Percy Jackson e as alianças de Ouro escrita por Ana Paula Costa


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Amados, eu ia postar ontem, mas choveu muito aqui em Campinas, e a energia acabou bem na hora que eu ia postar...
Ta entregue, divirtam-se



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Annabeth me manteve agachado ao seu lado enquanto ela espiava por uma pequena fresta ao lado da barrigada de concreto polido e pintado que nos escondia. Quando coloquei as mãos no bolso procurando por minha espada ela me parou, e sem deixar o som da sua boca disse que estava tudo bem e podíamos tentar resolver o problema amigavelmente.

Não via como resolver o problema sem que precisemos usar de meios para convencê-la, como o corte da espada, mas se ela achava que o fantasma ia nos deixar passar, intrusos no meio da noite, então podíamos tentar.

Annabeth se levantou, certa do que estava fazendo, e sorriu para o fantasma. Queria poder dizer á ela que ficasse atrás de mim ou simplesmente entrar em sua frente, como fazia quando éramos adolescentes. Mesmo que não funcionasse, por causa dos movimentos que tínhamos que fazer, e por Annabeth também não concordar que eu a protegesse desta maneira, acaba que eu nem sempre conseguia me manter em sua frente, mesmo sabendo que ela sabia se defender muito bem e muitas vezes não precisava de ajuda, mas aquele fantasma não parecia amigo. Sua maneira de falar, nos atraindo para fora de nosso esconderijo, parecia suspeito.

Tirei contracorrente do bolso e a destampei, ficando ao lado de Annabeth.

Procurei pelo fantasma, as luzes das obras de arte em meio ao escuro da sala não ajudava, rodeei com os olhos até que a voz voltou a aparecer, juntamente com seu corpo fantasmagórico.

–Estão apreciando?-perguntou a mulher com uma enorme peruca branca e o rosto coberto por pó de arroz, deixando-o ainda mais branco que o resto do corpo. Seu vestido de época se parecia com um balão incompatível com a cintura muito fina- Não sejam tímidos! Continuem vendo as belíssimas obras que existem no British Museum.

O fantasma se aproximou arrastando a barra do vestido no chão, seus pés inexistentes flutuavam sobre ele,o que fez que ela chegasse ainda mais rápido.

O rosto da mulher, apesar de estar morta e suas feições não pudessem ser notadas com tanta facilidade, eu sentia que já tinha o visto em algum lugar. Como se tivesse aparecido entre os mortos em alguma tragédia que repercutiu nas televisões, ou algo do tipo.

Notei que Annabeth sentia a mesma coisa.

–É a mulher do quadro- disse ela, num sussurro um pouco mais alto do que o normal.

–Excelente!- a mulher bateu palmas- É tão bom ver gente que entende sobre o assunto!- Ela nos rodeou e nos olhou com curiosidade. Contracorrente tremia em minha mão.

–O que quer?- perguntei

–O que quero?-ela se iluminou- Vamos fazer um tour pelo museu e eu vou mostrar tudo o que conheço, todas as histórias e as curiosidades sobre cada um dos objetos...

–Desculpe senhora...- Annabeth olhou para a placa dourada abaixo do quadro- Dominique. Eu e meu noivo temos que resolver um assunto importante. E nós não podemos ser vistos pelos seguranças.

Ouvir Annabeth me chamar de “meu noivo” era uma novidade. Ela virou o rosto me notando, e sorriu com meiguice.

Dominique, a mulher que amamentava um bebê que aparentemente não era seu na pintura presa á parede, não ficou contente com o que ouvira. Suas sobrancelhas esbranquiçadas se curvaram sobre os olhos e seus lábios se fecharam em fendas. Suas mãos tremiam ao lado do corpo e os olhos se arregalaram.

–Mas ficaremos muito contentes se você nos guiasse até a exposição da Grécia e Roma- disse eu- E nos ajudasse a invocar Afrodite.

Annabeth concordou.

–Ficaremos honrados de ter uma guia tão famosa quanto você.

O fantasma se inquietou-se de uma forma descomunal, não parecia a mulher da pintura, doce e ingênua mesmo que estivesse sendo obrigada a dar de mamar á um bebê que não dera a luz. Seus olhos que antes eram esverdeados assumiram a cor de cobre avermelhado, as mãos dançavam ao lado do corpo e a saia do vestido parecia em chamas.

–Afodite? Disseram Afrodite?- Ela flutuou até a pintura de onde fora retratada- Nunca mais repitam esse nome em minha presença. Ela arruinou minha vida e vocês nunca entenderão meu ódio por ela... nunca.

Cutuquei Annabeth, ela me olhou pelo canto de olho e me censurou, apontando para a saída.

–Quando era jovem, me apaixonei por um cavaleiro- ela admirava o próprio rosto na pintura, passando os dedos quase transparentes em seu rosto delicado- e do nosso amor nasceu uma menina mais linda do que todas as princesas de todo o reino, até mesmo mais bonita do que a deusa de vocês...

Ficamos quietos, esperando que ela continuasse.

– E vocês podem imaginar o que aconteceu- seu rosto se entristeceu, ela olhou para Annabeth e tentou alcançar seu rosto, passando os dedos nas curvas das maçãs do rosto e lábios- Afrodite levou minha menina ainda bebê, matando-a de malária. E meu amado... morreu defendendo nosso reino, cumprindo seu dever como cavaleiro do palácio.

Annabeth ficou inquieta vendo seu próprio reflexo nos olhos úmidos e enraivecidos de Dominique.

As mãos da fantasma percorreram os lábios, o queixo até chegar ao pescoço de Annabeth, que engoliu em seco.

–Percy...- gemeu ela.

As mãos de Dominique se encravaram ao redor do pescoço de Annabeth, seus polegares pressionavam sua garganta, fazendo-a a gemer.

–Não deixe que aquela bruxa destrua sua vida- Dominique berrava- Não deixe que ela destrua sua vida!

Puxei Annabeth para trás e golpeei as mãos do fantasma, que se desfez e se refez, ainda mais parecida com um espírito zombeteiro.

Annabeth recuperava o ar em soluços, seus olhos estavam úmidos e vagos, mas não aparentavam ter raiva ou sentimento de vingança. Ela parecia compreensiva.

–Não queremos sua ajuda- disse entre os dentes- Nos deixe em paz.

Dominique sorriu, afastei suas mãos com o punhal de contracorrente.

–Tão jovem, tão bonito... Não deixe que aquela deusa te leve para longe de sua amada, não caia no truque dela...

–Não tem truque nenhum- resmunguei- Vá embora.

Annabeth se recompôs, me pagando pela mão.

–Não a culpe- a voz de Annabeth era falha, por causa da falta de ar- Os deuses não refletem nem tem empatia, eles não medem as consequências...

–Virei mama de leite para me sustentar- a voz de Dominique era quase um choro- O leite que pertencia á minha filha, o meu bebê... tive de amamentar o filho do príncipe, pois sua esposa não possuía leite. Aquela criança me machucava, e todas as vezes que eu olhava para seus olhos castanhos, eu via os olhinhos verdes da minha Jennevive- A fantasma enxugou as lagrimas fantasmagóricas.

As mãos de Annabeth se afrouxaram nas minhas.

– As vezes as coisas não acontecem como queremos- ela caminhou até a imagem de Dominique e parou ao seu lado, observando a pintura- mas não é por causa dessas dificuldades que temos que parar de lutar. Os problemas quando enfrentados nos deixam mais fortes. Sua maior derrota foi deixar Afrodite levar sua felicidade, sua juventude.

–Aquela bruxa me fez tanto mal...- as lagrimas escoriam por seu rosto- Ela me tirou tudo.

–Você ainda pode se vingar- Annabeth se virou, seus olhos compreensivos sorriam para Dominque, que a fitava com as múltiplas lágrimas descendo por suas bochechas, colorindo-as. Um pequeno sorriso acolhedor se formou no canto dos lábios.

–Como?

–Sorria.

As lágrimas de Dominique ficaram ainda mais intensas, a vermelhidão de seus olhos desapareceram, e seus ombros relaxaram. Ela olhou para Annabeth com doçura, como se momentos antes não tivesse tentado a enforcar com as próprias mãos. Apesar de ainda ser um fantasma, Dominique parecia mais jovem, mais viva e contente. Mas ainda havia amargor sem seu rosto.

–Suas palavras... sábias para uma moça tão jovem. Porém, a dor em meu peito adormece por anos, me consumindo por dentro. Como eu disse, vocês nunca me entenderão. Eu espero.

Suas palavras vagaram no vácuo, as luzes que iluminavam as pinturas tornavam seu rosto quase transparente, mas seu sorriso fraco ainda existia, até que sua imagem se desfez enquanto a fantasma observava o próprio rosto na pintura. Por mais antigo que fosse, por mais longe do mundo que conhecíamos, os deuses já atormentavam as pessoas por coisas banais. Não era de se duvidar que a maioria das mortes de mulheres da época fossem causadas pela inveja de Afrodite.

Annabeth se virou, ela também sorria. O clima não estava agradável, imaginei que trazer Afrodite até aqui não era uma boa ideia, depois de todo o acontecido demoraríamos para reconstruir o clima que prevíamos ter para invocar a presença de Afrodite. Agora viajar para Nova Iorque parecia mais fácil.

–Vamos terminar o passeio- ela estendeu a mão e eu a peguei.

**

O arco de entrada da exposição grega era o mais belo de todos. Haviam doze estátuas de deuses diferentes formando um corredor que nos guiava até o inicio da exposição; Lá dentro as inúmeras esculturas, pinturas, jarros, potes, joias e outros artigos trazidos de antigas cidades gregas e templos cobriam bancadas e as paredes, deixado o acumulo luxuoso com cara de contrabandeando ou riqueza do museu. Nem mesmo Nova Iorque tinha uma exposição tão grande como aquela, sem duvidas era a maior exposição grega fora da Grécia que existia.

A escultura de Zeus atirando raios na terra fora colocada no centro da sala, com Hades em sua esquerda e Poseidon á direita.

Como de costume, Hera ficava em suas costas, cercada por damas que a bajulavam e pavões de caldas abertas, esbanjando luxuria. Atena era totalmente diferente da escultura de Hera, mesmo que estivesse ao seu lado, a indiferença no olhar da deusa era completa. Minha sogra, a mãe de Annabeth, usava armadura e elmo, mantinha uma espada presa á cintura e outras duas nas mãos, fora o escudo grosso e pesado que a protegia desde os ombros aos joelhos; e os homens mortos ao seu redor. A coruja em seu ombro me lembrou Plutão, o presente de Hades por matar tantos e leva-los para o Sub Mundo.

Ao lado de Atena estava um dos deuses que Annabeth menos gostava, e provavelmente Atena. Hermes esbanjava poder, carregando dinheiro e joias com cobras envoltas em seu pescoço e pernas. Seu caduceu descansava ao seu lado, e os tênis voadores faziam o deus estar um palmo de distância do chão. Ares era o mais normal de todos, com o sorriso medonho e a lança fincada num homem no chão ao seu lado.

Do lado esquerdo de Hera estava Apolo semi nu, com as mãos atrás da cabeça como se estivesse posando para o escultor. Ártemis segurava seu arco e flecha ao lado do corpo, os cabelos soltos cobriam os seios da deusa virgem, e um pequeno cervo tampava a parte de baixo.

–Muito despida para uma virgem- Annabeth torceu o nariz.

–E o que acha dessa?- Caminhamos até a estátua ao lado de Ártemis; a escultura detalhada cheia de curvas mostravam sem rodeios os seios fartos de Afrodite. A deusa do amor era abanada por dois homens que praticamente se jogam em cima do divã que estava deitada. Haviam um gato cobrindo as partes baixas de Afrodite e bombas no chão. Parecia uma daquelas cenas de filmes proibidos.

–É essa a deusa que estamos procurando?- brincou Annabeth, correndo os olhos pelas pernas torneadas da deusa- Acho que não é bem por esse sentido que estamos aqui.

Demos a volta pela exposição, o corredor escuro e as luzes muito fortes sobre os objetos incomodavam a trazia desconforto. Era como olhar para a luz de uma lanterna no escuro, você quer ver mais coisas ao redor, mas tudo o que consegue é o brilho da lanterna.

Logo na entrada da segunda parte da seção Grega fora montado uma réplica de um templo com frisos e três esculturas sem cabeça. Não fora informado á que deus estava sendo realizado a dedicatória, mas os frisos continham cenas de pessoas sendo roubadas, e no centro, um homem contava dinheiro com duas cobras se arrastando em torno de seu trono.

–Tenho a sensação de que Hermes não era bem visto por esses escultores- comentei. Annabeth apertou minha mão.

–Não os ofenda, você viu o que eles são capazes de fazer.

Atrás do templo as estátuas de Elgin foram tão bem esculpidas que pareciam mesmo estar envolvidas com tecido, os detalhes amassados e entradas faziam da peça ainda mais preciosa, e a consequência do tempo podia ser vista nos amarelados de seu rodapé. Os bustos femininos sem cabeça também sofreram alterações feitas pelo tempo; as rachaduras brotavam se seus ombros e percorriam o tórax e os seios, alguns heróis foram retratados sacrificando animais como cabras e ovelhas, outros fazendo poses com espadas e lanças. Centauros amarelados contornavam as escadas até o segundo piso, lá encontramos uma exposição totalmente destinada á mulheres, como as amazonas e musas. A maioria estava seminua- ou totalmente- os seios, quando cobertos, eram por tecidos leves ou os próprios cabelos. A famosa estátua de Peplophoros ficava ao lado da entrada, cercada por correntes cobertas por veludo vermelho.

O friso das musas de Dionísio ocupava uma parede inteira. Em tamanho real, as nove musas do deus das festas e do vinho dançavam ao redor de um vinhedo fartos pela fruta, e do outro lado, entregavam seus cestos cheios á um homem que vinha de cima, deitado em uma nuvem, as tocando com a ponta do dedo indicador.

A esposa do imperador romano fora esculpido cheio de marcas, como se fosse de idade. As rugas estavam presentes num sorriso carrancudo.

–Quem é essa?-apontei para a mulher do sorriso torto.

–É a esposa de Adriano.

–ah.

A pintura da deusa Vênus fora pintada como um pôster na parede; o famoso artístico nu fazia da deusa mais uma vitima da falta de roupas. Os cabelos dourados presos atrás da cabeça com uma trança deixavam seus seios desprotegidos, as partes de baixo expostas e em suas mãos a deusa carregava um coração humano e flores.

–É assim que se arranca o mal pela raiz- comentei.

–Mal pela raiz?- Annabeth correu os olhos pela pintura, o coração vermelho que antes pulsava apaixonado agora faria parte da coleção da deusa do amor romano. Ela não pareceu muito feliz pelo comentário, franziu a testa e seus olhos mudavam frequentemente de direção, de mim para a estátua e o chão- Acha tão ruim assim?

–Ter o coração tirado fora?

– Estar apaixonado.

Estudei sua expressão. Seu rosto impassível demonstravam insatisfação, quase magoado. Annabeth tentava ser fleumática, mas depois de anos vivendo com ela aprendi que sendo fortes ou não, as mulheres gostam de mostrar como se sentem e fazer você se remoer por ter falado besteiras.

–Ei- a puxei pelo braço, trazendo-a para mais perto, de modo que eu pudesse a abraçar- Esqueça isso, foi só um comentário idiota.

Ela assentiu.

Graças aos deuses hoje eu não dormira no sofá. Deixar Annabeth daquele jeito não nos ajudaria em nada a trazer Afrodite até nosso encontro, principalmente porque aquelas mulheres nuas não deixavam o romance se instalar, agora com ela aborrecida por um comentário impensado era ainda pior.

–Está tudo bem?- beijei sua testa

Ela sorriu, suave, e se afastou alguns passos para me olhar- Quero ver os frisos de Atena se não se importa.


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Notas finais do capítulo

Não sei quantos de vocês leram minha primeira fic, Os jogos dos Semideuses, mas lá eu explico melhor sobre o presente de Hades para Atena. A coruja é amaldiçoada, ou melhor, ela ajuda a amaldiçoar. Ela traça a rota e os esconderijos inimigos para o exército em que a deusa pertence invadir e mata-los, aumentando o poder de Hades no sub mundo com mais mortos.

Espero que tenham gostado do capítulo.
Ideias?



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