde. A presença dele já começava a me irritar.


Fiquei ali por alguns minutos até alguém bater suavemente na porta. Deuses, uma pessoa não pode ter um minuto de paz? Levantei-me, muito a contragosto, e atendi a porta. Dando de cara com quem eu menos queria ver.


- O que você quer?


- Calma, Takashima-san. Só vim aviar que a conferência foi adiada.


- Adiada?! Como assim, adiada?!


- Ao invés de começar amanhã, começará depois de amanhã. E terminará um dia depois do programado.


- Ah, eu odeio esses infelizes! Mas que falta de organização! Vou ter que ligar para Naoyuki e...


- Eu já liguei.


Pisquei.


- Já ligou?


- Já. Já avisei ao Nao que ele terá de bancar o chefe um dia a mais do que o previsto.


- Bom, então... Agora é só esperar.


- É.


-...


-...


-...


- Takashima-san... Tenho uma proposta pra te fazer.


- Nada o que venha de você pode me interessar.


- Mas você ainda nem ouviu... Uruha.


Fiquei estático. Creio que a cor também tinha sumido do meu rosto.


- Como você sabe desse nome?


Ele começou a rir.


- Eu posso até te contar como eu sei, mas... terá um preço.


- Shiroyama, isso não é uma brincadeira. Anda, quem foi que te contou desse nome?


- Olha, você sabe meu nome...


- Sei. E eu exijo que você me diga agora quem te contou esse nome.


- Façamos um trato, Uruha. Você sai comigo essa noite e no final da noite eu te conto quem me contou.


Olhei pra ele, incrédulo.


- E você espera que eu aceite?


- Não. Eu sei que você vai aceitar. Sua curiosidade te impede de recusar. Estou certo?


Suspirei, ao mesmo tempo irritado e derrotado.


- Certo. A que horas vamos?


Ele sorriu, vitorioso. Como aquilo me irritava.


- Assim que você se trocar. Te espero no saguão.


X X X X X X X X X X


Saí do elevador furioso comigo mesmo. Como, eu me pergunto, eu havia concordado com aquilo? O fato é que o cretino do Shiroyama havia apelado para o meu ponto fraco: a minha curiosidade.


- Muito bom... Só levou dez minutos para se trocar. Achei que ia levar uns quarenta...


Olhei para a criatura infernal parada ao lado do elevador.


- Eu já estou aqui. Só não me diga que você vai me levar para um restaurante.


Ele começou a rir. Cínico.


- Não. Eu vou dar um pouco de aventura para a sua vidinha parada. Me segue.


Sem que eu tivesse muita alternativa, fui seguindo o moreno até à frente do hotel, onde um rapaz uniformizado veio trazer...


- Um Jaguar? Como você conseguiu um Jaguar?


O moreno sorriu de canto.


- Esse aqui é meu. Eu já estive em Paris.


- E assaltou um banco?


- Não. Trabalhei por isso.


- Deve ter trabalhado muito, pelo visto...


- Disse alguma coisa?


- Ah... Nada.


Entrei no carro calado, admirando o painel do carro.
Era um modelo muito bonito, todo... preto. Tinha a ligeira impressão que o carro só possuía aquela cor exclusivamente para combinar com a jóia no lábio inferior do moreno. Já tinha conhecido pessoas egocêntricas... mas isso foi o cúmulo.


- Onde você vai me levar?


- Já disse que vou dar um pouco de ação à sua vidinha parada.


- Eu não vou fazer nada ilícito, entendeu?


- Calma. Vamos ver uma velha conhecida minha.


O sorriso que se desenhou nos lábios dele não me acalmou em nada. Se não soubesse que sairia muito ferido, me jogaria daquele carro. O que eu mais estranhava era que Shiroyama (é, acabei por decorar aquele nome) parecia totalmente familiarizado com as ruas parisienses. Quanto tempo será que ele havia estado ali?


- Chegamos.


- Ah... Shiroyama? Isso é uma garagem.


Havíamos parado em uma das entradas de uma garagem, daquelas que tinham andares subterrâneos cheias de curvas que eu detestava fazer. O moreno sorriu de lado novamente.


- Teoricamente.


Colocou a cabeça pra fora e começou a conversar com o guarda, em francês. O senhor parecia conhecer Shiroyama, e aquilo ia me intrigando cada vez mais.


- Desce.


- Oe?


- Desce do carro. Vamos à pé daqui.


Sem entender absolutamente nada, desci do carro, apenas observando. Shiroyama entregou a chave do carro para o senhor, depois foi entrando no estacionamento. Sem saber o que fazer, eu apenas o segui. Ele não disse uma palavra até pararmos em frente a um elevador.


- Só uma coisa, Uruha... Aqui dentro, me chame de...


- AOI-KUN!


A porta do elevador subitamente se abriu, e de dentro dele um vulto ruivo envolto em vinil preto pulou no pescoço de Shiroyama. O moreno enlaçou o... ser e deu um giro, suspendendo-a no ar. Depois que eles se separaram eu pude reparar melhor.


A garota não aparentava ter mais idade do que eu ou Shiroyama, os cabelos tingidos numa tonalidade viva de vermelho. Usava um corpete preto, shorts curtos mas que não eram vulgares, e botas que iam até acima dos seus joelhos. E o sorriso dela era a cópia perfeita do sorriso de Shiroyama.


- Seu baka! Por que não avisou que viria?


- Até parece que você não me conhece... Bem, deixe-me fazer as apresentações. Uruha, esta é a Maiden, a dona das noites mais badaladas de Paris.


Ela olhou para mim, e eu juro que vi uma faísca passando pelo seu olhar, mas foi muito rápido. Logo depois ela sorriu e perguntou alguma coisa a Shiroyama em francês. O moreno sorriu largamente e respondeu, fazendo Maiden rir. Depois ela se virou para mim.


- Bem, Uru-chan. Bem-vindo à noite parisiense! E vocês chegaram na melhor noite!


- Melhor noite? – ergui uma sobrancelha, tentando entender.


- Venha, vamos descer. – entramos nós três mais dois seguranças no elevador, e um deles apertou o botão para o último andar. – Uru-chan... – aquela intimidade estava me irritando. – Você sabe o que drift?


- Drift? Não faço idéia, o que é?


Shiroyama rui.


- Isso é drift.


A porta do elevador se abriu, e eu vi dois carros mais à frente fazendo uma curva que com certeza tinha menos de sessenta graus, os dois carros derrapando. O cheiro de pneu queimado se fazia presente, enquanto os carros faziam a curva praticamente andando de lado.


- Aoi... Eu disse que não faria nada ilícito.


Aoi apenas riu, saindo do elevador e me puxando junto.


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