Percy Jackson e as alianças de Ouro escrita por Ana Paula Costa


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, acho que dessa vez acertei a mão completamente... Quase chorei escrevendo este capítulo, caprichei tanto que só fui termina-lo agora, ás 17:47 do dia 13.
Quero agradecer pelas ideias que estão sendo espetaculares, e lembra-los que a história é de vocês... Enfim, espero que gostem deste capítulo e se apaixonem assim como eu me apaixonei por ele.

Esqueçam o que eu disse no capítulo 7. ESTE É MEU PREFERIDO.
Bjos e boa leitura.



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Quando finalmente ficamos sozinhos, Annabeth fechou a porta e a trancou, passando o trinco na fechadura, ela fitou por alguns segundos uma mancha microscópica na madeira da porta e se virou, com um sorriso que não era dela.

–Você não me disse que horas vamos sair para jantar e quais são os planos- começou, disfarçando e evidentemente evitando me dar uma brecha para que tocasse no motivo de sua cara de poucos amigos.

–As sete temos que estar prontos esperando pelo carro que Zeus vai mandar para nos buscar.

–Preciso trocar de roupa?- Ela se empertigou, mantendo o rosto límpido e sem expressão.

–Acho que não- Me aproximei e toquei seu braço. Annabeth estava debruçada sobre o encosto do sofá, fitando a TV desligada. Quando a toquei ela abaixou o olhar, e deixou que eu chegasse ainda mais perto- Não estou gostando dessa cara. O que há de errado?

Ela demorou um pouco para responder. Deixei a frase no ar enquanto ela mudava o peso do corpo para o outro pé.

– Parece que tudo está errado- ela manteve os olhos baixos- Você viu o que eu vi. Estou muito feliz por eles, mas... Todo esse tempo... Deveria ter sido nós!

Não disse nada por enquanto. Sabia exatamente como ela se sentia, era o que eu estava pensado quando Jason contou que seria pai. A sensação de “Peraí, tem algo errado aqui” me assombrava desde que se casaram. Não era inveja, tão pouco desejávamos a infelicidade deles, mas nós tínhamos feito planos antes, nos conhecemos antes e namoramos antes... Pela ordem natural das coisas, eu e Annabeth devíamos ter sido os primeiros a assinar os votos e termos filhos. Mas agora tínhamos que dividir o posto de primeiro lugar com Jason e Piper, e pelo o que parece, estávamos ficando para trás.

Os olhos de Annabeth se puseram em mim, cabisbaixos. Ela se virou para me encarar e enterrou o rosto em meu peito. A abracei mantendo-a perto num abraço apertado, cheirei seu cabelo e beijei seu pescoço. Ela se endireitou em meus braços e olhou nos meus olhos. Sua expressão era normal, sobrancelhas em formas naturais, sem formar nenhum desenho. Os lábios rosados formavam uma linha reta, sem emoção. Mas seus olhos diziam tudo. Tive vontade de acabar com esse tabu e reassumir a liderança. Podíamos acabar com isso nos casando com uma criança no colo, mas mesmo assim, só teríamos antecipado as coisas muito mais do que nossos amigos. Se Piper e Jason foram rápidos como flashes, não era obrigatoriedade nossa fazer o mesmo, mas a sensação de Fatores Alterados permaneceria para sempre- Ou até estarmos realizados.

Por outro lado só tínhamos sido ultrapassados pelo senhor e senhora Hollywood, todos nossos outros amigos estavam na mesma posição que nós, ou até menos.

Nos encaramos, olho no olho, até a verdade vir á tona: Annabeth estava se mordendo por Piper ser mãe antes dela. A rivalidade entre as mulheres existiam até mesmo na maternidade, assim como eu e Jason praticamente disputávamos quem se casava primeiro. Nunca aceitei o fato dele ter vencido essa, e inconscientemente estava querendo me vingar tendo filhos antes dele, mas ele me venceu mais uma vez.

Comecei a rir, as sobrancelhas de Annabeth se juntaram. Não sabia se ela estava com duvidas ou queria me dar um soco.

–Do que está rindo?-perguntou, mantendo a expressão de descontentamento.

–De tudo- a puxei para mais parto- Vamos deixar isso pra lá. O que importa são os passos que daremos a partir de hoje, e daí que o Senhor e Senhora Fomos mais rápidos que vocês se casaram antes e vão ter filhos antes de nós? Só temos vinte e dois anos, podemos muito bem ter o dobro de filhos que eles, e vamos esfregar na cara deles quando isso acontecer.

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Annabeth.

– Ela está de dois meses.

– Que se dane!- a afastei para olhar sua barriga- O que importa se nós também podemos fazer isso, só não quisemos antecipar as coisas. Fomos responsáveis! E quantos anos eles tem? Vinte? Vinte e um? Pelo o que sei esses dois são um ou dois anos mais novos, e podiam estar estudando ou algo do tipo. Ao invés disso quiseram esfregar na nossa cara as coisas que conquistaram. Nós vamos dar o troco, é claro, amigavelmente...

–Tivemos tempo e oportunidades para isso, só não quisemos fazer as coisas acontecerem antes da hora. Pra que ter filhos agora se antes podemos estudar e preparar as coisas para eles? Assim não vão ter que dividir os pais com livros de faculdade e horários de trabalho.

–Se eles quiseram assim, tudo bem. Mas nós vamos fazer do jeito certo.

Annabeth abriu os braços e se lançou sobre mim, mostrando seus dentes brancos e simétricos. Me beijou em diversas parte do rosto me manchando de batom, e depois se afastou, ainda sorrindo.

–Você tem toda razão,Percy. Que se dane!

Olhei no relógio, faltavam quinze para as sete.

–Será que está passando um daqueles programas de nerds que você gosta?

**

Os quinze minutos se passaram como tiros. O programa estava divertido, o assunto retratado era atual e nos deixava ansiosos pela volta dos intervalos. Annabeth enroscada em mim acariciando carinhosamente meu braço com a ponta de seu nariz pediu que aumentasse o volume da tv, e ficamos juntos por mais um tempo.

Se não estivéssemos prestes á fazer uma coisa tão importante, gostaria de ficar mais tempo com ela ali. Pegar uma coberta e fazer pipoca de micro-ondas, assistir um filme e deixar que ela dormisse em meu colo, até que eu tivesse que leva-la para o quarto nos braços.

Meu traseiro estava praticamente grudado no sofá, mas minhas pernas corriam em direção á porta com vida própria, assim como meus olhos.

–Annabeth- chamei

–Hum?- ela gemeu, sonolenta.

–Sete horas.

Ela se sentou e se espreguiçou, colocando os pés no chão. A ajudei a se levantar, ela arrumou o vestido no corpo e calçou os sapatos. Fiz o mesmo, sendo rápido para não perder o horário. Quando estávamos prontos, fechamos tudo e trancamos a porta ao passarmos. Annabeth chamou o elevador e esperamos até que ele chegasse, acompanhando seu andamento pelos números que alternavam a luminosidade conforme o elevador se aproximava.

Quando chegou, entramos no elevador e apertei o T, ao chegar no Hall podíamos ver um enorme carro preto estacionado em frente ao portão. Descemos a rampa e o porteiro abriu a passagem para moradores. Ao nos aproximarmos no carro ouvi a trava se abrir, Annabeth me cutucou.

–Tem certeza que não precisávamos trocar de roupa?- Ela olhou para o próprio vestido como se de repente o achasse estranho e inconveniente demais.

–Você está ótima- disse- Mas já providenciei que nosso passeio seja parecido com o de Hermes.

Annabeth assentiu.

–Então vai ser ótimo, principalmente porque não tomamos banho de esgoto.

Abri a porta de trás do enorme carro e dei a mão para que ela pegasse.

O carro se parecia com uma limusine, só que bem menor. Do tipo que os artistas e o presidente costumam andar para não chamar muita atenção, com os vidros muito escuros e as bandeirinhas sobre o capô.

Seu interior era luxuoso, os bancos de couro e garrafas de champagne faziam parecer realmente que pertencia a um artista, perto as janelas havia uma pequena televisão de plasma. O carpete fora meticulosamente aspirado e o móvel de madeira lustrada que ficava entre os bancos suportando sobre eles o balde de gelo e o suporte para taças preenchia o espaço vazio.

O vidro elétrico que nos separava do motorista começou a baixar, enormes ombros se sobressaíram sobre os bancos da frente revelando nosso motorista de pele azulada e pequenos raios saindo de suas orelhas.

Ele se virou para nós- Para onde vamos?

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Pensei que Zeus deixaria tudo pronto, inclusive o país que visitaríamos, como Hermes fez. Agora tínhamos que pensar em países que gostaríamos de visitar. Se tivesse sido avisado, teríamos gasto os quinze minutos que tínhamos decidindo para onde íamos.

–Londres

Olhei para Annabeth. Ela parecia certa da escolha que tinha feito.

–Tudo bem pra você?- ela me olhou com um belo sorriso. Se continuasse a me olhar dessa forma, poderíamos ir para a Facha de Gaza que eu não me importaria.

–Para a terra da rainha, meu chapa.

–Apertem os cintos- alertou o motorista- Nossa viagem para Inglaterra será radical.

O vidro se levantou num apertar de botões, e uma musica de acordeões e orquestra, muito parecido com jazz e musica clássica acompanhou os vidros ao nosso lado, que desceram até a metade, nos mostrando Nova Roma iluminada, cheia de luzes coloridas de neon, cartazes de bandas e outdoors eletrônicos. Nem de longe desconfiaria que a cidade dentro do acampamento Romano poderia esconder tantas belezas e coincidências com Nova Iorque.

Se eu não tivesse nascido em Nova Iorque e morado lá minha vida inteira, teria a escolhido para visitarmos neste noite. Nova Iorque tanto de dia como de noite era tão encantadora que nem em uma vida toda conseguiria visitar todos os pontos turísticos e restaurantes temáticos daquela cidade. Sentia falta das luzes e do cheiro de fastfood das ruas, sentia falta do metrô e dos congestionamentos de carros amarelos- o taxis- que coloriam as estradas da cidade. De certa forma, sentia falta de Nova Iorque.

Quando o carro começou a pegar velocidade entendi o que o motorista quis dizer com radical.

As luzes se tornaram borrões coloridos e os sons pareciam distantes. Os holofotes enchiam o carro como luzes de boates, daquelas que piscam e te dão a falsa sensação de tudo estar em câmera lenta, e os faróis dos carros atravessavam os vidros como lanternas pouco efetivas.

Apesar de ser muito familiar ao taxi das irmãs cinzentas, tudo parecia estranhamente diferente. Deve ser por causa do tempo que ficamos sem ter que precisar do serviço das irmãs, apesar deu não sentir falta alguma.

Annabeth parecia estar contemplando uma obra de arte. Olhava fixamente para os borrões com tranquilidade, então deixou que sua cabeça caísse para o lado, apoiando-se em meu braço. Aninhei-a junto á mim e relaxei. Não sabia quanto tempo duraria a viagem e nem como faríamos para atravessar o oceano, mas não importava. A noite estava apenas começando, e só de estar ali, com minha esposa aconchegada em meu abraço, já era um bom modo de se começar a noite.

Terminamos de assistir o programa que víamos em casa na televisão do carro, abrimos uma garrafa de champagne e esperamos até o carro começar a perder velocidade e o motorista abaixar o vidro e avisar que tínhamos chegado.

Ficamos pelo menos meia hora esperando por esse momento, até chegarmos a conclusão que ainda não tínhamos atravessado o atlântico quando o carro simplesmente afundou dentro das ondas e cortou o oceano por terra- literalmente.

Era incrível ver os peixes por perto. Os faróis iluminavam a parte da frente e luzes que vinham de baixo do carro atraíam as outras formas de vida para perto, iluminando-as.

Quando começamos a afundar e entrar na parte escura do mar, o motorista no guiou até uma ponte e parecia ter se formado magicamente ali. Nenhum arquiteto ou engenheiro teria conseguido chegar até aquela parte do oceano e projetar uma ponte que nos levasse até o Oeste do Reino Unido.

Conversamos a respeito e decidimos que deveria ser obra divina, então demos de ombros.

Atravessamos a Inglaterra com velocidade, os mesmos borrões coloriam o fim de tarde do país dono do Acordo de Greenwich, os relógios londrinos indicavam cinco horas há mais comparados com os relógios americanos. Os restaurantes deviam estar praticamente fechados, a não ser que quiséssemos ir ao McDonalds 24horas.

Por termos combinado as sete e em Londres ser meia noite, achei melhor acreditar que tínhamos tudo sob controle. Zeus sabia de nossas circunstancias em relação á países da Europa e providenciou um bom restaurante que ficasse aberto mesmo depois de muito tarde. Como senhor dos deuses, ele sabia dos fusos horários mortais, e por esse motivo deixou tudo preparado- E eu estava torcendo por isso.

O motorista diminuiu a velocidade, de modo que pudéssemos ver a Londres em sua noite escura e estrelada.

Assim como Nova Iorque, Londres tinha muitas cores e tecnologia. Mais á dentro da cidade, as construções mostravam porque a Inglaterra era um dos países mais bonitos do mundo. Apesar de antigas, a graciosidade das construções não nos deixavam negar: Annabeth tinha feito uma boa escolha.

As casas tinham telhados baixos e o gesso a baixo deles faziam voltas como se pertencessem á construções gregas da antiguidade. Desenhos nos pilares e em postes, paredes multicoloridas e assinadas pelos grafiteiros tornavam a cidade história mais atual, além das inúmeras vitrines exporem as deliciosas sobremesas londrinas e as lembrancinhas, como mini Towers Brigde, castelinhos da rainha e chaveiros do BigBang, além de canecas e máscaras com a cara de Kate Middleton e o Príncipe Willian.

Apertei os ombros de Annabeth- Desde quando quis conhecer Londres?

Ela deu de ombros.

–Sempre achei que a Inglaterra fosse um ótimo país para se visitar. Um país muito romântico.

Annabeth apotou para além de sua janela. Do lado de fora o castelo de Buckingham estava iluminado por luzes douradas e as janelas decoradas com cortinas vermelhas que podiam ser vistas do lado de fora.

Ele parecia bem maior de perto, e o enorme relógio atrás do palácio, o famoso BigBang, batia a badalada da meia noite.

–Gostaria de conhecer Joanne Kathleen Rowling- disse Annabeth de repente.

–Joanne quem?- Eu não fazia ideia de quem ela estava falando.

–J.K. Rowling, Percy... A escritora de Harry Potter.

–Ah! Aquele bruxo da escola de magia?

–Esse mesmo.

Fazia algum tempo que eu tinha prometido ler a série mais famosa do mundo, mas aquele numero de páginas me assustava. Ficou messes dentro da gaveta da sala até que Annabeth descobrisse e me fizesse ler. Gostei muito da Câmara secreta, mas não tive vontade de ler as maravilhosas mais de cem páginas de A pedra Filosofal.

–Agora que você tocou no assunto, Harry tinha uma sorte danada, tipo a minha. Um amigo medroso e uma amiga superinteligente... Assim como eu.

Annabeth me olhou pensativa até que sua cara séria se transformasse numa careta de deboche.

–Fala Sério! Nossas histórias virariam bons livros, mas Harry Potter! E quem seria nosso amigo medroso? Grover?

–Quem mais seria?

O vidro desceu alguns centímetros.

–Vou deixa-los no La Cosine, o chefe que cozinha para Zeus esta á espera dos senhores.

O motor desacelerou até estarmos parados em frente á um restaurante com uma grande vitrine e bandeiras vermelhas, verdes e brancas. O cheiro de massa me deu água na boca.

–La Cosine? Um restaurante Italiano? Na Inglaterra?- Annabeth espiou pelo vidro.

–Ninguém resiste á um espaguete e pizza- respondeu o motorista- Quando precisarem de mim é só chamarem. Estarei aqui em um minuto.

–Você não disse seu nome- disse, tentando me lembrar se ele não tinha mesmo dito seu nome e eu havia me esquecido.

–Kelvin. Me chame de Kelvin.

Abri a porta para Annabeth e atravessamos o jardim colorido na fachada, subimos os degraus da varanda e entramos.

Não notei quando e como aconteceu, mas ao olhar para Annabeth vi que o vestido que usava fora substituído por um sem mangas da cor azul, em seu pescoço uma corrente de ouro com um pequeno pingente na ponta em forma de coração, com um conjunto de brincos combinando.

Eu também estava diferente, e fiquei feliz por não estar usando terno e gravata. Meus jeans foram trocados por um mais escuro, quase preto, e uma camisa com mangas até o cotovelo, do tipo que os americanos gostam de usar, com apenas as mangas coloridas. Mas para não deixar a formalidade de lado, um blazer preto aberto.

Annabeth me olhou boquiaberta.

–Está incluso no passeio?- Ela riu e olhou para seu vestido.

–Você está ótima- peguei sua mão e subimos os degraus da entrada- Claro, não podia ser diferente, você sempre está.

O restaurante não era bem do jeito que eu imaginava ser.

Espelhados pelas paredes verdes enfeitadas com papel de parede, porta retratos de Zeus estavam por toda parte. Desde a entrada até ao lado das placas de feminino e masculino dos banheiros. No canto dos fundos dava para ver os pizzaiolos preparando as pizzas para outras três mesas ocupadas por criaturas mágicas, como Ninfas da água e Fadas.

–Eles tem quatro olhos- disse Annabeth

Segui a direção de seus olhos e descobri sobre o que ela estava falando. Tanto os chefes quando os pizzaiolos tinham quatro olhos em seus rostos, e como se não bastasse, enquanto tiravam uma pizza do forno usando os dois braços, outros dois recheavam as próximas pizzas.

–E quatro braços!

Um garçom se aproximou. Ele usava um terno azul turquesa que combinada com seu topete branco e profundo olhos dourados.

–Mesa para dois?

O garçom nos levou até uma mesa do lado de fora, com o rio Tâmisa em sua forma mais rasa passando por de baixo da varanda, como um deque. Conseguíamos ver os peixes e as plantas de água doce pelo parapeito, o sol se pondo por detrás dos prédios e das antigas construções pintavam os céus de alaranjado, rosa e amarelo.

Ele puxou a cadeira para Annabeth e eu nos sentarmos, nos entregou cardápios e os guardanapos de pano. Deu passos para trás, nos dando espaço, e disse que estaria por perto para anotar o pedido, e então se foi.

O bom de se estar na Inglaterra era que nos cardápios tudo era escrito em Inglês. Mesmo que falassem com aquele sotaque engraçado, dava para se entender normalmente, apenas algumas palavras como água tínhamos que perguntar o significado. Geralmente não acontecia muito.

Apesar de um restaurante italiano conter uma variedades de massas, pizza ainda era uma boa opção.

–Com certeza não vamos pedir pizza, não é?- Annabeth levantou os olhos sobre o cardápio em suas mãos e me encarou.

–Não vamos?

–Viemos até a Inglaterra para pedir pizza?- Ela cruzou os braços

–Pelos deuses!- virei meu cardápio para ela, ignorando o fato dela ter um idêntico nas mãos- Que diabos é Gnocchi? E esse Carpaccio parece um monte de cogumelos juntos com limão em cima!

–Gnocchi é maçarão. Nhoque pra ser mais exata... E não são cogumelos, é carne mal passada!- Ela cruzou os braços ainda mais firme e bufou- Ainda quer pedir pizza?

Quando uma mulher te encara de braços cruzados e te faz uma pergunta pela segunda vez, pelo seu próprio bem é melhor dizer que não.

–Vou pedir o mesmo que você- deixei o cardápio na mesa- e pra beber, coca.

–Então vamos pedir Risotto e Gnocchi, e de sobremesa Gelatto- Ela abaixou seu cardápio e chamou o garçom.

Ficamos sozinhos por um tempo, conversando sobre coisas alheias. Quase me esqueci que esta noite eu a pediria em casamento, se não fosse pelas alianças no meu bolso.

Dei á ela mais detalhes da caçada a aliança de Zeus, Annabeth fazia caretas de preocupação e levava as mãos á boca quando dizia ter feito algo perigoso, mas no fim ela sabia que eu estava bem.

–E aqueles peixes... Não notaram que você é filho de Poseidon?- Ela cobriu a boca com uma mão e com a outra segurou a minha.

–Pra eles pouco importa- dei de ombros- O que pode ser pior do que viver num lugar sem luz?

–Eles não tem medo de Poseidon?

–Acho que a informação “O deus dos mares” ainda não chegou nas profundezas.

Annabeth olhou em volta, admirando a decoração e o céu quase em total escuridão. Seus olhos percorriam desde a madeira sob nossos pés quando os lustres sobre nossas cabeças. Ela pegou uma Bruschetta da pequena cesta em sua frente e deu uma mordiscada.

–Queria saber o que Zeus viu neste lugar, quero dizer, o que tem de tão especial para trazer o senhor dos deuses para comer em restaurantes mortais.

Protestei com a cabeça e peguei uma torrada temperada como a de Annabeth.

–Não é exatamente mortal- apontei por cima do ombro para os pizzaiolos e cozinheiros - A comida pode até ser, mas quem prepara com toda certeza não é deste mundo.

–Quero ver se o gosto também é- ela coçou a barriga- estou morrendo de fome.

E como se estivesse esperando pela deixa, o garçom surgiu ao lado da mesa com duas bandejas de prata com pratos cheios. Primeiro ele serviu Annabeth, deixando o prato de Nhoque ao molho branco e Rizotto em sua frente, em seguida serviu seu copo de suco. Quando chegou em mim as coisas não foram diferentes, mas ao invés de um saudável copo de suco sem calorias, uma lata de coca feita de cafeína, cola e corante foi posta em minha frente, ao lado do copo de vidro.

Agradecemos e o garçom que nos desejou bom apetite. E foi exatamente o que aconteceu.

Na America aqueles tipos de pratos são comuns em restaurantes específicos, mas quando vou á um restaurante de massas, ou peso pizza ou lasanha, nunca Gnocchi ou esses montes de nomes estranhos. Quando dei a primeira garfada nos pequenos pedaços de massa, o gosto de queijo e molho me trouxeram a resposta do porquê Zeus gostar tanto de comida italiana. Provei o Rizotto esperando ter a mesma sensação prazerosa, e foi exatamente o que senti. O sabor era único, e depois dessa noite eu pegaria a receita e tentaria fazer em casa. Zeus definitivamente sabe como reconhecer um bom restaurante quando vê um.

Olhei para Annabeth, ela limpava o prato com o garfo, e pelo andar das coisas, teria que segurá-la para não lamber os beiços.

Ela olhou pra mim e sorriu com malicia- Ainda quer pedir pizza?

Eu também estava lambendo os beiços.

–Acho que encontrei a resposta para sua pergunta- pesquei mais uma garfada de Gnocchi olhando para ela- Zeus tem um ótimo gosto por comida italiana.

Ela fez que sim com a boca cheia.

–Poderia comer mais cinco desses.

Ela estava falando da boca pra fora- ou melhor, do estomago pra fora. Mas quando a sobremesa chegou Annabeth provou que estava falando do sério. Gelatto era uma espécie de sorvete com menos açúcar e menos gorduras, ótimo pra quem quer emagrecer. O gosto era o mesmo e por incrível que pareça, ainda mais gostoso.

–Ainda bem que não sou eu quem paga a conta- observei Annabeth tomando a segunda taça de sorvete.

–Ei! Só veio uma bola. E também não comi nada do bolo que fizemos, por isso estava com tanta fome.

Levantei as mãos, me rendendo.

–Se você ainda puder andar, gostaria de dar um passeio- passei as mãos no bolso da calça, sentindo as alianças.

Olhei a lua que crescia através do reflexo do rio Tâmisa. A noite na Inglaterra era quase tão bonita quanto em Nova Roma, o cheiro das flores que cercavam o rio junto as docas e a brisa que soprava vinda do oceano enchia meus pulmões. Era muita calmaria para uma cidade tão grande, quase inacreditável.

Annabeth se virou, fitando a beleza da paisagem também. Então se levantou e estendeu a mão.

Sem dizer nada a peguei, passamos pelas poucas mesas ocupadas e demos a volta no restaurante passando pelo jardim.

Não sabia como faria isso, não sabia nem por onde começar. Seria mais fácil se ela não soubesse o que estava acontecendo e achasse que é apenas mais um jantar. Mas Annabeth era muito inteligente para deixar ser levada dessa forma, se não soubesse ficaria desconfiada a ponto de descobrir tudo sozinha, mesmo que por acidente.

Eu não a culpava por ter descoberto as flores e as alianças, afinal, eu fora descuidado ao deixar dentro do armário, correndo o risco de ser descoberto. Ela até tentou fingir que não sabia de nada, mas deixou muito na cara por causa dos seus risinhos sem motivos.

Ela apertou minha mão enquanto andávamos, e eu a puxei para mais perto.

–Já se perguntou por que o céu tem tantas cores?

Me sentei com Annabeth á margem do docas junto a um amontoado de barcos ancorados á margem do rio. Não havia ninguém ali além de nós. Ela entrelaçou os dedos nos meus e observou as cores se transformarem num azul escuro sem fim. As estrelas brilhavam levemente até assumirem o piscar de uma noite já madura, a brisa levara as nuvens embora e a lua cheia fazia as pequenas ondas do Tâmisa de espelho.

Ela suspirou, a brisa despenteava seu cabelo e suas pernas balançavam na borda do docas como num balanço. Ela ficava tão bonita desse jeito que me esqueci que tinha feito uma pergunta, Annabeth virou o rosto me encarando, depois voltou a olhar para a lua.

– Acredita que algo tão pequeno comparado com nosso planeta, algo tão insignificante em matéria, ao menos tem sua luz própria... Tão dependente do sol e da orbita terrestre... Sem ela, o eixo da terra desanda, perdemos o alinhamento do sistema solar, e a terra pode vagar pelo espaço, sem luz, sem vida.

Olhei para a lua. Nunca tinha pensado nela desta maneira. Pra mim era só a lua, ali, parada. Só a lua.

–Acredito que mesmo que pequena ela tenha seu potencial. Está tão perto da terra por causa das forças que a puxam, sua luz só existe por causa de uma estrela maior, e mesmo assim, sem ela, nada disso- apontei com a cabeça para a paisagem- existiria.

O brilho em seus olhos era tranquilizante e apaixonante, tão sereno que se olhasse por muito tempo acabaria tirando um cochilo. Ela ajeitou o cabelo para o lado, impedindo que o vento e bagunçasse demais. Ela piscava vagarosamente para a lua, deitando-se sobre a madeira desgastada do docas do Rio Tâmisa.

Me deitei ao seu lado pensando no dia em que a pedi em namoro. Tínhamos dezesseis anos, jovens demais segundo os mais vividos para saber o que era amor de verdade. Se não fosse realmente amor o que sentíamos um pelo outro, o que nos manteríamos juntos seria a mesma força que deixava a lua presa á orbita da terra? Dizer eu te amo, apesar de serem apenas palavras proliferadas a cada segundo em qualquer canto do mundo, mesmo que fáceis de se dizer, carregam uma força muito forte, e sabe quando se ama alguém de verdade quando essas palavras ficam presas em sua boca. Você quer liberta-las, mas não consegue. Até que finalmente elas escapam, e você quer que elas façam isso sempre... Quando disse que a amava pela primeira vez eu estava prestes há fazer dezessete anos. Ela já tinha tido que me amava, mas por ama-la tanto não consegui dizer o mesmo. Até que elas explodiram para fora, e desde então venho dizendo isso sempre.

–Eu te amo- Senti o mesmo arrepio de quando disse estas mesmas palavras pela primeira vez. Ela sorriu para a lua.

–Também amo você. Como a Lua ama o mar e as estrelas.

Senti meu bolso pesarem toneladas, só não sabia se eram mesmo os bolsos ou meu peito. Mal conseguia olhar para ela; tinha medo de que tudo não passasse de um sonho, e que a qualquer momento eu pudesse acordar novamente com doze anos, pronto para voltar á escola.

Annabeth apertou minha mão e se aninhou com a cabeça em meu ombro, respondendo aos meus medos.

–Estou aqui- ela disse, como se lesse meus pensamentos- Vou aonde você for.

Aquelas palavras me tiraram da realidade, a lembrança da noite em que a vi cantando num palco de karaokê na noite em que a entreguei nossas alianças de compromisso, de como ela filosofou olhando para as estrelas, assim como hoje. Sempre que queria tocar em assuntos românticos e se sentir relaxada Annabeth falava das estrelas, ou então respirava fundo e falava. Ela era muito mais corajosa do que eu, sempre fizera as coias antes, como nosso primeiro beijo. Fora ela desde o início que tomava a iniciativa. Fiquei surpreso ao me ver a pedindo em namoro, de como ela aceitou e falou sobre o sol que se punha escondendo-se dentro do mar.

Hoje eu tinha a oportunidade de fazer as coisas certas. Da primeira vez não tinha como a presentear como merecia, além do amor e lealdade que daria á ela a vida toda, não tive tempo de presenteá-la com algo que representasse meus sentimentos. Da segunda vez estava dois anos atrasado, e hoje, eu podia dar a prova de que eu queria viver com ela para sempre e fazer um pedido que mudaria nossas vidas.

Peguei as alianças do bolso e tirei seus cabelos do rosto. O brilho da lua passou entre a circunferência da aliança, diante de seus olhos ela olhou com mais atenção os detalhes, que antes ela fingira não ter visto. Agora elas pareciam até mais bonitas, e eu tinha certeza de que ficariam mais bonitas em seu dedo.

– Jason e Piper podem ter se casado antes. Podemos estar no segundo lugar, mas duvido que ele a ame tanto quanto eu amo você. Te amei quando abri meus olhos e encontrei os seus pela primeira vez no acampamento, te amei quando tive medo de te perder, quando te vi enrolada no velocino, sangrando... Te amei de tantas formas que nem mesmo Afrodite é capaz de reconhecer o que sinto. Não sei fazer outra coisa... Você não está só na minha cabeça, e a prova disso foi quando Hera roubou minha memória, mas não meu amor por você- Coloquei o anel em seu dedo e eles se fecharam junto aos meus- Sonhei tantas vezes com você que quando não sonho tenho a sensação de que está faltando alguma coisa. Ser adulto pode ser difícil, mas tendo você acordando todos os dias ao meu lado me dá forças...

– É como naquele verso- ela me interrompeu- que diz “E a emoção do nosso amor não dá pra ser sentida, Não dá pra ser contida, A força desse amor não dá pra ser medida, Amar como eu te amo... Só uma vez na vida”.

– Eu queria saber se você gostaria de ter meu sobrenome... Oficialmente- Annabeth afundou a cabeça em meu peito e me olhou em meus olhos, os seus estavam úmidos e distantes, seus lábios formavam um sorriso sossegado, porém apaixonado.

–“E que minha loucura seja perdoada, pois uma metade de mim é amor, e a outra metade é você”. Se eu dissesse que não, Percy, eu estaria completamente maluca... Já disse que te amo o bastante?

Ela sorriu entre as lagrimas que tentava conter, se sentou e eu a imitei, passou os braços ao redor do meu pescoço e me beijou. Senti calafrios percorrendo minha espinha, como na primeira vez que nos beijamos, dentro do refeitório do Acampamento Meio Sangue.

A trouxe para mais perto, seu corpo rente ao meu. Desejei que este momento nunca acabasse, e que Moros, o deus do destino, escrevesse nossos nomes juntos nessa e nas próximas um milhão de vidas.

–Sim- disse ela entre o beijo- Eu quero ser sua esposa.


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Notas finais do capítulo

Me perdoem mas... PQP! Que coisa linda veeey kkk comentem ai gente! Quero saber o que acharam!