Os Guardiões escrita por Mariane, Amanda Ferreira


Capítulo 37
Histórias, lobos e balões...


Notas iniciais do capítulo

Oie gente, sim sabemos que demoramos master para postar, mas como disse anteriormente fica complicado para nós portarmos por falta de comunicação.
Mas taí mais um cp.
Desculpe-nos mesmo estamos tentando.
Leitores fantasmas ressurjam POR FAVOR. Sentimos falta dos seus coments
Bjsss



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Você deve estar se perguntando o que eu exatamente estou sentindo com essa missão. E bem... Eu lhe respondo. Sinceramente? Estou quase me sentindo livre. Livre por saber que não estou mais pressa a uma barreira mágica e o quase porque ainda existe uma ponta de medo dentro de mim. Medo de ter saído da barreira mágica.
Mas aqui vamos nós. A guardiã que possui dois elementos deve sair e salvar o mundo e blá blá blá. Vamos pular essa parte que acho que você já sabe.
Não calculei muito bem quanto tempo levamos ate chegar ao centro da floresta (isso de acordo com Nicolas), mas quando dei por mim estávamos caminhando por um pequeno caminho de terra e logo a frente uma claridade chamou minha atenção. Apressei o passo e passei por entre as arvores e foi ai que me deparei com a maior clareira que eu ja tinha visto na vida.
Era enorme. Rodeada pela floresta, mas com o chão coberto por grama seca, devido ao sol que não recuava. Fiquei boquiaberta.
– Meu pai costumava trazer o Lucas e eu aqui para caçar. Na época em que tudo estava em seu devido lugar. - falou Nicolas atrás de mim. - Nunca fui bom com armas de fogo, ate que o Lucas um dia fez um arco pra mim. Ele é bom em trabalhos manuais.
Me virei para olha-lo.
– E então eu descobri que as armas de paciência eram o meu talento. - ele olhou por cima do meu ombro.
– Como as espadas. - falei.
– É. - suspirou e voltou a caminhar entrando na clareira. - Diferente de mim, o Lucas sempre foi bom em convencer as pessoas de tudo que ele achava que estava certo. - ele balançou a cabeça. - Mas ele mesmo acabou se afundando numa ideia de certeza.
Parei para imaginar Lucas e Nicolas caçando juntos e felizes e me perguntei se o "se afundando numa ideia de certeza" seria sua transformação em lobo.
Caminhei atrás dele e não me contive:
– Nicolas?
– Sim?
– Como aconteceu?
– Aconteceu o que?
Enfiei as mãos nos bolsos.
– Você sabe.... Como aconteceu a transformação dele, o que houve?
Nicolas parou e se virou me fuzilando com os olhos e eu senti que tinha entrado num assunto perigoso e por um momento pensei que ele fosse responder: “como aconteceu sua idiota? Ele foi MORDIDO!". Mas ao invés disso ele simplesmente suspirou e passou a mão pelo cabelo.
– Tudo aconteceu Katherine. Tudo ao mesmo tempo. - ele olhou para os pés. - Então ele se perdeu numa ilusão que...

Ele se interrompeu e olhou para nosso lado esquerdo, depois me encarou com uma expressão preocupada.

– Vamos.

– O que foi? - perguntei de repente sentindo um arrepio na nuca.

– Depois que atravessarmos a clareira, chegaremos a estrada e ai seguiremos para a cidade em busca de um lugar pra passar a noite.

Ele voltou a caminhar mais depressa e eu quase corri para alcançá-lo.

– Você ainda não respondeu a minha pergunta. - quase gritei e me arrependi profundamente.

Ouvi o som de galhos se quebrando e logo uma figura pálida surgiu por entre as arvores. Ele tinha cabelos claros caindo sobre a testa, a pele como a neve e olhos intensos cor de mel. Certamente ele me era familiar.

– Nicolas Heenk e... Você! – falou sorrindo, me analisando com olhos cruéis. – Usted parece estar más bonita como...una casi guerreira.

– Eca. – resmunguei e senti Nicolas contrair o maxilar ao meu lado.

– O que você quer Alex?

Ai me lembrei do tal vampiro Alex com sotaque espanhol.

– Bem, como usted sabe bien, están en mi territorio creo ser um ultraje ter que ...

– Cadê o Lucas? – falei involuntariamente.

Ele riu.

– Lucas Heenk? O cachorrinho assustado? – perguntou.

– O que você fez com o meu...

– Nada gatinha. – falou – Ele foi apenas fazer una pequena viaje detrás de su hermana perdida... Eliza.

– O que houve com a Eliza? – rosnei.

– No me interessa. Yo estoy aqui por apenas un motivo. - ele olhou com um sorriso seco para Nicolas e depois de volta mim. - Usted.

Então seu rosto se contraiu, sua pele ficou ainda mais pálida e os olhos foram tomados por uma escuridão. Ele abriu a boca mostrando dentes pontudos e finos e um som sibilante saiu de sua garganta.

– Ah. Jura? – revirei os olhos e imediatamente desci minha mão devagar ate a cintura pegando duas das minhas adagas de prata.

– Fica atrás de mim e em hipótese nenhuma ataque. - ordenou Nicolas se postando na minha frente.

– Não. – rosnei – Eu não vou ficar olhando enquanto você se mata. Deve ter uns quinze lobos a nossa volta.

– Francamente Katherine, eu sei me cuidar. – respondeu puxando de suas costas uma espada prateada com lamina curva. Uma espada katana.

E lá se foi o nosso dialogo quase amigável. E bem no momento em que ele ia falar algo sobre o Lucas.

Não tive tempo de descobrir, pois o tal Alex se moveu tão rápido que meus olhos não conseguiram acompanhar. Apenas vi Nicolas girar sob os calcanhares dado um golpe com a espada acertando um vulto.

Alex caiu no chão e arreganhou os dentes. Ergueu-se vindo na minha direção, me esqueci das adagas e as soltei no chão levando as mãos na frente do rosto involuntariamente e soltando um grito. Senti as mãos quentes e em seguida um rosnado baixo do vampiro. Quando abri os olhos abri os olhos ele se debatia no chão tentando tirar o fogo do rosto.

Meu coração parou assim que cruzei o olhar com um ser peludo de dentes afiados que sai da floresta. Ouvi também um mini rosnado de Nicolas e tenho quase certeza que isso foi pra mim e não para o enorme lobo marrom que se aproximava.

Olhei atordoada em volta e congelei ao perceber outras figuras peludas saindo da floresta e nos cercando.

– Que porra é essa? – suspirei.

– Armadilha. – comentou Nicolas.

Os lobos se prontificaram ao que eu imaginei ser a posição de ataque e eu me abaixei segurando com firmeza as adagas.

Alex ficou de pé com o rosto ainda vermelho e se esgueirou para a sombra das arvores e pude ouvir com clareza ele resmungar baixinho:

– Ate aqui esses lobos imbecis me atrapalham.

Um lobo maior saiu de perto dos demais. Ele tinha o pelo cor de café e obviamente era o mais forte. Seu corpo estremeceu e em instantes estava de pé diante de mim e Nicolas um homem moreno e nu. (sem se importar comigo ali).

– Vejo que vocês dois já tem companhia. Não muito agradável, eu diria, mas com o mesmo objetivo da minha matilha. - o homem falou sorrindo e olhando pra mim.

– E daí? O que você quer? – perguntou Nicolas cerrando os dentes.

– Ela obviamente. - falou apontando pra mim como se eu fosse apenas uma camiseta. Tremi cerrando os punhos. - Minha senhora vai ficar muito contente quando entregarmos o coração dela.

– Isso não vai acontecer. – falou Nicolas se pondo protetoramente em minha frente.

– Ah, veremos. – falou – Cadê seus amiguinhos guardiões? Não os vejo. Enquanto eu estou com minha matilha inteira aqui. Vinte e cinco homens e uma mulher que odeiam vocês dois com cada célula do corpo.

– Tenho uma novidade pra você cãozinho. - provou Nicolas. - Também não vou muito com a cara de vocês. E será um prazer arrancar a sua cabeça como eu fiz com o seu irmão.

Aquilo soou cruel ate para mim e no mesmo instante o olhar do homem se tornou feroz e seu corpo se remexeu, ele caiu de joelhos e soltou um grito para o céu se transformando novamente no lobo e rosnando com intensidade.

Ele avançou juntamente com os outros. Eu recuei em passos longos e vi a ação começar. Nicolas brandiu a espada acertando um, depois outro e mais outro. Eu ouvia os rosnados e gemidos.

Algo então me surpreendeu. O vampiro Alex surgiu com os dentes expostos, mas não veio na minha direção nem da de Nicolas e sim na dos lobos. Uma luta rápida começou entre ele e mais um lobo branco. Quase fiquei feliz por isso, mas não tive muito tempo para pensar, pois assim que olhei novamente para Nicolas, eu o vi um pouco mais afastado acertando um lobo com os pés enquanto ficava de pé novamente. Mas o mais preocupante era o lobo cor de café que corria na minha direção.

Congelei agarrada as adagas. Meu cérebro gritava: Corra sua idiota! Mas meu corpo não obedecia.

Ouvi Nicolas gritar ao longe:

– Katherine corra!

Vi nitidamente o prazer estampado nos olhos negros do lobo. Engoli em seco.

– Katherine se mova!

Mas nada aconteceu e quando o lobo pulou eu já podia sentir seus dentes se fincando em mim.

– KATE! - ouvi a voz de Nicolas mais perto, mas fechei os olhos.

Esperei e nada. Quando os abri novamente vi que minha blusa estava manchada de algo vermelho e Nicolas estava ao meu lado ofegante com a espada coberta de... Sangue.

Prendi a respiração quando olhei aos meus pés e vi o corpo inerte do lobo com os olhos abertos e o pescoço aberto (literalmente falando), manchando a grama seca com seu sangue.

– Que diabos você estava pensando?

Virei-me para Nicolas e ele parecia mais confuso do que furioso. Ele largou a espada no chão e segurou meus ombros.

– Você não é uma perdedora. Você é uma guerreira, então, por favor... Aja como tal.

Ele me soltou e ergueu os braços. Uma parede de fogo subiu na nossa frente e pude ver dois ou três lobos queimarem vivos diante dos meus olhos.

Girei o corpo e recebi um baque. Meus pés saíram do lugar e passei pela barreira de fogo ouvindo um grito de Nicolas. Quando bati no chão, senti a cabeça doer e a coluna reclamar. Pisquei duas vezes e foi o tempo suficiente para erguer as mãos e impedir os dentes de um dos lobos no meu pescoço. Ele gemeu e caiu ao meu lado. Então calculei que só podia ser a adaga na minha mão que me salvou.

Rolei de lado e tentei pensar, senti as mãos quentes. Encostei-me na grama seca e o fogo surgiram, estiquei as mãos acertando um lobo que corria.

Procurei por Nicolas e ele estava cercado, fazendo o que podia, mas não o suficiente quando um dos lobos, um de pelo cinza bateu as garras derrubando-o no chão e os outros lobos pularam pra cima dele. Deixei um grito escapar.

Mas o alivio tomou conta assim que ouvi gemidos altos e varios correrem de volta a floresta com chamas nos pelos.

Sentei-me na grama e olhei Nicolas levar a mão ao ombro tirando-a coberta de sangue. Ele se encolheu e eu me esforcei a ficar de pé. Olhei em volta e me surpreendi com a quantidade de lobos mortos. Oito ou dez.

Caminhei com dificuldade ate ele. (Não me julgue. Fui arremessada pelos ares, ok?!). Quando eu estava a mais ou menos uns cinco metros avistei Alex do outro lado, na mesma direção de Nicolas.

Seu olhar cruzou o meu e seus lábios se mexeram num: minha ajuda acaba aqui.

Então ele saiu do lugar, arrancou um galho pontudo da arvore e correu na direção de Nicolas que ainda estava quieto no chão. Parei no mesmo instante e acho que nunca pensei tão rápido na vida. Abaixei-me e peguei uma adaga extra na bota, senti o vento pinicar a ponta dos meus dedos e ao mesmo tempo se esquentar. Mirei a adaga no vulto se aproximando e lancei sem nem pensar duas vezes. Foi como tiro ao alvo e acertou em cheio.

Bem na cabeça. O vampiro travou deixando o galho cair, Nicolas ergueu os olhos e olhou para ele depois para mim. Alex levou a mão a cabeça e segurou o cabo de prata da adaga a puxando como se fosse algo normal. Ele gemeu e se virou me fuzilando com o olhar e então sumiu.

Soltei a respiração e cambaleei na direção de Nicolas. Cai ao seu lado e encontrei seu olhar. Ele assentiu e quase pude ver um sorriso.

– Obrigado.

...

Não sei bem de onde irei forças, mas sei de uma coisa: Nicolas é mais pesado do que parece. E o belo arranhão no seu ombro não estava nem de longe melhor, pelo contrario. Estava tomando uma cor escura e sua pele ficando meio roxa em volta. Enfim... o ajudei a ficar de pé e pelo resto do caminho tive que apoiá-lo em mim. Por favor, não imagine essa cena como romântica, porque não foi.

Nicolas estava quente e gaguejando coisas sem sentido. Ele apoiava todo o seu peso sobre mim. Seu corpo estava suado e cabelo grudando na testa.

– Por Kira! - choraminguei.

Estávamos começando a entrar na estrada.

– Faça alguém surgir.

O sol estava se pondo e eu estava a ponto de ruir. Então meu milagre pessoal surgiu. Uma buzina.

Acenei loucamente para o caminhão. Provavelmente eu parecia uma maluca de marca maior, mas o bendito caminhão parou.

Ele abriu a porta e nos olhou de cima a baixo.

– Por favor. - chorei (depois de anos se fingindo de inocente quando fazia merda com as meninas, você começa a atuar bem) - Eu e meu namorado estávamos perdidos nessa horrível floresta. Eu estou com muito medo. Por favor nos ajude! Ele esta muito doente.

– Entre. - falou o homem.

Nós nos sentamos (eu me sentei e joguei Nicolas de qualquer jeito ao meu lado.) Ajeitei ele no banco e o homem deu partida.

– Muito obrigada - suspirei tossindo e respirando com dificuldade - Nem sei o que falar.

– Comece me dizendo para onde quer ir.

– Um Hotel.

– Nada de hospital?

– Minha tia é medica. Se eu for a um hospital meu pai saberá que ainda... - pensei numa mentira - Namoro o Joshua. Eles não podem saber.

O homem me olhou de esgueira.

– Relaxa! Tenho dezoito anos. Você não terá problemas. É só que eu não posso ir a um hospital.

O homem não pareceu convencido, mas também parecia não querer se meter em drama adolescente.

– Muito bem. Tem o endereço da sua tia?

– Não. Ligarei para ela do hotel. - dei um meio sorriso.

– Muito bem. - falou.

Então Nicolas começou a gemer.

– Quietinho Nicolas. - sussurrei no seu ouvido.

– Kate... Sabia que sua voz é linda? - ele sorriu.

Encostei as costas da minha mão em sua testa. Ele estava piorando e isso não era o calor do fogo.

– Eu sei querido. Agora durma. - falei.

– Não quero dormir... Quero conversar.

– Ai meu deus! - gemi - Eu mereço.

– Merece.... Porque no fundo você me ama. - ele deu uma pequena risada.

Fingi que não ouvi.

– Muito bem Joshua, sobre o que você quer conversar?

– Sobre balões.... Eu amo balões... Quando eu era pequeno eu queria um balão. - gemeu - Eu nunca ganhei um balão. Meu pai era muito pão duro pra isso. Alias... ele é ate hoje.

Tentei não rir.

– Eu te compro um balão.

– Você é muito legal... - falou sorrindo meio bobo - Gosto de você.

– Que bom... - falei mordendo os lábios para não rir.

– Sabia que eu gosto da cor do seu cabelo.... Laranja, laranja é a cor do fogo... Minha cor favorita....

– Eu também gosto do meu cabelo.

– Ele não aprece bem... - comentou o senhor. - Tem certeza que não quer leva-lo a um hospital?

– Sim. - falei rapidamente. - Não se preocupe.

– Kath....

– O que foi Nic... Digo Joshua?

– Você é muito li.... - começou e caiu no sono.

Agradeci aos céus e encostei as costas no banco. Contei cerca de vinte minutos ate o senhor parar e falar comigo:

– Mocinha, esse é o hotel mais em conta da cidade o mais próximo também. Vocês tem dinheiro?

– Sim, sim! Muito obrigado. - sorri colocando o cabelo atrás da orelha. - Hm.. Será que o senhor pode... Ajudar-me a levá-lo?

– Tudo bem. - o senhor saiu e me ajudou a arrastar Nicolas para fora, depois nos levou ate a recepção onde uma mulher de cabelos loiros ajeitou os óculos no rosto e nos olhou assustada.

– O que houve? - perguntou com uma voz fina.

– Nada demais. Ele só bebeu e isso na minha roupa é tinta. Acabamos nos perdendo e esse bondoso senhor nos deu uma carona. - gesticulei para o senhor.

Depois de uma eternidade ela se convenceu e nos deu uma chave dizendo que era o ultimo quarto e que era de casal. CASAL.

Suspirei pesadamente e apoiei Nicolas em mim e o arrastei ate o quarto vinte e dois.

...

Ele resmungava coisas sem sentido enquanto eu tirava com cuidado a sua camisa deixando a água bater na sua cabeça. Juro que não pensei em lhe tirar a calça jeans. Eu juro!

– Por que está fazendo isso? - ele perguntou caindo e batendo a cabeça na parede.

– Fica quieto! - reclamei puxando-o de volta e passando sabão no seu cabelo. (Obs.: não tinha xampu)

– Está doendo sua idiota! - resmungou tirando minha mão do seu braço.

– Olha aqui seu grosseiro, eu vou deixar você ai sozinho.

Suspirei tentando lavar seu machucado. Ele ergueu a mão e segurou meu pulso, travou seus olhos nos meus e falou com tanta intensidade que no primeiro instante eu fiquei sem fala:

– Obrigado.

Engoli em seco e limpei a garganta disfarçando a reação do meu corpo.

– Alguém filmou isso? Nicolas Heenk me agradecendo. - soltei uma risada e me sentei na sua frente deixando a água terminar de me molhar

Ele passou a mão pela testa tirando o cabelo dos olhos e fez com que ele virasse um ninho de ratos.

– Você me perguntou como e eu não te contei toda a historia. - falou depois de alguns segundos.

– Sobre o que? - perguntei só por perguntar, porque eu já sabia a resposta.

– A transformação do Lucas vai bem mais alem de um acidente. - ele olhava fixamente para algum ponto no chão. A água batia nas suas costas e eu estava encostada no boxe.

– Se não quiser não precisa. - fui sincera.

– Não. - ele me olhou soltando um longo suspiro. - Acho que você precisa ouvir pelos menos uma das versões da historia.

Assenti me remexendo desconfortável.

– O Lucas sempre foi aquele tipo de pessoa que consegue ver o lado bom dos outros e foi exatamente por isso que ele acabou onde está hoje. Eu nunca fui muito de tentar ver o outro lado das pessoas. Pra mim elas são o que mostram ser. Não tem um porque se esconderem, mas o Lucas sempre me dizia: Nick, elas te medo de se perderem.

E era assim que ele definia os amaldiçoados. Apenas perdidos.

Ele se esticou desligando o chuveiro.

– Sabe Katherine... Eu nunca cheguei a pensar que os amaldiçoados de Kora podiam ter uma segunda chance. Não ate ver o meu irmão se tornar um deles.

Não me atrevi a falar.

– O Lucas dizia ao conselho que tinha sim um espaço para libertar os transformados. Mas tanto eles quanto o meu pai achava isso uma loucura. E bem... Eu também achava. Já a Maggie... Ela sempre acreditou nele. Por isso ela sente tanto a sua falta.

– Você também sente, não é?

Ele suspirou e deu de ombros.

– Eu me sinto culpado. Como se carregasse alguém nas costas todos os dias. - ele passou a mão pelo rosto. - Ele saiu de Ilheias. Marcou um conselho com um alfa. Ele tinha certeza que poderia ajudá-los. Poderia trazê-los de volta pra casa.

– E então deu tudo errado?

– Eu fiz com que desse tudo errado, Kate. - ele baixou os olhos. - Era pra ser segredo, ate tudo dar certo. Ele confiou em mim e a Maggie, mas eu não podia com isso.

Eu.... Contei ao meu pai. Contei que o Lucas tinha saído, contei que ele ainda continuava com aquela historia de libertação, contei que ele estava naquele momento fora de Ilheias.

Meu pai ficou maluco. Chamou alguns guardiões e foram atrás dele. Assim que matilha avistou tantos guardiões, eles avisaram ao alfa que era uma armadilha e então tudo aconteceu. O Lucas ficou dividido, houve uma batalha e ele saiu mordido. Foi então banido pelo próprio pai. Na loucura da transformação, ele acabou matando o alfa e se tornando o tal.

Um silencio esmagador caiu sobre nós. Eu não sabia o que falar e por um instante eu vi os olhos frios de Nicolas se tornarem frágeis, mas ele desviou o olhar e ficou de pé estendendo a mão. Aceitei a ajuda e ele me puxou para cima me olhando fixamente.

– Então agora você sabe que boa parte da transformação do Lucas foi culpa minha. E eu não o culpo por me odiar.

Fiquei muda analisando-o.

– Como você esta se sentindo?

– Melhor. – falou e eu acreditei. Um dia meu pai falou que guardiões se curam cinco vezes mais rápido que seres humanos comuns eu fiz uma piada do Capitão América... Mas ele não entendeu. – Muito bem, termine seu banho que esperarei lá fora. Estou com fome também, acho que vou pedir serviço de quarto.

Ele deu um sorriso travesso.

– Poxa, pensei que você me daria banho completo...

Ri.

– Vai sonhando.

– Todos os dias. – ele riu e o encarei muda.

– Ooook. – respondi assustada com esse Nicolas espontâneo...

Sai do banheiro aliviada. Eu estava encharcada da cabeça aos pés, a minha sorte Frederick não cancelara minha antiga conta então eu ainda tinha dinheiro. Peguei o telefone de serviço e liguei para a cozinha do hotel.

– Por favor, vocês podem trazer alguma coisa para o quarto vinte e dois?

– O que a senhora gostaria? – falou a mulher com voz de sono.

– Hm... Qualquer coisa... – falei – E, traga uma grande porção. – falei lembrando de Nicolas comendo na Kince Joyce.

– A senhora que sabe. – falou e desligou. Coloquei o telefone de volta no gancho e me sentei no chão de pernas cruzadas tentando reorganizar meus pensamentos. Por fim a roupa molhada e três espirros consecutivos ganharam minha atenção.

Muito bem!, resmunguei mentalmente. Tirei minha camisa e o short apressada torcendo para dar tempo de Nicolas não ver nada. Estava quase desabotoando a ultima fivela do sutiã quando uma voz pigarreou.

– Ah! – gritei me cobrindo com os braços o máximo possível. – Sai daqui Nicolas! Volta para o banheiro agora!

Senti-o rir.

– Não seria mais fácil você ir pra lá?

– Er... – pensei – Ta. Fecha os olhos.

– Ok. – ele riu. Virei-me cuidadosa. Agarrei minha mala e corri para o banheiro. Tranquei a porta e larguei a mochila tirando restante da roupa, aproveitei e tomei um banho, eu estava mesmo imundo. Demorei um bom tempo e finalmente desliguei o chuveiro e me vesti. Quando sai do banheiro Nicolas já estava sentado na cama comendo.

– A camareira acabou de deixar aqui. – falou apontando para o carrinho. – Fico pensando como você vai pagar tudo isso.

– Meu... Frederick não cancelou minha antiga conta no banco. – falei

– Hm... – comentou. Sentei-me ao seu lado e peguei um prato colocando algumas coisas sem me importar com o quê.

– Como era a infância de vocês? – perguntei. Eu tinha que tirar proveito dessa súbita franqueza dele.

– Como de qualquer outro. Implicávamos um com os outros, nos metíamos em fura e principalmente amedrontados pelo meu pai. – gemeu

– Porque ele é assim?

– Ninguém sabe. – respondeu – Só minha mãe, e bem, ela não fala muito.

– Ah. – respondi e continuei comendo calada. No fim larguei meu prato de lado e me levantei.

– Me deixa ver esse machucado. – pedi. Ele largou o prato e tiro. Esforcei-me para não viajar. O machucado ainda estava roxo, mas cicatrizado, provavelmente pela manha estaria curado. Peguei uma pomada que comprei na loja do hotel e passei delicadamente por cima. Sua pele estava morna e me dava choque conforme eu esfregava o creme. – Muito bem, vamos dormir, amanhã teremos um longo dia.

– Você tem alguma noção de para onde vamos?

– Sim, mas te conto amanhã. – falei pegando o travesseiro.

– Ué? Não vai dormir aqui na cama?

– Não, fico bem no chão.

– A Katherine... francamente somos grandinhos o suficiente para dividirmos uma cama.

Mordi o lábio inferior.

– Ok, você que sabe. - respondi me deitando e apagando a luz.


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Notas finais do capítulo

Gente, saudades de vocês, serin.
Ps.: Me perdoem por não responder coments, mas é que meu Nyah deu treta e não consigo responder...



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