Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 18
Warrior




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We were born to break the doors down

Fighting till the end.

It's something that's inside of us

It's how it's always been.

Warrior!

Acordo na enfermaria. Ouço ruídos imaginários e percebo que estou devastado. A adrenalina, adicionada ao cansaço das lutas e treinos anteriores, fez meu corpo enfraquecer na hora em que ele deveria permanecer forte. Sinto-me destruído e reprimo as lágrimas, que se intensificam à medida em que eu tento contê-las. Minha vista, que antes estava embaçada, agora mantém-se regular. Tento permanecer imóvel, mas a ansiedade faz com que meus músculos contraiam-se involuntariamente.

– E aí, campeão? Está se sentindo melhor? - ouço uma voz masculina preencher o local e só então percebo que estou acompanhado. Viro-me à esquerda e sinto uma pontada de dor, mas ignoro. Pharrel permanece com um semblante preocupado.

– Campeão? - bufo, sorrindo fraco. - Se eu, de fato, fosse campeão, não estaria aqui, não acha?

Pharrel sorri e dá de ombros.

– Ah, todos os campeões têm altos e baixos. Além disso, Clary é forte, já era de se esperar.

– Eu não esperava. Treinei arduamente e achei que estaria apto a combatê-la. Talvez tenha sido este o motivo de acabar aqui, provavelmente com um olho roxo e um rosto deformado.

Pharrel retira de seu bolso um pedaço de vidro. Concentro meu olhar no objeto e vejo que é um fragmento de espelho. Ele segura e direciona-o ao meu rosto. Logo, consigo enxergar um Quatro com olhos roxos e um hematoma na boca. Suspiro em alívio.

– Então, eles não me tirarão da luta, certo? Não estou tão ruim assim! - digo, exclamando a última sentença. Ele parece apreensivo, e a preocupação invade o meu corpo, substituindo a dor.

– Tecnicamente, as lutas estão terminando agora. Sua luta com Eric seria uma das últimas, mas ele já lutou com outro iniciando. Sinto muito, Quatro.

– Não. - digo, levantando-me abruptamente da cama. Minhas roupas ainda estão no corpo, portanto, sigo em direção ao Centro de Treinamento. Pharrel me segue, tentando alcançar meus passos.

– Você é maluco? Não pode sair desse jeito!

– Que jeito? - retruco ironicamente. - Sinto-me extremamente bem.

Ele revira os olhos, mas dá de ombros.

– Boa sorte.

Assinto com a cabeça e acelero ainda mais, alcançando o complexo da Arena em poucos segundos. Quando chego, vejo Maddie no ringue e Kira levantando seu braço, em sinal de que ela fora a vencedora do embate. Quando a garota loira me vê, emite um semblante surpreso e envia uma piscadela. Retruco com um sorriso.

– Então, está é oficialmente a última luta entre os iniciandos.

– Não! - digo ao mesmo tempo que Maddie. Todos os olhos se voltam a mim, incluindo os de Eric.

– Sim. Você foi dispensado após a surra que levou de Clary. Não lembra? - Kira cospe, com indiferença.

– Lembro-me. Perdi os meus sentidos naquela luta porque não havia descansado suficientemente. Mas acredite, estou bem melhor e apto a lutar.

– Infelizmente, seu oponente já lutara. A propósito, vencera a luta.

Eric sorri, mostrando um de seus piercings.

– Estou ciente disto. Então, proponho um acordo: Eric e eu lutamos. Caso eu perca, mostrarei minha paisagem do medo a todos daqui. Caso contrário, nada acontece. Apenas Eric terá que encarar a sensação de perder novamente. - profiro. As batidas de meu coração se aceleram de maneira repentina, e eu sei que as consequências de tal proposta podem ser devastadoras, mas não recuo.

Kira parece estar sem palavras. Ela apenas continua encarando-me, talvez tentando descobrir o porquê de estar me arriscando tanto. Entretanto, eu sequer sei. Porém, não voltarei atrás. O silêncio preenche o local rapidamente, até ser quebrado pela instrutora.

– Bom... Estou de acordo. Mas cabe a Eric aceitar ou não.

Eric gargalha.

– Você realmente quer cavar sua própria cova, não é mesmo, Careta? Olhe para você! Seu estado é deplorável. Sendo assim, eu aceito. Estou ansioso para ver descobrir seus medos.

Kira se direciona para fora do ringue e eu caminho em direção a ele. Todos permanecem intactos, inclusive Amah, que previamente vira minha paisagem. Clary e Joseph se entreolham até, por fim, Eric se aproximar. Ele sussurra algo no ouvido de Clary, e Joseph o empurra. Ele se distancia dos dois e vai ao ringue.

Quando já estamos lado a lado, encaro seu olhar e sinto um calafrio. Porém, mantenho minha postura rígida e o semblante sério. Ele continua com o seu sorriso sarcástico.

– Comecem, maricas! - Amah exclama.

Eu dou o primeiro passo. Tento golpeá-lo, mas meu soco atinge o ar. Ele faz o mesmo, mas não atinge minha face. Por fim, ele tenta atingir os meus pés, mas salto antes de seu golpe me atingir. Faço o mesmo, quase como um reflexo, e ele, surpreendentemente cai no chão.

Eric é rápido, portanto, antes mesmo de eu conseguir imobilizá-lo no chão, ele rola à direita e se levanta com um pulo. Vejo o seu corpo vindo em minha direção de lado. Seu cotovelo atinge minha costela, mas não sinto dor. Recuo para o lado oposto e faço o mesmo, porém, desta vez, em sua cabeça. Ao atingir sua têmpora, Eric solta um grunhido, uma mistura de raiva e dor. Sorrio, satisfeito.

– É a única coisa que sabe fazer, Quatro? - ele profere de maneira rude e se levanta abruptamente em direção a mim. - Achei que fosse mais forte que isso.

Decido acatar suas indignações levando minha perna direita em direção ao seu rosto. Quando o faço, ela atinge seu rosto, entretanto, Eric permanece inerte, quase como se não tivesse sido atingido. Ele dá dois passos para trás e permanece em silêncio, encarando os meus olhos. Percebo que suas pupilas estão dilatadas e sei que seus olhos exprimem raiva. Eric é extremamente expressivo.

E em um golpe perfeito, o ex-erudito corre e salta, atingindo o seu corpo contra o meu, que cai. Ele pousa de maneira graciosa e agora tem total controle sobre mim. Tento exprimir tranquilidade.

Eric põe suas mãos em meu pescoço a fim de que eu fique sem ar. Porém, concomitantemente, soco o seu rosto, conseguindo escapar. Quando ele retira suas mãos de mim, consigo sentir a ardência de suas unhas em meu tecido. Levanto-me antes dele e ofereço-no minha mão. Ele franze o cenho e dá de ombros, levantando sozinho.

– Uma vez altruísta, sempre altruísta. - sussurrei.

– Você quis dizer "uma vez Careta, sempre Careta", não? - ele sorri e mostra os seus dentes. Só então percebo que meu soco atingira sua boca, que sangra.

– Um Careta não faria isso! - exclamo e antes mesmo de terminar a frase, parto em direção a ele.

Uso meu cotovelo em direção a sua costela e logo depois atinjo-o na jugular. Ele contra-ataca dando um chute em meus joelhos, que não enfraquecem. Ainda com a mão em sua jugular, tensiono todos os músculos de meu corpo, levo minha outra mão ao pescoço e tiro-o do solo.

Meu corpo começa a vacilar, entretanto, não desisto, continuo levantando-o até perceber seu rosto adquirindo tonalidades roxas. Permaneço do mesmo jeito por alguns segundos, até, num movimento impulsivo, jogá-lo para a direção oposta. Seu corpo atinge o chão de maneira brusca e o estrondo advindo da Arena é enorme. Ouve-se um grunhido de agonia, e por fim, o sinal de desistência.

Todos fitam-me do lado de fora da Arena, perplexos. Pharrel, Maddie, Joseph e Clary permanecem com um semblante feliz no rosto, e depois de um longo silêncio, os quatro aplaudem. Sorrio como resposta, enquanto Kira se direciona ao corpo de Eric com o intuito de verificar qual é o seu estado. Posteriormente, se direciona a mim, e sem ressalvas, levanta a minha mão, indicando a vitória.

Saio do ringue e caminho de encontro aos quatro iniciandos. Sou parabenizado por todos, e mais uma vez percebo que sou audaz o suficiente para enfrentar tais obstáculos. Sou audaz o suficiente para ultrapassar os meus limites e alcançar a glória.

+++

Após algumas horas de descanso devido ao fim do primeiro estágio, todos os iniciandos nascidos ou transferidos são direcionados ao Fosso. Enquanto sou conduzido pela multidão de audaciosos, observo atentamente cada detalhe dos túneis. Permito-me sorrir, ao lembrar-me de como tal local proporcionava-me uma sensação de insegurança. Agora, sinto que este local já faz parte de mim, e não existe qualquer outro lugar que possa me proporcionar tal sensação.

– O que estamos indo fazer? - pergunto a Clary, que parece eufórica.

– Não parece óbvio?

– Não.

– Ao final de cada estágio, vemos um iniciando da Audácia ser crucificado por um dos líderes da Audácia só por diversão, sabe? Tal iniciando é escolhido a mão por um deles, e estou eufórica para saber quem será o infortunado desta vez. - diz ela, sarcasticamente. - É claro que estamos indo para observar a nossa classificação, inteligente.

– Talvez tenha sido por isso que em meu teste de aptidão não fui classificado como erudito. - brinco, até chegarmos ao local.

O território está precariamente iluminado pela luz da lua, entretanto, ao chegarmos, uma luz que irrita os meus olhos se acende, e Max, junto a Kira e Amah, surge.

– Gostaria de parabenizá-los pelo ótimo desempenho até aqui. Uma das virtudes de um guerreiro audacioso é poder reconhecer o seu fracasso a fim de suplantá-lo, mas, ao mesmo tempo, é a capacidade de admitir o sucesso de si mesmo ou de seu adversário. Segue aqui a lista dos iniciandos e sua respectiva classificação. Ao lado direito, o de Amah, há a classificação dos transferidos, enquanto do lado de Kira, há a dos nascidos. - ele conclui.

Vejo os olhos avulsos em direção às duas lousas onde estão escritas os nomes e suas classificações. Há uma segregação entre os grupos, e só então sigo em direção ao quadro de transferidos.

1 - Quatro

2 - Joseph

3 - Maddie

4 - Pharrel

5 - Nora

6 - Eric

7 - Jonathan

8 - Mia

9 - Tate

– O quê? - ouço um murmúrio de indignação de Eric. - Como eu posso estar nesta posição? Eu derrotei Nora!

– Você perdeu para oponentes consideravelmente fracos, mas que desenvolveram de maneira inegável. - Amah conclui, lançando um olhar a mim. Dou de ombros e continuo olhando para o quadro. Uma sensação de satisfação e adrenalina invadem o meu corpo. Joseph me cumprimenta, enquanto Pharrel e Maddie se abraçam também comemorando. Após alguns minutos, encontramos Clary, com o semblante irritado.

– O que houve? - indaga Joseph, abraçando-a.

– Eu fiquei em segundo lugar! Você sabe o que é isso? - ela responde de maneira indignada.

– Posso lhe dizer que sim, afinal, também fiquei em segundo lugar. - ele sorri.

– Mas isso é inadmissível. Tudo bem, você está acostumado a se contentar com pouco, mas eu, não. A diferença entre o último lugar e o segundo, na minha perspectiva, não existe!

– Quem ocupou a primeira posição?

– Zeke Pedrad. Ótimo com as lutas, cara charmoso, mas... um completo idiota!

– Um idiota que coincidentemente ocupou o primeiro lugar... - provoca Joseph.

– Cale sua boca! - ela revira os olhos. - Às vezes me pergunto o que, de fato, eu vi em você, pois... - ela tenta terminar a frase, mas é surpreendida por um beijo dele.

Dou de ombros e volto-me a Maddie e Pharrel. Quando observo os dois, também estão se beijando. Solto um longo suspiro e me afasto dali, ligeiramente incomodado.

Quando a histeria parece se prolongar, Kira berra, e o silêncio preenche o local.

– Não se esqueçam que ainda teremos a paisagem do medo daqui a duas horas. Encontrem-me no local onde realizaram a paisagem do medo às 21h.

+++

Caminho ao lado de Clary e Joseph. A sensação de nervosismo invade o meu peito de forma voraz, fazendo com que eu me sinta enfraquecido. Tento lembrar-me dos conselhos de Tori e os outros fazem o mesmo. Preciso convencê-los de que sou apenas mais um iniciando.

A luz da lua ilumina os rostos dos iniciandos. Consigo observar diversos semblantes e o silêncio torna-se ensurdecedor. A única coisa que conseguimos ouvir são os nossos passos ao tocar o solo irregular e a respiração ofegante da maioria das pessoas. Sinto vontade de gritar, mas reprimo o desejo quando encontro Max junto aos líderes da Audácia. Entretanto, há rostos que nunca vimos antes. Rostos que estão preenchidos, pela maioria, por óculos e um semblante taciturno.

Líderes da Erudição.

– Bem-vindos à paisagem do medo novamente. Desta vez, estarão concluindo a última fase dos estágios, para por fim, poderem viver como cidadãos da Audácia.

– Sim, cidadãos da Audácia. - uma voz feminina diz. - Então por que esses nerds estão aqui?

– Somos líderes da Erudição. - a voz rígida de Jeanine a corrige. - Estamos aqui para supervisarmos as simulações, pois os líderes da Audácia, ao testarem o soro, indicaram alguns problemas que poderiam ser corrigidos. De fato, o fizemos, e agora estamos aqui apenas para certificarmos o bem-estar de todos os iniciandos.

Vejo Clary começar uma frase, mas é repreendida por Joseph.

– Então você está nos dizendo que o soro pode apresentar problemas e que corremos o risco de ficarmos em transe por um longo tempo? - questiona Zeke.

– É claro que não. Corrigimos os erros no soro, só estamos aqui para o recolher posteriormente, a fim de estudar novamente a sua estrutura, a fim de melhorá-la para que não haja nenhum imprevisto com futuros iniciandos.

Os iniciandos permanecem calados e percebo que quase todos acreditaram na mentira. Tento forçar-me a acreditar.

– Sem mais delongas, começaremos com o primeiro iniciando nascido na Audácia, segundo a classificação. Zeke Pedrad.

Zeke, ainda inseguro, caminha até Max, que segura a seringa. Abruptamente, ele insere a agulha em Zeke, que logo entra em transe. Os líderes das duas facções acompanham num aparelho eletrônico o decorrer da simulação, enquanto eu observo seus movimentos intensos. Perco-me em meus pensamentos emaranhados, até ser chamado por Max.

Fecho os meus olhos, enquanto Max perfura meu pescoço com a agulha. Também entro em transe, e logo, estou em outro lugar.


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