Os Guardiões escrita por Mariane, Amanda Ferreira


Capítulo 31
O pesadelo se torna real


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora galera! Corrida total por aqui.
Queremos agradecer pelos comentários e favoritos. Estamos muiiiito felizes. Continuem por aqui. A opinião de vocês é muito importante pra nós e para a motivação de continuar.
Tentaremos postar o mais rápido possível, mas como eu disse estamos correndo.
Portanto... boa leitura e ate logo! ♥♥



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Acordei com o grito de Kate. Pulei da cama me esquecendo de que estava na beliche de cima, e quase despenquei de cabeça no chão. Mas graças a Kira, desci cambaleando. Bati a cabeça pelo menos duas vezes.

Apesar de a Pernoite anterior, vê-la daquele jeito me chocou. Ela estava pálida como papel, tremia violentamente, chorava, gemia, suava frio e gritava.

– Kate. – chamei sacudindo seu ombro esquerdo. E percebi o quanto estava quente. – Kat... – mais um grito.

Pulei para trás levando um susto quando ela se sentou na cama.

Engoli em seco e a observei contrair o corpo como se estivesse sendo possuída por algo.

Me sentei na sua frente e percebi que seus olhos estavam fechados. Ainda dormindo. Segurei seus ombros e a sacudi com mais força, mas ela começou a respirar alto demais e vi lágrimas escorrerem por seus olhos.

– Kate acorda! - a sacudi de novo. - Kate pelo amor de K...

Ela arqueou as costas e eu me afastei rapidamente ouvindo outro grito sair da sua garganta. Então um pensamento passou pela minha cabeça. Só tinha um ser capaz de fazer os pesadelos se tornarem real....

– O que está acontecendo aqui Daniel? – olhei em direção a porta vendo meu pai ainda de pijama.

Fiquei sem fala e ele ao ver o estado de Kate, se aproximou quase correndo. Minha mãe apareceu logo em seguida vestida numa camisola azul.

– Pesadelo? - perguntou minha mãe e eu lhe lancei um olhar.

Ela pareceu desesperada e encarou meu pai.

– Valentim. - falou se aproximando do aquário e pegando um termômetro.

– Ela acordou aos gritos. - falei por fim. - Eu tentei acorda-la, mas não adiantou. Quando toquei nela, estava muito quente.

Meu pai pegou o termômetro das mãos de minha mãe e pôs embaixo do braço de Kate, que permanecia tremendo.

– Kate querida. – chamou, mas não teve resposta. Ela permaneceu gemendo, tremendo e chorando.

Por fim ele pegou o termômetro e o olhou em choque.

– O que houve? – perguntamos mamãe e eu quase em uníssono.

– Ela está com 40º de febre, Madalena. – falou chocado. E não era pra menos.

– O que faremos? – perguntei.

– Vamos nos arrumar e a levaremos para o CC. – falou se afastando de Kate e sumindo no corredor junto com minha mãe.

Abri a porta do armário e peguei uma camisa preta e vesti rapidamente. Calcei tênis e praguejei quando olhei minha calça de moletom.

Assim que terminei, percebi que o tempo estava muito frio para o pijama que Kate estava. Abri o armário novamente e peguei um sobretudo preto vestido-a. A peguei no colo e segui para a sala onde os dois me esperavam.

– Vamos. – falou meu pai abrindo a porta.

O CC – Centro de Controle – ficava à poucos metros de casa ao lado do centro de treinamento. Assim que chegamos, entramos direto na recepção da ala de emergência. Meu pai a pegou no colo e eu fui falar com a recepcionista. Uma mulher negra com cara de nojenta.

– Preciso que minha irmã seja atendida. – falei em desespero.

Ela me analisou de cima abaixo e falou sem interesse.

– Pegue uma fixa e aguarde.

– Você não esta en...

– Senhor são minhas... – começou, mas se calou quando meu pai apareceu atrás de mim com Kate no colo.

– É uma emergência. – falou meu pai com aquela voz autoritária e controlada.

– Leve-a para a sala dezenove. – a mulher falou e voltou para seus papeis acanhada.

– Eu vou sozinho, só um pode entrar. – falou meu pai, e quando eu ia protestar ele me repreendeu com o olhar – Te chamo qualquer coisa.

Sem esperar que eu o respondesse, saiu levando-a pra longe.

***

O fogo me consumia ferozmente como petróleo. Eu queria respirar, eu queria apagá-lo, mas não conseguia. O pânico me consumia lentamente como as brasas.

Tentei acordar, tentei respirar, mas nada funcionava.

Eu ouvia alguém me chamar... Eu queria falar que estava sofrendo, queria ajuda. Eu pedia ajuda, mas ninguém me ajudava. Na verdade eu queria morrer, mas nada acontecia. Só escuro, fogo e dor.

Engoli o gosto de sangue na boca.

– Kate filha, está me ouvindo? – falou uma voz que conheci imediatamente – Kate, fala comigo, por favor!

– Pai. – murmurei com a garganta seca.

– Katherine! – falou um pouco mais animado.

Com um esforço dobrado abri os olhos. Minha visão ardia e estava embaçada, mas consegui reconhecer os meus familiares olhos verdes. Sua barba estava por fazer e ele parecia cansado.

– Como se sente?

– Como se estivesse sido queimada lentamente e afogada ao mesmo tempo. – falei – Fora isso. Muito bem.

Ele sorriu frouxo e acariciou minha bochecha.

– Por que o senhor está assim? – perguntei ao perceber o quão abatido ele aparentava.

– Você não acordava... E seu coração parou. – ele engoliu em seco – Duas vezes.

Fiquei muda. "Você vai se arrepender eternamente por ter me desafiado sua pirralha cretina."

– Quanto tempo faz isso? - perguntei.

– Dois dias.

Mas uma vez fiquei muda.

– Mas agora eu estou bem. – falei tentando sorrir.

– É verdade.

Um silêncio incômodo pairou no ar, seguido do rangido da porta se abrindo.

– Incômodo? – perguntou uma voz melosa que desconheci.

– Mayara. – falou meu pai a olhando encantado.

A mulher com mais ou menos vinte anos entrou sorrateira. Ela vestia uma capa preta com bordados de luas nas bordas, que cobria seu corpo totalmente, incluindo seu rosto.

– Você nos daria licença? – perguntou com a voz doce.

– Claro. – falou meu pai com uma obediência descabida.

Ele se aproximou sussurrando um "está tudo bem!" e em seguida depositou um beijo na minha testa. Se retirou me deixando completamente atônita olhando para aquela desconhecida.

A mulher tirou sua capa largando-a no chão. Era baixa e magra, como eu. Seus olhos eram de um violeta intenso e seu cabelo vermelho se estendia ate a cintura preso em uma linda trança embutida. Seu rosto era em forma de coração e aparentava ter uns vinte anos, não mais. Mas lendo seus olhos percebia-se que era bem mais velha que isso.

– Katherine querida, por que o medo?

– Porque de acordo com minha experiência com pessoas desconhecidas...

– Entendo. – cortou-me. – Mas pode confiar em mim. – ela falou levemente sentando-se em uma cadeira próxima a cama. Percebi que seus pés mal tocavam no chão.

– Quem é você? – perguntei ainda desconfiada.

– Sou Mayara. – falou me olhando brevemente – Fui eu que te curei – continuou analisando minha expressão.

– Muito o-obrigada. – falei engolindo em seco. Ela deu um leve sorriso.

– Por que ainda a relutância em confiar em mim criança? – perguntou sorrindo delicadamente.

– Desculpa, acho que fiquei um pouco assustada. Apenas isso. – menti.

– Ai ai ai. – falou – Acho que você deveria falar a verdade, seria menos complicado.
Agora completamente assustada tapei a boca.

– Sim, você não pode mentir pra mim. – ela sorriu satisfeita.

– Quem é você?
– Já lhe disse. Sou Mayara. – sorriu – Agora sua vez, por que não confia em mim? A verdade.

– Pela maneira que meu pai te olhou, sendo um membro do Conselho... – falei cautelosamente – Você deve ser importante.

Ela sorriu.
– Esperta. – comentou, mas foi interrompida pela porta se abrindo.

– Kate sua maluca, VOCÊ ME DEI... – gritou Maggie entrando como um furacão no quarto, mas parou abruptamente ao ver Mayara. – Lady Mayara – falou fazendo uma leve reverencia.

– Lady Mayara? – falei erguendo minha sobrancelha esquerda. – Porque isso me parece apropriado. Lady do que?

– Kate! Trate-a com respeit...

– Pode ficar tranquila cara Margareth. Ela ainda não sabe. – falou Mayara sorrindo brandamente.

– Não sei o que?

E mais uma vez a porta se abriu abruptamente e Daniel entrou no quarto com uma cara de alívio. Os cabelos estavam mais bagunçados do que nunca e seus olhos verdes cintilaram pra mim.

Ele e Maggie se encararam, mas ele a ignorou assim como a Mayara e se aproximou de mim quase atropelando as duas.

– Graças a Kira! - falou dando um sorriso de dentes brancos. - Quase morri de preocupação.

Confesso que me senti aliviada de saber que ele não me odiava. Não deixei de sorrir.

– Dani me perdoa por...

– Eu amo você. - ele me interrompeu. - Se briguei contigo, é porque te amo.

Fiquei sem fala, mas ele se adiantou se inclinando e beijando minha bochecha. Finalmente se virou para Mayara fazendo uma reverência.

Ela sorriu e ele se virou pra mim mais uma vez dando uma piscada e saiu do quarto na mesma rapidez com que entrou.

Falou algo da porta como "conversaremos depois".

Maggie fez sua carranca e votou a me olhar.

– Ela é a nossa sacerdotisa. É mais importante que qualquer membro do Conselho – falou Maggie – Ela é a ponte entre Kira e nosso mundo. Ela é quase uma deusa, só não se pode considerar uma porque o seu pai é um guardião. Pode ver presente e passado, nos cura das mais terríveis pragas humanas ou demoníacas e logicamente é ela quem nos dá nossas missões. Ela é a mãe de todas as feiticeiras que nos protegem. Ela é nossa versão de deusa menor. Uma filha legítima e única de Kira.

Arregalei os olhos e encarei Mayara. Filha de Kira?

– Entendo - comentei olhando Maggie sutilmente – Sabia que a senhora não era apenas Mayara.

– Não, não sou – comentou se levantando. – Bom agora que já estamos apresentadas. – falou sorrindo – Posso contar porque vim.

Fiquei calada, aquela mulher ainda me colocava medo.

– Tenho uma missão para você Katherine Mozart.

– Mas ela ainda não foi treinada completamente senhora! – protestou Maggie.

– Não me interessa. Eu a vi em minha visão. É ela que deve ir. - falou Mayara com autoridade.

– Esqueceu-se do Hankor, senhora. – comentei ignorando o resto da conversa.

– Não querida. Esqueça o Hankor... Ele não lhe pertence mais.

– Pertence sim. - protestei. - É o nome de minha mãe.

– Sua mãe não era aquela que te criou Katherine. – falou sabiamente.

– E-eu esqueci. – falei acanhada. – Ela é uma desconhecida.

Ela me encarou por um longo momento e depois se dirigiu a Maggie que ainda permanecia muda.

– Margareth, pode nos deixar por alguns minutos? – perguntou delicadamente.

– Como quiser. – respondeu Maggie se afastando. Fechou a porta e o silêncio reinou.

– A quanto tempo vem sonhado com as deusas? - Mayara quebrou o clima.

– Pouco mais de um mês, eu acho – falei sabendo que não poderia mentir.

– Você sabe quem elas são? – perguntou – Você já sabe o motivo de Kora lhe querer morta?

– Você sabe? – perguntei boba – Me conte!

Ela me encarou por um longo tempo.

– Não preciso. Você já sabe o motivo. Só não quer acreditar. – respondeu.

– Mas eu n... – comecei, mas logo me calei ao ver seu olhar.

– Você tem uma semana para se preparar, mais nada. – falou – Lhe darei mais informações em breve. – ficou de pé.

Respirei fundo.

– Posso lhe dizer apenas uma coisa Katherine. - falou colocando sua capa novamente. - O seu futuro lhe revelará grandes surpresas. Apenas não siga o caminho errado.

Ela sorriu e saiu me deixando sozinha.

Me encolhi com suas palavras e em poucos segundos cai no sono.

***

Desci o ninho de folhas correndo. Raspei meu pelo em algum galho, arrancado uma boa parte. Grunhi e atravessei as árvores parando no acampamento. Respirei fundo e desviei de cara feia de outros lobos.

– Eliza. – ouvi meu nome por uma voz conhecida.

Me virei carrancuda encontrando Gordo. O apelido fora dado por Lucas de forma irônica, pois quando Gordo chegara, ele parecia um graveto ambulante, agora, meses depois o nome caracterizava perfeitamente o garoto. Que criara músculos do tamanho de vigas.

– Cadê o Lucas? - perguntou.

Dei de ombros já que não podia falar na forma de lobo.

– Ele disse que viria logo. - falou suspirando.

Bufei e me virei deixando-o. Entrei na minha cabana e respirei fundo sentindo meus ossos se torcerem e segundos depois de dores, a Eliza humana estava de volta. Entrei no banho e fiquei ali ouvindo o chuveiro. Merda de vida. Aquela imbecil não estava só pegando o Lucas, como também roubando meu irmão.

Sai pegando qualquer coisa. Uma camiseta e short jeans. Quando pisei na clareira, dei de cara com Gordo.

– O que você quer? – rosnei.

– Calma! Você está de TPM Eliza? – falou sorrindo desdenhosamente – Ah não! Você só está se mordendo de ciúmes porque a trouxa da sua irmãzinha fisgou o Lucas mais rápido que você.

– Vai à merda Gabriel. – falei empurrando-o.

Apesar de Gordo ser três vezes o meu tamanho – como a maioria dos lobos da matilha – eu ainda era mais forte, principalmente por ser a segunda na linha de sucessão ao ‘trono’.

– Se toca... Ele nunca vai te olhar com outros olhos sua imbecil. – falou. - Ele ama aquela pamonha. – sorriu ao ver a raiva estampada em meus olhos – Você nunca vai deixar de ser a irmãzinha mais nova dele.

– Vai tomar n...

– Está tudo bem aqui Lizy? – perguntou uma voz vindo da minha esquerda.

Não respondi, apenas vaguei de volta a minha cabana.

– Eliza volta aqui. – falou Lucas vindo atrás de mim.

O ignorei e continuei andando ate entrar na cabana. Fui para fechar a porta, mas ele me impediu segurando-a. Forcei, mas era inútil.

– Para com isso.

– Não. – falei e o fuzilei com os olhos.

– Não tenho medo de cara feia, Eliza.

– Mas deveria. – rosnei largando a porta.

Ele entrou fechando-a atrás de si.

– O que foi? - perguntou.

Me virei para encará-lo. Não ia responder.

– Lizy...
– Vai embora Lucas. - falei. - Estou cansada.

– Eu vou assim que você me contar o que houve.

Suspirei e sustentei seu olhar.

– Fala. - senti meu corpo se contrair. Não acredito que ele estava usando sua autoridade de alfa comigo.

– Quer mesmo saber?

Ele assentiu.

– É impressionante que você ainda alimente esperanças com aquela garota. – falei irritada. – Eu sei que ela é imune à barreira, mas você acha que isso vai durar quanto tempo? Eles vão mudar a cabeça dela.

– Eliza por favor. - ele revirou os olhos andando pela cabana. - Hoje eu não estou com cabeça pra birra.

– Eu não estou fazendo birra. – rosnei.

– Está sim. Desde que falei nela pela primeira vez, você implica, agora só não entendo o motivo.

Respirei fundo.

– Não implico – menti.

– Para Eliza, pelo menos assuma que você não gosta dela.

– Realmente não gosto dela, não vou com a cara dela e a desprezo – falei sem papas na língua.

– Está vendo, ela é sua irmã e você a destrata com se fosse um monstro.

– Ela não é minha irmã. – falei arrogantemente – Ela não é nada minha. Eu não tenho família.

– Sim... Você tem. – falou se virando e me encarando severamente – Não é porque eles nos desprezam que devemos fazer o mesmo.

– Sim... Nós temos! – falei – Esse seu romance estúpido com aquela babaca vai nos destruir.

– Para com isso Eliza! – gritou me assustando.

A voz de alfa fazendo um tremor percorrer meu corpo. O encarei por um segundo.
– Não paro! Eu sou realista.

– Não. Você só esta implicando com ela. Por que? Você sempre me apoiou! Sempre nos damos bem, por que você não pode me aceitar com ela?

– Porque eu não suporto ver você desperdiçando sua vida e nos pondo em perigo por causa daquela mimada que você conheceu a um mês, quando fui eu. EU LUCAS. Eu que abri mão da minha vida por você! Fui eu que estive com você desde que nasceu. Fui eu que encobria suas besteiras, eu que te ajudava quando se encrencava. Eu sempre te apoiei! – gritei. – EU estive em todos os momentos importantes da sua vida! Porque desde o momento em que pus meus olhos em você... Eu te amei com todas as minhas forças.

Ele me encarou e tentou falar, mas eu estava com tanta raiva que não o deixei.

– EU TE AMEI DESDE SEMPRE. Não ela. – falei passando as mãos nos olhos para esconder as lágrimas intrusas – Sabe por que eu me transformei? - perguntei sabendo que ele não sabia a verdade – Porque no momento em que descobri o que tinha acontecido a você, eu entrei em pânico. Eu queria ajudá-lo e sabia que não podia. Falaram-me pra te esquecer. Que você não valia minhas lágrimas, que você as desmerecia. Mas eu me recusei. Eu me transformei porque fugi de casa naquela noite e um lobo me encontrou. Ele me torturou, ele brincou comigo e depois me transformou. – continuei o vendo assustado – Depois ele me largou para morrer e ai você me encontrou chorando, machucada e desesperada. E mesmo depois dos três dias de agonia esperando a transformação se completar eu estava feliz. Eu fiquei feliz de ter sido transformada, porque eu sabia que poderia tê-lo por perto sendo uma loba. Eu abandonei minha vida por VOCÊ!

– Eliza...

– Para! – respondi – Eu não quero que você fique com pena. Vai embora! Que se dane vocês. - resmunguei.

Comecei a me afastar, encolhida pelo choro quando ele segurou meu pulso e me puxou de volta a saleta.

Ficamos cara a cara e vi estampado em seus olhos à confusão que sentia. Eu ainda tremia, mas podia sentir suas mãos em meus braços, seu rosto a centímetros do meu e não resisti. Aproximei-me o suficiente para que nossas bocas se encontrassem. Senti uma corrente elétrica romper o frio de meu corpo.

No mesmo momento pensei que ele me rejeitaria, mas para a minha surpresa ele retribuiu.

Uma de suas mãos foi ate meu rosto e a outra ate minha cintura. Seus lábios cabiam nos meus perfeitamente, e naquele momento senti que nada mais era importante.

Involuntariamente enlacei seu pescoço enquanto minha língua tocava na sua, numa sincronia perfeita. Senti meu corpo ficar quente e me contorci para ficar mais perto enquanto a sua mão que estava na minha bochecha seguia ate minha nuca tornando o beijo mais urgente.
Seus dedos se agarraram nos meus cabelos e senti-o morder meus lábios. Ele me puxou para mais perto e meus pés se moveram ate que bati as costas na parede sem qualquer cuidado.

Eu não queria pensar muito, mas a maneira como ele me beijava era quase como se precisasse daquele beijo tanto quanto eu.

Quando sua mão desceu ate meu short eu não segurei as unhas na sua nuca e ele soltou um som de protesto largando meus lábios e indo com a boca ate meu pescoço.
Senti beijos, lambidas e ate algumas mordidas mínimas. Mordi os lábios contendo gemidos e quando abri os olhos de novo ele me encarava. Me aproximei, mas ele me parou.

O fitei confusa e ele parecia perplexo demais.

– Não Eliza. – falou se afastando de mim. – Não posso fazer isso.

Soltei a respiração e passei a língua pelos lábios ainda sentindo seu gosto. Balancei a cabeça. Ele me olhou e quase pude notar vergonha estampado no seu rosto.

– Desculpa. - sussurrou.

Senti uma pontada no peito. Engoli o choro.

– Vai embora. - falei olhando para o chão.

– Lizy... por favor...

Fui ate a porta a escancarando.

– Vai embora Lucas!

Encontrei seu olhar e senti meu coração bater sem ritmo certo. Ele soltou um longo suspiro e se dirigiu à porta parando na soleira para me olhar.

– Eu sinto muito.

– Vai pro inferno!

Bati a porta ruidosamente e me encostei na mesma. Escorreguei ate me sentar e levei as mãos na boca. Deixei as lágrimas descerem sem medo e me encolhi.

Ele amava aquele estúpida e minhas chances eram mínimas, mas o beijo seria sempre guardado.

***

Andei pelos corredores ate que avistei a porta com o enorme número dezenove estampado nela. Suspirei e segurei a maçaneta girando-a e só me lembrei de que devia ter batido quando já estava do lado de dentro.

Dei de ombros e me aproximei da cama notando que ela dormia. Puxei a cadeira em silêncio e me sentei ao seu lado.

Observei sua respiração calma e em como ela parecia inofensiva assim. Os cabelos vermelhos formando uma cortina sobre o lençol branco e as pequenas sardas nas bochechas.

Eu sabia que Kora a estava atormentando, mas também sabia que eu podia ajudar como fiz das outras vezes.

Olhei para a porta fechada e de volta pra ela. Respirei fundo e estiquei a mão ate encontrar a sua. Eu precisava saber o que ela estava vendo. Estava curioso.

Você deve estar se perguntando se eu posso ler a mente dela. A resposta é não. Mas como guardião oficial dela, eu posso dizer que temos uma ligação. E com isso eu posso ver, as vezes, o que ela está sonhando. Posso ate mesmo interferir em alguns sonhos, como pesadelos e para-los.

Como eu faço isso? Bom... sempre recebo um tipo de sinal quando o sonho dela é perigoso demais. Um sinal como um arrepio ou uma formigação nos dedos. Isso é só alguns truques do meu pai.

Mas quando não recebo sinais e quero mesmo assim ver o que ela está sonhando, preciso toca-la para fortalecer a ligação.

Olhei sua pele clara e as unhas compridas sem esmalte. Fechei os olhos e me concentrei ao máximo. Quando abri os olhos novamente me vi em um enorme salão onde uma música soava pelo ambiente.

Olhei em volta e vi uma garota magra vestida em um maio rosa-claro, meias finas, sapatilhas e os cabelos ruivos presos num coque. A garota dançava graciosamente girando no salão. Uma bailarina.

Não pude evitar um sorriso ao perceber que se tratava de uma Katherine mais jovem nos seus treze anos, talvez.

O ambiente era agradável, mas o cenário mudou tão rapidamente que me assustei. O salão antes iluminado pelas suas longas janelas e espelhos, ficou escuro. No centro um trono de ossos se mantinha e sentada com um olhar sombrio na minha direção estava a rainha das sombras. Kora.

Ela sorriu pra mim. Olhei em volta a procura de Kate, mas aparentemente estava apenas eu e a deusa.

– É um prazer imenso recebe-lo. - sua voz me atingiu como uma bola de gelo. - Tenho que admitir que seus dons como guardião são incriveis. A entrada nos sonhos me fascina.

Engoli em seco. Fechei os olhos afim de acabar com aquilo. Como eu poderia estar sonhando?

– Ah meu querido, não se preocupe. - falou - Ainda está nos sonhos da Katherine, mas eu apenas fiz um atalho para que eu finalmente pudesse falar com você, já que sua mente de algum modo bloqueia minhas intromissões nos seus próprios sonhos.

A encarei sem saber o que falar.

Ela se levantou e caminhou na minha direção. Os cabelos negros se movimentavam como se tivessem vida própria.

– Katherine tem sorte de ter um guardião como você. - ela sorriu. - Tão belo, jovem, forte e poderoso.

– O que você quer? - falei quase ríspido demais.

Ela me olhou, andou a minha volta e depois falou com paciência.

– Apenas lhe dar um recado.

Senti um arrepio na nuca quando ela se aproximou para sussurrar no meu ouvido.

– Fique no meu caminho Nicolas... E eu terei o prazer em eliminar você com minhas próprias mãos.


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Notas finais do capítulo

Perdão se tiver erros.
Obs: foto de hoje... Mayara.



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