– Puta merda, Edward! – Ele me empurrou levemente. – Você e essa sua boca grande. Agora a Bells vai saber.

– Saber de... – Ela insistiu um tanto quanto impaciente.

Olhei para Emmett e engoli em seco. Eu não fazia ideia do que dizer.

Só quem já passou pela situação de ter que esconder uma mentira, quando se quase é pego, sabe o quão é difícil sua mente funcionar e trabalhar para fornecer algo minimamente aceitável. Eu nunca fui bom para agir sobre pressão. Porém, para meu total alívio, o irmão que se encontrava ao meu lado o era. Só eu poderia saber o quanto era grato por ter Emmett ao meu lado, não só naquele momento, mas em todos.

– Se eu não te contar você vai encher meu saco para o resto da vida, não é? – Minha noiva fez que sim com a cabeça e abriu o maior dos sorrisos, enquanto esperava a continuação. – Então tá, sabe o casamento do seu ex? – Ele não esperou por uma resposta. – Eu e sua vó Abbie falamos com o Mike para te fazer uma surpresa no dia do casamento dele. Lá mesmo o Edward ia te fazer um pedido formal e verdadeiro de casamento. O Mike aceitou de pronto, queria se redimir por tudo o que fez. Mas agora... Você estragou tudo, Bells.

Isabella me encarou com aqueles olhos que eu tanto amava. Eles estavam sorrindo para mim, ao mesmo tempo em que lágrimas escorriam deles. Aproximei-me dela para enxugar-lhe o rosto. Também lhe sorri com os olhos e beijei o topo de sua cabeça, deixando meu lábio repousar ali por alguns segundos.

– Desculpe, Edward... – Ela murmurou.

– Ei não tem que pedir desculpas, Bella.

– Tenho sim, eu sou uma idiota! Achei que você estivesse mentindo pra mim.

E estava.

Estava mentindo para ela, assim como boa parte da dela e da minha família. Estava mentindo para ela depois de tanto querer a verdade. Estava mentindo para ela na cara de pau. Mas o que eu poderia fazer? Apenas conviver com aquilo dentro de mim. Com a culpa. Um dia, talvez, eu pudesse contar a ela. Quando estivéssemos completando 20 anos de casados. É, talvez.

– Posso saber o que é isso aqui? – Rosalie entrou na sala.

– Bella descobriu a surpresa que o Edward queria fazer para ela. – Emmett deu de ombros e andou para perto da esposa, abraçando-a e permanecendo com os braços ao seu redor depois de afrouxar o abraço.

– Surpresa? – Ela estava com o cenho franzido. Certamente não acreditara naquela história de surpresa, Rosalie conhecia tanto a mim quanto ao marido.

– Surpresa, Rose. – Insisti nervosamente, torcendo para minha cunhada cooperar com aquela farsa.

– Que lindo Edward. – Ela anuiu por fim, sorrindo como uma mulher encantada e romântica. Rosalie Cullen era uma boa atriz. – Emmett nunca me faz surpresas.

– Ei, a ideia foi minha! – Ele protestou. – Sou um homem romântico.

– É? – Rose revirou os olhos. – Então me apresenta esse lado que eu não conheço.

– Eles sempre têm essas DRs? – Bella sussurrou para mim, e eu me limitei a rir. Ela realmente não conhecia Rosalie. A mulher do meu irmão que era tão, ou mais, delinquente que ele. Eles se conheceram na adolescência, após serem pegos pela polícia, por protestar em um mercado público, na época das eleições. A srª Cullen quase teve um surto ao saber que seu amado filho estava prestes a se casar com uma garota “da rua”, como ela chamava.

– Minha doce Rosalie Cullen. Doce como uma doce batata. Não sei como terminar o poema. Te darei um beijo antes que você me bata. – Ela gargalhou com a declaração do marido. Aquelas palavras haviam sido ditas antes de um pedido de namoro. Aqueles foram os versos ditos por ele no dia do casamento. E desde então, sempre repetia aquilo para ela. Eu tinha de admitir, era algo romântico de ser ver. Claro que romântico no nível Rosalie e Emmett.

– Podíamos renovar nossos votos numa delegacia, o que você acha, Emm?

– Se fizermos um protesto antes, eu adoraria, meu doce mais doce que batata doce.

– Te amo.

– Te amo mais.

E então, como sempre, eles se beijaram.

– Acabou? – A voz de Bella soou um tanto curiosa e surpresa.

– Acabou o que, Bella? – Rosalie indagou separando-se de Emmett.

– A briga de vocês, é sempre assim?

– Não estávamos brigando. – Gargalhou ela. – Bellinha, eu e Emmett somos farinha do mesmo saco. Só que eu sou a melhor.

– Só porque tem uma ida a delegacia a mais que eu. – Ele revirou os olhos. – Um dia resolveremos isso.

– Que tipo de exemplo você dá a sua filha, Emmett Cullen?

– Que tipo de exemplo você dá a sua filha, Rosalie Cullen?

– Quem são vocês? – Isabella perguntou gargalhando.

– Minha família Bella, e agora você faz parte dela. – Gargalhei junto com a minha nova, relaxando pela primeira vez desde que aquela cena começara.

– Edward, só me prometa uma coisa, não criaremos nossos filhos dando maus exemplos okay? Nada de cadeia para nós.

– Nada de cadeia para nós. – Ecoei suas palavras. – É uma promessa.

********

– Edward, quanto tempo! –Charlie me abraçou assim que pus os pés em sua casa. Fazia pouco menos de um mês que ele retorna-ra para Forks, após sua “melhora”. Devo admitir que depois que ele se foi de minha casa, um peso enorme saiu das minhas costas. Não era como se eu nunca houvesse mentido, muito pelo contrário, mas, de alguma maneira estranha, a ausência de meu sogro tornava as coisas um pouco melhores para minha consciência.

– Olá, Edward. – Ângela veio me cumprimentar. Recebi um olhar fulminante de Isabella, que estava do outro lado da sala conversando com a avó. Tive de conter o riso, aquela mulher ficava linda com ciúmes. – Tudo bem com você?

– Tudo ótimo comigo, Ângela. – Sorri para minha cunhada. Eu tinha de ser educado. – E você, como vai?

– Melhor agora. – Então ela enlaçou meu pescoço com os braços e juntou a boca em meu ouvido. – Quando você cansar da Bella, eu vou estar aqui. Prontinha pra você.

– Ângela... – Sussurrei seu nome enquanto libertava-me de seu enlaço. Dei-lhe um beijo na testa e, olhando no fundo de seus olhos, com o maior dos sorrisos estampado no rosto, acrescentei: - Eu nunca vou me cansar da Bella, simples assim. Acho melhor você desistir de mim, porque eu nunca liguei, nem ligarei minimamente para você. E não me leve a mal, sua aparência é até agradável, mas é só isso. Não quero uma sujeitinha intragável dividindo a cama comigo, nem nada mais. Sua irmã é uma mulher de verdade, não você. Eu amo a Isabella. Aceite isso e seja feliz.

– Aparência minimamente agradável? – balbuciou, como se todo o resto que eu falei fosse facilmente ignorável.

– É, Ângela. Isso mesmo. Agora, se me der licença. – Pisquei para ela e me afastei.

– Edward... – Escutei uma voz atrás de mim, juro que teria saído correndo se a voz não fosse grave e completamente masculina. Virei para ver quem queria falar comigo. E sim, eu deveria ter saído correndo.

– Jacob.

– Acho que você não está muito feliz, não é mesmo? – Ele sorriu meio de lado. Não dei corda a sua brincadeira. – Olha só Edward, eu não tenho o mínimo interesse na Bella, okay? Eu sei que você morre de ciúmes... E mesmo já tido uma quedinha por ela, isso passou. Estou namorando alguém agora, a Leah. E realmente a amo, ou acho que amo... Isso é complicado quando só se tem 19 anos...

– Quantos anos?

– Dezenove. É a minha idade. – Gargalhei nervoso e envergonhado. Comparado a mim, Jacob era um garoto. Eu era quase 10 anos mais velho que ele. Não deveria mesmo trata-lo como uma ameaça. Não que eu tivesse algum preconceito, longe de mim. Entretanto saber que ele era bem mais novo que Isabella me reconfortava.

– Desculpe, Jacob.

– Tudo bem, Edward. – Ele sorriu. – Eu que tenho que pedir desculpas por ter inventado aquela história com o Charlie... Só queria ajudar.

– Tudo bem. Na verdade, estou tentando esquecer isso. Não é fácil sustentar essa mentira para a Bella todos os dias. Se ela por um acaso descobrisse que o pai dela nunca esteve doente... E que eu soube disso tudo e ainda assim menti para ela. Acho que eu não seria perdoado.

– Você tem razão, Cullen. Não seria mesmo. – Gelei ao escutar a voz feminina atrás de mim.