– Posso ficar aqui um pouco? – Skye entreabre a porta da cabine, batendo levemente com três socos antes de fazer a pergunta, mesmo sabendo que não obteria nenhuma resposta de May. – Cansei de ficar deitada.

Para a surpresa da garota, a piloto lhe lançara um olhar amistoso, indicando que poderia ficar por ali. E mesmo se não houvesse resposta nenhuma da agente, Skye provavelmente permaneceria onde estava, lembrando-se das palavras de Colson, quando lhe disse sobre o seu poder de consertar as pessoas e sobre como isso chegaria mais cedo ou mais tarde na May. Skye ainda estava um pouco fraca e Jemma havia lhe alertado que só faltavam trinta minutos antes de precisar ser sedada novamente para mais um exame. E ela insistiu em gasta-los com May. Sentou-se no assento de co-piloto, encolhendo as pernas como se tivesse sete anos, fato que não passou despercebido pelo olhar de Melinda que deu um sorriso discreto com o canto da boca. De vez em quando, a garota lhe fazia alguma pergunta e sempre recebia um olhar diferente em troca. Skye estava começando a gostar da brincadeira, até lembrar-se de sua breve conversa com Ward minutos atrás.

– Obrigada. – Skye conseguia tornar-se ainda mais doce usando aquele tom.

– Pelo que? – Melinda rompia o silêncio após exatamente dois minutos da afirmação da garota.

– Por tudo. Ward me contou o que você fez por mim...

May deu uma pausa. Não uma pausa de verdade, estava mais para uma quebra de algoritmo. De repente a sequência lógica dos argumentos falhou e ela lembrou-se de Bahrein. Engolia em seco, enquanto tentava manter-se completamente impenetrável, mas não fugiria das perguntas de Skye.

– Não poderíamos deixar você morrer. – Falava séria, porém em tom sincero.

– Pensava que você não ia muito com a minha cara. – Skye sorria, levando a conversa para um caminho menos tenso.

– Colson confiou em você. – E deu uma pausa para encará-la rapidamente. – E ele estava certo.

Skye não poderia acreditar naquilo. Ouvir da boca de Grant não era tão espantoso quanto ouvir diretamente de Melinda May. Aquilo soou como um elogio bem formulado, uma injeção que permitia que a garota permanecesse ali, naquela cabine e naquele avião. A fazia sentir-se parte da única coisa que esteve presente de forma contínua na sua vida: A S.H.I.E.L.D.

– Uau... – Skye ficou sem palavras por alguns segundos – Nunca imaginei que ouviria isso de você.

Melinda não respondera mais, simplesmente deixou escapar um sorriso enquanto girava a aeronave no eixo vertical, operando graciosamente os pedais. Elas permaneciam em silêncio, a despeito das milhares de perguntas que incomodavam os neurônios de Skye, que embora fosse uma 0-8-4, parecia ser menos desconhecida do que a agente ao seu lado. E de todos os pedidos que Skye poderia fazer, ela escolheu o mais feroz de todos, que soou frio e ácido nos ouvidos de May, como se ela tivesse engolido todas as palavras de uma só vez:

– Queria ouvir sobre Bahrein qualquer dia... – Falou quase gaguejando, temendo o efeito que as palavras surtiriam em May, que congelara por dentro com o pedido – ...Se não tiver problema... –Ela continuava se enrolando nas palavras, dessa vez com mais medo de ser banida da cabine a gritos. – Eu sei que você se importa comigo... E embora você não seja frágil como eu... – Começava a achar as palavras certas – Eu me preocupo com você, então... Se quiser falar... Estarei por aqui com meu laptop e talvez alguma agulha enfiada no braço ou carregando um soro por aí, se depender de Simmons... – Brincava a garota, lembrando-se da nova sessão de exames que enfrentaria logo mais – que por sinal está demorando pra me chamar de volta como se eu fosse um bebê...

– Skye? – A carinha de Jemma aparecia piscando no celular.

– Celular, Jemma? Sério mesmo? Eu estou a metros de você!

– Adivinha que horas são? – Simmons ironizava, transparecendo sua leve impaciência.

– Simmons, você precisa mesmo fazer isso? – Skye teimava como uma criança que não queria tomar o remédio – Eu não senti mais nenhum...

– Se você não aparecer em três minutos eu chamarei o Ward, e ele lhe trará de volta à força!

– Mas, Jemma... – Dessa vez, foi interrompida pelo olhar de May, que apontava para a porta, indicando que Simmons estava certa.

– Skye... – Ela usava um tom firme e levemente preocupado – Simmons sabe o que está fazendo. Se ela diz que precisa fazer o exame, você precisa colaborar com ela. Vá!

Ela não ousaria discutir com May. Não depois de saber o quanto ela havia lutado para que pudesse estar viva e respirando como gente novamente. Ao invés disso, acenou com a cabeça em sinal de positivo, quase prestando continência como quem responde “Sim senhora”.

– Dois minutos e meio... – Simmons estava quase ameaçando a garota se não saísse daquela cabine.

– Tudo bem! Eu já tô indo, tá legal! Em menos de um minuto eu chego aí, Doutora Apressadinha... Não sei como você não enjoou da minha cara essa semana... - Deu um suspiro antes de se levantar do assento do co-piloto. – Estou saindo, sério. – Disse, finalizando a chamada.

Levantou-se sem saber se May a contaria algo sobre Bahrein algum dia, fora apenas uma ideia remota que se passou pela sua cabecinha inocente. Ideia esta que Skye sinceramente arrependeu-se algumas vezes de ter deixado sair, temendo que isso irritasse ou machucasse Melinda. Mesmo assim, já estava feito, então só lhe restava voltar para aquele cubo ridículo e ser drenada como um cordeiro.

Antes de sair da cabine, para a sua surpresa, May não estava com raiva nem havia se ofendido com a pergunta. Simplesmente falou sem olhar pra trás para encará-la:

– Algum dia, Skye.