Estava eu, sozinha em meu apartamento. Não podia reclamar, pois foi isso que escolhi, mas não vislumbrava que a dor seria tão dilacerante e, mesmo que eu quisesse, meus olhos não paravam de arder, como se estivessem sendo corroídos pelo ácido mais forte do mundo. Eu estava chorando, não conseguia parar, meu corpo já estava tendo espasmos, porque tudo o que eu comia, não conseguia manter dentro de mim.

Como fui capaz de fazer isso? Se arrependimento matasse, eu já estaria morta há muito tempo. Fiz isso comigo, fiz isso com ele... Como sentia sua falta. Cada célula do meu corpo urgia pela sua presença, pelas suas carícias, pelas suas palavras. Eu estava ficando cada vez mais fraca, mas acho que merecia isso, todo esse tormento. Estava, finalmente, experimentando o fim e toda a dor que o fiz passar. Isso que eu merecia. Agora, aqui, sozinha em meio dessa bruma que se tornou minha vida e todo o meu ser. Meus olhos estavam se fechando, respirar ficava cada vez mais difícil... Minhas mãos estavam cobertas de sangue, do meu sangue, não, do nosso sangue. Eu não tinha mais tempo e nem forças para nos salvar. E ele não estava mais ali comigo...

“I never knew I had a dream - Eu nunca soube que tinha um sonho

Until that dream was you - Até o sonho ser você

When I look into your eyes - Quando olho dentro de seus olhos

The sky´s a different blue - O céu fica num azul diferente”

Flashes de luzes por todos os lugares. A dor estava amenizando cada vez mais. Onde estou?

“Kate? Kate? Acorde, meu amor.”

Escutava sua voz, ao longe, chamando-me. Meus olhos abriram-se devagar e me deparei com aquele infinito azul, o qual adorava me perder. Como ele era lindo, eu não o merecia. Ainda deitada, senti seus lábios sobre os meus, sua maciez e ternura, beijando-me como se fosse a última vez. Ele sempre conseguia isso, fazia me sentir como se fosse única. Como era bom acordar daquele jeito. Não conseguia fazer outra coisa, a não ser sorrir e retribuir todas as carícias, com cada vez mais intensidade. Eu estava, apenas, com uma fina blusa sua. Adorava vestir suas roupas, sentir seu cheiro, a todo momento, impregnando integralmente o meu ser. Permaneci aprisionada naquela cama, com seu corpo sobre o meu. Suas mãos subiam pelas minhas pernas, fazendo minha pele arrepiar-se. Minha única reação foi gemer, quando ele tocou-me profundamente com seus dedos. Puxei seus cabelos e intensifiquei nosso beijo.

“Castle, preciso de você, por favor...” Implorei enquanto cruzava minhas pernas em torno de seu corpo, trazendo-o para mim. Eu não aguentava mais, e ele, prontamente, atendeu ao meu pedido.

Possuiu-me de uma só vez, arrebatando um grito do fundo do meu ser. Tudo o que sentíamos estava sendo demonstrado ali. Carinho, amor, cuidado... Eu estava sendo levada para outra dimensão, uma onde só existia ele, Castle. Nossos movimentos estavam ficando cada vez mais rápidos e desesperados. Ele conseguiu arrancar um gemido forte de mim, quando desceu pelo meu pescoço, devorando cada gota de suor que tinha pelo seu caminho até chegar a meus mamilos, onde parou e cuidou, um a um, com um afago que só ele era capaz de dar.

Cada vez mais intenso e mais fundo. A todo movimento ele tocava minha alma. Estávamos conectados. Éramos um único ser e nos liberamos, também, juntos. Ali eu estava segura, nos braços daquele homem, do meu Rick.

“Eu te amo.” Sussurrou em meu ouvido e eu sorri, apesar de todo meu íntimo querer que eu bravejasse uma resposta de volta. Rodeada pelos seus braços e, como um felino, acariciei seu corpo com o meu, emoldurando-me a ele. Peguei no sono, novamente.

Escutei vozes. Senti algo me segurando...

“Kate! Kate, acorde!” Castle gritava meu nome, enquanto me sacudia desesperadamente. A sensação de frio era terrível, mas, mesmo assim, abri meus olhos. “Oh, Deus! Que bom, Kate! Você está viva!” A sensação de alívio em sua voz palpável.

“O que aconteceu, Castle?” Perguntei, sem entender muito bem o que estava acontecendo ali.

“O carro em que estávamos, foi empurrado ao rio. Encontrei sua arma e consegui quebrar o vidro. Você não se lembra?” Disse olhando incrédulo para mim.

“Você nos salvou...” Minha resposta veio em um breve sussurro. Ele arriscou-se por mim, estava ali ao meu lado, como sempre. Mas, mesmo assim, desmaiei novamente em seus braços.

O frio era insuportável. Eu sentia seus braços ao meu redor, seu cheiro... Ele estava dividindo o pouco calor que tinha, comigo. Virei-me para ele e senti seus braços me apertarem mais.

“Castle...” Sussurrei. olhando-o.

“Sim...”

“Obrigada, por estar aqui.” Disse-lhe, tocando o rosto.

“Sempre.” Apesar de tudo, observei um pequeno sorriso curvando-lhe os lábios em resposta.

“Quero que saiba o quanto eu...” Não consegui terminar minha resposta, minhas pálpebras estavam pesadas, então, adormeci.

“Kate, fique comigo. Kate? Fique comigo!” Só podia escutar sua voz ao longe...

Eu não estava entendendo nada, tudo parecia irreal, um sonho. Repentinamente, eu estava de volta ao cemitério, no púlpito, falando tudo aquilo que eu já havia falado.

“Roy Montgomery me ensinou o que significa ser policial. Ensinou-me que somos moldados por nossas escolhas... E que somos maiores que nossos erros. Capitão Montgomery me disse uma vez que, para nós, a vitória não existe. Existem apenas batalhas. E, no final, devemos ter esperança de encontrar um lugar para deixarmos nossa marca. E se tivermos muita sorte... encontraremos alguém disposto a nos apoiar sempre.”

Enquanto eu pronunciava essas palavras, olhei para meu lado e encontrei-o ali, observando-me fixamente. Ele estava dando-me seu apoio silencioso, sempre.

“You pick me up when I fall down - Você me ergue quando eu caio

You ring the bell before they count me out - Você marca presença antes de eu ser posto de lado

If I was drowning you would part the sea - Se eu estivesse me afogando você abriria o mar

And risk your own life to rescue me - E arriscaria sua própria vida para me resgatar”

“E mesmo que...” Continuei meu discurso...

“Kate!” Senti seu corpo jogar-se sobre o meu. A dor em meu peito era terrível, minha vida esvaía-se de mim. “Kate, por favor. Fica comigo. Não me deixe, por favor. Fica comigo, está bem?” Escutava seus apelos desesperados, mas não conseguia mover-me, muito menos responder. “Kate... eu te amo. Eu te amo, Kate.” A última imagem que pude ver foram a dos seus olhos azuis, agoniados. Meu corpo contraiu-se com aquela revelação. Constatei algo que já sabia, mas não queria aceitar. Eu também o amava.

Em todos os momentos ele estava ali comigo, tentando me acalmar, amenizando todas as dores e frustrações. Castle era mais que um parceiro, dava-me tudo que podia. Doava-se por completo a mim, sem defesas.

“It´s hard for me to say the things - É dificil para mim, dizer as coisas

I want to say sometimes - Que eu quero dizer às vezes”

Eu estava, novamente, naquela praça, naquele balanço, e observava Castle, ajoelhado diante de mim, segurando uma aliança.

“Então, o que quer que aconteça, qualquer que seja a sua decisão... Katherine Houghton Beckett quer se casar comigo?”

Eu tinha ido com minha armadura indestrutível, decidida a terminar com tudo, pois havia aceitado o emprego no FBI. Porém, a única coisa que não esperava de Castle, era um pedido desses, simples e lindo, em nosso lugar mais marcante. Isso me desarmou completamente. Meus olhos avermelharam-se e senti uma forte ardência em minha garganta. Não, não poderia chorar na frente dele. Prendi o choro como pude e saí correndo, deixando ele ali, ajoelhado ao chão.

Castle era o meu amor e eu não tive a coragem de dizer isso, machucando-o, sempre. Não o mereço, não sou digna dele ou de sua preocupação. Eu o feri, a mim mesma e ao resultado de nós dois. Agora eu estava aqui, consumida pela escuridão do meu ser e por todos os meus arrependimentos. Após um som ensurdecedor da porta de meu apartamento, apenas ouvia sua voz, chamando-me, tentando salvar-me do meu calvário merecido.

“Kate, por favor... De novo não, Kate!” Notei seus braços ao meu redor, apertando-me contra seu corpo. “Oh, Deus. O que você fez, Kate? Por quê?” Eu sentia ele correr comigo, mas era impossível abrir meus olhos, eu estava fraca, afinal, perdi muito sangue, nosso sangue.

O som de sirenes ao fundo. A dor voltou, pior do que antes. Senti uma mão segurando a minha, uma que nunca me deixava.

“Castle...” precisava gritar, porém, saiu um breve murmúrio.

“Estou aqui, Kate, sempre.” Senti seus lábios afagando minha mão. “Não me deixe...”

Por que ele estava ali? Eu havia abandonado ele! Por que voltou? Eu não o mereço. “Deixe-me ir, Castle...” A morte seria o menor de todos os sofrimentos, significaria minha libertação.

“Nunca!”

Não escutei sua resposta e não sentia mais nada. Era o fim... tudo estava acabado e eu tive o que mereci.

“Kate...” Sua voz ecoava ao fundo, tirando-me novamente da escuridão. A dor já não era tão forte. “Meu amor...” O tom da sua voz me acalmava. Acariciava-me a alma. Como eu precisava dele.

Com muita dificuldade, lentamente, abri meus olhos. Percebi que estava em um quarto de hospital, com alguns aparelhos e Castle estava ali, ao meu lado, como sempre. “Castle...” Não pude deixar de sorrir ao vê-lo.

“Oh, meu amor. Enfim você acordou.” Eu via alívio em sua voz e olhar. “Por que não me contou? Eu tinha o direito de saber!” Ele havia descoberto tudo! E agora?

“Desculpe-me” Fiz a única coisa que pensei. Virei-me para o outro lado, desviando meu olhar, não podia encarar aqueles olhos inquisitores. “Nós o perdemos?”

“Por sorte, não.” Senti seu beijo sobre minha testa. “Como você pôde fazer isso conosco? Você quase morreu! Quase matou ele!”

“Sinto muito, eu não sabia, até aquele dia...” Sim, eu saí correndo do parque. Eu estava confusa, não sabia o que fazer. Perdi o controle da minha vida e de mim mesma. Não estava acostumada a isso. Aconteceu tudo ao mesmo tempo em minha vida e aquilo me assustava.

“I wear no disguise - Eu não visto disfarces

If I tried, you´d make believe - Se eu tentasse, você faria de conta

That you believed my lies - Que acreditou em minhas mentiras”

“Kate, case-se comigo. Vamos formar uma família.” Escutei ele falar em meu ouvido, acariciando-me levemente com o toque de seu rosto. Depois de tudo ele ainda insistia em mim? Inevitavelmente, lágrimas começaram a surgir de meus olhos. Como ele poderia existir? Tão lindo, tão perfeito. Não imaginava o quão perto da morte estive e ele me salvou todas as vezes, pois inundava completamente minhas lembranças, todo o meu ser.

"Lock the doors - Tranque as portas

leave the world outside - Vamos deixar o mundo lá fora

All I´ve got to give to you - E tudo o que eu tenho para te dar

Are these five words and I - São essas cinco palavras e eu"

“Thank you for loving me - Obrigado por me amar

For being my eyes - Por ser meus olhos

When I couldn´t see - Quando eu não podia ver

For parting my lips - Por abrir meus lábios

When I couldn´t breathe - Quando eu não podia respirar

Thank you for loving me - Obrigado por me amar”

“Vamos formar uma família.” Sorri ao responder, virando-me para encarar aquele mar azul. O mínimo que eu podia fazer, para me redimir de minha culpa, era fazê-los felizes, Castle e nosso filho, que estava a caminho. Ele abraçou-me e beijou todo meu rosto em resposta e, apesar de estar sentado na cadeira ao lado de minha cama, aconchegou-se comigo, em meu travesseiro “Rick?”

“Sim?” Abriu seus olhos para observar-me, enquanto eu virava-me um pouco para ele, encostando nossas frontes.

“Obrigada por não desistir de nós. Obrigada por me amar.” Acariciei seu rosto.

“Sempre” Respondeu-me com um sorriso que iluminava todo o meu mundo, tirando-me definitivamente daquela escuridão.

Não resisti, beijei-o com vontade, pegando-o desprevenido. Provei seu sabor com todo o cuidado, como se fosse nosso primeiro encontro, pois, nunca mais, pensaria em nossa última vez.