Percy Jackson e as alianças de Ouro escrita por Ana Paula Costa


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Tenho certeza que vocês vão querer me matar kkk



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De todos os lugares aquele era o ultimo que queria entrar. As aves do lago Estínfalo eram aves grandes e musculosas, suas patas deixavam marcas por onde passavam e suas bicos tão grandiosos que se fossem derretidos conseguiriam banhar toda a igreja do Vaticano com ouro. Os poucos que estavam acordados rodeavam o pedaço de braço humano e brigavam entre si por uma bocada.

Atravessei a cerca viva e a faixa de proteção, dei a volta na jaula até a entrada, onde um portão de grades com uma placa de Perigo era ligado com um segundo,até onde estavam as aves.

Assim como no viveiro dos unicórnios tive que arrombar com contracorrente, arrombei o segundo cadeado e entrei.

As aves de Estínfalo não perceberam quando entrei, eles continuaram a disputa pelo pedaço de carne e os outros do bando continuaram a dormir. Mantive contracorrente empunhada e me aproximei do maior que dormia cercado por outros três menores.

O brilho vinha da parte da frente, ao lado de sua pata. Suas penas eram negras e seu bico dourado, quando respirava vapor saída de suas narinas.

Os outros menores eram menos musculosos do que o maior, algumas de suas penas eram brancas e outras amareladas, seus bicos eram de ferro prateado, como dos outros dois que brigavam pelo braço humano. Eles pareciam fêmeas, e a ave negra o macho do bando.

Me agachei e engatinhei pelo o chão de terra batida e folhas até a fonte do brilho dourado, as manchas de sangue da jaula sujaram ainda mais minhas roupas, estiquei o braço para alcançar a joia, e foi quando algo saltou sobre mim me derrubando no chão.

Dei de cara no chão com as costas voltadas para cima, o peso quase me fez botar pra fora o café da manhã. Senti vapor fazer cócegas em minha nuca, olhei para o lado e pude ver uma pata do tamanho de uma bola de futebol americano parada ao lado do meu braço direito. A outra estava em minhas costas, me forçando para baixo.

Peguei contracorrente e tentei acerta-lo. A ave bateu com o bico na ponta da espada e ela rolou para fora do meu alcance. A ave urrou. Os sons que saiam de sua garganta era rugido de leão e um canto rouco de pássaro, todos de uma vez, como se estivessem saindo de um alto falante.

As outras aves o imitaram, inclusive os que estavam dormindo. As fêmeas se afastaram rugindo para mim e para a ave negra. Ele se colocou de pé, era ainda mais assustador ver seus olhos vermelhos me fulminando. Atrás de suas patas estava o brilho dourado das alianças de Zeus, elas estavam á um palmo de distancia do meu rosto.

A ave negra me encarava, procurei alguma coisa que pudesse usar para escapar da ave que me segurava pela pata em minhas costas.

A fêmea que me segurava me empurrou para o lado. Bati contra a grade que cercava a jaula e senti pontadas nas costas. Eu havia batido também na cerca viva com espinhos.

Me levantei, minhas costas doíam por causa do peso que fora feito sobre elas.

A ave maior, o macho, se agachou sobre as patas da frente com os olhos fixos em mim. Qualquer movimento rápido poderia assusta-lo e fazê-lo atacar. Olhei para a jaula, não havia encanamentos á mostra ou que contornassem o teto. Deveria haver um sistema que enchesse o pequeno lago quando ele se esgotasse. Alguma mangueira subterrânea e sistema de irrigação preso ao teto quando ficasse muito quente.

Apertei os pulsos, não senti qualquer vestígio de água passando por perto. Teria que contar com contracorrente e inteligência, e quem sabe se os deuses me abençoassem, sorte.

Corri em direção a minha espada. O macho tentou me acertar, rolei para o lado e corri até contracorrente. Me virei na mesma hora que uma das aves fêmeas pulava em minhas costas. Ela se desfez em pó dourado.

–Estão vendo!- gritei para o bando- É assim que se faz!

Mais uma ave avançou, o golpeei esperando que ele se desfizesse como a primeira ave. Ela rugiu e rolou para longe.

Procurei o brilho dourado pela jaula. Ela estava do outro lado perto das patas da ave maior.

Tentei alcança-lo enquanto rebatia os bicos de ferro, elas tentavam me bicar e me arranhar com suas enormes garras, mas consegui afastar a maioria de seus golpes. Senti sangue escorrendo pela lateral do braço direito e costelas, minhas costas ainda latejavam por causa da pata de uma das aves e minha cabeça doía. De repente comecei a ficar zonzo, minha visão ficou turva e havia cheiro de coisa queimada no ar.

Não vi quando aconteceu, mas eu estava no chão com as costas para cima. Senti que elas queimavam como fogo, me virei sobre o braço que não doía e vi uma figura grande e escura se aproximando, havia uma forma ainda maior e escura ao seu redor, imaginei que fossem assas abertas, prontas para alçar voo.

As aves rugiam ao meu lado, mas eu não conseguia escutar. O ar estava turvo e tremeluzia com as baforadas das aves. As fêmeas abaixaram as cabeças achatadas em reverencia. Sangue escorria por minhas costas e cada vez mais as coisas rodavam.

Era o fim. Podia sentir minha vida se esgotando. Imaginei a felicidade das Parcas em finalmente cortar o fio que me ligava á vida. A alegria dos monstros e tantos outros que matei durante minha vida toda. Agora eles poderiam rir de mim enquanto passassem em frente a fila expressa para heróis no Sub Mundo. Quem sabe não dessem uma festa para todos juntos rirem da minha cara como vingança.

Nunca imaginei que acabasse desse jeito. Todas as vezes que pensei que morreria sempre foram de formas destemidas e corajosas, não por bicadas de animais que de dilacerariam em poucos minutos. Senti raiva, raiva da idiotice que estava acontecendo. Senti raiva de Zeus, dos deuses por sempre me colocarem em seus planos idiotas. Se julgavam tão poderosos que nem ao menos conseguiam resolver seus problemas sozinhos. Senti raiva de tudo, principalmente daquelas malditas aves que se alimentariam dos meus restos por dias.

–Que se engasgue com meus ossos, seu saco de penas!- praguejei, ou pelos menos tentei. Minha voz saiu como tosse de fumante.

Deixei a cabeça cair esperando pela morte. Meu rosto debruçado no chão de areia batida e calcário, sentindo o cheiro de enxofre e o corpo cada vez mais leve. Não sentia mais as dores nas costas, nem mesmo a quentura nos arranhões delas. O sangue cessara e não o sentia mais se esvaindo pelos lados. Queria ficar ali e aproveitar a sensação de estar morrendo, ouvir um pouco mais do som da água por baixo da terra e do encanamento que enchia o lago das aves. Desejei poder me despedir de Annabeth, dizer a ela o quanto a amava e queria que as coisas dessem certo, me despedir de minha família e meus amigos, dizer que estava morrendo por uma coisa boba, como aves se aproveitando do que sobraria de mim até que um corajoso viesse retirar meus restos mortais de dentro da jaula.

Minha visão escureceu, minha cabeça rodou e senti como se o chão não estivesse mais ali. Tudo ficou gelado, e em minha frente, diante dos meus olhos, havia uma projeção do que devia ser um filme ou flash back, seja o que for. Nele passavam rápidas imagens de quando era bebê, meus primeiros passos e minha primeira escola. Minhas fotos de turma no fundamental e ensino médio. Momentos que passávamos em família, como Dia de Ação de Graças, Páscoa e Natal. Depois algumas fotos do acampamento, com os amigos que fiz no Acampamento Júpiter e na faculdade. Mas no final do trailer da minha vida, nos créditos, havia uma filmagem que não me lembrava de ter vivenciado. Provavelmente ela ainda não havia acontecido. Me reconheci vestido com roupas sociais- Não eram as minhas preferidas mas para ocasião eram perfeitas. Ao meu lado havia uma mulher muito bonita, a mais bonita que eu já vira para ser sincero. Ela estava vestida de branco, seu cabelo louro enfeitado com pequenas flores de ouro e cristais presos numa tiara. Estava tão bonita, seus olhos cinzentos não mentiam, ela estava feliz.

Annabeth segurava minha mão, como numa filmagem o zoom a pegou chegando perto do meu ouvido e dizendo alguma coisa. Não era possível captar o som na filmagem, mas sua voz ecoou em meus ouvidos perfeitamente.

"Vai me deixar aqui? Eu estou te esperando, esqueceu?"

Apertei a areia entre as mãos. Era como comer ambrosia- O som da água e a voz de Annabeth em meus ouvidos me dava ânimo, meus músculos e enrijeceram e sem que eu percebesse estava apoiado pelos braços, observando a entrava da ave negra, lento e saudoso, como um rei em seu castelo, cercado por seus súditos e suas fieis tietes. Minha visão estava voltando ao normal. Enquanto ele se aproximava com seus passos vagarosos, fixei num ponto brilhante atrás dele, á poucos metros de mim. Se conseguisse passar por ele e pegar a joia, teria apenas que encontrar a saída e por um fim nessa aventura maluca, e nunca mais cair na ladainha de uma águia que fala.

Contracorrente estava em meu bolso, destampei e tentei ficar de pé. O cheiro de enxofre ficou ainda mais forte quando a ave negra parou em minha frente. Ela era enorme. De forma que o topo da minha cabeça alcançasse apenas seu abdome. Seus olhos rodearam o lugar, se puseram em mim e na espada, se curvou sobre as patas da frente como um leão pronto para dar o bote.

Ele rugiu.

Suas assas passaram por cima da minha cabeça enquanto rolava por baixo de seu imenso corpo. Ele pousou no lugar onde eu estava, corri em sua direção e montei em seu dorso. Agarrei as penas de seu pescoço e forcei os pés por baixo de suas assas. Ele grunhiu de dor, tentou me derrubar imitando um touro mecânico, me jogando para um lado e para o outro. Segurei firme, sentindo o sangue subir para a cabeça. Com uma mão tentei acerta-lo com a espada. Me surpreendi com a dureza de sua cabeça.

Enterrei a lâmina num ponto pouco abaixo da linha entre sua nuca e coluna. A ave estremeceu mas continuou intacta.

Queria que ele se desfizesse em pó como a primeira ave que destruí. Parecera tão fácil que não prestei atenção no ponto onde acertara. Pensei no momento em que ela avançou- Me virei com contra corrente esticada em frente ao peito, acertando-a onde devia ser sua laringe.

As fêmeas nos rodeavam cheias de fúria, rugindo para mim mostrando alguns poucos dentes dentro dos bicos, eles eram pontudos e com pequenas farpas que funcionavam como cerras.

A ave maior estava se cansando, puxei suas penas e apertei mais fundo os pés, puxando-o para trás. Ele empinou como um cavalo e grunhiu. Mais vapor saiu de suas narinas e com ela o cheiro de enxofre e vapor.

Minha visão ficou turva e minhas mãos afrouxaram. Cai de costas e engatinhei para longe da ave. Corri em direção ao pequeno lago que lhes servia da bebedouro e mergulhei dentro dele. A sensação de estar dentro da água era revigorante. Os cortes nas mãos e nos braços desapareceram, e minhas costas estavam como novas.

A ave negra plainou em minha direção com seu bico apontado para meu peito. Ergui contracorrente em sua direção e esperei pelo encontro. Ele se chocou contra a espada me derrubando no chão. A água ao nosso redor me dava força, mas não pude evitar de ser atingido algumas vezes. Sangue escorria do meu rosto depois que fui atingido por uma de suas patas, se a água não me curasse certamente teria cicatrizes tão grandes que cobririam meu corpo inteiro.

Ele me mantinha preso ao chão com as patas fazendo peso em meu peito. Senti falta de ar e a necessidade de colocar meus pulmões para fora, estava prestes a desmaiar.

Segurei seu bico com a mão livre e o empurrei para trás. Ele fazia força para se livrar de mim e tirar um pedaço do meu rosto, com a outra mão tateei o chão a procura de contracorrente.

Estiquei o braço o quanto pude, mas não a alcancei. Contracorrente estava praticamente ao meu lado, mas não o suficiente.

Os músculos dos meus braços doíam mesmo com a água me dando forças e me curando quase instantaneamente, não dava muitos resultados. Era como um círculo interminável. Quando a dor desaparecia outra surgia no lugar e assim sucessivamente.

Chutei a ave no peito e ela recuou, me joguei para o lado onde estava a espada e a agarrei. Consegui sair do lago antes que as aves fêmeas se aproximassem demais. O brilho dourado estava a alguns passos de mim. Corri até eles e desviei de uma bicada no ar de uma das aves menores. Agarrei a joia e guardei no bolso.

Procurei pela saída. Infelizmente eu precisaria de fôlego para correr até lá. Eram pelo menos uns dez metros até a porta da jaula, e se não fosse pego conseguiria sair dali vivo e entregar a aliança de Zeus antes do prazo.

Comecei a correr. Mantive contracorrente empunhada e ao lado do corpo, golpeando qualquer coisa que tentasse me acertar. As aves menores não desistiam, quando eu as derrubada e elas perdiam o controle das as assas elas voltavam a plainar com os bicos apontados, ganhando velocidade.

Saltei sobre o pedaço de braço humano e sobre alguns tocos de arvores. Haviam porcas e parafusos espalhados pela jaula, assim como algumas placas de metal e outras pequenas peças que cintilavam da mesma cor que a aliança de Zeus,só que com menos intensidade. Elas deviam ser feitas de um material parecido, quem sabe até de Bronze Celestial, como minha espada.

Alcancei a porta aos tropeços e me lancei para dentro dela. Fechei a grade de proteção no mesmo instante que a ave negra pulava para dentro, dando de cara com a porta de ferro e a segunda porta feita de barras de ferro.

Me encostei na parede pegando fôlego. Enxuguei o suor da testa e meti a mão no bolso. Senti formas arredondadas e um cordão onde devia estar a aliança de Zeus, tirei para fora e comprovei o que estava pensando.

Não era uma aliança, era um colar de pérolas douradas.

Duvidei que Zeus usasse esse tipo de joia, mas meti dentro do bolso e chutei a parede. Arriscara minha vida pela joia errada, e no final de tudo, vou ter que dar meus pulos para não decepcionar Annabeth nem nenhuma outra pessoa.


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Notas finais do capítulo

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