Nem parecia que haviam se passado anos desde que eu os vira pela última vez. Os rostos de Mugen e de Fuu continuavam gravados na minha mente enquanto eu andava pelas estradas sozinho. Eu sentia falta deles. Gostava do barulho que eles faziam quando estávamos todos juntos, brigando ou rindo enquanto eu os observava. Nunca tive coragem de dizer que eu realmente gostava daqueles meus amigos. E que eles eram importantes. E agora, estamos separados.

A estrada me levou a uma nova cidade, como sempre. Desde que todos nos separamos, anos atrás, eu venho andado sozinho por aí, simplesmente viajando sem nenhum propósito em mente. Estava entediado e não encontrava algo para tirar-me do tédio. Conseguia me manter ganhando dinheiro em vários eventos, mas ainda assim, não era mais tão divertido.

A cidade era até bonita. Um tanto rústica, mas calma e bem-conservada. As crianças riam, corriam e brincavam pela rua. Os adultos se cumprimentavam como velhos amigos que sempre se conheceram. Por onde será que andavam os meus amigos agora? Bem, eu não sabia. Era melhor tomar algo. Estava com sede.

Entrei na casa de chá mais próxima. Era pequena, porém bem cuidada. Arrumada e... Bonitinha? Era como se tudo ali fosse feito por alguma garota que realmente adorava qualquer coisa fofa: laços, flores... Porém, haviam vários homens sentados em algumas mesas. Decidi me sentar também, numa mesa perto de um pequeno palco que era basicamente um degrau realmente muito largo e separado da parede com algumas cortinas atrás de si. Tinha um pequeno banco nele, mas estava vazio.

- Você! – gritou um homem – Saia da minha mesa!

Eu me virei calmamente. Quem falara era um homem de cabelos loiros, lisos e bagunçados. Usava um traje parecido com o meu e embainhava uma katana, como se estivesse louco para lutar comigo.

- Não sabia que tinham mesas marcadas aqui. – comentei calmamente.

- Não têm! – ele disse como se fosse óbvio – Mas este é o melhor lugar! O lugar mais perto da nossa maravilhosa cantora!

- Não vou sair. – falei.

Eu estava até sendo entretido por ele. Será que esse cara renderia uma boa luta antes de cair como uma fruta podre no chão, após ser derrotado por mim? E não, não sou convencido. Só realista. Eu e Mugen éramos os melhores samurais de todos. Simples assim.

- Ora seu...! – ele gritou.

- Que confusão é essa aqui? – disse uma voz macia.

Virei-me para ver quem era. Era uma mulher vestida em um kimono rosa com alguns detalhes em roxo. Tinha uma cintura fina e seios discretos. Não era exatamente uma tábua, mas não era muito impressionante. Porém, seu rosto era. Olhos e cabelos castanhos. Lindos olhos, ou talvez um lindo olhar, meio que hipnotizante. As suas feições eram harmoniosas e o cabelo estava solto, emoldurando seu rosto e continuando fluidamente até sua cintura. Ela era linda.

- Esse cara... – começou o homem.

- Jin? – chamou a garota, os olhos fixos em mim.

- Sim... Como me conhece? – perguntei.

A garota riu e então correu na minha direção. Ajoelhou-se ao meu lado e, eu também não esperava isso, me deu um abraço. Ela cheirava a... Girassóis. Mas não poderia ser possível, certo?

- Ouvi dizer que está rolando uma confusão aqui? – disse uma voz conhecida.

Viramos-nos e vimo-lo: Mugen. Inacreditável. Ele não mudara nada. Assim como eu. Já a Fuu...

- Mugen! – gritou Fuu e correu para lhe abraçar.

- Ora, uma linda dama que me conhece! Perdão, não lembro seu nome, princesa. Mas, me diga somente uma vez e jamais esquecerei novamente. – ele disse, dando uma de galã.

- Cala a boca, seu otário! – ela riu – Sou eu, a Fuu!

- Fuu? – perguntou ele, perplexo.

- Eu tive quase a mesma reação. – observei.

- Jin! – ele riu – Seu desgraçado!

- Eu não acredito que estamos todos juntos novamente! – disse Fuu, os olhos marejados e arrastando Mugen para um abraço em grupo.

- Você está diferente, Fuu. Finalmente tem peitos. – ele riu.

- Vá se danar, Mugen. – ela saiu do abraço, parecendo irritada – Demorou, mas eles cresceram.

- Não tanto assim. – ele observou.

Eles começaram a brigar e eu sorri. Nem tinha palavras para descrever o quanto estava feliz por poder escutar a bagunça deles novamente. Embora a Fuu parecesse uma mulher agora, era um alívio perceber que, na sua essência, continuava sendo simplesmente a garota que sempre foi. E Mugen não mudara nada. De repente, Fuu se levantou, tensa. O seu rosto estava sério e ela nos pediu para que a acompanhássemos. Mugen fez uma piada, mas ela a ignorou. Deveria ser mesmo sério.

Em seguida, saímos deixando um pessoal muito confuso e perplexo para trás. Andamos pela cidade por alguns minutos e, por mais que Mugen perguntasse várias coisas, Fuu não respondia nada. Ela olhava para os lados como se estivesse sendo seguida. Finalmente, ela nos fez entrar numa casa. Era bem simples, quase como um pequeno depósito usado como quarto ou então um quarto de hospedaria.

- Garotos. – ela disse, séria – Vocês devem ir embora.

- Acabamos de chegar! – disse Mugen, irritado e surpreso.

- Aqui não é seguro. – ela nos olhou, triste – Nenhum lugar, na verdade, é seguro.